PERÍCIA: O PAPEL DO PSICÓLOGO 1 Dra. Rosa Maria Carvalho da Silveira 2 PERÍCIA: O PAPEL DO PSICÓLOGO



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Transcrição:

PERÍCIA: O PAPEL DO PSICÓLOGO 1 Dra. Rosa Maria Carvalho da Silveira 2 Resumo: Este artigo, inicialmente, discute a perícia em Psicologia e a atuação do psicólogo no âmbito jurídico. Em seguida, aborda-se o papel de perito e do assistente técnico e seu instrumental teórico e técnico para avaliação do periciando. Questionase quem é a vítima no processo judicial. Finaliza-se com a questão do sigilo profissional em relação às informações contidas no laudo pericial. Palavras chave: Perícia psicológica, laudo pericial, perito e assistente técnico, Psicologia Jurídica Title: The Psychologist`s Role in expertise Abstract: This article initially deals with expertise in Psychology and the psychologist`s performance in legal terms. Then it discusses of the role expert, and the technical assistant, with their theoretical and technical tools, in expertise. We question who the victim is in a legal issue. Our final considerations concern the issue of professional secrecy concerning the information in the expertise report. Key words: psychological expertise, expertise report, expert and technical assistant, legal psychology. PERÍCIA: O PAPEL DO PSICÓLOGO Nestes últimos anos, têm sido realizados Congressos, Seminários e Cursos nos quais participam profissionais de várias áreas, interessados em perícia, de modo a favorecer o debate entre eles. Nesses encontros também são enfocados assuntos relacionados a perícia em Psicologia. Este campo específico de relações entre a esfera do Direito e da Psicologia é discutido por vários autores ( Bernardi, 1992, 1998; Clemente, 1995; Rovinski, 1998; Sá, 1996; Silva, 2002; Silveira, 1998, 2001), que abordam uma variedade de temas, tais como: a atuação do psicólogo nas Varas da Família, Infância e Juventude, atribuições do psicólogo como assessor, perito, assistente técnico, consultor, mediador e membro de equipes multidisciplinares. Na literatura especializada há relatos do emprego de pareceres médicos psiquiátricos desde o século XIX (Rovinski, 1998). Esses pareceres informavam sobre a capacidade ou incapacidade dos indivíduos perante a lei. A partir do século XX, têm proliferado as perícias em psicologia e de outros profissionais em ciências humanas, não apenas em processos penais, mas em processos civis, notadamente, em questões de família. Esses pareceres são utilizados com o objetivo de dar suporte técnico, oferecer legitimidade aos julgamentos e decisões jurídicas. 1 Perícia em Psicologia A Psicologia é uma profissão regulamentada ( lei n.º 4112/62). O Conselho Federal de Psicologia (1995) considera que entre outras atribuições, cabe ao psicólogo realizar 1 Aula ministrada no III Curso para formação de peritos judiciais e assistentes técnicos.. São Paulo, junho e julho de 2003. 2 Doutora em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da USP Professora titular doutora do Curso de Psicologia da Universidade Ibirapuera e Professora do Curso de Pós Graduação da Universidade São Judas Tadeu.

