SÍNDROME DE BURNOUT EM ACADÊMICOS DO ÚLTIMO ANO DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM MEDICINA

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Montes Claros, v. 19, n.1 - jan./jun. 2017. (ISSN 2236-5257) REVISTA UNIMONTES CIENTÍFICA SÍNDROME DE BURNOUT EM ACADÊMICOS DO ÚLTIMO ANO DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM MEDICINA Burnout Syndrome in academics of the last year of the Medicine Graduation Course Débora Ribeiro Vieira 1 Guilherme Delfino Brito 1 Luara Keller Ribeiro Paiva 1 Mayra Rodrigues Pinheiro 1 Thaís Alves Gonçalves 1 Ana Beatris Cézar Rodrigues Barral 2 Resumo: Burnout é uma palavra inglesa que se refere a algo que deixou de funcionar por exaustão. A Síndrome de Burnout é uma síndrome multidimensional constituída por exaustão emocional, desumanização e redução na realização pessoal. Sua causa principal não é definida, existindo múltiplos fatores que facilitam o desencadeamento uma resposta ao estresse crônico, causada pela falha ou insuficiência dos métodos de enfrentamento utilizados para lidar com os agentes estressores. Estudantes de medicina estão, frequentemente, expostos a situações estressantes, que podem contribuir para o desenvolvimento da Síndrome de Burnout. Este trabalho teve como objetivo descrever a prevalência da Síndrome de Burnout em acadêmicos do curso de graduação em Medicina das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros FIP-Moc, associando a dados demográficos. É um estudo do tipo transversal que investigou a presença da síndrome em uma população de 53 acadêmicos. Um questionário individual autoaplicável avaliou dados sociodemográficos e outro Maslach Burnout Inventory- Student Survey, específico para avaliação da Síndrome de Burnout em estudantes. O escore médio, obtido no item de exaustão emocional foi 12,19 (DP=8,40), em descrença foi de 4,76 (DP=6,18) e no item eficácia profissional o escore médio foi 23,56(DP=7,25). Sendo assim, a Síndrome de Burnout não foi detectada em nenhum acadêmico. Os dados encontrados ajudaram a entender que, apesar da população não apresentar a Síndrome de Burnout, ainda, apresentam sinais de ineficácia profissional, o que auxilia a pensar na importância do desenvolvimento de estratégias que possam propor soluções para este problema. Palavras-chave: Esgotamento Profissional; Educação de Graduação em Medicina. 1 Discente do curso de Graduação em Medicina das Faculdades Integradas Pitágoras - FIPMoc. 2 Mestrado em Ginecologia, Obstetrícia e Mastologia pela Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP. Autor para correspondência: Débora Ribeiro Vieira. E-mail: debora_ribeiro_vieira@hotmail.com Artigo recebido em: 06/05/2017. Artigo aceito em: 10/05/2017. Artigo publicado em: 27/06/2017.

REVISTA UNIMONTES CIENTÍFICA Montes Claros, v. 19, n.1 - jan./jun. 2017. (ISSN 2236-5257) 154 Abstract:Burnout is an English word that refers to something that has stopped working because of exhaustion. Burnout Syndrome is a multidimensional syndrome consisting of emotional exhaustion, dehumanization and reduction in personal achievement. Its main cause is not defined, there are multiple factors that facilitate triggering a response to chronic stress, caused by failure or insufficiency of coping methods used to deal with stressors. Medical students are often exposed to stressful situations, which may contribute to the development of Burnout Syndrome. The purpose of this study was to describe the prevalence of Burnout Syndrome among undergraduate medical students of the Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros - FIP-Moc, associating it with demographic data. It is a cross-sectional study that investigated the presence of the syndrome in a population of 53 academics. A self-administered individual questionnaire assessed sociodemographic data and another Maslach Burnout Inventory-Student Survey, which is specific for assessing Burnout Syndrome in students. The mean score obtained in the item of emotional exhaustion was 12.19 (SD = 8.40), in disbelief was 4.76 (SD = 6.18) and in the professional effectiveness item the mean score was 23.56 (SD = 7,25), thus, Burnout Syndrome was not detected in any academic. The data found helped to understand that although the population does not present Burnout Syndrome, they still show signs of professional inefficiency, which helps to think about the importance of developing strategies that can propose solutions to this problem. Keywords: Burnout Professional; Education Medical Undergraduate.

