Análise Clínica, Radiográfica e Histológica de 122 Casos de Ameloblastomas em uma População Brasileira

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ISSN - 1519-0501 DOI: 10.4034/PBOCI.2011.112.03 Análise Clínica, Radiográfica e Histológica de 122 Casos de Ameloblastomas em uma População Brasileira Clinical, Radiographic and Histological Analysis of 122 Cases of Ameloblastomas in a Brazilian Population Alfredo LUCAS NETO 1, Ricardo Wathson Feitosa de CARVALHO 1, Emanuel Sávio de Souza ANDRADE 2, Belmiro Cavalcanti do Egito VASCONCELOS 3, Ana Cláudia Amorim GOMES 3, Emanuel Dias de Oliveira e SILVA 3 1 Especialista em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial pelo Hospital Universitário Oswaldo Cruz da Faculdade de Odontologia da Universidade de Pernambuco (HUOC/FOP/UPE), Recife/PE, Brasil. 2 Professor Adjunto da Disciplina de Patologia Bucal da Faculdade de Odontologia da Universidade de Pernambuco (FOP/UPE), Camaragibe/PE, Brasil. 3 Professor Adjunto da Disciplina de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da Faculdade de Odontologia da Universidade de Pernambuco (FOP/UPE), Camaragibe/PE, Brasil. RESUMO ABSTRACT Objetivo: Estudar as características clínicas, radiográficas e histológicas de uma série de 122 casos de ameloblastomas em uma população na cidade de Recife, Pernambuco, Brasil. Método: Um estudo transversal retrospectivo foi realizado na base de dados do Setor de Patologia Oral e Maxilo Facial do Centro de Pesquisa Clínica em Cirurgia Maxilo Facial da Faculdade de Odontologia da Universidade de Pernambuco (FOP-UPE), no período de janeiro de 1992 a janeiro de 2010 (18 anos), dos quais foram estudados aspectos clínicos, radiográficos e histológicos, aplicando técnicas inferencial para análise estatística. Resultados: Os ameloblastomas perfizeram 2,36% das lesões císticas e tumorais analisadas. O gênero feminino mostrou-se ligeiramente mais prevalente (54,9%), havendo predominância de indivíduos negros (45,9%), na segunda e terceira décadas de vida (54,9%). Em 74,6% dos casos a lesão apresentava-se assintomática, mostrando predileção pela região posterior de mandíbula (79,5%), tendo predomínio do aspecto multilocular (84,4%). Quanto ao tamanho das lesões, 61,5% mostraram exceder três centímetros, sendo mais da metade das biópsias do tipo excisional (55,7%). O aspecto folicular foi o padrão histológico mais freqüente (67,2%). Conclusão: As características da população brasileira acometida por ameloblastoma se assemelham aos dados da literatura mundial, porém existem características peculiares a está população. Estudos semelhantes devem ser realizados com periodicidade regular, em diferentes regiões brasileiras, buscando determinar o padrão da população acometida por está entidade de grande significado clínico. Objective: To evaluate the clinical, radiographic and histological characteristics of a series of 122 cases of ameloblastomas in a population living in the city of Recife, PE, Brazil. Method: In this cross-sectional retrospective study, data from the database of the Sector of Oral and Maxillofacial Pathology of the Center of Clinical Research in Maxillofacial Surgery of the School of Dentistry of the University of Pernambuco (FOP-UPE) belonging to the period between January 1992 and January 2010 (18 years), were retrieved for evaluation of clinical, radiographic and histological aspects by applying inferential techniques for statistical analysis. Results: Ameloblastomas corresponded to 2.36% of the cystic and tumoral lesions evaluated. The female gender was slightly more prevalent (54.9%), with predominance of Black individuals (45.9%) in the second and third decades of life (54.9%). In 74.6% of the cases, the lesion was asymptomatic, with predilection for the posterior region of the mandible (79.5%) and predominance of the multilocular aspect (84.4%). Regarding lesion size, 61.5% were larger than 3 cm, and more the half of the biopsies were excisional types (55.7%). The follicular histological pattern was the most frequent (67.2%). Conclusion: The characteristics of the Brazilian population affected by ameloblastomas are similar to those reported in the international literature, but there are peculiar characteristics to this population. Similar studies should be conducted with regular periodicity in different regions of Brazil in order to determine the profile of the population affected by this entity of great clinical meaning. DESCRITORES Ameloblastoma; Patologia bucal; Diagnóstico bucal. KEY-WORDS Ameloblastoma; Oral pathology; Oral diagnosis. Pesq Bras Odontoped Clin Integr, João Pessoa, 11(2):165-170, abr./jun. 165

