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Transcrição:

Claudia Neves da Silva. Ações sociais e Igrejas Pentecostais: um novo olhar diante de antigos problemas. (Docente - Universidade Estadual de Londrina / PR) A cada ano, as igrejas pentecostais ganham maior visibilidade social, diversificando suas ações, ganhando espaço e destaque e com isto, ocasionando mudanças no campo religioso brasileiro, mais particularmente no sub-campo protestante, o qual apresenta uma infinidade de denominações, divididas em tradicional ou de missão, pentecostal e, mais recentemente uma nova divisão, originando a neopentecostal. Tendo por objeto histórico a religião, mais especificamente, a história das religiões pentecostais em Londrina, uma indagação logo surge: como realizar esta investigação? Qual a sua relevância para a história das religiões? Objetiva a história das religiões investigar e compreender questões que se refiram aos fenômenos religiosos que se expressam na esfera coletiva, mas que se constrói e se reelabora na esfera individual, porque são os seres individuais, imersos em suas crenças, sentimentos, valores e costumes que vivenciam os rituais religiosos no coletivo. E as atitudes religiosas nada mais expressam que estes valores tão caro aos indivíduos. Homens e mulheres que elaboram suas crenças a partir de seus valores pessoais e subjetivos, bem como de suas condições materiais de existência, da experiência que partilham com seu grupo social - os conflitos, as inseguranças, os medos que experimentam repercutem em sua religiosidade, isto é, na forma como se relacionam com o sagrado. Partimos do princípio de que a religião também é um campo de conflitos sociais, os quais são produtos ativos do que ocorre nos demais campos. Mas, o contrário também ocorre: a religião e seus derivados estão fortemente presentes em cada indivíduo, mesmo naqueles que se dizem ateus - onde buscar respostas para situações

inexplicáveis? Ademais, não nos esqueçamos que a religião é a mediadora entre o que se passa no plano do sagrado e do profano. Portanto, ao decidir por investigar a religião e suas expressões, devemos ter em mente que esta não se encontra em uma esfera isolada da realidade de um dado contexto histórico. Ao contrário, a religião segue o movimento que se processa nos demais campos, tais como o econômico, o político, o social. É bem verdade que este movimento se dá de forma lenta e gradual, porque interfere com valores subjetivos - individuais e coletivos. Por fim, ao definir por investigar as igrejas pentecostais e suas ações na área social, levantamos problemas e questões que vão além do campo histórico, redefinindo novo objeto de investigação para a história das religiões e, utilizando-nos do instrumental teórico da sociologia para melhor compreendermos estas novas expressões de ações e solidariedade com os excluídos de bens e serviços da comunidade. Problemas sociais e igrejas pentecostais: em busca de caminhos O crescimento das igrejas pentecostais tornou-se um fenômeno da atualidade, com a sua presença sendo registrada em vários setores da sociedade, como na política, na cultura, na economia e na área social. Mas, qual o interesse de investigar esse crescimento para o historiador, se este é um fato contemporâneo? Acreditamos que a investigação histórica possibilitará compreender como e quando as denominações pentecostais voltaram-se para a área social, motivações teológicas e sociais que fundamentaram tal escolha. Em Londrina, cidade com predominância da religião Católica, a presença das igrejas pentecostais se fez presente desde o início da cidade, conhecendo um significativo crescimento a partir da década de 1960. Muitas que aqui nasceram ou se instalaram, logo depois iniciaram algumas práticas voltadas para atender a população carente de bens e serviços. Ao longo dos últimos 30 anos, houve um aumento significativo do número de instituições assistenciais de confissão evangélica em Londrina. São instituições voltadas para o atendimento à criança, adolescente, famílias em situação de extrema pobreza, idosos, dependentes químicos. Esse crescimento quantitativo ocorreu em um

