Seletividade de Inseticidas Registrados no Controle de Spodoptera frugiperda em Milho para Adultos de Doru luteipes e Euborellia annulipes

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Transcrição:

Seletividade de Inseticidas Registrados no Controle de Spodoptera frugiperda em Milho para Adultos de Doru luteipes e Euborellia annulipes Ana Carolina Redoan 1, Geraldo A. Carvalho 1, Ivan Cruz 2, Maria de Lourdes C. Figueiredo 2 e Rafael B. Silva 1 1 Mestranda Agronomia/Entomologia - Departamento de Entomologia UFLA, Cx. P. 3037 37200-000 Lavras,MG ac.redoan@gmail.com; 1 Professor Doutor do Departamento de Entomologia UFLA,gacarval@den.ufla.br ; 2 Pesquisador Doutor da Embrapa Milho e Sorgo Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo/Sete Lagoas, Bolsista de Desenvolvimento Tecnológico Industrial do CNPq - Nível 2 da Embrapa Milho e Sorgo Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo/Sete Lagoas, 1 Doutorando em Ecologia e Recursos Naturais da Universidade Federal de São Carlos, UFSCar. Resumo Doru luteipes (Scudder) (Dermaptera: Forficulidae) e Euborellia annulipes (Lucas) (Dermaptera: Carcinophoridae) são considerados eficientes predadores de artrópodes-praga, e estudos recentes têm demonstrado a possibilidade de utilização desses inimigos naturais no controle de Spodoptera frugiperda (J. E. Smith) (Lepidoptera: Noctuidae) na cultura do milho. O objetivo desta pesquisa foi avaliar os efeitos dos inseticidas triflumurom (24 g i.a./ha), lambda-cialotrina + tiametoxam (26,5 + 32,5 g i.a./ha, respectivamente), alfa-cipermetrina + teflubenzurom (12,7 + 12,7 g i.a./ha, respectivamente), clorfenapir (180 g i.a./ha), etofenproxi (30 g i.a./ha) e espinosade (48 g i.a./ha), registrados para o controle de S. frugiperda em milho, sobre adultos de D. luteipes e E. annulipes. Posturas do noctuídeo foram tratadas por meio de pulverização dos compostos através de pulverizador acoplado a uma esteira rolante e ofertadas aos adultos de D. luteipes e E. annulipes. As avaliações foram realizadas às 48, 72 e 96 horas após a oferta das posturas contaminadas aos predadores. Registrou-se o número de espécimes mortos e os inseticidas foram enquadrados em classes de toxicidade preconizadas pela IOBC. Para adultos de D. luteipes os inseticidas triflumurom, lambda-cialotrina + tiametoxam, alfa-cipermetrina + teflubenzurom e etofenproxi foram considerados inócuos (< 30% de mortalidade); clorfenapir,foi levemente nocivo (30-79%) e espinosade foi moderadamente nocivo (80-99%). Quanto aos adultos de E. annulipes, triflumurom, lambda-cialotrina + tiametoxam, alfa-cipermetrina + teflubenzurom, etofenproxi e espinosade foram considerados inócuos (<30%), enqanto que clorfenapir foi levemente nocivo (30-79%). Em função da baixa toxicidade apresentada, os inseticidas triflumurom, lambda-cialotrina + tiametoxam, alfa-cipermetrina + teflubenzurom e etofenproxi podem ser utilizados em programas de manejo de S. frugiperda visando a preservação de adultos de D. luteipes e E. annulipes; entretanto, os demais compostos devem ser avaliados em condições de semicampo e campo para confirmação da toxicidade a esses predadores. Palavras-chave: Zea mays, lagarta-do-cartucho, tesourinha, pesticidas, toxicidade. Inúmeros fatores podem influenciar a produtividade do milho, destacando-se a ocorrência de pragas