Proteção solar para crianças: estudo preliminar sobre conhecimentos e atitudes dos pais



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Transcrição:

ARTIGO ORIGINAL Proteção solar para crianças: estudo preliminar sobre conhecimentos e atitudes dos pais Sun protection for children: preliminary study on the knowledge and attitudes of parents Luana Rosa da Silva 1, Aline do Carmo França-Botelho 2 RESUMO Objetivo: Este estudo objetivou analisar os conhecimentos e atitudes dos pais quanto as práticas de proteção solar para crianças em Araxá-MG. Materiais e Métodos: Foi uma pesquisa de campo de caráter quanti-qualitativa e exploratória, realizada por meio de entrevista, no mês de agosto de 2010, com pais ou responsáveis por alunos da quarta série do ensino fundamental. Foi realizada uma estrevista semi-estruturada abrangendo medidas de fotoproteção, conhecimento dos perigos da exposição solar e também aspectos sociais como renda familiar e escolaridade. Resultados: O período do dia de maior exposição foi entre 10 e 16 horas com 65,5%. Quanto ao tempo de exposição solar diário, notou-se que de três a quatro horas por dia foi o tempo mais relatado (33,3%). Quanto ao uso frequente de outras formas de proteção solar como: chapéu, boné, camisetas apropriadas, óculos, 66,7% afirmaram não fazer uso. Quando abordados em relação ao uso de protetor solar, 50% dos participantes relataram que as crianças não fazem o uso de protetor solar nem quando expostas a sol intenso. Conclusão: Os hábitos, cuidados e práticas de exposição solar dos pais para com seus filhos não estão adequados e o conhecimento acerca do assunto câncer da pele é dito por eles insuficiente, embora tenham noções dos perigos da exposição solar exagerada. Palavras-chave: câncer de pele; fotoproteção; saúde da criança; promoção da saúde. ABSTRACT Objective: This study aimed to analyze the knowledge and attitudes of parents about sun protection practices for children in Araxá-MG. Materials and Methods: It was a field research, with a quantitative-qualitative exploratory approach, conducted through interviews in the month of August 2010 with parents or guardians of students from the fourth grade of primary education. We conducted a semi-structured interview covering measures of sun protection, knowledge of the dangers of sun exposure and also social aspects such as family income and schooling. Results: The day period of most exposure was between 10 and 16 hours (65.5%). Concerning the amount of daily sun exposure, we found that three to four hours per day was reported more often (33.3%). Regarding the frequent use of other forms of sun protection such as hat, cap, appropriate t-shirts, glasses, 66.7% reported no use. When asked regarding the sunscreen use,50% of the participants reported that the children do not use sunscreen even when exposed to intense sun. Conclusion: The habits, care and sun exposure practices of parents towards their children are not adequate and the knowledge about the subject of skin cancer is considered by them as insufficient, although they have an understanding of the dangers of excessive sun exposure. Keywords: skin cancer; sun protection; child health; health promotion. 1 Enfermeira. Egressa do curso de Enfermagem do Centro Universitário do Planalto de Araxá (UNIARAXÁ). 2 Cirurgiã-Dentista. Doutora em Parasitologia. Professora do Instituto de Ciências da Saúde do Centro Universitário do Planalto de Araxá (UNIARAXÁ). 02 Revista Ciência & Saúde, Porto Alegre, v. 4, n. 1, p. 2-6, jan./jun. 2011