INTRODUÇÃO Em se tratando de neoplasias odontogênicas, o ameloblastoma é uma entidade benigna que acomete os ossos do complexo maxilo-mandibular, constituindo o tumor odontogênico de maior significado clínico, sendo descrito como um tumor usualmente unicêntrico, não funcional, de crescimento intermitente, anatomicamente benigno e clinicamente persistente 1. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), essa neoplasia é classificada como tumor odontogênico benigno sem participação de ectomesênquima. Sua histogênese ainda é motivo de muita controversa, sendo a hipótese mais aceita aquela que aponta a lâmina dentária como provável tecido de origem, pois é a única estrutura epitelial comum a sítios extra e intra ósseos, e também porque a presença e o crescimento ativo da lâmina dentária na região molar é intenso durante os primeiros anos de vida 2. Sua apresentação clínica é semelhante à da maioria das lesões ósseas centrais: crescimento lento, progressivo, indolor e expansivo, sendo grande parte das vezes surpreendido em radiografias ocasionais de rotina 3. Lesões muito avançadas podem manifestar dor, parestesia ou infecção secundária 4. Radiograficamente se apresentam radiolúcidos, uniloculares ou multiloculares, com bordas relativamente bem definidas, provocando com freqüência, deslocamento e reabsorção radicular dos dentes envolvidos pela lesão 5. O diagnóstico definitivo indiscutivelmente é realizado através de exame histopatológico, mas os achados clínicos e imaginológicos apresentam características importantes para o estreitamento do diagnóstico diferencial. Os princípios de tratamento cirúrgico do ameloblastoma são tão variados quanto os tipos clínicos do tumor, sendo motivo de calorosos debates. Porém, uma nova corrente da literatura busca o tratamento não cirúrgico para esta entidade 6. Considerando a frequência com que ocorre, sua agressividade, capacidade de recidiva e controvérsias, estes neoplasmas representam motivo para contínuos estudos. Neste sentido, se objetiva estudar as características clínicas, radiográficas e histológicas de uma série de 122 casos de ameloblastomas em uma população na cidade de Recife, Pernambuco. METODOLOGIA Um estudo transversal retrospectivo foi realizado na base de dados do Setor de Patologia Oral e Maxilofacial de um Centro de Pesquisa Clínica em Cirurgia Maxilo-Facial, no período de janeiro de 1992 a janeiro de 2010 (18 anos), estando registrado e aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da instituição sob o protocolo nº 135717/07. Após uma busca na base de dados de 5.200 laudos histopatológicos, foram selecionados 122 casos com diagnóstico histopatológico de ameloblastoma. As lâminas correspondentes a cada caso foram coletadas, possibilitando que os diagnósticos fossem reavaliados por um único patologista oral, de acordo com a classificação proposta pela OMS 7. As variáveis analisadas foram: faixa etária, gênero, raça, aspecto radiográfico, localização e extensão do tumor, associação a sintomatologia, diagnóstico clínico, tipo de biópsia e aspectos histológicos. Para estudo estatístico foi utilizado o software SPSS (v. 17.0), sendo obtidas distribuições absolutas e percentuais uni e bivariadas (técnicas de estatística descritiva) e foram utilizados os testes estatísticos Quiquadrado de Pearson ou Exato de Fisher quando as condições para utilização do teste Qui-quadrado não foram verificadas (Técnicas de estatística inferencial). O valor de p, quando menor que 0,05, foi considerado estatisticamente significante. RESULTADOS No período de 18 anos, 5.200 laudos histológicos foram analisados, sendo encontrado um total de 2,36% desta neoplasia para amostra