155 ISSN 2236-5257 Síndrome de burnout em acadêmicos do último ano do curso de graduação em medicina. VIEIRA, D. R.; BRITO, G. D.; PAIVA, L. K. R; PINHEIRO, M. R.; GONÇALVES, T. A.; BARRAL, A. B. C. R. INTRODUÇÃO Burnout é uma palavra inglesa que pode ser traduzida como queima após desgaste. Refere-se a algo que deixou de funcionar por exaustão 1. Atualmente, a definição mais utilizada para Burnout é como uma síndrome multidimensional, constituída por exaustão emocional, desumanização e reduzida realização pessoal no trabalho 2-3. A causa principal não é definida, existindo múltiplos fatores que facilitam o desencadeamento da Síndrome de Burnout. Mas, um consenso entre estudiosos do assunto 4-5, que definem Burnout como uma resposta ao estresse crônico, desencadeada pela falha ou insuficiência dos métodos de enfrentamento utilizados para lidar com os agentes estressores. Estudantes de medicina estão frequentemente expostos a situações estressantes, que podem contribuir para o desenvolvimento de processos patológicos vários, tanto físicos quanto psíquicos. Estudos, relacionando a ocorrência de sintomas depressivos, nesse grupo de universitários, têm evidenciado uma alta prevalência desses sintomas, quando comparados à população em geral. Esta alta prevalência estaria associada a uma série de fatores inerentes à escola médica e ao próprio indivíduo 6. Em um estudo realizado 7 sobre o estresse em estudantes de Medicina, foi verificado que 91% dos entrevistados haviam experimentado diferentes períodos de alta tensão, que aumentava a sua frequência, conforme os anos de curso se passavam. As principais queixas dos alunos eram as exigências acadêmicas excessivas e a falta de tempo para desenvolver outras atividades afetivas e espirituais. Segundo o estudo, as principais fontes de estresse, para esta população, eram os exames e provas; a quantidade de material a ser estudada e a falta de tempo para familiares, amigos e lazer, fatores que são evidentes e podem aumentar, conforme o curso de medicina avança. No primeiro ano, os estudantes vivenciam a satisfação pela aprovação no vestibular, por outro lado, se deparam com um curso de período integral, com longas horas de estudo teóricas, abdicando da vida social e pessoal, além da necessidade de adaptar ao novo ambiente e aos novos colegas. Por fim, no internato, o atendimento ao paciente, a dedicação integral faz com que os alunos repensem sua escolha profissional: aumentam a angústia e a falta de tempo, e, surge a necessidade de escolher uma especialização. Há de se considerar, ainda, que o contato com doentes graves, por vezes de difícil conduta; o lidar com o sofrimento e a morte, corroem a autoestima do aluno, ainda, em formação. 4,5,8 Assim, a presente investigação pretendeu avaliar o efeito da Síndrome de Burnout em acadêmicos do sexto ano do curso de Medicina, pois, a cada ano cumprido, o estudante experimenta, em geral, maiores exigências quanto ao seu desempenho acadêmico, além de atividades técnicas e práticas, concomitantes com as teóricas. Portanto, entende-se que a investigação acerca das repercussões dessa síndrome, sobre a saúde mental do estudante de medicina, seja altamente relevante, visto que este estudante terá, como uma de suas principais funções, a promoção do bem-estar e do equilíbrio biopsicossocial em sua prática profissional. MÉTODOS Trata-se de um estudo descritivo do tipo transversal, apresentando caráter quantitativo, sendo a população constituída por 53 acadêmicos do REVISTA UNIMONTES CIENTÍFICA