INTRODUÇÃO De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) o câncer é um processo de crescimento e disseminação incontrolados de células. É a segunda causa principal de mortalidade, depois das doenças cardiovasculares¹. Em 2010, no Brasil, as estimativas apontam para uma ocorrência de 489.270 casos novos de câncer na população brasileira². O tipo mais incidente é o de pele, com 119.780 novos casos, sendo que a exposição ao sol é considerada a principal causa³. A radiação ultravioleta é um reconhecido carcinógeno de efeito cumulativo 4. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, a radiação ultravioleta é o principal responsável pelo desenvolvimento do câncer da pele, sendo encontrada não apenas nos raios solares, mas, também em cabines de bronzeamento artificial. O efeito da radiação ultravioleta é cumulativo, mesmo depois que a pessoa para de se expor ao sol poderá ter alterações da pele muitos anos depois 5. A forma com que as pessoas se expõem ao sol é de fundamental importância na prevenção do câncer de pele. A exposição ao sol na infância é um importante fator de risco para câncer de pele 6. Quando a exposição excessiva dá-se na infância e juventude, aumenta o risco de desenvolvimento do câncer da pele no futuro. A infância é uma fase em que a criança fica mais vulnerável ao efeito nocivo por ter várias atividades recreativas e esportivas ao sol. A prevenção primária do câncer da pele deve ter como principal população-alvo a infantil, uma vez que as crianças se expõem ao sol três vezes mais que os adultos, e a exposição cumulativa durante os primeiros 10 a 20 anos de vida determinam o risco de câncer da pele, mostrando ser a infância uma fase particularmente vulnerável aos efeitos nocivos do sol. Assim, um programa de prevenção primária do câncer da pele envolve necessariamente pais e professores, responsáveis por evitar a exposição solar das crianças nos horários de maior radiação ultravioleta, ou seja, entre 10h e 16h. É fundamental também estimular bons hábitos de proteção física, como chapéu ou guarda-sol, e evidentemente, o uso de protetores solares com fator de proteção solar no mínimo de 15 7. Considerando a importância do câncer da pele num país de clima tropical como é o Brasil, este estudo tornou-se pertinente, pois objetivou analisar os conhecimentos e atitudes dos pais quanto às práticas de proteção solar para as crianças, grupo altamente vulnerável à exposição solar excessiva. Além disso, os resultados obtidos podem servir de subsídios para o desenvolvimento de ações de educação em saúde na escola, focando a prevenção do câncer da pele. MATERIAIS E MÉTODOS Trata-se de uma pesquisa de campo de caráter quanti-qualitativa e exploratória. O projeto obedeceu às normas da Resolução 196/96, foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário do Planalto de Araxá (UNIARAXÁ) e só após a sua aprovação foi iniciado. A diretora da escola onde a pesquisa foi realizada assinou previamente um termo de autorização para o desenvolvimento da pesquisa. A coleta de dados foi realizada no mês de agosto de 2010 em uma escola da rede pública municipal de Araxá-MG, localizada na periferia da cidade, que atende, em dois turnos, cerca de 800 alunos do ensino fundamental. A amostra foi de conveniência, em reunião de pais e mestres, sendo composta pelos pais ou responsáveis pelos alunos da quarta série, que, voluntariamente, concordaram em participar da pesquisa assinando um termo de consentimento livre e esclarecido, totalizando 30 voluntários. Foi realizada uma estrevista semi-estruturada abrangendo medidas de fotoproteção, conhecimento dos perigos da exposição solar e também aspectos sociais como renda familiar e escolaridade. As eventuais dúvidas sobre o tema foram esclarecidas imediatamente após as entrevistas. Os dados foram tabulados e analisados através de estatística descritiva, com cálculo de médias e desviospadrão através dos programas Instat e Excel. RESULTADOS De acordo com a tabela 1 nota-se que o ensino fundamental incompleto foi o nível de escolaridade mais Revista Ciência & Saúde, Porto Alegre, v. 4, n. 1, p. 2-6, jan./jun. 2011 03