de lesões císticas e tumorais dos maxilares. Nas Tabelas 1 e 2 são apresentados os resultados da amostra pesquisada segundo os dados clínicos, radiográficos e histológicos. Na Tabela 3 são apresentados os resultados da associação entre as variáveis radiográficas e os aspectos clínicos. Na Tabela 4 são apresentados os resultados da associação entre as variáveis histológicas e os aspectos clínicos e radiográficos. Tabela 1. Distribuição dos ameloblastomas em valores absolutos e percentuais segundo a faixa etária, sexo e raça. Recife, Brasil, 2010. Variável Frequência n % Faixa etária 11 a 20 36 29,5 21 a 30 31 25,4 31 a 40 18 14,8 41 a 50 17 13,9 51 ou mais 20 16,4 Gênero Masculino 55 45,1 Feminino 67 54,9 Raça Leucoderma 48 39,3 Feoderma 5 4,1 Melanoderma 56 45,9 Outras 13 10,7 TOTAL 122 100,0 166 Pesq Bras Odontoped Clin Integr, João Pessoa, 11(2):165-170, abr./jun. 2011

Tabela 2. Distribuição dos pacientes analisados segundo o resultado dos exames radiológicos, dados clínicos e tipos histológicos em valores absolutos e percentuais. Recife, Brasil, 2010. Variável Frequência n % Aspecto radiológico Unilocular 19 15,6 Multilocular 103 84,4 Tipo de biópsia Incisional 54 44,3 Excisional 68 55,7 Local do tumor Maxila 15 12,3 Mandibular anterior 10 8,2 Mandibular posterior 97 79,5 Tamanho do tumor 1 cm 18 14,8 1,1 a 3 cm 29 23,8 > 3 cm 75 61,5 Sintomatologia Assintomático 91 74,6 Sintomático 31 25,4 Tipo histológico Folicular 82 67,2 Plexiforme 24 19,7 Acantomatoso 12 9,8 Células granulares 3 2,5 Desmoplásico 1 0,8 Diagnóstico clínico Ameloblastoma 83 68,0 Ceratocisto 12 9,8 Outros 27 22,9 TOTAL 122 100,0 Tabela 3. Distribuição dos resultados da associação entre as variáveis radiográficas e os aspectos clínicos em valores absolutos e percentuais. Recife, Brasil, 2010. Aspecto radiológico Variável Unilocular Multilocular Total Valor de p n % n % n % Tipo de biópsia Incisional 12 22,2 42 77,8 54 100,0 p (1) = 0,038* Excisional 6 8,8 62 91,2 68 100,0 Local do tumor Maxila 4 26,7 11 73,3 15 100,0 p (2) = 0,403 Mandibular anterior 1 10,0 9 90,0 10 100,0 Mandibular posterior 13 13,4 84 86,6 97 100,0 Tamanho do tumor 1 cm 3 16,7 15 83,3 18 100,0 p (1) = 0,814 1,1 a 3 cm 5 17,2 24 82,8 29 100,0 > 3 cm 10 13,3 65 86,7 75 100,0 Sintomatologia Assintomático 13 14,3 78 85,7 91 100,0 p (2) = 0,776 Sintomático 5 16,1 26 83,9 31 100,0 Diagnóstico clínico Ameloblastoma 7 8,4 76 91,6 83 100,0 p (2) = 0,006* Ceratocisto 2 16,7 10 83,3 12 100,0 Outros 9 33,3 18 66,7 27 100,0 Tipo histológico Folicular 16 19,5 66 80,5 82 100,0 p (2) = 0,368 Plexiforme 2 8,3 22 91,7 24 100,0 Acantomatoso - - 12 100,0 12 100,0 Células granulares - - 3 100,0 3 100,0 Desmoplásico - - 1 100,0 1 100,0 Grupo Total 18 14,8 104 85,2 122 100,0 (*): Diferença significativa a 5,0%; (1): Através do teste Qui-quadrado de Pearson; (2): Através do teste Exato de Fisher. Pesq Bras Odontoped Clin Integr, João Pessoa, 11(2):165-170, abr./jun. 2011 167

Tabela 4. Distribuição dos resultados da associação entre as variáveis histológicas e os aspectos clínicos e radiográficos em valores absolutos e percentuais. Recife, Brasil, 2010. Tipo histológico Variável Folicular Plexiforme Acantomatoso Total Valor de p n % n % n % n % Tipo de biópsia Incisional 39 72,2 10 18,5 5 9,3 54 100,0 Excisional 43 67,2 14 21,9 7 10,9 64 100,0 p (1) = 0,839 Local do tumor Maxila 10 71,4 1 7,1 3 21,4 14 100,0 Mandibular (ant.) 6 60,0 2 20,0 2 20,0 10 100,0 p (2) = 0,225 Mandibular (post.) 66 70,2 21 22,3 7 7,4 94 100,0 Tamanho do tumor 1 cm 11 61,1 5 27,8 2 11,1 18 100,0 1,1 a 3 cm 16 59,3 8 29,6 3 11,1 27 100,0 > 3 cm 55 75,3 11 15,1 7 9,6 73 100,0 Sintomatologia Assintomático 64 72,7 17 19,3 7 8,0 88 100,0 Sintomático 18 60,0 7 23,3 5 16,7 30 100,0 Diagnóstico clínico Ameloblastoma 54 67,5 18 22,5 8 10,0 80 100,0 Ceratocisto 7 58,3 3 25,0 2 16,7 12 100,0 Outros 21 80,8 3 11,5 2 7,7 26 100,0 Aspecto radiológico Unilocular 16 88,9 2 11,1 - - 18 100,0 Multilocular 66 66,0 22 22,0 12 12,0 100 100,0 Grupo Total 82 69,5 24 20,3 12 10,2 118 100,0 (1): Teste Qui-quadrado de Pearson; (2): Teste Exato de Fisher. p (2) = 0,391 p (1) = 0,306 p (2) = 0,559 p (2) = 0,162 DISCUSSÃO Há