que geralmente causam grandes prejuízos à cultura. Nesse contexto, a lagarta-docartucho Spodoptera frugiperda (J. E. Smith) (Lepidoptera: Noctuidae) é considerada a principal praga da cultura do milho no Brasil e uma das mais importantes das Américas (CRUZ et al., 2002). Para seu controle, métodos cultural e químico são os mais utilizados; porém, devido à grande ocorrência de inimigos naturais e a sua influência na diminuição do número de lagartas em determinadas fases de desenvolvimento do milho, o controle biológico natural vem se destacando (GUERREIRO et al., 2003) como alternativa viável para o manejo desse noctuídeo nessa cultura. 641

Dentre os inimigos naturais, os dermápteros destacam-se no controle de insetos-praga em diferentes culturas, principalmente de S. frugiperda. São considerados predadores vorazes, possuindo alta capacidade de ataque e se alimentam de diversas presas, particularmente, de ovos e insetos imaturos pertencentes às ordens Lepidoptera, Hemiptera, Coleoptera e Diptera (COSTA et al., 2007). Doru luteipes (Scudder) (Dermaptera: Forficulidae), conhecida popularmente por tesourinha, é descrita como uma espécie com grande potencial de controle de ovos e lagartas de S. frugiperda em milho, e pode ser encontrada no campo durante todo o ano, principalmente, quando a ocorrência da lagarta-do-cartucho é mais freqüente (GUERREIRO et al., 2003). A Euborellia annulipes (Lucas) (Dermaptera: Carcinophoridae) também é uma tesourinha controladora de insetos-praga, tais como lagartas e pupas de Diatraea saccharalis (Fabricius) (Lepidoptera: Pyralidae) e outros; sendo que SILVA et al. (2009) demonstraram o potencial predatório dessa espécie de dermáptero em ovos e lagartas de S. frugiperda. Entretanto, para o sucesso dessas espécies de tesourinhas no controle da lagarta-do-cartucho na cultura do milho, é necessária a sua integração com inseticidas seletivos, ou seja, aqueles que matam a praga e não causam efeitos negativos sobre o inimigo natural. Segundo RIPPER et al. (1951) e DEGRANDE et al. (2002) o uso de inseticidas seletivos é de suma importância para a preservação natural das espécies benéficas em agroecossistemas. Dessa forma, pesquisas que busquem informações a respeito do impacto de produtos fitossanitários sobre artrópodes benéficos devem ser incentivadas. Neste contexto, o objetivo do presente trabalho foi avaliar a seletividade de inseticidas, registrados para o controle de S. frugiperda na cultura do milho, para adultos de D. luteipes e E. annulipes. Material e Métodos Os experimentos foram conduzidos no Laboratório de Criação de Insetos (LACRI) do Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo (CNPMS), da Empresa de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), em Sete Lagoas, Minas Gerais, Brasil. Os bioensaios foram realizados visando avaliar os efeitos dos inseticidas triflumurom (24 g i.a./ha), lambda-cialotrina + tiametoxam (26,5 + 32,5 g i.a./ha, respectivamente), alfa-cipermetrina + teflubenzurom (12,7 g i.a./ha, respectivamente), clorfenapir (180 g i.a./ha), etofenproxi (30 g i.a./ha) e espinosade (48 g i.a./ha), registrados para o controle de S. frugiperda na cultura do milho, sobre adultos dos predadores D. luteipes e E. annulipes. As pulverizações dos inseticidas nos adultos das tesourinhas foram realizadas por meio de pulverizador