METAIS EM SEDIMENTOS ESTUARINOS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS ESTUÁRIOS HUMBER, INGLATERRA E JAGUARIBE, BRASIL

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Transcrição:

METAIS EM SEDIMENTOS ESTUARINOS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS ESTUÁRIOS HUMBER, INGLATERRA E JAGUARIBE, BRASIL Milena S. Kury 1 (M) e Luiz D. Lacerda 2 1 - Universidade Federal Fluminense UFF, Instituto de química, Niterói RJ, milenaskury@gmail.com 2 - Universidade Federal do Ceará UFC, Labomar, Fortaleza CE, ldrude@pq.cnpq.br Resumo: Ambientes estuarinos estão sujeitos à ação de tensores de origem antrópica, que podem afetar negativamente a flora e fauna destes ambientes através da disposição de efluentes contaminados com metais. Esses efluentes são resultado de atividades agrícolas, industriais, da aquacultura e da urbanização. O presente trabalho visou caracterizar a distribuição de alguns desses poluentes metálicos, no caso ferro, níquel, cobre, cádmio, zinco e chumbo em perfis de sedimentos de duas áreas estuarinas sob pressões antrópicas distintas: Jaguaribe, Brasil, e Humber, Inglaterra. Foi realizada também uma revisão da legislação pertinente para cada país. As maiores concentrações encontradas na área do Jaguaribe foram as de ferro, níquel e zinco. Enquanto que no Humber, as maiores concentrações foram de ferro, zinco e chumbo. Todos os valores encontrados ficaram dentro do permitido pela legislação específica. Palavras-chave: Ocupação costeira, geoquímica, metais pesados. Metals in estuarine sediments: a comparative analysis between the estuaries Humber, England, and Jaguaribe, Brazil Abstract: This study aimed to characterize the distribution of some metal pollutants in sediment cores from two estuarine areas under different anthropic pressures: Jaguaribe, Brazil, and Humber, England. Keywords: Coastal occupation, geochemistry, heavy metals. Introdução Estuários são ambientes que apresentam alta complexidade biogeoquímica devido aos inúmeros processos físico-químicos resultantes da mistura de água doce proveniente de rios com a água salgada costeira. Esses ambientes estão sujeitos à ação de tensores de origem antrópica, sendo a ocupação da região costeira, tanto para urbanização quanto para atividades agropecuárias e industriais, particularmente danosa a estes ambientes. Algumas atividades humanas liberam metais para o meio ambiente, como o processo de mineração, refino de metais, queima de combustíveis fósseis, dentre outras. Esses contaminantes podem chegar ao ambiente estuarino principalmente através de deposição atmosférica, runoff urbano e aporte de afluentes industriais e esgoto doméstico (LACERDA et al., 2004). Um grande receptáculo para os poluentes metálicos lançados por essas fontes antrópicas é o sedimento, mesmo quando suas concentrações na água são baixas (CARMO; ABESSA; NETO, 2011). Isso ocorre especialmente em zonas costeiras, onde a energia dos rios diminui devido à topografia, gerando a deposição das partículas em suspensão (LACERDA, 1998). Apesar da capacidade de retenção de metais em sedimentos, os ambientes estuarinos estão sujeitos a mudanças em seu equilíbrio devido a pressões antrópicas e naturais, que os tornam uma potencial fonte de poluentes (LACERDA et al., 2004b). Assim, o estudo da geoquímica de sedimentos estuarinos