diversos estudos gerais sobre tumores na população brasileira, porém estudos específicos de algumas lesões ainda são escassos nesta população, fazendo com que os profissionais brasileiros tenham como referência o padrão de manifestação em outras populações 8, desconsiderando assim a susceptibilidade do desenvolvimento de ameloblastoma em determinadas nações 9. A neoplasia que aqui estudamos, é descrita como um tumor ósseo benigno, localmente invasivo, que requer, em geral, intervenções terapêuticas controversas e, muitas vezes, mutilantes 6. Apresenta grande variação histopatológica, bem como, em sua expressão clínicoradiográfica. Quando avaliado o gênero nesta população brasileira, a ocorrência dos ameloblastomas revelou não haver predisposição do tumor quanto a este aspecto clínico, mostrando o gênero feminino ligeiramente mais acometido, 54,9% dos casos estudados. Curiosamente, os resultados de um estudo 10, revelaram que a expansão cortical, perfuração e envolvimento da articulação temporomandibular foram mais freqüentes no gênero feminino, não sendo observado este aspecto neste trabalho. Quanto à faixa etária a literatura mundial apresenta concordância com a faixa etária da amostra estudada, sendo mais comum o desenvolvimento de ameloblastomas nas segunda e terceira décadas de vida. Esse quadro pode ser justificado em decorrência do crescimento ativo da lâmina dentária ser intenso durante os primeiros anos de vida 10. Porém, em estudo semelhante realizado na cidade de São Paulo, os autores mostram que nesta população o acometimento é predominantemente na quarta década de vida 11. Estudando a manifestação desta neoplasia em determinada raça verificou-se uma alta freqüência de pacientes negros acometidos 12. O estudo atribui tal achado ao processo de coleta de dados, muitas vezes realizados em países onde há predominância da raça negra, e que não foram tratados ou investigados nas duas últimas décadas. Dessa forma, os pacientes foram diagnosticados tardiamente e em grande número, tornando questionáveis os resultados que afirmam a predisposição de determinadas raças. Na população brasileira estudada, a raça negra mostrou-se mais acometida, porém sem significância estatística. Em relação à localização anatômica, a literatura é unânime em afirmar que a localização preferencial é a mandíbula, principalmente a região posterior 10, apresentando concordância com população brasileira estudada, onde 12,3% dos casos se encontravam na maxila, 87,7% na mandíbula, e desses 79,5% na região posterior enquanto 8,2% se encontravam na região anterior de mandíbula. Esses achados corroboram com a hipótese de que a presença e o crescimento ativo da lâmina dentária na região posterior de mandíbula é intenso, especialmente durante os primeiros anos de vida. 168 Pesq Bras Odontoped Clin Integr, João Pessoa, 11(2):165-170, abr./jun. 2011

Radiologicamente, os ameloblastomas apresentam-se como uma radiolucidez unilocular ou multilocular. O padrão radiográfico comumente apresentado pela população brasileira, em contraste com outros estudos, foi é a lesão multilocular, caracterizandose por imagens radiográficas semelhantes a favos de mel ou bolhas de sabão 11. Em estudo semelhante realizado na República da Índia 10, os resultados mostraram uma significativa diferença de idade observada entre as lesões unilocular e multilocular. Porém, observou-se que comumente as lesões unicísticas foram mais frequente na maxila, enquanto as lesões multicísticas se apresentaram mais frequentemente na mandíbula 10. Nos casos aqui estudados observou-se predomínio das lesões de grandes extensões, acima de três centímetros em seu maior diâmetro, podendo ser justificada tal situação pela busca tardia do tratamento ou pela omissão dos profissionais quando da solicitação de exames anatomopatológicos em lesões de pequenas dimensões. O diagnóstico definitivo indiscutivelmente é realizado através de exame histopatológico 1, mas os achados clínicos e imaginológicos apresentam características importantes para o estreitamento do diagnóstico diferencial. Na amostra estudada, 68% dos profissionais ao realizarem a biópsia, associando aos aspectos