GeoSaúde 2014 Violência contra as pessoas idosas em contexto familiar: Uma análise regional da prevalência nacional

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Transcrição:

Violência contra as pessoas idosas em contexto familiar: Uma análise regional da prevalência nacional 1309014 Rita Nicolau* Irina Kislaya** Ana P. Gil** Ana J. Santos** * Direção-Geral do Território, Portugal ** Departamento de Epidemiologia, Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge IP, Portugal Estudo populacional sobre a violência 1

Estudo populacional sobre a violência Estudo transversal de prevalência Objetivos: Estimar a proporção de pessoas com 60+ anos na população portuguesa, que foi sujeita a violência (física, psicológica, financeira, sexual e negligência) em contexto familiar, nos 12 meses anteriores à entrevista; Caracterizar o perfil de vítimas e agressores. População alvo: indivíduos com 60+ anos, residentes em Portugal há pelo menos 12 meses, em domicílios particulares. Método de recolha dos dados: Aplicação de um questionário estruturado via Computer Assisted Telephone Interview (Setembro/Outubro de 2012). Amostra: 1123 pessoas com 60+ anos Análise estatística: as estimativas apresentadas foram ponderadas para o desenho amostral e para a distribuição da população portuguesa com 60+ anos, por sexo e grupo etário, através de pós-estratificação. Condutas avaliadas por tipos de violência Financeira Física Sexual Roubo ou utilização de objetos e bens sem autorização Forçar a pessoa a conceder direitos legais Apropriação de casa por terceiros Não comparticipação nas despesas domésticas após ter sido acordado e havendo capacidade económica para o fazer Agredir (empurrar, bater, amarrar, agarrar, etc) Trancar num quarto ou impedir o acesso a toda a casa Impedir de falar ou estar com outras pessoas Sujeitar sem consentimento a algum contacto do tipo sexual Frequência de ocorrência exigida: Pelo menos 1 vez num ano Negligência Psicológica Fonte: Weill Cornell Medical Center (2011) Sujeitar pessoa em situação de incapacidade a viver num espaço sem condições de higiene ou segurança ou não lhe proporcionar os cuidados de vestuário, higiene e alimentação Gritar, ofender, insultar, humilhar Recusar a falar, ignorar, desprezar Ameaçar Mais de 10 vezes num ano 2

Vítima de violência Global Pessoa com 60+ anos que foi sujeita por um membro da família, amigo, vizinho, conhecido ou profissional remunerado, a pelo menos uma conduta de violência financeira, física ou sexual ou a mais de dez condutas de violência psicológica ou de negligência, durante o período de um ano. Caracterização da população portuguesa com 60+ anos, residente em domicílios particulares Sexo e Idade: Maioritariamente mulheres (56.4%), dos grupos etários mais jovens (60-69 anos) (46.1%). Estado Civil: Mais de metade (63%) era casada e 25% era viúva. Situação Familiar: A maioria (78.7%) vivia em coabitação. 58% integrava um núcleo familiar composto por duas pessoas. 22% constituíam famílias unipessoais. Nível de Instrução: A maioria (58.6%) frequentou o 1º ciclo do ensino básico e 9.1% não tinha escolaridade. Situação perante o trabalho: A maioria (78.8%) encontrava-se em situação de reforma e 6.8% eram domésticas Titularidade da habitação: A maioria (74.2%) residia em casa própria. 3

Caracterização da população portuguesa com 60+ anos, residente em domicílios particulares Rendimento Económico: 46% auferia um rendimento até 500 euros e 6% não auferia qualquer rendimento. Estado de Saúde: 66.7% referiu ter pelo menos uma doença crónica diagnosticada pelo médico e 51.3% evidenciou sintomas depressivos. Funcionalidade: A maioria era independente (84.7%) na execução das atividades básicas da vida diária. Perceção de apoio por parte da rede social informal: A maioria(92.8%) afirmou ter pessoas para apoiar ou pedir ajuda, quando necessário, contudo a perceção de não ter ninguém disponível para apoiar foi expressa por 4.8%. Apoio da rede social formal: Apenas 13.1% usufruía de pelo menos uma forma de apoio social (apoio domiciliário, centro de dia, universidade da 3ª idade, atividade desportiva, voluntariado, grupo paroquial, etc.) Estimativas de prevalência da violência Tipo de violência IC 95% IC 95% Financeira (N=1123) 6.3 [4.5, 8.6] 160042 [115713, 219823] Física (N=1121) 2.3 [1.4, 3.8] 57767 [34620, 95802] Psicológica (N=1121) 6.3 [4.7, 8.5] 161411 [118925, 217718] Negligência (N=1123) 0.4 [0.1, 1.4] 9822 [2619, 36558] Sexual (N=1119) 0.2 [0.03, 1.1] 4838 [854, 27188] Global (N=1123) 12.3 [9.9, 15.2] 314291 [252406, 388786] Estimativa obtida com base em n<5 A violência financeira e a psicológica foram os tipos mais frequentes. 2.4% da população em análise (IC 95%: 1.4, 3.8) viveu situações de polivitimização (foi vítima de múltiplos tipos de violência). 4