pressurizado a CO 2 calibrado na pressão de 2,6 lb/pol 2 para volume de 282 litros de calda química/ha com bico tipo leque 8004. Os produtos foram aplicados em posturas de S. frugiperda, que posteriormente foram ofertadas aos adultos dos predadores D. luteipes e E. annulipes como alimento. As avaliações foram realizadas às 48, 72 e 96 horas após a oferta dos ovos contaminados com os produtos aos predadores. O delineamento estatístico foi inteiramente casualizado com sete tratamentos e dez repetições, sendo cada uma formada por um inseto. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância, utilizando-se o programa ESTAT (KRONKA & BANZATTO, 1995). Os inseticidas foram enquadrados em classes conforme a redução no número de adultos do predador causada pela ação dos inseticidas em comparação com o tratamento testemunha, classe 1 = inócuos (E < 30%), classe 2 = levemente nocivos (30% E 80%), classe 3 = moderadamente 642

nocivos (80% < E 99%) e classe 4 = nocivos (E > 99%), conforme escala proposta por membros da IOBC/WPRS (DEGRANDE et al., 2002). Resultados e Discussão Todos os inseticidas, à exceção do espinosade, causaram baixa mortalidade do predador D. luteipes às 48, 72 e 96 horas após contato ou ingestão dos ovos de S. frugiperda contaminados (Tabela 1). Triflumurom, lambda-cialotrina + tiametoxam, alfa-cipermetrina + teflubenzurom e etofenproxi foram enquadrados na classe 1, sendo considerados inócuos a D. luteipes, visto que provocaram mortalidade acumulada de 10, 20 e 20%, respectivamente. Lambda-cialotrina + tiametoxam, alfa-cipermetrina + teflubenzurom, etofenproxi, apresentaram comportamento semelhante, sendo que a mortalidade dos predadores nas 48, 72 e 96 horas de aplicação dos produtos manteve-se constante. O inseticida clorfenapir foi levemente nocivo (30-79% de mortalidade) e espinosade foi moderadamente nocivo (80-99% de mortalidade), sendo que entre os inseticidas testados foi o que causou maior índice de mortalidade, cerca de 90,0% (Tabela 1). Referente a E. annulipes, observou-se que triflumurom, lambda-cialotrina + tiametoxam, alfa-cipermetrina + teflubenzurom, etofenproxi, e espinosade permitiram sobrevivência de 100,0%, sendo considerados inócuos. Clofenapir foi considerado levemente nocivo (30-79% de mortalidade) causando 30,0% de mortalidade dos insetos 96 horas de sua aplicação (Tabela 1). Apesar de não terem sido realizadas comparações de suscetibilidade das espécies de tesourinhas aos inseticidas, constatou-se maior tolerância para E. annulipes. Possivelmente, essa variação de resposta aos químicos ocorreu em função de características intrínsecas a cada espécie; entretanto, a verdadeira causa ainda não foi esclarecida. Segundo ZOTTI et al. (2010) e SIMÕES et al. (1998), triflumurom, inibidor da síntese de quitina, provocou mortalidade de 56,0% e 23,0%,quando aplicado em ninfas de Doru lineare (Eschs.) (Dermaptera: Forficulidae) e Doru luteipes respectivamente. Os resultados encontrados no presente trabalho assemelham-se aos obtidos por CISNEROS et al. (2002) que estudaram o efeito do inseticida espinosade sobre Doru taeniatum (Dohrn) (Dermaptera: Forficulidae). Salienta-se que esse produto age por ingestão e contato, sendo particularmente ativo contra lepidópteros e dípteros, atuando nos receptores nicotínicos da acetilcolina e nos receptores