clínicos e radiográficos, consideraram a hipótese diagnóstica correta nestes casos. O ameloblastoma e o tumor odontogênico ceratinizante são tumores diferentes, porém possuem o mesmo tecido de origem 9, assim se faz importante o estudo anatomopatológico em bem como os achados clínicos e radiográficos. Quando avaliado os tipos de biópsias realizadas, foi observado um predomínio na realização de biópsias excisionais. Os autores não dispunham de informação se a peça foi oriunda de uma abordagem com finalidade terapêutica ou diagnóstica, acreditando que nos casos com maior dimensão, a biópsia ser oriunda de uma segunda intervenção, sendo proveniente de uma abordagem terapêutica e não com finalidade apenas diagnóstica, já que em lesões extensas a biópsia incisional ser indicada anteriormente a abordagem cirúrgica terapêutica. Os padrões histológicos presentes no ameloblastoma são motivos de muita controvérsia 6,9. Alguns autores relatam como sendo o padrão plexiforme o mais freqüentemente encontrado 11, porém nesta população o tipo folicular se mostrou o padrão mais frequente, seguido do plexiforme. Em toda a mostra apenas um caso foi verificado da variante desmoplásica. Uma corrente da literatura aponta a existência de correlação entre os subtipos histopatológicos do ameloblastoma com a agressividade e a taxa de recorrência do tumor. Estudiosos acreditam que o padrão de células granulares e a presença de células claras caracterizam o tumor como mais agressivo que outros subtipos, respectivamente 13,14. No entanto para outros autores não há significância entre a variante histológica e o prognóstico ou conduta clínica 15. Eles ainda acrescentam que a sugestão de maior agressividade das células granulares não é valida e que as células claras merecem grande atenção por poderem fazer parte de uma neoplasia maligna. Correlações específicas dos acometimentos por ameloblastomas já foram relatadas 10. Na amostra estudada 10, o padrão folicular mostrou-se predominante quando a lesão tinha padrão unicístico. A expansão cortical, perfuração, e o envolvimento da articulação temporomandibular mostram-se correlacionados ao sexo feminino. Quanto às recidivas, os autores relacionam ao sexo masculino, na área de molares mandibular e ao tipo histológico folicular. Os princípios de tratamento cirúrgico do ameloblastoma geram muita controversa na literatura, porém estudos recentes buscam não mais justificar o tipo de intervenção cirúrgica, mas sim, trabalham na busca de intervenções conservadoras 6. Assim, a recente identificação de vias de sinalização molecular alterada em neoplasia começou a elucidar os mecanismos de oncogênese, diferenciação e progressão tumoral, e sugerir plausíveis considerações não cirúrgicas para o tratamento. Assim alguns autores relatam que estamos à beira do tratamento não cirúrgico para o ameloblastoma 6. Recorrências são episódios normais no tratamento dos ameloblastomas, porém metástases à distância são raras. Quando ocorrem, a localização topográfica pulmonar parece ser o sítio metastático predominantemente dos ameloblastomas 2,16, não existindo nenhum caso de metástases de ameloblastoma documentado na população brasileira. CONCLUSÃO As características desta amostra de brasileiros acometidos por ameloblastoma se assemelham aos dados da literatura mundial quanto ao gênero, raça, faixa etária, localização anatômica e padrão histológico. Predomínio de lesões de grandes dimensões e padrão radiográfico multilocular foram aspectos que se mostraram peculiares desta amostra. Estudos semelhantes devem ser realizados com periodicidade regular, em diferentes regiões brasileiras, buscando determinar o padrão de acometimento por esta entidade de grande significado clínico. AGRADECIMENTOS Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco, FACEPE Brasil. Programa de Bolsa de Fixação de Técnico de Apoio à Pesquisa BTF. Processo n.: BFT-0102-4.02/08. REFERÊNCIAS 1. Bisinelli JC, Ioshii S, Retamoso LB, Moysés ST, Moysés SJ, Tanaka OM. Conservative treatment of unicystic Pesq Bras Odontoped Clin Integr, João Pessoa, 11(2):165-170, abr./jun. 2011 169

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