REVISTA UNIMONTES CIENTÍFICA Montes Claros, v. 19, n.1 - jan./jun. 2017. (ISSN 2236-5257) 156 último ano do curso de graduação em Medicina das Faculdades Integradas Pitágoras em Montes Claros MG. Os dados foram coletados em outubro e novembro de 2016. A coleta de dados foi realizada por meio de aplicação de questionários sociodemográficos e o Maslach Burnout Inventory Student Survey (MBI-SS). As questões sociodemográficas foram adaptadas para a realidade dos estudantes, em que foram inclusas questões sobre idade, estado civil, presença de ambiente próprio para estudo em sua residência, horas de lazer, financiamento estudantil e outras informações que são consideradas importantes. Essas informações auxiliaram no reconhecimento de possíveis grupos de risco para a Síndrome de Burnout. O instrumento aplicado, para avaliar a Síndrome de Burnout aos acadêmicos de medicina, é o Maslach Burnout Inventory- Student Survey, que é composto por uma escala autoaplicável, constituída por 15 questões referentes a sentimentos/emoções de estudantes em seu contexto escolar. Os questionamentos foram respondidos mediante uma escala, variando de 0 a 6 pontos. Os quinze itens se dividem em 3 categorias referentes à Exaustão Emocional, ou seja, esgotamento biopsicossocial do indivíduo em questão (5 questões); Descrença (4 questões) e Eficácia Profissional (6 questões). A média para a dimensão de Exaustão é de 2,88 (DP=1,42), para Eficácia Profissional 4,90 (DP=0,90) e para Descrença 1,03 (DP=1,22). Para ser considerado Síndrome de Burnout, as médias encontradas para Exaustão Emocional e Descrença devem estar acima do valor estipulado pela pesquisa, e, Eficácia Profissional, abaixo do valor. A presença de dois destes itens, simultaneamente, significa a Síndrome de Burnout. Os acadêmicos participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Os dados foram analisados, através de métodos estatísticos, e interpretados, estabelecendo-se uma análise entre os números obtidos e a literatura. Todos os dados foram tabulados e analisados por meio do software Statistical Package for Social Sciences 18.0 (SPSS), quando foi utilizado o Windows, versão 19.0, além disso, foram realizados testes paramétricos e/ou não-paramétricos específicos, seguindo os modelos de distribuição dos dados. O nível de significância para erro amostral, a ser considerado nos testes estatísticos, foi fixado em 5% (p<0.05) e o nível de confiança em 95%(p<0.95). O projeto de pesquisa foi submetido e aprovado no Comitê/Conselho de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros FIP-Moc, sob o parecer número 1.912.499 de 2016. RESULTADOS Foram entrevistados 53 acadêmicos do último ano da graduação de medicina, sendo que a idade média foi de 25,56 anos (desvio padrão DP=3,88 anos). Apenas 35,8% (n=19), afirmaram estar trabalhando no momento. Dos entrevistados, 25 (47,2%) relataram que moram em Montes Claros, devido a faculdade, e, 27 disseram morar com pessoas que não são membros da família, sendo que 66% (n=35) afirmaram possuir casa própria. Cerca de 58% possui alguém que faz o serviço de casa e apenas 18(34%) não prepara o alimento em casa. A maioria dos estudantes tem ambiente próprio para o estudo na residência (n=44, 83%). Em relação a renda familiar, 22 (41,5%) disseram ser de 6 a 10 salários mínimos e apenas 7(13,2%) é menor que cinco salários mínimos. A maioria dos estudantes afirmou possuir financia-

157 ISSN 2236-5257 Síndrome de burnout em acadêmicos do último ano do curso de graduação em medicina. VIEIRA, D. R.; BRITO, G. D.; PAIVA, L. K. R; PINHEIRO, M. R.; GONÇALVES, T. A.; BARRAL, A. B. C. R. mento estudantil (n=39, 73,6%). Atividade física é praticada por 35 acadêmicos (66%). A maioria não fuma (90,6%) e 38(71,7%) afirmam não ingerir bebida alcoólica. Apenas 11(20,8%) afirmaram fazer uso semanalmente de bebida energética e 20,8% faz uso de algum medicamento rotineiramente. Acerca do MBI-SS, o escore médio, obtido no item de Exaustão Emocional, foi 12,19 (DP=8,40); em Descrença, foi de 4,76 (DP=6,18), e, no item Eficácia Profissional, o escore médio foi de 23,56(DP=7,25). A média obtida no item Exaustão Emocional foi de 2,43716 (DP=1,3704066); no item Descrença a média foi de 0,91092175 (DP=1,57989), e, no item Eficácia Profissional foi de 4,7132 (DP=1,57989). Sendo assim, os valores das médias encontradas para Exaustão Emocional e Descrença estão abaixo dos valores preconizados e a média para Eficácia Profissional está acima da média padrão. A Síndrome de Burnout não foi detectada em nenhum acadêmico. DISCUSSÃO Nota-se que os acadêmicos avaliados possuem o seguinte perfil: jovens, sem filhos, renda familiar entre 6 a 10 salários mínimos. A