perícias e emitir pareceres sobre a matéria de psicologia (art.4, n.º6). Cumpre ressaltar que de acordo com a legislação, o psicólogo pode atuar como perito judicial ou assistente técnico nas varas cíveis, criminais, de justiça do trabalho, da família, da criança e do adolescente, elaborando laudos, pareceres e perícias a serem anexadas aos processos(art. 5). O campo da Psicologia Jurídica é definido por Bernardi (1998) como uma área de trabalho e investigação especializada, cujo objeto é o estudo do comportamento dos atores jurídicos no âmbito do direito, da lei e da justiça. Ao juiz cabe decidir a sentença judicial de acordo com as leis sancionadas pela sociedade. Silveira (2001) assinala que o juiz pode requisitar a assessoria técnica de um psicólogo, nas situações em que os conflitos entre as partes são muitos intensos. Neste sentido, o psicólogo deve buscar um outro olhar sobre a questão litigiosa, fornecendo os elementos necessários para subsidiar a decisão do juiz. O objetivo deste artigo é apresentar os métodos e as técnicas mais usados na perícia em psicologia e como sintetizar os resultados em um laudo psicológico ou pericial 2 Quem é a vítima? Sá (1996) define a vitimização como um processo que tem caráter de historicidade, dinamizado por interesses, por motivações conscientes ou inconscientes, no qual a vítima é o alvo da ofensa ou violência do agressor. O agressor inflige prejuízos de diferentes ordens: físico, econômico, moral, profissional, intelectual, psicológico, assim por diante. No entanto, a vítima e o agressor podem desenvolver entre si uma relação de cumplicidade, de complementaridade e alternância de papéis. É bom que se diga que está implícito, nesta definição, o ganho secundário de ser vítima, os benefícios e vantagens advindos de sua condição de vitimização. Deduz-se que a vítima é quem se sente injuriado, ofendido, agredido pelas ações de alguém. Esses sentimentos, simultaneamente, permeiam ambas as partes do litígio. É neste emaranhado de emoções que o perito em psicologia vai atuar. A sua neutralidade e imparcialidade são instrumentos necessários para a realização de seu trabalho na avaliação do periciando. 3 Perito e Assistente Técnico É de competência do juiz determinar os técnicos e nomear o perito que é o profissional de sua confiança. Nomeado perito, o psicólogo deve avaliar a dinâmica emocional do periciando, procurando esclarecer os quesitos solicitados pelo juiz. Portanto, utilizando instrumentos psicológicos, com auxílio de uma escuta e de um raciocínio especializado do psicólogo, o perito deverá elaborar o laudo, contendo as respostas que lhe foram solicitadas, devidamente fundamentadas e respeitando as normas éticas de sua profissão (Silveira, 2001). O trabalho a ser realizado pelo assistente técnico tem objeto, objetivo e fim idêntico àquele atribuído ao perito (Negrão, 1997). Entretanto, o assistente técnico é o psicólogo de confiança da parte que a contrata para auxiliá-la a fundamentar seus argumentos. Sendo assim, pode ser parcial aos interesses do seu cliente, desde que não sugira afirmações infundadas com a finalidade de favorecê-lo e não violando os preceitos éticos da profissão. O assistente técnico é contratado para realizar avaliação psicológica, acompanhar de perto o desenrolar do processo e comentar o trabalho do perito judicial, argumentando em seu parecer críticas ao laudo pericial, se for necessário. Assim como o perito, o assistente técnico deve utilizar todo instrumental técnico científico disponível para realizar o seu trabalho. De acordo

com Silva (2002, p.37) o assistente técnico deve ter ampla liberdade para obter informações que subsidiem o seu parecer técnico, não somente para obter informações da parte que o contratou como também da parte contrária. Uma outra função do assistente técnico referido por Silva (2002) é de orientação ao cliente. Se as informações obtidas e o retrato da situação foram desfavoráveis, cabe ao assistente técnico aconselhar seu cliente a desistir da ação. 4 Laudo Psicológico ou Pericial e Parecer Psicológico Na elaboração de documento, o psicólogo baseará suas informações na observância dos princípios e dispositivos do Código de Ética Profissional do Psicólogo (Resolução CFP n.º 017/2002). Os principais pontos enfatizados na resolução do CFP dizem respeito aos deveres do psicólogo com a pessoa atendida, ao sigilo profissional, às relações com a justiça e ao alcance das informações. Os documentos elaborados por psicólogos devem se basear exclusivamente em métodos e técnicas psicológicas e fundamentados em referencial técnico científico (Resolução CFP n.º 017/2002). O laudo psicológico ou pericial refere-se a uma prova técnica, comunica os resultados de uma avaliação psicológica.. A sua redação deve ser clara, precisa e inteligível de modo a responder as questões propostas, registrando somente os dados que possam ser úteis ao objetivo a que se destinam. É redigido pelo perito nomeado pelo juiz, não devendo ultrapassar o necessário para a tomada da decisão judicial. O laudo fornece um diagnóstico situacional, que visa a auxiliar a busca de alternativas a uma situação conflitiva (Bernardi, 1992). O laudo psicológico deve conter: Cabeçalho (nome do perito e sua titulação, nome do autor da solicitação e sua titulação); Dados de identificação do periciando e data; Objetivo da avaliação (esclarecer quais ações o laudo deverá subsidiar); Métodos e técnicas utilizados (instrumentos de coleta de dados); Descrição da conduta do periciando, a história clínica; Análise dos resultados; Conclusão (hipótese diagnóstica e/ou prognóstico, encaminhamentos relacionados à demanda); Identificação do profissional (registro do CRP) O Parecer Psicológico tem como finalidade apresentar resposta esclarecedora no campo do conhecimento psicológico. O parecer deve ser fundamentado em uma avaliação técnica visando dirimir dúvidas, considerando os quesitos apontados. É redigido pelo assistente técnico, exigindo deste psicólogo competência no assunto. A respeito do prazo para as partes se manifestarem sobre o laudo, houve um acréscimo ao artigo 431 decorrente da lei 10358/2001, no novo Código de Processo Civil (2002), em vigor a partir de janeiro de 2003. O juiz, habitualmente, determina ao perito que se manifeste em relação as críticas feitas ao seu laudo. A parte que desejar esclarecimentos do perito ou do assistente técnico deverá faze-lo em forma de quesitos até 5 (cinco) dias antes da audiência (Código de Processo Civil, Seção VII, art. 435).

