Joana Candeias Deus Miguel Pereira Luis Dores Rita Sousa Marta Canas Marques Marco Alveirinho Simão

Documentos relacionados
Dacryocystorhinostomy is the treatment of choice for the

Anatomia nasal: sustentação óssea

DOI: / ORIGINAL ARTICLE. Evaluation of the lacrimal recess of the maxillary sinus: an anatomical study

Dacriocistorrinostomia Externa Casuística do Serviço

Marta Canas Marques Marco Alveirinho Simão Alberto Santos Carlos Macor Óscar Dias Mário Andrea

Leonel Barbosa Mafalda Soares Ana Guimarães Filipe Freire Gabão Veiga

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE ODONTOLOGIA

Resumo ISSN Rev. Odontol. Univ. Cid. São Paulo 2013; 25(1): 83-7, jan-abr

Endonasal endoscopic dacryocystorhinostomy (EN-

Tomografia dos Seios Paranasais

Anatomic Variotions of the Paranasal Sinuses

ORIGINAL ARTICLE. A new approach to endoscopic DCR. Uma nova abordagem para a dacriocistorrinostomia endoscópica

Mucocelos dos seios perinasais: Considerações em cinco casos clínicos Paranasal sinus mucoceles: Considerations in five clinical cases

Dr. Bruno Pinto Ribeiro Residente em Cirurgia de Cabeça e Pescoço Hospital Universitário Walter Cantídio

Assessoria ao Cirurgião Dentista Publicação mensal interna da Papaiz edição XXXI Junho de 2018

Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc

3º Curso Teórico Prático de ORL

Mestrado Profissional associado à residência médica MEPAREM. O uso de stent melhora a chance de sucesso da dacriocistorrinostomia endonasal?

Avaliação pré-operatória das cavidades paranasais por tomografia computadorizada: o que o médico deve saber? ensaio iconográfico

Variações anatômicas das cavidades paranasais à tomografia computadorizada multislice: o que procurar? *

AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO DO DESVIO DE SEPTO COM A OBSTRUÇÃO DO DUCTO NASOLACRIMAL PELA TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA HELICOIDAL

Dacryocystorhinostomy (DCR) is a procedure used to

Apresentação RINO Relato de caso

RETALHOS ÂNTERO-LATERAL DA COXA E RETO ABDOMINAL EM GRANDES RECONSTRUÇÕES TRIDIMENSIONAIS EM CABEÇA E PESCOÇO

Planejamento Pré-operatório Utilizando Reconstruções 3D e Endoscopia Virtual para a Localização do Seio Frontal

The anatomical variations of the structure of the ostiomeatal

Tomografia computadorizada das células etmoidais intra e extramurais: ensaio iconográfico *

Manual de dissecção endoscópica naso-sinusal e da base anterior do crânio

TC Protocolo de Mastoide. José Pedro Gonçalves TN Esp. em Radiologia

Avaliação da cefaleia nasossinusal em doentes submetidos a cirurgia endonasal

Marta Canas Marques Marco Simão Ana Rita Santos Alberto Santos Carlos Macor Óscar Dias Mário Andrea

FIBROMA OSSIFICANTE ETMOIDO FRONTAL COMPLICADO DE MUCOCELO. ; ;

Complicações da cirurgia endoscópica nasossinusal Revisão de 667 doentes do Centro Hospitalar do Porto

Assessoria ao Cirurgião Dentista Publicação mensal interna da Papaiz edição XXIX Fevereiro de 2018

CHEGOU DIA 24 E AGORA?

Cirurgia Endoscópica Nasossinusal em Pacientes Pediátricos

Faculdade de Ciências Médicas

Universidade de São Paulo Instituto de Ciências Biomédicas Departamento de Anatomia Humana. Ossos do Crânio e da Face

Computed tomography assessment of the ethmoid roof: a relevant region at risk in endoscopic sinus surgery

FÍSTULA LIQUÓRICA ESFENOIDAL ESPONTÂNEA RELATO DE CASO

Nariz e Laringe. Anatomia Aplicada à Medicina IV MOR 044 Prof. Sérvulo Luiz Borges

Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc

ADENOCARCINOMA NASOSSINUSAL EXPERIÊNCIA DO SERVIÇO ORL DO HOSPITAL DE BRAGA

Variações anatômicas do complexo ostiomeatal: achados tomográficos em 200 pacientes*

