Engenharia e Ciência dos Materiais II. Prof. Vera Lúcia Arantes

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Transcrição:

Engenharia e Ciência dos Materiais II Prof. Vera Lúcia Arantes

[Lee, 1994:35] Sinterização: definição e força motriz Sinterização pode ser definida como a remoção dos poros de uma peça cerâmica, previmanete conformada, acompanhada por retração da peça, combinada com crescimento e formação de ligações fortes entre partículas adjacentes. A força motriz para a sinterização é a redução da área superficial (e da energia superficial), obtida pela substituição de um pó solto tendo superfícies com alta energia (sólido-vapor) por um sólido ligado tendo contornos de grão com energia associada mais baixa.

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Sinterização: processos e controle Os processos que ocorrem nos compactos cerâmicos durante o tratamento térmico a altas temperaturas são controlados por: Propriedades da peça a verde (composição, densidade, porosidade, tamanho e forma de partícula, homogeneidade) Parâmetros de sinterização (atmosfera, pressão e temperatura, incluindo taxas de aquecimento e resfriamento)

[Lee, 1994:34; Reed, 1995: 595] Sinterização: tipos Sinterização no estado sólido (SSS): somente partículas sólidas e poros. Ex.: Al 2 O 3 + 0,5 m% MgO; ZrO 2 + 3 m% Y 2 O 3 ; SiC + 2 m% B 4 C. Sinterização com fase líquida (LPS): dois ou mais componentes, mas concentra-se na parte sólida (<20% líquido). Ex.: Si 3 N 4 + 5-10 m% Y 2 O 3, SiO 2 ou Al 2 O 3. Sinterização vítrea viscosa (VGS) ou de fluxo viscoso: somente líquido (vidro fundido) e porosidade. Ex.: esmaltes cerâmicos. Sinterização compósita viscosa (VCS) ou vitrificação: conteúdos de líquido maiores que LPS (>20% líquido). Ex.: cerâmica branca (porcelana).

[Lee, 1994:35] Sinterização no estado sólido: estágios e características Sinterização inicial: rearranjo das partículas de pó e formação de uma ligação forte ou pescoço nos pontos de contato entre partículas; densidade relativa aumenta ~10%. Sinterização intermediária: tamanho dos contatos aumenta, porosidade diminui substancialmente e partículas se aproximam levando à retração da peça; contornos de grão (e grãos) são formados e crescem lentamente; densidade relativa pode chegar a ~90%; estágio termina quando os poros estão isolados. Sinterização final: poros se fecham e são eliminados lentamente com pouca densificação; tamanho de grão aumenta.

[Lee, 1994:35] Sinterização no estado sólido: estágios e microestrutura (a) Partículas soltas de pó (b) Estágio inicial (c) Estágio intermediário (d) Estágio final

[Lee, 1994:35] Mecanismos de transporte de massa Contorno de grão (1) Difusão superficial (2) Difusão volumétrica (3) Evaporaçãocondensação (4) Difusão volumétrica (5) Difusão volumétrica (6) Difusão no contorno de grão a = raio da partícula x = raio do pescoço

[Lee, 1994:34; Reed, 1995: 595] Mecanismos de transporte de massa N Transporte Origem Destino Densificação 1 Difusão superficial Superfície Pescoço Não 2 Difusão volumétrica Superfície Pescoço Sim 3 Evaporação-condensação Superfície Pescoço Não 4 Difusão volumétrica Contorno de grão Pescoço Sim 5 Difusão volumétrica Discordâncias Pescoço Sim 6 Difusão no contorno de grão Contorno de grão Pescoço Sim Fluxo viscoso Fluxo plástico Sim Sim

[Thummler, 1993:189 ; Reed, 1995:596] Sinterização no estado sólido: modelo de duas esferas x n / a m = f(t) t 2x a onde: x = raio do pescoço a = raio da partícula f(t) = função numérica, dependendo da geometria do modelo t = tempo de sinterização n, m = expoentes para os diferentes mecanismos

[Lee, 1994:39] Crescimento de grão: definição e força motriz Crescimento de grão é o processo pelo qual o tamanho médio de grão de um material (livre de tensão ou quase) aumenta continuamente durante o tratamento térmico. Os grãos crescem pelo movimento dos contornos. A força motriz é a diferença na energia livre do material nos dois lados de um contorno de grão, que faz com que o contorno se mova na direção de seu centro de curvatura.

[Lee, 1994:40-41] Crescimento de grão: tipos e direção t ou T t ou T (a) Crescimento normal (b) Crescimento anormal Setas indicam direção de deslocamento de contornos

Taxa (log) [Reed, 1995:596] Sinterização versus crescimento de grão Sinterização ( H d ) Para um material no qual: H d > H c onde: Crescimento de grão ( H d ) Alta temperatura 1/RT Baixa temperatura H d = energia de ativação de densificação H c = energia de ativação de crescimento de grão

Fotografia do MEV (microscópio eletrônico de varredura)

Sinterização em presença de fase líquida Algumas composições cerâmicas, podem formar uma fase líquida, durante a sinterização, quando os elementos presentes se combinam com os aditivos incorporados a mistura cerâmica ou cujos componentes formem eutético ou ainda quando um dos componentes apresenta ponto de fusão inferior aos demais. Essa fase líquida é capaz de eliminar grande parte da porosidade residual. No entanto, a resistência à fluência cai muito nesses compostos, pois essa massa plástica cede pela presença de pequena carga quando a temperatura é alta. Si 3 N 4 e SiC são exemplos de cerâmicos que podem receber aditivos de sinterização (MgO; Al 2 O 3 ; Y 2 O 3 óxido de ítrio) para criar silicatos (vidros) nos contornos de grão durante a sinterização para reduzir a porosidade.

[Lee, 1994:50] Sinterização com fase líquida: requisitos Líquido suficiente deve estar presente na temperatura de sinterização. Para partículas de cerca de 1 µm, menos de 1 V% líquido é suficiente para cobri-las uniformemente. Usualmente, para partículas maiores, 5-15% (em peso ou volume) é usado. O líquido deve molhar o sólido. O sólido deve ser parcialmente solúvel no liquido. Outras variáveis importantes : Tamanho de partícula do pó Grau de mistura Viscosidade do líquido formado

Estágios SFL Rearranjo de partículas: formação e fluxo viscoso de um líquido que molha o sólido, se espalha e junta as partículas por pressão capilar, causando alguma densificação. Solução-precipitação: dissolução de partículas sólidas pequenas no líquido e precipitação nas superfícies sólidas de partículas grandes; contatos partícula-partícula e precipitação em grãos não comprimidos; cantos agudos e precipitação em superfícies côncavas. Coalescência: crescimento de grão ocorre de modo a formar um esqueleto sólido de partículas.

[Lee, 1994:51] Sinterização com fase líquida: Coalescência Soluçãoprecipitação Rearranjo de partículas Tempo (log)

Estágios

[Lee, 1994:53] Sinterização com fase líquida: microestruturas (a) Grande volume de fase vítrea contínua (b) Vidro só aparece nas junções triplas (c) Vidro cristalizado no contorno de grão (fase líquida transiente)

[Thummler, 1993:222] Sinterização: diagramas de fase (a) Sinterização com fase líquida permanente e transiente (b) Sinterização no estado sólido e supersólido

[Thummler, 1993:263] Sinterização: variantes de produção

[Reed, 1995:595] Sinterização: Al 2 O 3 + MgO Tempo HIP Sinterizado 4 horas Fino Grosso Estágios inicial intermediário final Temperatura de queima ( C)

Materiais Cerâmicos e Vidros Microestrutura 24