maioria dos estudantes afirma não estar trabalhando no momento, o que contrasta com o que se sabe sobre os acadêmicos de outros cursos universitários, o que pode ser devido ao período integral do curso médico e inúmeras atividades extracurriculares. Grande parte dos acadêmicos afirmou que realizam atividade física, que é sabidamente um fator protetor para o estresse. Sendo assim, pode ser um dos motivos para os resultados favoráveis detectados na população estudada. A formação do médico exige a aquisição de diversas competências, a partir da interação entre fatores individuais e ambientais. Entende-se que a entrada na universidade corresponde a um momento inicial de um projeto de vida decisivo, para a maioria dos estudantes universitários, em que características pessoais desempenham um importante papel em seus níveis de adaptação ao contexto universitário, porém estes estudantes estão constantemente expostos a diversos estressores psicossociais, intrínsecos ao curso médico, ao longo de sua graduação, que, se persistentes, podem ocasionar a Síndrome de Burnout (SB). Em um estudo sobre o estresse em estudantes de Medicina, foi verificado que 91% dos entrevistados haviam experimentado diferentes períodos de alta tensão, que aumentava a sua frequência, conforme os anos de curso se passavam. Segundo o estudo, as principais fontes de estresse para esta população eram os exames e provas; a quantidade de material a ser estudada e a falta de tempo para familiares, amigos e lazer, fatores que são evidentes e podem aumentar, conforme o curso de medicina avança 7. Estes dados coincidem com os achados de que a maior alteração da população foi em relação a eficácia profissional, o que ocorre devido as exigências acadêmicas excessivas e a falta de tempo para desenvolver outras atividades afetivas e de lazer. CONCLUSÃO O estudo contribui para o melhor delineamento do perfil da Síndrome de Burnout em acadêmicos do último ano do curso de graduação em Medicina na instituição, contribuindo, dessa forma, para que posteriormente outros estudos possam ser realizados. Os dados encontrados ajudam a en- REVISTA UNIMONTES CIENTÍFICA

158 ISSN 2236-5257 Síndrome de burnout em acadêmicos do último ano do curso de graduação em medicina. VIEIRA, D. R.; BRITO, G. D.; PAIVA, L. K. R; PINHEIRO, M. R.; GONÇALVES, T. A.; BARRAL, A. B. C. R. tender que, apesar de população não apresentar a Síndrome de Burnout, ainda, apresentam sinais de ineficácia profissional, o que auxilia a pensar na importância do desenvolvimento de estratégias que possam propor soluções para este problema. CONFLITOS DE INTERESSE 2009. 5. FOGACA, M. C. et al. Burnout em estudantes de psicologia: diferenças entre alunos iniciantes e concluintes. Aletheia. Canoas, n. 38-39, p. 124-131, dez, 2012. Os autores negam qualquer conflito de interesse. 6. AGUIAR, S. M. et al. Prevalência de sintomas de estresse nos estudantes de Medicina. Jornal Brasileiro de Psiquiatria. V. 58, n. 1, p. 34-38, 2009. REFERÊNCIAS 1. LIMA, F. D. et al. Síndrome de Burnout em Residentes da Universidade Federal de Uberlândia 2004. Revista Brasileira de Educação Médica, 2007. 7. FURTADO, E.; FALCONE, E. M. O.; CLARK, C. Avaliação do estresse e das habilidades sociais na experiência acadêmica de estudantes de medicina de uma universidade do Rio de Janeiro. Interação em Psicologia. V. 7, n. 2, 2003. 2. MORI, M. O.; VALENTELL, T. C.; NASCIMENTO, L. F. C. Síndrome de Burnout e rendimento acadêmico em estudantes da primeira à quarta série de um Curso de Graduação em Medicina. Revista Brasileira de Educação Médica, 2012. 8. FABICHAK, C.; SILVA-JUNIOR, J. S., MORRONE, L. C. Síndrome de Burnout em médicos residentes e preditores organizacionais do trabalho. Revista Brasileira de Medicina do Trabalho. V. 2, n.12, p. 79-84, 2014. 3. MASLACH, C., JACKSON, S. E. The measurement of experienced burnout. Journal of Ocuppational Behavior. V. 2, p. 99-113, 1981. 4. BENEVIDES-PEREIRA, A. M.; GONÇALVES, M. B. Transtornos emocionais em estudantes de medicina. Revista Brasileira de Educação Médica. V. 33, n. 1, p. 10-23, REVISTA UNIMONTES CIENTÍFICA