5 Instrumentos de Coleta de Dados (Silveira, 1998): entrevista, observação, testes psicológicos A avaliação psicológica pode ser feita por diferentes métodos e técnicas, em função da natureza da avaliação e do objetivo do estudo. A seguir, apresentam-se alguns instrumentos psicológicos usados na avaliação do periciando. 5.1 Entrevista Psicológica De acordo com Bleger (2001, p.21), A entrevista é um campo de trabalho no qual se investiga a conduta e a personalidade de seres humanos. A entrevista psicológica é um instrumento flexível, uma vez que permite obter dados exaustivos do comportamento do entrevistado, além de dar liberdade ao perito de fazer as intervenções necessárias ao esclarecimento de suas dúvidas. O psicólogo recolhe dados em função de uma escuta especializada o que possibilita uma investigação ampla da personalidade do periciando. A fundamentação teórica do psicólogo permite realizar a entrevista em condições metodológicas mais restritas, convertendo-a em instrumento científico com resultados confiáveis. Entretanto, a entrevista, utilizada isoladamente, não substitui outros procedimentos de investigação da personalidade, mas completa os dados obtidos por outros instrumentos. 5.2 Observação É importante enfatizar que durante a entrevista pode-se observar a aparência física, o comportamento verbal e não verbal, indicadores de tensão e ansiedade e as reações emocionais do periciando. Uma outra modalidade, a observação participante ou visita, pode ser realizada na própria casa do periciando, onde há maior possibilidade de observação do relacionamento familiar. 5.3 Testes Os profissionais de psicologia reconhecem que o teste psicológico é um instrumento valioso nas mãos de um profissional competente. Porém, é importante ressaltar que os testes devem ser considerados como instrumentos auxiliares e não podem ser utilizados como única fonte de avaliação. Devem servir como uma das fontes de informação que podem confirmar ou afastar hipóteses sobre os conteúdos psicológicos relevantes para a matéria legal. A escolha do teste psicológico está vinculada ao objetivo do estudo, às características do sujeito, a qualidade do teste 3 e à experiência do aplicador. Empregam-se testes para avaliação objetiva da personalidade, da inteligência, do desempenho motor, etc. Cumpre salientar que a síntese dos resultados da testagem deve incluir a dinâmica psicológica (ansiedades e defesas) e o grau de maturidade da personalidade, portanto devem apresentar os aspectos positivos ( amadurecidos, criativos) e aspectos negativos (imaturos, patológicos) da personalidade do periciando. 5.4 Sigilo Profissional Um ponto a ser enfatizado é a questão ética em relação ao sigilo profissional e ao alcance das informações. O Código de Ética Profissional do Psicólogo (1996, art. 23, 2.º) orienta quanto a importância do sigilo em relação aos dados obtidos na avaliação, sugerindo que deve ser informado apenas o que for necessário para o esclarecimento da situação judicial. 3 Anastasi e Urbina (2000) afirmam que a qualidade do teste esta diretamente relacionada à sua padronização, precisão e validade.