torna-se imprescindível para ações de gerenciamento ambiental das áreas costeiras, uma vez que esses compartimentos representam grande importância econômica e ecológica. O objetivo do presente trabalho é comparar as concentrações de metais em perfis de sedimentos em dois estuários com histórico de ocupação distintos: um estuário no norte da Inglaterra, de forte ocupação industrial pretérita, e um no nordeste do Brasil, de ocupação mais recente, caracterizada principalmente por atividades de aquacultura e agricultura, verificando como as ações antrópicas afetam estes ambientes. A adequação dos valores de concentração encontrados às respectivas legislações dos países estudados também foi investigada. Experimental Áreas de estudo A bacia do rio Humber é uma das maiores do Reino Unido, cobrindo uma área de 26.109km² (EA, 2009). A economia da bacia do Humber inclui áreas-chave como o turismo, serviços a empresas, atacado e agricultura, esta última sendo sua principal fonte econômica. Indústrias de produção, especialidade de minerais, estão em declínio, embora ainda presentes, um exemplo são as minas de carvão (EA, 2009). Seus principais aportes fluviais vêm dos rios Ouse e Trent, em uma área chamada Trent Falls. O clima é temperado marítimo, e a precipitação média de junho, quando a amostragem teve lugar, é 51,8 milímetros. A temperatura média para o mês é de 14,1 C (dados da estação meteorológica Cleethorpes, 1.981-2.010 pelo Instituto de Meteorologia). Figura 1 a. Área amostral Cherry Cobb, b. Área amostral Fortim. A área de amostragem da bacia do Humber era acessível pela rua Cherry Cobb Sands, estando entre duas fazendas: New House e Sands, como evidenciado no mapa da figura 1a. Chamaremos a área amostral de Cherry Cobb.

A sub-bacia do Baixo Jaguaribe é a bacia do rio Jaguaribe de menor área (Fig.1b) e é a contemplada por este trabalho. O Baixo Jaguaribe encontra-se em uma região de clima Tropical Quente Semiárido (IPECE, 2007) tendo médias anuais de temperatura entre 26 C a 28 C. Sua média pluviométrica anual é de 838 mm (COGERH, 2009). Para o mês de julho de 2012, quando foi realizada a coleta, a média pluviométrica foi de 22,1mm, dados para o município de Fortim (FUNCEME, 2012). As amostras do segundo estuário estudado foram coletadas no município de Fortim. Dois perfis foram coletados, um em PVC, na zona de apicum, e outro de aço, na margem do rio (zona com forte presença do manguezal Laguncularia sp.). Portanto os perfis foram nomeados de Apicum e Lagun. Chamaremos essa área amostral de Fortim. Metodologia A coleta em Cherry-Cobb foi realizada no mês de junho de 2014, com um perfil de aço de 50cm. O perfil foi retirado de um banco de sedimentos já não influenciado pelo limite da maré, de tal forma que não é, atualmente, um receptáculo de poluentes do estuário. A amostra de 48 cm foi embalada em papel filme e levada inteira ao laboratório do Departamento de Meio Ambiente da Universidade de York, na cidade de York, Inglaterra. Os perfis de Fortim foram coletados em julho de 2012, período seco no Nordeste. Foi utilizado um perfil de aço, de 50cm e um de PVC, de 40cm. Os perfis foram embalados, nomeados e levados ao LBC (Fortaleza). As amostras foram mantidas resfriadas até seu seccionamento em alíquotas para posterior análise. Para as análises de metais, foi utilizado o método da USEPA, 3051a (2007). As amostras de sedimentos foram analisadas em triplicata e o padrão de referência em duplicata, para a validação do método. A matéria orgânica presente nas amostras foi determinada pela técnica gravimétrica. Esse método foi realizado no LBC-Labomar para os três perfis, em condições similares. Para o processamento dos dados de concentração, foi utilizada uma análise fatorial, através do método de Análise de Componentes Principais, PCA (do inglês Principal Components Analisys), a fim de investigar se um mesmo componente explica a variação de mais de uma variável, além disso, é possível observar se as mesmas têm os padrões de variabilidade semelhantes. Neste trabalho o PCA é aplicado com o intuito de investigar padrões de variabilidade relacionando as variáveis metais, MO