área acadêmica Anatomia Anatomia radiológica do crânio e face

Brazilian Journal of OTORHINOLARYNGOLOGY. Universidade Federal de São João del-rei (UFSJ), Campus Centro-Oeste, Divinópolis, MG, Brasil

GABARITO DE CIRURGIA CRANIOMAXILOFACIAL. QUESTÃO 1 A foto abaixo é mais sugestiva de:

Introduction: The anterior ethmoidal artery (AEA) is an

área acadêmica Anatomia Anatomia radiológica do crânio e face

The anterior ethmoidal artery (AEA) is an important point

Dacriocistorrinostomia Endoscópica em Crianças

Radiologia do crânio e face

Tomografia Computadorizada Quantitativa Diagnóstico da Osteoporose

USO DA IMAGINOLOGIA NO PLANEJAMENTO DOS IMPLANTES. Luiz Fernando Deluiz Renato Aló Da Fontoura

USO DO BIOMATERIAL ORTHOGEN em LEVANTAMENTO DE SEIO MAXILAR ESTUDO HISTOLÓGICO. André, L.F.M 1 ; Tiosso, R e Santos, T.M 2

Graves disease may lead to exophthalmos that is

ANATOMIA HUMANA. Faculdade Anísio Teixeira Curso de Férias Prof. João Ronaldo Tavares de Vasconcellos Neto

Mastoidectomia: parâmetros anatômicos x dificuldade cirúrgica

Silent sinus syndrome:

Trabalho de Conclusão de Curso

Ossos do. crânio e da face. Miguel A. Xavier de Lima

Não risque as peças, utilize os estiletes marcadores para apontar as estruturas. ESQUELETO AXIAL

Sinusite: Dificuldades Diagnósticas e Diagnóstico Diferencial

Protocolo de Tomografia para Membros Superiores

CRÂNIO E FACE POSICIONAMENTO RADIOLÓGICO TÓPICOS DE ANATOMIA - 1 -

COMPLEXO NASOSSINUSAL: ANATOMIA RADIOLÓGICA*

SISTEMA RESPIRATÓRIO. Prof. Sérvulo Luiz Borges UFJF

Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc

Por serem alento e alegria nos momentos que só vós sabeis como me animar. Agradeço-vos por estarem sempre presentes.

Sistema Esquelético: Ossos. Prof a. Deise Maria Furtado de Mendonça

Autoria: Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia Associação Brasileira de Cirurgia Pediátrica

Resultados da dacriorinocistostomia externa no tratamento de obstrução das vias lacrimais

DIVERTÍCULO DE ZENKER. R1 Jean Versari - HAC

Autor : Larissa Odilia Costa Binoti Co-autores : Bernardo Relvas Lucas Camila Bae Uneda Daniella Leitão Mendes Juliana Cagliare Linhares

Conjunto de instrumentos para Cirurgia Endoscópica do Ouvido Médio ORL /2018-PT

TRABECULECTOMIA MSS ESTUDO PENTACAM DO SEGMENTO ANTERIOR

Tem uma forma semelhante a uma pirâmide. O bordo orbitário é espesso e arredondado na sua abertura anterior.

RELATO DE CASO DE SINUSITE MAXILAR POR FÍSTULA OROANTRAL COM DIAGNÓSTICO TARDIO

Esvaziamento Cervical Seletivo em Pescoço Clinicamente Positivo

4ª Edición. Reabilitação Oral com Implantes Técnicas cirúrgicas para regeneração óssea. Curso prático em cabeça de cadáver

MENINGIOMA VS LESÃO SECUNDÁRIA

MCDT evaluation of aortic root and aortic valve prior to TAVI. What is optimal imaging point in the cardiac cycle?

Luxação em Prótese Total do Quadril

TÍTULO: COLESTEATOMA DE CONDUTO AUDITIVO EXTERNO COMO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE PATOLOGIAS DA ORELHA EXTERNA

Rinossinusite crónica: Correlação entre a clínica e o score lund-mackay Chronic rhinosinusitis: Correlation between the symptoms and score lund-mackay

Tomografia computadorizada. Análise das Imagens

CISTO DO DUCTO NASOPALATINO: RELATO DE CASO

POSIÇÃO DO ÁPICE DENTÁRIO EM RELAÇÃO AO PROCESSO ALVEOLAR DO OSSO MAXILAR. ESTUDO EM TOMOGRAFIAS DE CONE-BEAM

Papiloma Invertido Nasossinusal:

Humberto Brito R3 CCP

CAUSAS DA SINUSITE LOCALIZAÇÃO

Radiologia médica - Anatomia I. Total de 7 páginas 1

Pedro Escada. Clara Capucho. Madeira da Silva

Journal Club. Setor Abdome. Apresentação: Lucas Novais Bomfim Orientação: Dr. George Rosas

IMAGIOLOGIA NOS TUMORES DE CÉLULAS RENAIS

INTERPRETAÇÃO RADIOGRÁFICA POR ACADÊMICO DE ENFERMAGEM: PERSPECTIVAS DE DESENVOLVIMENTO DE TÉCNICAS DE PROCESSAMENTO DIGITAL

Tumores benignos nasosinusais: Estudo retrospectivo Benign nasosinusal tumors: Restrospective study

Sara Martins Pereira Miguel Breda Diana Pinto Silva Ana Menezes António Lima Daniela Ribeiro Luís Dias

I ntroduction: Computed tomography has been

Transcrição:

Analíse morfométrica das estruturas anatómicas adjacentes à fossa lacrimal em tomografia computorizada: Estudo de 100 doentes Morphometric analysis of the anatomic structures adjacent to fossa lacrimal in computed tomography: Study of 100 patients Joana Candeias Deus Miguel Pereira Luis Dores Rita Sousa Marta Canas Marques Marco Alveirinho Simão Resumo Objectivos: Descrição da morfometria das estruturas anatómicas adjacentes à fossa lacrimal e discussão da sua aplicabilidade cirúrgica. Desenho do estudo: Transversal e retrospectivo. Métodos: Tomografia Computorizada dos Seios Perinasais em 100 doentes. Resultados: O limite anterior da cabeça do corneto médio foi anterior, adjacente e posterior em 45.5%, 10% e 44.5% dos casos, respectivamente, em relação à fossa lacrimal. A espessura do ramo ascendente da maxila, na região da osteotomia, foi de 5.2 mm. A inserção lateral da Apófise Unciforme foi pós lacrimal, lacrimal e pré lacrimal em 52%, 33% e 15% dos casos, respectivamente. O canal naso lacrimal e a fossa lacrimal mediram 8.12 e 11 mm, respectivamente. A distância entre o canal naso lacrimal e a inserção óssea do corneto médio foi de 4.8 mm. Aproximadamente 60% da fossa lacrimal localiza-se acima da inserção do corneto médio. A distância entre a fossa lacrimal e a Agger Nasi foi de 6 mm. Conclusões: Os valores obtidos são semelhantes aos encontrados na literatura. Durante as cirurgias de dacriocistorrinostomia endoscópica, pelo menos em metade, existe a necessidade de procedimentos adicionais. A TC SPN é essencial no estudo de doentes com indicação para DCR Endoscópica. Palavras-chave: Dacriocistorrinostomia Endoscópica, Fossa Lacrimal, Tomografia Computadorizada. Abstract Objectives: morphometric description of anatomical structures adjacent to the lacrimal fossa and discussion of their surgical applicability. Study Design: Cross-sectional and retrospective. Methods: Computed tomography of paranasal sinuses in 100 patients. Results: Regarding the lacrimal fossa, the anterior limit of the middle turbinate head was anterior, adjacent and posterior in 45.5%, 10% and 44.5% of cases, respectively. The thickness of the ascending branch of the jaw in the area of the osteotomy was 5.2 mm. The lateral insertion of the process uncinate was pos lacrimal, lacrimal and pre lacrimal 52%, 33% and 15% of cases, respectively. The nasolacrimal duct and the lacrimal fossa measured 12.8 and 11 mm, respectively. The distance between naso lacrimal canal and the bone insertion of the middle turbinate was 4.8 mm. Approximately 60% of the lacrimal fossa is located above the middle turbinate insertion. The distance between the lacrimal fossa and the Agger Nasi was 6 mm. Conclusions: The values obtained are similar to those found in the literature. At least half of endoscopic dacryocystorhinostomy procedures (DCR En) require additional procedures. CT SPN is essential in the study of patients with indication for DCR En. Keywords: Endoscopic dacryocystorhinostomy, Lacrimal Fossa, Computed Tomography. ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE Joana Candeias Deus Miguel Pereira Luis Dores Rita Sousa Centro Hospitalar Lisboa Norte - Hospital Santa Maria - Departamento de imagiologia Marta Canas Marques Marco Alveirinho Simão Correspondência: Joana Candeias Deus joanacandeiasdeus@hotmail.com Artigo recebido a 21 de Junho de 2016. Aceite para publicação a 13 de Novembro de 2017. Introdução A Dacriocistorrinostomia (DCR) tem por objectivo criar um desvio da drenagem lacrimal na cavidade nasal através de uma osteotomia ao nível do saco lacrimal. Este procedimento pode ser realizado através de uma abordagem externa ou endoscópica. A abordagem externa foi descrita originalmente por Toti em 1904 e modificada por Dupuy-Dutemps e Bourguet, e tornou-se a cirurgia gold standard no tratamento da obstrução do ducto naso lacrimal (DNL). As taxas de sucesso com esta abordagem rondam os 90%, contudo, a incisão cutânea e a disfunção do mecanismo de bomba do sistema lacrimal são citadas como desvantagens significativas. 1 Desde a década de 80, com a introdução dos VOL 55. Nº2. JUNHO 2017 81

