QUADRO COMPARATIVO: TEXTOS DA CÂMARA DOS DEPUTADOS E DO SENADO FEDERAL i TEMA: VINCULAÇÃO DAS RECEITAS PETROLÍFERAS À EDUCAÇÃO PÚBLICA E SAÚDE Breve introdução Diante da iminente votação do Projeto de Lei que vincula as receitas petrolíferas para educação pública e saúde, a rede da Campanha Nacional pelo Direito à Educação declara sua preferência pelo texto relatado pelo Dep. André Figueiredo (PDT-CE) e aprovado por unanimidade no dia 26 de junho de 2013 pela Câmara dos Deputados. Com isso, pede rejeição ao Projeto de Lei aprovado no Senado Federal na última semana. Diante da necessidade de informar a sociedade, a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, apresenta abaixo, em um quadro sintético e comparativo, as principais diferenças entre os dois PLs e seus impactos para a transparência e bom uso dos recursos do petróleo, além da aplicação de parte significativa desse montante para a educação pública e a saúde. Mais uma vez, as mais de 200 entidades, organizações e movimentos que compõem a Campanha Nacional pelo Direito à Educação reiteram: são esperados coragem e discernimento dos representantes do povo na manutenção do texto da Câmara dos Deputados, em detrimento daquele projeto mais tímido aprovado pelo Senado Federal. Mesmo frente ao fato de que ambas as propostas sejam muito melhores do que o texto original, encaminhado pela Presidenta Dilma Rousseff ao Congresso Nacional, é importante ressaltar que o texto da Câmara dos Deputados é muito mais consistente em termos de defesa das riquezas nacionais, o que garante, por fim, um montante maior de recursos às áreas sociais, independentemente de qualquer estimativa. Basicamente, isso ocorre porque a proposta relatada pelo deputado André Figueiredo (PDT-CE) vincula mais fontes de receitas do petróleo à educação e saúde, como pode ser visto a seguir. Considerando todos os dispositivos dos textos das duas Casas Legislativas, a Campanha Nacional pelo Direito à Educação recomenda a preferência pela votação do texto da Câmara dos Deputados, com possíveis destaques extraídos do texto do Senado Federal.
Texto aprovado na Câmara dos Deputados: Texto aprovado no Senado Federal: Comentários e recomendações: Art. 1 Esta Lei dispõe sobre a destinação para as áreas de educação e saúde de parcela da participação no resultado ou da compensação financeira pela exploração de petróleo e gás natural, de que trata o 1º do art. 20 da Constituição Federal. Art. 1 Esta Lei dispõe sobre a destinação para as áreas de educação e saúde de parcela da participação no resultado ou da compensação financeira pela exploração de petróleo e gás natural, de que trata o 1º do art. 20 da Constituição Texto idêntico. Art. 2 Para fins de cumprimento da meta prevista no inciso VI do caput do art. 214 e no art. 196 da Constituição Federal, serão destinados exclusivamente para a educação pública, com prioridade para a educação básica, e para a saúde, na forma do regulamento, os seguintes recursos: I - as receitas dos órgãos da administração direta da União provenientes dos royalties e da participação especial decorrentes de áreas cuja declaração de comercialidade tenha ocorrido a partir de 3 de dezembro de 2012, relativas a contratos celebrados sob os regimes de concessão, de cessão onerosa e de partilha de produção, de que tratam respectivamente as Leis n s 9.478, de 6 de agosto de 1997, 12.276, de 30 de junho de 2010, e 12.351, de 22 de dezembro de 2010, quando a lavra ocorrer na plataforma Federal. Art. 2 Para fins de cumprimento da meta prevista no inciso VI do caput do art. 214 e do disposto no art. 196 da Constituição Federal, serão destinados exclusivamente para a educação pública, com prioridade para a educação básica, e para a saúde, na forma do regulamento, os seguintes recursos: I - as receitas dos órgãos da administração direta da União provenientes dos royalties e da participação especial decorrentes de áreas cuja declaração de comercialidade tenha ocorrido a partir de 3 de dezembro de 2012, relativas a contratos celebrados sob os regimes de concessão, de cessão onerosa e de partilha de produção, de que tratam respectivamente as Leis n s 9.478, de 6 de agosto de 1997, Texto equivalente, com o mesmo efeito. Texto idêntico. Obs.: Vale ressaltar que a primeira intenção do texto do Senado Federal era liberar a União do ponto de partida da declaração de comercialidade ii, deixando-a livre para fazer o uso irrestrito desses recursos. Essa mudança, conquistada no Plenário, foi mais uma vitória da sociedade civil.