e densidade, assim as variáveis seriam agrupadas por um mesmo fator explicativo. Para a realização deste teste foi utilizado o programa estatístico SPSS (Statistical Program for the Social Sciences), versão 17. Como o número de amostras variou de acordo com o perfil, foi realizado o teste T de Student em um nível de confiança de 99% para dererminar a significância estatística das correlações entre as variáveis apresentadas. Resultados e Discussão Os principais contaminantes metálicos do perfil Apicum foram: Fe, Ni e Zn, com valores de concentração médios de: 14.447 ppm, 37 ppm e 22 ppm, respectivamente. Valores de Cd ficaram abaixo do limite de detecção do método, assim como nos demais perfis. O valor de Ni encontra-se, segundo a resolução CONAMA 454/12, entre o nível 1 de baixa probabilidade de efeitos adversos à biota e o nível 2, de alta probabilidade. Os demais metais pesados ficaram abaixo do nível 1, de acordo com a mesma resolução. Para o perfil da área de Lagun, Fe, Zn e Ni foram os metais com maiores concentrações registradas, resultado que se coaduna com a área de Apicum, com valores de: 19.396 ppm, 49 ppm e 40 ppm, respectivamente. Esses valores estão dentro do previsto pela resolução CONAMA 454/12, apesar do Ni mais uma vez estar perto do limite do Nível 2. As amostras da área de Cherry Cobb apresentaram alta contaminação média no perfil pelos metais Fe, Zn, Pb, (31.059 ppm, 225 ppm e 152 ppm, respectivamente). Todas as concentrações dos metais pesados ficaram dentro do previsto pela Diretiva 86/278/CEE (Reino Unido, 1990).

Análise dos componentes principais O perfil da área de Apicum do estuário do Baixo-Jaguaribe foi dividido em dois: um de 0 a 22 cm de profundidade, Apicum 1, e o outro de 24 a 37,5 cm, Apicum 2. Isso foi feito para facilitar a discussão, uma vez que o perfil apresenta claramente duas fases distintas de sedimentação. A PCA de todos os perfis pôde ser explicada por duas componentes, que serão a partir daqui referidas como componente principal 1 (CP1) e 2 (CP2). As PCAs realizadas estão expressas na Fig.2 abaixo: Figura 2 PCAs dos perfis estudados. Grupos de correlação indicados pela marcação vermelha. Em Cherry Cobb, três agrupamentos podem ser visualizados: (Fe e MO); (Pb, Ni e Zn); (Cu). Esses grupos ilustram bem as relações encontradas na matriz de correlação para a área. Apesar do Fe ter ficado no terceiro quadrante, diferentemente dos outros metais, sua correlação com o Zn, Ni e Pb ainda pode ser evidenciada no eixo da CP1. Isso pode estar relacionado a um mesmo evento ou fonte. Indústrias metalúrgicas podem ser responsáveis por esse grupo. Já a correlação evidenciada pelo grupo (Fe e MO) pode estar ligada à presença de sulfetos ferrosos no ambiente. Para o perfil Lagun, três grupos se destacam: (Zn, Fe e Cu), (MO), (Den, Ni, Pb). O primeiro grupo pode ser justificado pelo fato do Zn ser encontrado naturalmente associado aos metais Cu e Fe. A alta relação entre Zn e Cu pode ainda estar ligada à uma mesma fonte antropogênica: a ração empregada na aquacultura, atividade intensa no Baixo Jaguaribe. Apesar destes metais ainda não estarem acima dos níveis considerados danosos ao meio ambiente, suas concentrações têm aumentado no solo nos primeiros 5 centímetros. Já correlação entre os metais Ni e Pb pode ser explicada por uma mesma litogenia: rochas ígneas. A contaminação antrópica destes metais não é significativa para explicar suas concentrações, sendo estas melhor explicadas por uma origem natural. No perfil Apicum 1, quatro grupos podem ser distinguidos: (Dens), (MO, Pb e Cu), (Fe e Ni) e (Zn). Todos variam positivamente de acordo com a CP1, logo entre si também. Três grupos principais são notados no perfil Apicum 2: (Cu, Fe, Pb e Ni), (Zn) e (Dens e MO). Os grupos metálicos apresentaram distribuições similares entre os perfis Apicum, estando o Zn separado dos demais metais. A grande diferença entre os dois perfis foi, no entanto, a MO. Em maiores profundidades, no Apicum 2, ela aparece mais relacionada à densidade. Para o Apicum 1, a MO