TABELA 1 - Distribuição dos entrevistados quanto ao nível de escolaridade. Escolaridade N % Ensino fundamental incompleto 12 40 Ensino fundamental completo 4 13,4 Ensino médio incompleto 3 10 Ensino médio completo 9 30 Ensino superior incompleto 1 3,3 Ensino superior completo TOTAL 1 30 3,3 100 TABELA 2 - Distribuição dos entrevistados quanto à renda familiar. Renda Familiar N % Menos de 1 salário mínimo 3 10 Entre 1 e 2 salários mínimos 23 76,6 Entre 3 e 4 salários mínimos 2 6,7 Mais que 4 salários mínimos 2 6,7 TOTAL 30 100 FIGURA 1 - Índices percentuais relativos aos horários de maior exposição solar das crianças segundo as respostas de seus pais. presente (40%). Segundo a tabela 2, a renda familiar entre um e dois salários mínimo foi a mais relatada (76,6%). A figura 1 mostra os horários de maior exposição solar das crianças relatados pelos pais, destaca-se que o período do dia de maior exposição é entre 10 e 16 horas com 65,5%. Quanto ao tempo de exposição solar diário da criança, notou-se que de três a quatro horas por dia foi o tempo mais citado (33,3%). E quanto ao uso frequente de outras formas de proteção solar como: chapéu, boné, camisetas apropriadas, óculos, 66,7% afirmaram que os filhos não fazem uso. Em relação à tabela 3, quando abordados em relação ao uso de protetor solar (50%) dos participantes entrevistados relataram que as crianças não fazem o TABELA 3 - Distribuição dos entrevistados quanto ao uso de protetor solar pelos seus filhos. Uso de Protetor Solar N % Diariamente 4 13,4 Somente no verão quando se expõe ao sol intenso Em qualquer estação, quando se expõe ao sol intenso 10 33,3 1 3,3 Não usa 15 50 TOTAL 30 100 FIGURA 2 - Índices percentuais relativos ao conhecimento sobre câncer de pele relatado pelos entrevistados. uso de protetor solar nem quando expostas a sol intenso. A figura 2 mostra as respostas relativas ao questionamento feito aos pais sobre seus conhecimentos sobre câncer de pele, destaca-se a resposta insuficiente, mencionada por 80% dos participantes. DISCUSSÃO Esse estudo buscou conhecer hábitos de exposição solar e práticas de fotoproteção em escolares. Os resultados mostraram que essas crianças correm risco de desenvolvimento de câncer de pele no futuro, pois não fazem uso de medidas adequadas de proteção solar. Um trabalho realizado na cidade de Botucatu, 78,79% dos participantes de um estudo com um grupo de risco, 04 Revista Ciência & Saúde, Porto Alegre, v. 4, n. 1, p. 2-6, jan./jun. 2011

os carteiros, possuiam o segundo grau completo, talvez pelo fato dessa profissão exigir esse nível de escolaridade 8. No presente estudo o nível de escolaridade foi baixa, com 40% apresentando ensino fundamental incompleto. A baixa renda familiar observada no estudo pode estar relacionada à escolaridade. A renda foi bem diferente de outro estudo similar a esse, realizado em Recife, onde 75,4% dos participantes recebiam acima de 10 salários mínimos e o nível de escolaridade deles também era maior 4. De acordo com estudo realizado no Distrito Federal, 50% dos participantes universitários afirmaram exposição das 10 às 16 horas, corroborando com o presente estudo 9. No Recife, em academia de ginástica, apenas 13,3% dos participantes não utilizam protetor solar 4. Esse percentual, bem mais baixo que o abtido aqui, pode estar relacionado ao perfil da amostra, predominantemente jovem, e ao fato de ser uma cidade litorânea. Um estudo multicêntrico na Europa relativo à exposição solar de crianças durante as férias de verão foi realizado de 1995 a 1997, um total de 631 crianças foram recrutadas na Bélgica, Alemanha, França e Itália. Apenas 25% das crianças sempre utilizava protetor solar 10. O fato dos pais não tomarem o cuidado quanto à exposição solar excessiva dos seus filhos pode ser consequencia do baixo nível de informação que tem sobre o tema, o que sugere a necessidade de ações de educação em saúde efetivas na escola e também na comunidade. Vale salientar que quando questionados sobre o sol como prejudicial à pele, 82,8% dos participantes disseram que sim, que o sol pode ser prejudicial a qualquer pessoa e quanto aos possíveis danos à visão, 93,4% responderam afirmativamente. Observa-se que embora tenham noções dos perigos da exposição solar prolongada, não adotam as medidas necessárias para a fotoproteção de seus filhos, isso pode estar relacionado ao baixo nível de informações sobre o câncer da pele e sua relação causal com a exposição solar cumulativa, especialmente na infância e juventude. Além disso, a renda familiar e a escolaridade dos pais pode ter ligação com a baixa adesão as práticas de proteção solar, especialmente ao filtro solar, que embora tenha se popularizado mais, ainda não é um produto compatível ao poder aquisitivo de muitas famílias brasileiras. Reconhecendo que a escola tem um papel importante na vida diária das crianças, é local onde elas passam grande parte de seu tempo e com muitas atividades realizadas ao sol, é um local estratégico para ações de educação em saúde sobre o tema câncer da pele. Nesse contexto, os docentes desempenham um papel central, mas para que a atuação dos professores tenha bons resultados, é necessário primeiramente conscientizá-los quanto ao problema, só assim poderão atuar como colaboradores em prol de uma mudança de atitudes e práticas dos alunos e dos pais. Ações de intervenção de educação em saúde são uma proposta, a exemplo do programa Sol Amigo 11, realizado no Brasil desde 2006, que tem por objetivo levar informação a comunidade que não está bem informada sobre os efeitos à saúde decorrentes da exposição excessiva à radiação ultravioleta. As práticas saudáveis adquiridas na escola são mais efetivas se tiverem amplo apoio e conscientização das famílias, professores e direção. Com base nos resultados podemos concluir que os hábitos, cuidados e práticas de exposição solar dos pais para com seus filhos não estão adequados e o conhecimento acerca do assunto câncer da pele é dito por eles insuficiente, embora tenham noções dos perigos da exposição solar exagerada. REFERENCIAS 1. Organização Mundial de Saúde (OMS). Câncer. [capturado em 2011 mar 14]; Disponível em: http://www.who.int/topics/cancer/es. 2. Instituto Nacional de Câncer (INCA). Estimativa 2010. Incidência de câncer no Brasil. [capturado em 2011 mar 14]; Disponível em: http://www.inca.gov.br/estimativa/2010. 3. Instituto Nacional de Câncer (INCA). Câncer de pele, 2010. [capturado em 2011 mar 14]; Disponível em: http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=333. 4. Hora C, Guimarães PB, Martins S, Batista CVC, Siqueira R. Avaliação do conhecimento quanto à prevenção docâncer da pele e sua relação com exposição solar em freqüentadores de academia de ginástica, em Recife. An Bras Dermatol. 2003 nov/dez; 78(6):693-701. Revista Ciência & Saúde, Porto Alegre, v. 4, n. 1, p. 2-6, jan./jun. 2011 05

5. Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Câncer de pele. [capturado em 2011 mar 14]; Disponível em: http://www.sbd.org.br/doenca/cancerdepele.aspx. 6. Eakin P, Maddock J, Techur-Pedro A, Kaliko R, Derauf DC. Sun protection policy in elementary schools in Hawaii. Prev Chronic Dis. 2004; 1(3):A05. 7. Sociedade Brasileira de Dermatologia. Análise de dados das campanhas de prevenção ao câncer da pele promovidas pela Sociedade Brasileira de Dermatologia de 1999 a 2005. An Bras Dermatol. 2006 nov/dez; 81(6):533-9. 8. Popim RC, Corrente JE, Marino JAG, Souza CA. Câncer de pele: uso de medidas preventivas e perfil demográfico de um grupo de risco na cidade de Botucatu. Cien Saude Colet. 2008 aug; 13(4):1331-6. 9. Castilho IG, Sousa MAA. Fotoexposição e fatores de risco para câncer de pele: uma avaliação de hábitos e conhecimentos entre estudantes universitários. An Bras Dermatol. 2010 mar/abr; 85(2):173-8. 10. Severi G, Cattaruzza MS, Baglietto L, Boniol M, Doré JF, Grivegnée AR, Luther H, Autier P. Sun exposure and sun protection in young European children: an EORTC multicentric study. Eur J Cancer. 2002 Apr; 38(6):820-6. 11. Programa Sol Amigo. [capturado em 2011 mar 14]; Disponível em: http://www.solamigo.org. Endereço para correspondência: Aline do Carmo França Botelho Rua Antônio Barreto 555 Araxá/Minas Gerais Telefone: +55 34 36617766 E-mail: alinecfb@terra.com.br 06 Revista Ciência & Saúde, Porto Alegre, v. 4, n. 1, p. 2-6, jan./jun. 2011