História da Arte Aula 6: Realismo
Conceito O Realismo expressa um afastamento formal e estilístico das cenas idealizadas e da pintura histórica acadêmica, do começo do século XIX (FARTHING). Em uma sociedade com transformações sociais, com o início do voto universal (a voz política dos pobres) na França, os pintores escolhem fazer retratos de pessoas comuns, num estilo de pintura naturalística, fundamentada na observação. O poeta e crítico Charles Baudelaire pede, em 1846, quadros que expressassem o heroísmo da vida moderna. O pintor Gustave Coubert, de origem rural, concluiu que a ênfase romântica era apenas uma fuga da realidade e aceitou esse desafio de expressar o real (JANSON).
O artista deve confiar em sua experiência direta, deve ser um realista (JANSON). Não posso pintar um anjo, pois nunca vi nenhum (pintor GUSTAVE COUBERT)
Os quebradores de pedra (1849), Coubert Revolução temática, não de estilos (JANSON).
A arte de Gustave Coubert Combina pinturas históricas com uma abordagem realista, ridicularizando a postura da arte acadêmica de domínio da técnica. Ricos e pobres, crianças, mulheres, gato e o artista compõem o universo de Coubert. O artista cria o pavilhão individual O Realismo, na Exposição Universal de Paris de 1855. Coubert queria a verdade na tela como Caravaggio, não a formosura (GOMBRICH). Para o autor, Coubert queria chocar a burguesia, com o valor da sinceridade artística, contra a manipulação hábil de clichês. Coubert influencia artistas como Honoré Daumier, que expressava as mazelas sociais e urbanas na caricatura política e em cartuns, publicados em jornais políticos satíricos. Arte e imprensa. Ataques a política de Luís Filipe e a corrupção no estado burguês da França. Daumier era amigo de Balzac, Comédia Humana. Em sua caricatura política, no povo vitimado, Daumier via o herói da luta contra o poder. Ele no entanto, não pode ser rotulado como realista porque não se preocupa com a superfície tangível, mas com o sentido emotivo (JANSON). Daumier fundou a arte sobre um interesse político para influenciar o povo. Litografia (lápis gorduroso sobre lâmina, pressionada na folha de papel). Representação do juízo sobre um fato: estímulo e despertar no leitor de uma reação moral.
Daumier utiliza óleo para obter o efeito de litografia. Pilatos instiga a multidão contra Cristo e simultaneamente, a multidão segue o apelo demagógico do poder. A multidão é amorfa, impessoal. Pessoas do povo: a tola maldade da multidão.
Pela liberdade de imprensa (Daumier) Ah! Você quer esfregar a imprensa (litografia, 1833, La Caricature). Tipógrafo pressiona e vinga a ameaçada liberdade de imprensa. Não Esfregue lá (litografia, 1834, The Monthly Association). Um trabalhador de impressão aguarda Louis Philippe, do outro lado, Charles X.
O realismo expõe uma nação onde há conflitos, entre uma classe dirigente, que explora, e uma classe trabalhadora explorada, que não é livre nem unida (ARGAN, 1992, p. 71)
Outras influências do realismo: a escola de Barbizon Liderados por Théodore Rousseau, a Escola de Barbizon, é criada por artistas que vão viver no campo, abandonando regras e convenções para renovar a pintura de paisagem. Objetivo: sentir a natureza, rejeitando o ambiente artificial das cidades. Busca de uma sociedade natural, diferente da sociedade burguesa (ARGAN, 1992, p. 61) O que os artistas buscavam? A emoção do lugar, as condições específicas de luz em uma vivência de familiaridade com a natureza. Natureza como espaço social.
Os Catadores (Jean- François Millet, 1814-1875) A obra em óleo sobre tela, exposta no Museu D- Orsay, em Paris, é uma busca de um estilo mais naturalista de paisagens, em Barbizon (vilarejo ao redor de Paris). A tarefa extenuante de colher sobras que ficam no campo após a colheita, a respiga, é retratada em três fases: duas mulheres catam e uma terceira faz um feixe. Natureza melancólica (FARTHING). A tela foi exibida no Salão de Paris de 1857 e foi considerada subversiva pelos conservadores. No quadro, o proprietário, isolado à direita, no alto e no fundo da tela, supervisiona o trabalho montado em seu cavalo. Figura inativa. Trabalhadoras em primeiro plano. Foram 10 anos de pesquisa. As cores dos chapéus (azul, vermelho e mangas brancas) remetem às cores da bandeira francesa (símbolo de lutas políticas do século XIX). Temas simples e rigorosos detalhes de um artista que era de uma família rural rica.