apresentou apenas uma forte correlação com o Pb (p ~ 0,90). Isso pode ser explicado pelo fato do Pb poder ser imobilizado por grupos funcionais presentes na MO, associando-se a esta e a óxidos de Fe (dentre outros metais), o que também explicaria sua correlação com este metal (p ~ 0,75). A correlação entre o grupo de metais pode indicar que estes são influenciados pelos mesmos processos de transporte e fixação. Já no Apicum 2, a correlação entre Zn e Cu pode ser devido à aplicação destes metais na ração utilizada para a aquacultura. Os elementos Ni e Pb têm origem natural na área, e podem apresentar maiores concentrações em níveis mais profundos justamente devido à maior erosão da rocha matriz nessas profundidades. Conclusões Conclui-se que no estuário do rio Humber as concentrações de metais encontradas devem-se, principalmente, a tensores antrópicos, enquanto que no estuário do rio Jaguaribe as concentrações de metais têm origens prioritariamente naturais. Espera-se que pesquisas comparativas entre ambientes de características distintas, como essa, auxiliem na percepção de relações de causa-consequência entre as diferentes pressões antrópicas e os impactos ambientais negativos causados por estas. Agradecimentos Ao CNPq, pelo apoio financeiro com a manutenção da bolsa de auxílio. Ao departamento de Meio Ambiente da Universidade de York, especialmente ao Prof. Dr. Roland Gehrels, pela parceria no projeto. Referências Bibliográficas Lacerda, L.D. Marins, R.V. Vaisman, A.G., Maia, S.R.R., Aguiar, J.E., Dias, J.F.S. 2004. Contaminação Por Metais Pesados E Pesticidas Nas Bacias Inferiores Dos Rios Curimataú E Açu ( RN ) E Rio Jaguaribe ( CE ). Carmo, C.A. do; Abessa, D.M.S., Neto, J.G.M., 2011. Metais em águas, sedimentos e peixes coletados no estuário de São Vicente-SP, Brasil. O Mundo da saúde, v.35, n.1. p. 64-70. Lacerda, L.D. 1998. Biogeochemistry of heavy metals and diffuse pollution in mangrove ecossystems. Okinawa: ISME. p.68. Lacerda, L. D., and Ribeiro, M.G. 2004b. Changes in Lead and Mercury Atmospheric Deposition due to Industrial Emissions in Southeastern Brazil. Journal of the Brazilian Chemical Society 15 (6): 931 37. doi:10.1590/s0103-50532004000600022. Environmental Agency. 2009. River basin management plan, Humber river basin district. Bristol. IPECE, Instituto de Pesquisa e Estatística Econômica do Ceará. 2007. Ceará em mapas. Disponível em: http://www2.ipece.ce.gov.br/atlas/. Acesso em: 12 jun. 2015 COGERH, Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos. 2009. Caderno regional da sub bacia do Baixo Jaguaribe. Eudoro Walter de Santana (coord.). Fortaleza. FUNCEME, Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos. 2015. Portal hidrológico do Ceará. Disponível em: http://www.funceme.br/. Acesso em: 12 jun. 2015. USEPA - United States Environmental Protection Agency. Method 3051a. 1998, Revision 2007. Microwave assisted acid digestion of sediments, sludges, soils, and oils. 30p. BRASIL. Conselho Nacional de Meio Ambiente. Resolução nº 454, de 01 de novembro de 2012. Estabelece as diretrizes gerais e os procedimentos referenciais para o gerenciamento do material a ser dragado em águas sob jurisdição nacional. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=693. Acesso em: 04 jun. 2015. REINO UNIDO. Environmental Protection Act. 1990. Disponível em: http://www.legislation.gov.uk/ukpga/1990/43/pdfs/ukpga_19900043_en.pdf. Acesso em: 06 jun. 2015.