Vale ressaltar também que o dado obtido na avaliação psicológica em perícia, reflete um quadro situacional e temporal, considerando a natureza dinâmica e não cristalizada do periciando. Uma questão polêmica diz respeito à devolução das informações obtidas do periciando, uma vez que o Código de Ética Profissional do Psicólogo (1996) não se refere especificamente a este assunto. Cunha (2000) é da opinião que a devolução é de responsabilidade de quem encaminhou o processo, isto é, se o pedido de uma avaliação foi feita pelo juiz, é a ele que os resultados devem ser remetidos, cabendolhe a incumbência de comunicar os resultados. Um outro autor (Clemente, 1995) no entanto, sugere ser obrigação do psicólogo comunicar a seus clientes os resultados obtidos na avaliação. Enfatiza, no entanto, que toda informação fornecida deve ser útil ao examinando e deve ser feita em linguagem acessível, salientando-se a segurança relativa das conclusões. 6 Considerações Finais Resta ainda aludir que todo psicólogo especializado em Psicologia Jurídica está capacitado para exercer as funções de perito ou assistente técnico. Além disso, os dados obtidos na avaliação devem estar fundamentados em conhecimentos provenientes da ciência psicológica, no domínio técnico instrumental e na condição de especialista do perito. Para arrematar, convém lembrar que o laudo pericial, não deve apenas apontar as dificuldades, conflitos e patologias, mas focalizar as potencialidades e os aspectos construtivos do examinando. Recentemente o Conselho Superior de Magistratura baixou o Provimento n.º CSM 797/2003 que passa a reger a prestação de serviço por peritos e outros auxiliares, revogando o Provimento n.º CSM 755/2001 4. Os pontos marcantes deste recente Provimento ( Provimento n.º CSM 797/2003) dizem respeito a apresentação da qualificação pessoal, no prazo de dez dias, pelo perito nomeado, ao Ofício de Justiça; declaração do perito de que não tem vínculo de parentesco sanguíneo com os juizes e servidores da unidade judiciária em que há de atuar; cópia de certidões dos distribuidores cíveis e criminais das comarcas da capital e de seu domicílio, relativas aos últimos dez anos; declaração do perito que não se opõe à vista de seu prontuário pelas partes e respectivos advogados e demais interessados a critério do Juiz; no prazo máximo de dois anos ou sempre que houver alteração na titularidade da Vara, o perito deverá atualizar toda documentação. Referências Bibliográficas ANASTASI, A e URBINA, S - Testagem Psicológica. Porto Alegre, Artes Médicas, 2000. BERNARDI, D. A Psicologia Jurídica como Área de Atuação do Psicólogo. Apostila do Curso de Psicologia Jurídica, Inst. Sedes Sapientiae. São Paulo,1998. BERNARDI, D A Atuação do Psicólogo como Agente Auxiliar da Justiça. Anais do V e VI Encontro Paranaense de Psicologia. CRP-08. Curitiba (PR), 1992 4 Provimento n.º CSM 755/2001 resolve sobre a nomeação de peritos pelos juizes, condicionando ao prévio procedimento de habilitação perante os Ofícios de Justiça. Os candidatos a perito devem entregar um currículo com qualificação pessoal e profissional, devidamente acompanhado de documentação comprovatória, além de certidões cível e criminal, atualizadas anualmente.

BLEGER, J. Temas de Psicologia entrevista e grupos. São Paulo, Martins Fontes, 2001. CLEMENTE, M. Fundamentos de la Psicologia Jurídica. Madrid, Piramide, 1995. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. São Paulo, Saraiva, 2002. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Código de Ética Profissional do. Psicólogo, 1996. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA Psicologia Legislação n.º7, Anexo. Brasília, 1995 CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA Caderno Especial de Resoluções. Jornal do Conselho Federal de Psicologia, Ano XVIII, n.º 74, jan.2003. CUNHA, J. Psicodiagnóstico V revista e ampliada. Porto Alegre, Artes Médicas, 2000. Decreto n.º 53 464 de 21 de janeiro de 1964. Regulamenta a lei n.º 4 119, de agosto de 1962, que dispõe sobre a profissão de psicólogo. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasilia, 24 de jan., 1964. NEGRÃO, T. - Código de Processo Civil. (27.ª ed.). São Paulo, Saraiva, 1997. Provimento n.º CSM 755/2001. Diário Oficial do Estado. São Paulo, vol.71, n.º 103, 07/06/2001. ROVINSKI, S A Perícia Psicológica in Aletheia. Canoas, Ulbra, n.7 jan/jun 1998,p.55-63 SÁ, A A Vitimização no Sistema Penitenciário, apresentado no II.º Congresso Brasileiro de Vitimologia. Porto Alegre, 23-26/04, 1996 SILVA, D.P. Quem é o assistente técnico?. Viver Psicologia, n.º 118, nov. 2002. SILVEIRA, R.M. Perícias Psicológicas. São Paulo, Vetor, Revista Psic, n.º 4, 2001 SILVEIRA, R.M. Aspectos Psicológicos do Periciando. Perda de Confiança. Expectativas de Resultado. Apresentado no 1.º Curso sobre Perícia em Responsabilidade Civil Médico-Hospitalar e Odontológico. São Paulo, 1998. Tema relatado no II Curso para formação de peritos judiciais e assistentes técnicos. São Paulo, 17/05 a 28/06 de 2002. Publicado no periódico INTEGRAÇÃO ensino-pesquisa-extensão. Ano IX, n.35, 2003, p.280-28. http//www.usjt.br/prppg/