período em que Londrina, pólo econômico da região norte do Paraná, sofreu as conseqüências de mudanças na política agrícola adotada no país. A cafeicultura deixou de ser a base econômica, já que o mercado internacional necessitava de novos produtos agrícolas, como a soja, o milho e o trigo, e era preciso atender a essa nova demanda. Todavia, a erradicação do café na região de Londrina acarretou vários problemas, dentre eles, a necessidade de abertura de novas frentes para a economia e a liberação de mão-de-obra do campo, que se deslocava para as zonas urbanas. Se, por um lado, o poder público incentivou a erradicação do café, por outro, não foram criadas alternativas para fixar esta mão-de-obra disponível no campo. Houve, como resultado dessa situação, o êxodo rural e o agravamento dos problemas sociais na cidade, como o crescimento do desemprego, a falta de moradias para os novos habitantes, os quais foram morar em favelas, o aumento do número de crianças nas ruas, de idosos abandonados, o agravamento da violência, gerado por maior número de furtos, assaltos e homicídios (ASARI & TUMA, 1978) 1. As indústrias aqui instaladas e o setor de serviços comércio, bancos, escolas, hospitais - necessitavam de mão-de-obra, tornando Londrina um atrativo para os trabalhadores de cidades vizinhas; mas, isso não foi o suficiente para evitar que muitos fossem para o setor informal ou ficassem desempregados, buscando alternativas de sobrevivência. Ao longo das décadas de 1970 e 1980, o desenvolvimento econômico e demográfico da cidade e região, o crescimento do desemprego entre os trabalhadores, a falta de moradia, de saúde e de educação tornaram-se uma preocupação entre autoridades e moradores. Foi neste momento que se deu o surgimento de inúmeras instituições sócioassistenciais em Londrina, tanto por iniciativa de denominações religiosas, como de pessoas sem vínculo religioso. E as igrejas evangélicas também responderam, em alguma medida, a estas demandas. Entre 1970 e 1982, eram 6 instituições assistenciais de confissão evangélica voltadas para o atendimento à criança e famílias em situação de extrema pobreza e que 1 ASSARI, A.Y. & TUMA, M.M. Aspectos históricos, físicos e institucionais de Londrina. Documento- Consulta. Prefeitura do Município de Londrina, Secretaria Municipal de Educação: Londrina, dez. de 1978.

recebiam recursos da então Secretaria Municipal de Bem Estar Social. Eram ligadas às igrejas: Metodista, Adventista, Batista, Assembléia de Deus e Casa de Oração para todos os Povos (Ministério Sagradas Missões). Se as demais desenvolviam atividades assistenciais, não podemos afirmar, visto que nos limitamos a verificar o orçamento da Prefeitura Municipal de Londrina, no período de 1970 a 1989, no qual estava previsto o repasse de recursos financeiros para as instituições sócio-assistenciais. O crescimento, a partir da década de 70, do número de homens e mulheres evangélicas, principalmente ligadas às igrejas pentecostais e neopentecostais, repercute em todos os setores da sociedade, haja vista que seus valores religiosos e concepção de mundo diferem-se substancialmente dos valores e concepção de mundo da Igreja Católica. Não devemos nos esquecer que a cultura brasileira foi se construindo, desde seu descobrimento, a partir das idéias da Igreja Católica, como bem destacou SANCHIS (1994, p.36): é impensável um Brasil que não se defina, entre outros traços, pelo catolicismo. 2. No que se refere a área da assistência social, a presença das igrejas pentecostais se faz notar com o aumento do número de instituições sócio-assistenciais, de voluntários e de funcionários nas mesmas, também com um discurso diferenciado do discurso católico. Para os fiéis católicos, a caridade é difundida como um dever cristão, porque, tendo por premissa básica o amor ao próximo, ela é a base que levaria homens e mulheres a despertarem sentimentos e virtudes que seriam inerentes à natureza humana, como a bondade, a capacidade de perdoar, de acolher, a humildade, a aceitação mútua. Quanto às denominações evangélicas, há uma diferença teológica quanto à compreensão e enfrentamento dos problemas sociais, econômicos e pessoais, ocasionando, desta forma, ações diferenciadas da Igreja Católica. Verificamos uma prática na qual há grande destaque aos ritos, como batismos, vigílias, jejuns, orações, unções, que poderão levar, com a força da fé em Jesus Cristo, conforme relatam, à solução de problemas familiares, à cura de doenças, do alcoolismo, das drogas, da falta de emprego, de casa para morar. Enfim, à libertação do maligno. Além de buscar incentivar a solidariedade e a conseqüente minimização do sofrimento humano, acreditamos que essas iniciativas também têm por objetivo desenvolver atividades que lhes garantam respeito e maior aceitação na sociedade brasileira, como a Católica e as Protestantes históricas, bem como divulgar sua doutrina 2 SANCHIS, P. O repto pentecostal à cultura católico-brasileira. In: Nem anjos nem demônios. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 1994. p. 34-63