Por que retratar os camponeses? O operário era considerado um ser arrancado do seu ambiente natural pelo sistema capitalista, enquanto o camponês estava ligado à terra, aos modos de vida tradicionais.
Angelus (1867) O quadro de Jean François Millet, que retrata dois camponeses que chegam ao final do dia de trabalho, interrompidos pela oração, enquanto o sino toca. Obra foi um sucesso: cartões postais, almanaques, caixas de chocolate e calendários. Lavradores como protagonistas.
A temática do trabalho O trabalho incansável nas cidades e o interior rural eram temas do Realismo. O artista Nicolai Kasatkin pinta pobres recolhendo carvão de uma mina exaurida (óleo sobre tela, 1894, no Museu russo São Petesburgo). Ao retratar o cotidiano dos que sofrem longas jornadas, os artistas retratam a falta de esperança e a luta pela sobrevivência, influenciados pelo socialismo de Karl Marx e Frierich Engels (igualdade social e distribuição justa da riqueza). Eduard Manet também foi influenciado por Coubert. Ele queria se libertar da arte acadêmica. Temática: habitantes da cidade (mendigos, pessoas comuns em cafés e tavernas, prostitutas, a vida parisiense). Os pintores faziam obras com modelos em estúdios onde a luz entrava pela janela, resultando em contrastes violentos na luz solar. Manet preferia confiar em seus próprios olhos, e não em ideias preconcebidas de como as coisas devem ser expressadas (GOMBRICH). O Realismo intenta retratar com exatidão o que o olho vê, ignorando cenas históricas, literárias, mitológicas e religiosas. Movimento inovador na utilização da tinta.
Balcão (1868, óleo sobre tela) Manet trabalha contraste luz de forma diferenciada, inspirado em obra de Goya (1810). Luzes e sombras engolem o interior.
O tocador de pífaro (Manet, 1866): rejeitado no Salão de Paris, inspiração para o impressionismo
Realismo no Brasil: O paisagismo de Benedito Calixto A pintura dos paisagistas, entre eles, Benedito Calixto, que começou a carreira restaurando imagens sacras em Brotas, no interior de São Paulo, como auxiliar do tio, pode ser caracterizada como realismo no Brasil. Benedito Calixto estudou na Europa, com vivências no interior e no litoral paulista, que inspiraram seus quadros, em trajetória semelhante a de outros pintores brasileiros, em uma época com incentivos de viagens ao exterior com bolsa, para o aprimoramento da pintura (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL). Pedra do Mato, São Vicente (Benedito Calixto, sem data).
O cotidiano do interior Almeida Júnior expressa, em suas obras, o desejo de aproximação realista ao cotidiano do homem do interior, sem o filtro das fórmulas universalistas da pintura acadêmica. O pintor não hesita em retratar o caipira em seu ambiente pobre e simples, em sua vida calma e triste, sem transformá-lo em personagem pitoresco (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL). Caipira picando fumo (Almeida Júnior, 1893).
Temas urbanos e sociais na literatura A literatura realista no Brasil traz a análise da sociedade, em caracterizações de personagens como o escravo sem rumo, os que vivem de renda, a decadência da monarquia e a urbanização brasileira. Machado de Assis ( Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro e suas personagens Bento, Capitu e Escobar). Aluísio Azevedo ( O Cortiço ) é da tendência naturalista do realismo. Em Portugal, Eça de Queiros ( O Primo Basílio entre outros) é um dos expoentes. Personagens complexos, narrativas inovadoras e a superação do ideal romântico.
Os marginalizados na modernidade No século XX, a artista Regina Katz expressa, na década de 1950, em suas gravuras uma denúncia social, dos marginalizados em paisagens do Rio de Janeiro, em Favela e quando aborda o tema dos retirantes. Favela (xilogravura: gravura em relevo sobre madeira).