endoscópicos na cirurgia nasal, a DCR Endoscópica (DCR En) tem vindo a tornar-se o procedimento de eleição para o tratamento cirúrgico da obstrução do DNL em vez da abordagem externa. As duas abordagens têm sido comparadas e os estudos indicam que as taxas de sucesso e os tempos cirúrgicos são sobreponíveis, mas apontam para menor número de complicações com a DCR En. 2,3,4 O sucesso e a segurança da DCR En dependem de um conhecimento abrangente da anatomia da parede medial da fossa lacrimal (FL), do DNL, e principalmente da parede lateral das fossas nasais (FN). As principais referências endoscópicas para aceder à FL incluem a axila do corneto médio (CM) e a apófise unciforme (AU). 5 A axila do CM corresponde à porção mais anterior da inserção do CM na parede externa das FN. Na literatura, a relação desta estrutura com a FL não é clara, alguns estudos indicam que a axila do CM se localiza no limite superior do saco lacrimal 6, enquanto outros reportam que parte do saco lacrimal fica acima desta estrutura. 7 A AU, parte do etmóide anterior, é uma fina lamela óssea cuja porção anterior tem intima relação com a FL, contudo a sua relação com as estruturas do sistema lacrimal tem sido pouco documentada. 5,8 Alguns destes estudos sugerem que a AU pode sobrepor-se à FL e que terá de ser removida para aceder a esta estrutura. A AU localiza-se entre o CM e a parede lateral, a este nível a pneumatização do grupo de células etmoidais explica as variações significativa desta estrutura em relação à FL. A Agger Nasi (AN) é a célula mais constante e anterior do etmóide, relacionando-se ínfero-lateralmente com a FL e o inicio do canal naso lacrimal (CNL). 9 Alguns estudos demonstram que para aceder à FL é necessário remover esta célula devido à sua posição anterior em relação à crista lacrimal posterior, podendo desta forma sobrepor-se, em diferentes graus, à FL. As variações anatómicas significativas do meato médio em relação aos seus pontos de referencia convencionais (CM, AU) e destes com a via lacrimal tornam difícil a reprodutibilidade de uma técnica de abordagem endonasal baseada puramente em parâmetros anatómicos. Estes aspectos traduzem a dificuldade de padronização da DCR-En. O conhecimento da morfometria desta região permite um plano cirúrgico preciso e a melhoria da estandardização da técnica de DCR En. Métodos Desenho do estudo: Estudo transversal, retrospectivo, realizado através de imagens de Tomografia Computorizada dos Seios Perinasais (TC SPN) em uma amostra de 100 doentes. Os critérios de inclusão foram: doentes em idade adulta ( 18 anos) com TAC SPN realizada no Hospital Santa Maria com o mesmo protoloco de execução. Os critérios de exclusão utilizados foram: Sintomatologia do sistema lacrimo-nasal, patologia congénita ou adquirida deste sistema, quadro de rinossinusite, cirurgia prévia do foro ORL, idade pediátrica (< 18 anos). Protocolo de TC SPN Em todos os doentes realizou-se um estudo volumétrico axial com 1,5 mm de espessura com reformatações axiais, coronais e sagitais, com baixa dose de radiação (92 mas). A análise dos cortes de TC foi realizada através do sistema PACS Gateway por dois otorrinolaringologistas. Análise estatística Os parâmetros estudados foram analisados através da seguinte metodologia: 1. Relação da porção anterior da cabeça CM e a FL: nos cortes axiais foi definido um plano através da junção entre as suturas lacrimo maxilares e observado a porção mais anterior da cabeça do CM (Figura 1.). A posição da cabeça do CM foi classificada em anterior, adjacente e posterior. Foram utilizados ambos os lados (N=200). FIGURA 1 Classificação da posição da cabeça do CM, definido por um plano (linha vermelha) através da junção entre as suturas lacrimo maxilares. À esquerda a cabeça do CM é anterior e à direita posterior em relação à fossa lacrimal. 2. Espessura do ramo ascendente do osso maxilar: nos cortes axiais, utilizou-se como referência o primeiro corte abaixo da axila do CM e o bordo anterior da FL. Esta medida correspondeu à distância definida por duas linhas paralelas: uma linha tangente à porção mais lateral do ramo ascendente da maxila, e outra linha 82 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL

tangente à porção mais medial do ramo ascendente da maxila (Figura 2). FIGURA 2 Espessura do ramo ascendente do osso maxilar: mediu-se utilizando uma linha paralela à porção mais lateral do ramo ascendente da maxila (linha amarela), passando pelo bordo mais anterior da FL (linha vermelha). ultima imagem da FL (imediatamente anterior à imagem onde já se observava CNL). Esta medida resultou do somatório do número de cortes e do seu intervalo. 6. Distância entre CNL e a inserção óssea do CM: obtido através do primeiro corte axial do limite superior do CNL até ao primeiro corte axial da inserção do CM na parede lateral. Esta medida resultou do somatório do número de cortes e do seu intervalo. 7. Relação da FL com a inserção óssea do CM. Foram utilizados os resultados obtidos em 5 e 6 para determinar a % de FL acima do CM. 8. Distância entre a FL e a AN: obtido através de cortes axiais; distância entre parede inferior da AN e o limite inferior da FL (Figura 4). FIGURA 4 Corte coronal - exemplo de uma célula Agger Nasi ao mesmo nível que a Fossa Lacrimal à esquerda ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE 3. Relação da AU com a FL: nos cortes axiais, observouse a posição da inserção da AU em relação à suturo lacrimo nasal. Classificou-se a posição da AU em pré lacrimal, lacrimal ou pós lacrimal (Figura 3). 4. Comprimento do CNL: obtido através do número de cortes axiais onde se observou o CNL, definido pelas suas paredes ósseas em toda a sua extensão. Esta medida resultou do somatório do número de cortes e do seu intervalo. 5. Comprimento da FL: obtido através do número de cortes axiais onde se observou a FL; sendo o seu limite superior definido pela primeira imagem côncava até á FIGURA 3 Posição da AU em relação à sutura lacrimo nasal: (a) pós lacrimal; (b) lacrimal; (c) pré lacrimal VOL 55. Nº2. JUNHO 2017 83