teológica entre os diferentes estratos sociais, garantindo sua penetração em toda a comunidade. Se nas décadas de 1970 até o final dos anos 80, verificamos uma pequena presença de instituições sócio-assistenciais de confissão evangélica em Londrina, atualmente observamos uma mudança nessa situação. Acreditamos não ser por coincidência o fato de haver um aumento dessas instituições em um momento em que também cresce o número de fiéis evangélicos. O censo demográfico de 2000, revelou que os membros das Igrejas Evangélicas totalizavam 26.184.941, sendo que as Igrejas Evangélicas de Missão registraram 6.939.765 de fiéis e as Igrejas Evangélicas Pentecostais totalizaram 17.617.307 de fiéis (IBGE, 2000) 3. Estes números representavam cerca de 15,4% do total da população brasileira, que era de 169.872.856 habitantes no período. O chamado da igreja tem levado muitos fiéis a se sensibilizarem com o estado em que se encontram homens, mulheres, crianças, adolescentes e idosos, levando-os a contribuírem para minorar estes problemas, seja através da participação em campanhas que promovam ajuda à população mais carente, seja criando instituições sócioassistenciais. Outrossim, há que se destacar que muitos de seus fiéis também são excluídos dos bens e serviços da comunidade, muitos vivendo em pequenas casas que não conseguem abrigar todos os membros, com o fato de o alimento não ser suficiente para matar a fome de todos, o remédio que não pode ser comprado porque não há o dinheiro necessário, a violência doméstica. Situações que são enfrentadas cotidianamente, exigindo das igrejas uma atenção que vai além de orações, já que estes vão à igreja em busca de solução para seus problemas cotidianos. É por meio da conversão individual, quando se dá a aceitação e a entrega a Jesus Cristo, que o crente terá forças e coragem para suprimir e exterminar todo o mal que há em seu íntimo, expurgando assim, os problemas decorrentes do mal, como a falta de saúde, de dinheiro, de emprego. Portanto, a evangelização e a conseqüente conversão individual, possibilitaria a superação dos problemas que afligiriam o corpo do neoconverso. Ao buscar a cura do corpo, a alma também seria curada. Considerações finais 3 www.ibge.gov.br

O crescimento das igrejas evangélicas, principalmente pentecostais, tem levado a mudanças lentas e irreversíveis para diferentes setores da sociedade. No que se refere às práticas sócio-assistenciais, antes espaço privilegiado da Igreja Católica, essas mudanças poderão repercutir, em um futuro não tão distante, na execução da política de assistência social, cujo princípio pauta-se no direito social, enquanto para as instituições religiosas, a prática pauta-se na concepção da cura do corpo e da alma. Concepção reforçada pelo fato de a assistência, ao longo da história, não apresentar um caráter sistemático e contínuo para melhoria das condições de vida daqueles que vivem na miséria, mas um caráter assistencialista, baseado em uma ajuda emergencial, fragmentada, autoritária e paternalista, exercida por voluntários, instituições religiosas e, em momentos de grave crise econômica ou institucional, pelo Estado, nas esferas federal, estadual e municipal, haja vista que caberia aos pobres aceitar a ajuda emergencial e procurar, por seus esforços, melhorar suas condições de sobrevivência. Na maioria das vezes, o trabalho pautado nos princípios religiosos não tem por objetivo a superação das precárias condições sócio-econômica dos indivíduos, mas apenas a atenção a uma situação emergencial, não ocorrendo, por exemplo, o fomento à organização de atividades das famílias ou indivíduos em cooperativas ou associações, possibilitando a qualificação mínima de homens, mulheres, adolescentes ou a formação de grupos de debates para busca de soluções para a comunidade. Por este motivo, avaliamos que é importante e necessário desmistificar a idéia, largamente difundida em nossa sociedade, de que assistência à população carente de bens e serviços deve pautar-se na concepção de caridade, a qual, inadvertidamente ou deliberadamente, é utilizada por diferentes atores sociais, subordinados ou não a uma instituição de confissão religiosa.

Claudia Neves da Silva. Ações sociais e Igrejas Pentecostais: um novo olhar diante de antigos problemas (Docente - Universidade Est. de Londrina (PR))