Violência Global Norte 14.5 [9.1, 19.9] Centro 13.8 [8.5, 19.0] LVT 10.8 [6.1, 15.6] Alentejo 6.8 [2.9, 10.7] Algarve 13.7 [8.2, 19.2] RA Madeira 15.4 [9.6, 21.1] RA Açores 11.0 [6.0, 15.9] A prevalência da violência global foi superior: no sexo feminino nos indivíduos com 80+ anos Violência Psicológica Norte 7.9 [4.3, 13.1] Centro 7.2 [3.8, 12.2] LVT 5.5 [2.5, 10.1] Alentejo 4.3 [1.8, 8.8] Algarve 8.6 [4.6, 14.2] RA Madeira 7.1 [3.6, 12.3] RA Açores 5.8 [2.7, 10.7] 5

Violência Financeira Norte 7.3 [3.8, 12.4] Centro 6.0 [2.9, 10.7] LVT 6.0 [2.9, 10.8] Alentejo 3.1 [1.0, 7.1] Algarve 5.2 [2.3, 10.1] RA Madeira 7.1 [3.6, 12.3] RA Açores 5.2 [2.3, 9.9] Violência Física Norte 3.0 [1.0, 6.9] Centro 2.4 [0.7, 6.0] LVT 2.4 [0.7, 6.1] Alentejo 1.9 [0.4, 5.3] Algarve 3.3 [1.1, 7.5] RA Madeira 3.9 [1.4, 8.1] RA Açores 1.9 [0.4, 5.6] 6

Agressores por tipo de violência 60% 56.5 50% 40% 30% 20% 26.1 25.9 29.6 37.4 24.3 Conjuge/ companheiro Descendente Outro familiar Rede social não familiar Vários agressores 10% Recusa identificar 0% Financeira Psicológica Física 13.5% das vítimas recusou identificar o agressor Violência global: outros familiares, incluindo sobrinhos, irmãos, cunhados, etc (27%) e descendentes (16.1%). Violência financeira: descendentes (26.1%) e outros familiares (25.9%). Violência psicológica: outros familiares (37.4%) e cônjuges /companheiros (29.6%). Violência física: cônjuges /companheiros (56.5%) e descendentes (24.3%). Apresentação de queixa ou denúncia Norte 39.1 [19.7, 61.5] Centro 38.1 [18.1, 61.6] LVT 27.8 [9.7, 53.5] Alentejo 18.2 [2.2, 51.8] Algarve 35.0 [15.4, 59.2] RA Madeira 29.2 [12.6, 51.1] RA Açores 47.1 [22.9, 72.2] Somente 35% das vítimas denunciaram a situação de violência. 7

Para mais informações sobre o presente estudo, consulte a publicação: Gil, A.P., Santos, A.J, Kislaya, I., & Nicolau, R. (Eds). Envelhecimento e violência. Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, IP, 2014. Disponível em: http://repositorio.insa.pt/handle/10400.18/1955 Obrigada! Prevalência de sintomas depressivos Norte 52.0 [44.1, 59.8] Centro 49.7 [41.9, 57.5] LVT 54.7 [46.7, 62.5] Alentejo 64.7 [56.7, 71.9] Algarve 47.6 [39.7, 55.7] RA Madeira 53.6 [45.3, 61.6] RA Açores 52.9 [44.6, 61.0] [Escala adotada: GDS5] 8

Prevalência de incapacidade funcional Norte 19.3 [14.1, 26.1] Centro 16.2 [11.4, 22.5] LVT 12.2 [7.9,17.8] Alentejo 16.2 [11.3,22.6] Algarve 15.7 [10.8, 22.3] RA Madeira 21.2 [15.5,28.2] RA Açores 15.5 [10.6, 22.0] 15.3% da população tinha dificuldade na execução de pelo menos uma das atividades básicas da vida diária 9