O tratamento de dados foi realizado através do R statistical software version 3.0.2 for Mac OS X. Resultados A amostra foi constituída por 59 doentes do sexo feminino e 41 doentes do sexo masculino, com uma média de idades de 51 anos, compreendidas entre os 18 e 87 anos de idade. Os resultados dos parâmetros analisados foram os seguintes: 1. Relação da porção anterior da cabeça CM e a FL: A porção anterior da cabeça do CM foi anterior em 45.5%, adjacente em 10% e posterior em 44.5% dos casos (Figura 1). 2. Espessura do ramo ascendente do osso maxilar: Mediu em média 5.2 mm (3-8.9 mm). 3. Relação da AU com a FL: A AU foi pós lacrimal em 52% dos casos, lacrimal em 33% dos casos e pré lacrimal em 15% dos casos (Figura 3). 4. Comprimento do CNL: Mediu em média 8.12 mm (3.75-19.5 mm). 5. Comprimento da FL: Mediu em média 11 mm (4.5-17.25 mm). 6. Distância entre CNL e a inserção óssea do CM: Mediu em média 4.8 mm (0-12 mm). 7. Relação da FL com a inserção óssea do CM: Aproximadamente 60% da FL localiza-se acima da inserção do CM. 8. Distância entre a FL e a AN: A incidência de AN foi de 97%. A distância entre o limite inferior da FL e o limite inferior da AN foi em média 6 mm (0-17.3 mm). Em 60% dos casos esta distância foi inferior a 7 mm. Discussão Relação da porção anterior da cabeça CM e a FL: Os resultados demonstraram que a cabeça do CM se encontrou em posição anterior em 45.5%, adjacente em 10% e posterior em 44.5% dos casos, relativamente à FL. Estes resultados poderão ter sido influenciados pelas alterações fisiológicas do ciclo nasal inerentes à mucosa da cabeça do CM. Contudo o facto de terem sido analisados os dois lados da cavidade nasal diminui este viés. Se consideramos em conjunto as posições anterior e adjacente, o valor obtido é de 55.5%. Sendo estes resultados sobreponíveis aos encontrados por Fayet et al. 5, que reportaram que a axila do CM se projeta na FL em 53.2% dos casos, o que contradiz a noção convencionada de que a axila do CM é posterior à FL. Tendo em conta que, uma das causas de insucesso da DCR En são as sinéquias entre a cabeça do CM e a parede externa, 5,10 assim como a persistência da axila do CM 5, os autores colocam a hipótese que a turbinectomia parcial média anterior seja necessária pelo menos em metade dos procedimentos de DCR En, ou seja, sempre que a cabeça do CM se encontre anterior ou adjacente à FL. Na pesquisa bibliográfica efectuada este procedimento é realizado em 1.5-74% dos casos 11,12. Ainda a favor desta hipótese Basmak et al. 13, num estudo comparativo entre doentes submetidos a DCR En isolada e doentes submetidos a DCR En e turbinectomia parcial média, obtiveram que o procedimento de DCR En isolado esteve associado a uma maior taxa de insucesso. Espessura do ramo ascendente do osso maxilar Figura 2 O valor médio da espessura do ramo ascendente do osso maxilar foi de 5.2 mm, variando de 3-8.9 mm. Na literatura pesquisada não foram encontrados valores para esta medida. Os autores consideram esta medida importante, quer na avaliação pré cirúrgica, uma vez que poderá ajudar na escolha do tamanho da broca a utilizar, e permitir maior segurança para o alargamento da osteotomia num plano mais anterior. Na literatura, a DCR En assistida por laser parece ter menor taxa de sucesso 14, o valor obtido para a espessura do processo frontal explica em parte este insucesso, uma vez que o laser é apenas eficaz para o osso lacrimal que tem menor espessura, podendo o uso excessivo de laser utlizado na tentativa de remover o osso espesso do processo frontal provocar dano da mucosa e posterior tecido fibrótico. Relação da AU com a FL Figura 3 A AU é considerada uma das referências anatômicas para a DCR En. Não é claro na literatura se a AU é anterior ou posterior à FL. Uma localização anterior implicaria uma uncifectomia parcial para aceder à FL na abordagem endoscópica. Considerando a inserção da porção vertical da AU na parede externa considerou-se que esta estrutura poderia ser pré lacrimal, lacrimal ou pós lacrimal em relação à FL. Os resultados obtidos demostraram que a AU foi pós lacrimal em 52% dos casos, lacrimal em 33% dos casos e pré lacrimal em 15% dos casos. Estudos recentes demonstram que existe algum grau de sobreposição da AU à FL 14,15, sugerindo que para aceder à FL será necessário realizar uma uncifectomia. Este procedimento é feito de forma muito inconsistente na literatura, variando de 0-95% dos casos, para alguns autores esta estrutura deve ser sempre preservada 14, enquanto outros utilizam este procedimento como standart em todas as DCR En. 8 A necessidade de retirar a AU é ainda muito controversa, contudo em situações selecionadas os estudos parecem demonstrar que este procedimento está associado a 84 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL

melhor acesso ao saco lacrimal, menos complicações 8 e maiores taxas de sucesso. 16 Se considerarmos a posição lacrimal e pré lacrimal em conjunto, obtemos que em 48% dos casos existe sobreposição da AU sobre a FL, e que eventualmente será necessário uma uncifectomia em cerca de metade de todos os procedimentos de DCR En. De acordo com os nossos resultados a uncifectomia como um procedimento standard não será sempre necessário. Comprimento do CNL Comprimento da FL Distância CNL e a inserção óssea do CM Os valores obtidos pelos autores foram semelhantes aos obtidos em outros estudos por tomografia computorizada 5,7, assim como em estudos anatómicos em cadáveres 17 e em estudos que utilizaram contraste no sistema lacrimo nasal 7, evidenciando a acuidade da TC SPN para a obtenção destas medidas. Relação da FL com a inserção óssea do CM A literatura indica que a axila do CM é uma landmark para aceder à FL e que 0-20% do saco ficaria situado acima da inserção da axila do CM 18,19,20. Contudo, estudos mais recentes sugerem que grande parte da FL situa-se acima da axila do CM e que será necessário removê-la para a exposição completa do saco 5,7,14. Wormald et al. 7, tentaram definir a anatomia do saco lacrimal com imagens tomográficas de alta resolução e encontraram-no em posição mais alta na parede nasal do que normalmente descrito, com a sua maior porção (10 mm) acima da inserção do CM e apenas 1 ou 2 mm abaixo deste parâmetro. Os resultados obtidos neste estudo demonstraram que aproximadamente 60% da FL localiza-se acima da inserção do CM. Os nossos resultados, à semelhança de outros estudos recentes, demostram que grande parte da FL fica acima da axila do CM. Estes resultados suportam a ideia que quanto mais alargadas forem as osteotomias maior será o sucesso da DCE En. 4 Distância entre a FL e a AN: Na literatura mais recente tem sido proposto que o sucesso da DCR En depende da exposição apropriada da porção superior do saco lacrimal até á região dos canalículos e fundo do saco. 4,15 Neste sentido é importante avaliar a posição exacta do saco lacrimal e a sua relação com estruturas sobrejacentes da parede externa das fossas nasais, nomeadamente com a AU e a AN. Como referido anteriormente, tem sido enfatizado a importância da uncifectomia 8 durante a DCR mas considerações sobre a remoção da AN são escassas. A incidência da AN, segundo um estudo português é de cerca de 92%. 9 Na literatura discute-se a remoção desta célula durante a osteotomia na DCR, uma vez que a sua localização é imediatamente anterior à crista lacrimal posterior e desta forma relaciona-se, na maioria dos casos, com a porção superior e posterior da FL. 21 Na literatura existe a evidência que em alguns doentes a AN estende-se ao longo de todo o comprimento da FL. A pneumatização da AN é identificada como uma das causas mais comuns para o insucesso da DCR por via externa. 10,22 Um estudo da década de 90 obteve que em 41% dos casos a AN estende-se anteriormente à sutura do osso lacrimal 23 e outro mostrou que em 46% dos casos abriram uma célula etmoidal durante a DCR. 24 Neste estudo a incidência de AN foi de 97% semelhante ao anteriormente encontrado 9. A distância entre o limite inferior da FL e o pavimento da AN foi em média 6 mm (0-17.3 mm). Wormald et al. 7, encontraram um valor médio de 7.3 mm para a distância entre os canalículos e a porção inferior do saco (Figura 5). Tendo este valor como referência obtivemos que na nossa amostra o total de casos de doentes com distâncias entre a FL e a AN inferiores a 7 mm perfizeram cerca de 60%. Os resultados obtidos demonstram que na maioria dos caso, a AN é sobreponível à FL o que implica que o fundo do saco lacrimal não possa ser completamente exposto a não ser que esta célula seja removida. Através deste estudo especula-se que cirurgião encontre a AN, parcial ou totalmente, na região de acesso à FL. Isto deverá ser antecipado e o osso entre a AN e o saco lacrimal deverá ser removido. 4 Conclusões Os valores morfométricos encontrados na população portuguesa são semelhantes aos encontrados na literatura. Pelo menos metade dos procedimentos de DCR En necessitam eventualmente de procedimentos adicionais, nomeadamente: turbinectomia parcial média anterior, uncifectomia e/ou etmoidectomia anterior. Devem ser realizadas osteotomias alargadas para a exposição do saco lacrimal. A TC SPN mostra-se essencial para o estudo de doentes com indicação para DCR En. Protecção de pessoas e animais Os autores declaram que os procedimentos seguidos estavam de acordo com os regulamentos estabelecidos pelos responsáveis da Comissão de Investigação Clínica e Ética e de acordo com a Declaração de Helsínquia da Associação Médica Mundial. Confidencialidade dos dados Os autores declaram ter seguido os protocolos do seu centro de trabalho acerca da publicação dos dados de doentes. Conflito de interesses Os autores declaram não ter nenhum confito de interesses relativamente ao presente artigo. Fontes de financiamento Não existiram fontes externas de financiamento para a realização deste artigo. ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE VOL 55. Nº2. JUNHO 2017 85