do GABA. Em função da baixa toxicidade apresentada, os inseticidas triflumurom, lambda-cialotrina + tiametoxam, alfa-cipermetrina + teflubenzurom e etofenproxi podem ser utilizados em programas de manejo de S. frugiperda visando a preservação de adultos de D. luteipes e E. annulipes; entretanto, os demais compostos devem ser avaliados em condições de semicampo e campo para confirmação da toxicidade a esses predadores. Literatura Citada CISNEROS, J.; GOULSON, D.; DERWENT, L.C.; PENAGOS, D.I.; HERNANDÉZ, O.; WILLIANS, T. Toxic effects of spinosad on predatory insects. Biological Control, New York, v. 23, n. 4, p. 156 163, 2002. COSTA, N. P.; OLIVEIRA, H. D.; BRITO, C. H.;SILVA, A. B. Influência do nim na biologia do predador Euborellia annulipes e estudo de parâmetros para sua criação massal. Revista de Biologia e Ciências da Terra, v. 7, n. 2, p. 10, 2007. CRUZ, I; VIANA, P. A.; WAQUIL, J. M. Cultivo do milho: Pragas da Fase Vegetativa e Reprodutiva. Comunicado técnico 49-Embrapa CNPMS, 1º edição. Sete Lagoas MG, 2002. 8p. 643

DEGRANDE, P.E.; REIS, P.R.; CARVALHO, G.A.; BELARMINO, L.C. Metodologia para avaliar o impacto de pesticidas sobre inimigos naturais. In: PARRA, J.R.P.; BOTELHO, P.S.M.; B.S. CORRÊA-FERREIRA; BENTO, J.M.S. (Eds.). Controle biológico no Brasil: parasitóides e predadores. São Paulo: Manole. p.71-94. 2002. GUERREIRO, J. C.; BERTI F. E.; BUSOLI, A. C. Ocorrência estacional de Doru luteipes na cultura do milho em São Paulo, Brasil. Manejo Integrado de Plagas y Agroecología, Costa Rica, v. 70, p. 46-49, 2003. KRONKA, S.N.; BANZATTO, D.A. ESTAT: Sistema para análise estatística versão 2. 3ed. Jaboticabal:FUNEP, 1995. 247p. RIPPER, W.E.; GREENSLADE, R.M.; HARTLEY, G.S. Selective insecticides and biological control. Journal of Economic Entomology, v. 44, n. 4, p. 448-459, 1951. SILVA, A. B; BATISTA, J.L.; BRITO, C.H. Capacidade predatória de Euborellia annulipes (Lucas, 1847) sobre Spodoptera frugiperda (Smith, 1797). Acta Scientiarum, Maringá, v. 31, n. 1, p. 7-11, 2009. SIMÕES, J.C.; CRUZ, I.; SALGADO, L.O. Seletividade de inseticidas às diferentes fases de desenvolvimento do predador Doru luteipes (Scudder) (Dermaptera: Forficulidade). Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, v.27, n.2, p.289-294, 1998. ZOTTI, M.J.; GRUTZMACHER, A.D.; GRUTZMACHER, D.D.; CASTILHOS, R.V.; MARTINS, J.F.S. Seletividade de inseticidas usados na cultura do milho para ovos e ninfas do predador Doru lineare (Eschcholtz, 1822) (Dermaptera: Forficulidae), Arquivos do Instituto Biológico, São Paulo, v.77, n.1, p.111-118, 2010. 644

Tabela 1. Mortalidade acumulada (%) de adultos de Doru luteipes e Euborellia annulipes após ingestão de ovos de Spodoptera frugiperda contaminados com inseticidas registrados para a cultura do milho. Tratamento Mortalidade (%) de D. luteipes 1 Mortalidade (%) de E. annulipes 1 48 h 72 h 96 h Classe 2 48 h 72 h 96 h Classe 2 Testemunha (água) 0 a 0 a 0 a - 0 0 0 - Triflumurom 0 a 10 a 10 a 1 0 0 0 1 Lambda-cialotrina/tiametoxam 20 b 20 b 20 b 1 0 0 0 1 Alfa-cipermetrina/teflubenzurom 10 ab 10 ab 10 ab 1 0 0 0 1 Clorfenapir 20 b 30 b 30 b 2 0 10 30 2 Etofenproxi 10 ab 10 ab 10 ab 1 0 0 0 1 Espinosade 70 c 80 c 90 c 3 0 0 0 1 1 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância. 2 Classe de toxicidade segundo IOBC/WPRS (DEGRANDE et al., 2002).