continental, no mar territorial ou na zona econômica exclusiva; II - as receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios provenientes dos royalties e da participação especial decorrentes de áreas cuja declaração de comercialidade tenha ocorrido a partir de 3 de dezembro de 2012, relativas a contratos celebrados sob os regimes de concessão, de cessão onerosa e de partilha de produção, de que tratam respectivamente as Leis nºs 9.478, de 6 de agosto de 1997, 12.276, de 30 de junho de 2010, e 12.351, de 22 de dezembro de 2010, quando a lavra ocorrer na plataforma continental, no mar territorial ou na zona econômica exclusiva; 12.276, de 30 de junho de 2010, e 12.351, de 22 de dezembro de 2010, quando a lavra ocorrer na plataforma continental, no mar territorial ou na zona econômica exclusiva; II - as receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios provenientes dos royalties e da participação especial, relativas a contratos celebrados a partir de 3 de dezembro de 2012, sob os regimes de concessão, de cessão onerosa e de partilha de produção, de que tratam respectivamente as Leis nºs 9.478, de 6 de agosto de 1997, 12.276, de 30 de junho de 2010, e 12.351, de 22 de dezembro de 2010, quando a lavra ocorrer na plataforma continental, no mar territorial ou na zona econômica exclusiva; O texto da Câmara dos Deputados beneficia, de fato, a educação pública e a saúde. Como seu ponto de partida para a vinculação das receitas com royalties e participações especiais é a declaração de comercialidade iii a partir de 3/12/2012, as receitas Estatais com óleo das promissoras áreas de Carcará, Carioca, Júpiter, Caramba, Parati, Franco, Iara e Entorno, Sul de Tupi, Nordeste de Tupi, Sul de Guará, Florim, entre outras, beneficiarão as áreas sociais. Contudo, se o texto do Senado Federal for mantido, as receitas dessas áreas estarão livres para o uso. Portanto, se o texto da Câmara dos Deputados vincula R$ 74,31 bilhões de reais das receitas com petróleo de Estados e Municípios, em um período de 10 anos. O texto do Senado só vincula para a educação e a saúde contratos sob o regime de concessão que deverão gerar receitas somente a partir de 2022. Outra questão: se o texto do Senado Federal for vitorioso, mudando o ponto de
III 50% (cinquenta por cento) dos recursos recebidos pelo Fundo Social de que trata o art. 47 da Lei n 12.351, de 22 de dezembro de 2010, até que sejam cumpridas as metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação; e III 50% (cinquenta por cento) dos rendimentos dos recursos recebidos pelo Fundo Social de que trata o art. 47 da Lei n 12.351, de 22 de dezembro de 2010. partida de vinculação, substituindo o bom critério da declaração de comercialidade pela celebração dos contratos a partir de 3/12/2012, os recursos arrecadados com o petróleo demorarão a beneficiar as redes públicas estaduais e municipais de educação básica pública, pois primeiro as novas áreas terão que ser licitadas, depois pesquisadas para, ao longo de alguns anos, ser declarada sua comercialidade e exploração. Após a votação no Senado Federal, o Senador Eduardo Braga (PMDB-AM), Líder do Governo naquela Casa Legislativa, em Nota publicada em seu site iv, assumiu que o Fundo Social, na verdade, é um Fundo Soberano. É a primeira vez que uma autoridade pública assume o que era óbvio, mas não estava bem compreendido pela sociedade. O texto da Câmara dos Deputados determina que metade do Fundo Social do Pré-Sal seja destinado à educação pública até que sejam cumpridas as metas do PNE. Trata-se de um dispositivo ponderado. Em primeiro lugar, mantém
metade dos recursos que iriam para o Fundo Social do Pré-Sal como estratégia de estabilização econômica. Em segundo lugar, vincula até 2022 ou 2023 (a depender da data de aprovação do PNE), os recursos essenciais para o cumprimento das metas do novo plano educacional. Desse modo, fica ainda mais descartado o risco de doença holandesa, considerando-se ainda que o Brasil apresenta déficit na conta petróleo. Além disso, a educação pública será beneficiada de duas formas: 1) com mais recursos; 2) aplicando o dinheiro novo em um plano demandado pelo Art. 214 da Constituição Federal de 1988. Em termos de recursos, o texto da Câmara Deputados viabiliza R$ 119,93 bilhões. Contra R$ 5,46 bilhões, considerando o texto do Senado Federal. Ressalte-se, contudo, que o texto do Senado em seu Art. 3º, destina R$ 65,39 bilhões direto para a área de educação. No entanto, como pôde ser verificado, o valor destinado pelo texto da Câmara é muito maior.
IV as receitas da União decorrentes de acordos de individualização da produção de que trata o art. 36 da Lei n 12.351, de 22 de dezembro de 2010. 1º As receitas de que trata o inciso I serão distribuídas de forma prioritária aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios que determinarem a aplicação da respectiva parcela de receitas de royalties e de participação especial com a mesma destinação exclusiva. 2 A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis - ANP tornará público, mensalmente, o mapa das áreas sujeitas à individualização da produção de que trata o inciso IV, bem como a estimativa de cada percentual do petróleo e do gás natural localizados em área da União. 1º As receitas de que trata o inciso I serão distribuídas de forma prioritária aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios que determinarem a aplicação da respectiva parcela de receitas de royalties e de participação especial com a mesma destinação exclusiva. 2º As receitas de que trata o inciso II poderão ser aplicadas no custeio de despesas com manutenção e desenvolvimento do ensino, especialmente na educação básica pública em tempo integral, inclusive O Senado Federal abriu mão de vincular os recursos da chamada unitização v. Com isso, um importante recurso que pertencente ao povo brasileiro, representado pela União, deixa de ser explorado e vinculado à educação pública. Texto idêntico. É uma medida de transparência. Limita ao inciso II, ou seja, às receitas com royalties e participações especiais de Estados e Municípios, o uso dos recursos petrolíferos ao pagamento de professores. RECOMENDAÇÃO: REJEIÇÃO DESTE
3º União, Estados, Distrito Federal e Municípios aplicarão os recursos previstos nos incisos I e II deste artigo no montante de 75% (setenta e cinco por cento) na área de educação e de 25% (vinte e cinco por cento) na área de saúde. Art. 3 Os recursos dos royalties e da participação especial destinados à União, provenientes de campos sob o regime de concessão, de que trata a Lei n 9.478, de 6 de agosto de 1997, cuja declaração de comercialidade tenha ocorrido antes de 3 de dezembro de 2012, quando oriundos da produção realizada no horizonte geológico as relativas a pagamento de salários e outras verbas de natureza remuneratória a profissionais do magistério em efetivo exercício na rede publica, limitado a 60% (sessenta por cento) do total, não se aplicando a tais despesas a vedação contida no caput do art. 8º da Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989. 3º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicarão os recursos previstos no inciso III deste artigo no montante de 75% (setenta e cinco por cento) na área de educação e de 25% (vinte e cinco por cento) na área de saúde. Art. 3 Os recursos dos royalties e da participação especial destinados à União, provenientes de campos sob o regime de concessão, de que trata a Lei n 9.478, de 6 de agosto de 1997, relativos a contratos contratados antes de 3 de dezembro de 2012, quando oriundos da produção PARÁGRAFO PROVENIENTE DO SENADO FEDERAL, EM FAVOR DO ART. 5º DO O texto do Senado Federal relega à saúde apenas os parcos rendimentos do Fundo Social do Pré-Sal. Com isso, essa área será beneficiada com apenas R$ 1,37 bilhão, em 10 anos. Já o texto da Câmara dos Deputados distribui para a educação pública R$ 102,48 bilhões e R$ 34,16 bilhões para a saúde, em um prazo de 10 anos. O texto do Senado Federal antecipa, para a educação pública, metade das receitas com royalties e participações especiais da União, que comporiam o Fundo Social do Pré-Sal. É uma boa medida. RECOMENDAÇÃO: APROVAÇÃO DESTE DISPOSITIVO, ADVINDO DO TEXTO DO
denominado pré-sal, localizados na área definida no inciso IV do caput do art. 2 da Lei n 12.351, de 22 de dezembro de 2010, serão integralmente destinados ao Fundo Social previsto no art. 47 da Lei n 12.351, de 22 de dezembro de 2010. Art. 4 Os recursos destinados para as áreas de educação e saúde na forma do art. 2 serão aplicados em acréscimo ao mínimo obrigatório previsto na Constituição Federal. realizada no horizonte geológico denominado pré-sal, localizados na área definida no inciso IV do caput do art. 2 da Lei n 12.351, de 22 de dezembro de 2010, serão destinados da seguinte forma: I 50% (cinquenta por cento) para a educação pública, com prioridade para a educação básica, até que sejam cumpridas as metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação; e II 50% (cinquenta por cento) para o Fundo Social previsto no art. 47 da Lei n 12.351, de 22 de dezembro de 2010. Parágrafo único. Uma vez atingidas as metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação, os recursos de que trata o caput serão integralmente destinados ao Fundo Social, previsto no art. 47 da Lei n 12.351, de 22 de dezembro de 2010. Art. 4 Os recursos destinados para as áreas de educação e saúde na forma do art. 2 serão aplicados em acréscimo ao mínimo obrigatório previsto na Constituição Federal. SENADO FEDERAL. Texto idêntico.
Art. 5 O 1 do art. 8 da Lei n 7.990, de 28 de dezembro de 1989, passa a vigorar com a seguinte redação: Art. 8º... 1º As vedações constantes do caput não se aplicam: I - ao pagamento de dívidas para com a União e suas entidades; II - ao custeio de despesas com manutenção e desenvolvimento do ensino, especialmente na educação básica pública em tempo integral, inclusive as relativas a pagamento de salários e outras verbas de natureza remuneratória a profissionais do magistério em efetivo exercício na rede pública.... (NR) 1 o Não se aplica a vedação constante do caput no pagamento de dívidas para com a União e suas entidades. RECOMENDAÇÃO: REJEIÇÃO DESTE PARÁGRAFO PROVENIENTE DO SENADO FEDERAL, EM FAVOR DO ART. 5º DO Art. 6 A alínea b do inciso III do art. 10 da Lei nº 12.351, de 22 de dezembro de 2010, Exige que, nos contratos de partilha, no mínimo a União fique com 60% do excedente em óleo. A extração desse
passa a vigorar com a seguinte redação: Art. 10.... III -...... parágrafo fere o interesse nacional, deixando parte significativa das riquezas petrolíferas aos interesses das empresas que atuam no mercado do petróleo. b) o percentual mínimo do excedente em óleo da União, que não será inferior a 60% (sessenta por cento);... (NR) Art. 7 Esta Lei entra em vigor na data de sua Art. 5 Esta Lei entra em vigor na data publicação. de sua publicação. Assina: Comitê Diretivo da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Texto idêntico. Ação Educativa, ActionAid Brasil,CCLF (Centro de Cultura Luiz Freire), Cedeca-CE (Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará), CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente, Mieib (Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil), MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), Uncme (União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação) e Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação). i Este quadro utiliza como referência as Notas Técnicas da Consultoria Legislativa da área de Recursos Minerais, Hídricos e Energéticos. Todas foram de autoria do Servidor Público Paulo César Ribeiro Lima. O quadro desmembra valores, portanto, em alguns aspectos apresenta montantes diferentes das NTs. ii A declaração de comercialidade indica, no setor de petróleo, que uma área pesquisada vai virar um campo produtor. iii Idem, a declaração de comercialidade indica, no setor de petróleo, que uma área pesquisada vai virar um campo produtor. iv Veja Esclarecimentos sobre o projeto dos royalties aprovado no Senado. Aqui: http://www.senadoreduardobraga.com.br/site/noticia/esclarecimentos-sobre-o-projeto-dos-royalties-aprovado-no-senado/. v Reservatório existente entre duas áreas exploradas, tal como um vaso comunicante, ou um ponto de intersecção.