Referências bibliográficas: 1.Watkins L, Janfaza P, Rubin P. The Evolution of Endonasal Dacryocystorhinostomy. Survey of Ophthalmology. Jan 2003 (48). 2.Leong SC, Macewen CJ, White PS. A systematic review of outcomes after dacryocystorhinostomy in adults. Am J Rhinol Allergy. 2010 Jan- Feb;24(1):81-90. 3.Tsirbas A, Davis G, Wormald PJ. Mechanical endonasal dacryocystorhinostomy versus external dacryocystorhinostomy. Ophthal Plast Reconstr Surg. 2004 Jan; 20(1):50-56. 4.Wormald P, Tsirbas A. Powered endoscopic dacryocystorhinostomy with mucosal flaps. Operative Techniques in Otolaryngology-Head and Neck Surgery. 2009; 20(2):92-95. 5.Fayet B, Racy E, Assouline M, Zerbib. Surgical anatomy of the lacrimal fossa a prospective computed tomodensitometry scan analysis. Ophthalmology. 2005 Jun; 112(6):11 19-28. 6.McDonogh M, Meiring JH: Endoscopic transnasal dacryocystorhinostomy. J Laryngol Otol. 1989. 103:585-7. 7.Wormald PJ, Kew J, Van Hasselt A. Intranasal anatomy of the nasolacrimal sac in endoscopic dacryocystorhinostomy. Otolaryngol Head Neck Surg. 2000 Sep;123(3):307-10. 8.Fayet B, Racy E, Assouline M. Complications of standardized endonasal dacryocystorhinostomy with unciformectomy. Ophthalmology.2004 Apr;111(4):837-45. 9.Marques M, Simão A, Santos A, et al. Análise da anatomia do recesso frontal em tomografia computorizada: Estudo de 50 doentes. Rev Port Oto cir cervico-facial. 2001; (49) 1: 5-10. 10.Liang J, Hur K, Merbs SL, Lane AP. Surgical and Anatomic Considerations in Endoscopic Revision of Failed External Dacryocystorhinostomy. Otolar Head Neck Surg.2014 Mar (4). 11.Figueira E, Al Abbadi Z, Malhotra R, et al. Frequency of simultaneous nasal procedures in endoscopic dacryocystorhinostomy. Ophthal Plast Reconstr Surg. 2014 Jan-Feb;30(1):40-3. 12.Fayet B, Katowitz WR, E Racy, et al. Endoscopic dacryocystorhinostomy: the keys to surgical success. Ophthal Plast Reconstr Surg. 2014 Jan-Feb;30(1):69-71. 13.Basmak H, Cakli H, Sahin A, et al. What is the role of partial middle turbinectomy in endocanalicular laser-assisted endonasal dacryocystorhinostomy? Am J Rhinol Allergy.2011 Jul- Aug;25(4):e160-5. 14.Tsirbas A, Wormald P. Mechanical endonasal dacryocystorhinostomy with mucosal flaps. Br J Ophthalmol. Jan 2003; 87(1): 43 47. 15.Soyka MB, Treumann T, Schlegel. The Agger Nasi cell and uncinate process, the keys to proper access to the nasolacrimal drainage system. Rhinology. 2010 Sep;48(3):364-7. 16.Yang JW1, Oh HN. Success rate and complications of endonasal dacryocystorhinostomy with unciformectomy. Graefes Arch Clin Exp Ophthalmol. 2012 Oct;250(10):1509-13. 17.IPEK, E, ESIN, K, AMAC, K, et al. Morphological and morphometric evaluation of lacrimal groove. Anatomical Science International. 2007; 82 (4): 207-210. 18.Rebeiz E, Shapshay S, Bowlds J, et al. Anatomic guidelines for dacryocystorhinostomy. Laryngoscope 1992,102:1181-4. 19.McDonogh M, Meiring JH. Endoscopic transnasal dacryocystorhinostomy. J Laryngol Otol. 1989 Jun;103(6):585-7. 20.Sprekelsen MB, Barberán MT. Endoscopic dacryocystorhinostomy: surgical technique and results. Laryngoscope. 1996 Feb;106(2 Pt 1):187-9. 21.Zhang L, Han D, Ge W, Xian J, et al. Anatomical and computed tomographic analysis of the interaction between the uncinate process and the agger nasi cell.. Acta Otolaryngol. 2006 Aug;126(8):845-52. 22.Liang J, Hur K, Merbs SL, Lane AP. Surgical and Anatomic Considerations in Endoscopic Revision of Failed External Dacryocystorhinostomy. Otolaryngol Head Neck Surg.2014 Mar (no prelo/in press). 23.Blaylock WK, Moore CA, Linberg JV. Anterior ethmoid anatomy facilitates dacryocystorhinostomy. Arch Ophthalmol 1990;108:1774-7. 24.Talks SJ, Hopkisson B. The frequency of entry into an ethmoidal sinus when performing a dacryocystorhinostomy. Eye 1996; 10,742-743. 86 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL