l P ^ ^ C DESCRIÇÃO DE TRÊS ESPÉCIES NOVAS DE MAJIDAE DO BRASIL (DECAPODA: BRACHYURA)

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Transcrição:

CDU 595.384.2 rir-j ü' r -- % li l P ^ ^ C - /1 ^ DESCRIÇÃO DE TRÊS ESPÉCIES NOVAS DE MAJIDAE DO BRASIL (DECAPODA: BRACHYURA) PETRÔNIO ALVES COELHO Laboratório de Ciências do Mar da Universidade Federal de Pernambuco SYNOPSIS Podochela minuscula. Podochela brasiliensis e Epialtoides rostratus são três espécies novas de Majidae, provenientes do Brasil, onde vivem principalmente em fundos de algas calcárias. INTRODUÇÃO O estudo dos Majidae depositados na Coleção Carcinológica do Laboratório de Ciências do Mar da Universidade Federal de Pernambuco, mostrou a existência de três espécies não descritas anteriormente. Estando em preparo uma monografia sobre os representantes brasileiros desta família, que levará ainda algum tempo a ser publicada, foi julgado oportuno divulgar separadamente a sua descrição. Nas listas do material examinado, "Sald" significa "Navio Oceanográfico Almirante Saldanha", "Can" barco de pesca Canopus" e "Aka" "Barco de Pesca Akaroa". Podochela minuscula, nova espécie Podochela sp. A Coelho, 1971a (p. 236). Holótipo. Macho de 6 mm de comprimento, a ser depositado no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Localidade tipo. Bancos ao largo do Rio Grande do Norte, Sald 1682, lat. 03 28'S, long. 35 09'42"W, 61 metros de profundidade, fundo de algas calcárias. Parátipos. Um total de 6 espécimens, além do holótipo, foram examinados e estão depositados na Coleção Carcinológica Trab. Oceanogr. Univ. Fed. Pe., Recife, 13 119-132, 1972 119

do Laboratório de Ciências do Mar, com exceção de um exemplar que também será enviado ao Museu Nacional, Rio de Janeiro, acompanhando o holótipo. Diagnose. Rostro triangular, agudo, terminando em espinho curto. Porção posterior da carapaça deprimida. Propódio da pata posterior em forma de foice. Uma carena transversal sobre a ponta esternal entre as bases dos maxilípedes externos. Descrição. Carapaça triangular. Regiões branquiais deprimidas, dando à porção posterior da carapaça uma superfície achatada, quebrada apenas pela elevação cardíaca. Rostro triangular na base, com o ápice prolongado em espinho delgado, armado com cerdas curvas. Carapaça com "pescoço". Região gástrica elevada, região cervical deprimida. Elevação cardíaca pequena, cônica. Região branquial achatada, de margem externa retilínea, com uma fileira de pelos curvos. órbitas circulares, espessadas, com uma fileira de pelos. Grânulo pós-orbitai inconspícuo. Pedúnculos oculares largos na base, com uma constricção junto à base da córnea; córnea acuminada na porção mediana. Regiões hepáticas projetando apenas um pouco além do contorno lateral. Ruga pterigostomiana armada com um grânulo. Fossas antenulares grandes, incompletamente divididas; septo interantenular prominente; uma parede relativamente espessa circunda as fossas antenulares. Artículo basal da antena percorrido por uma carena pouco elevada. Mero do maxilípede externo com o ângulo interno formando um lobo aproximadamente quadrado, o lobo externo arredondado. Qnclípedes no macho robustos. Mero e ísquio com as superfícies inferior e superior peludas. Carpo desprovido de espinhos. Palma inflada, uma fileira de pelos na margem superior, outra na margem inferior, alguns tufos de pelos curvos na superfície externa, tubérculos apenas na superfície interna. Dedos em contacto por todo seu comprimento. Primeira pata ambulatória três vezes tão longa quanto a carapaça, propódio 2.5 vezes mais longo que o dáctilo. Segunda, terceira e quarta pata de tamanho gradualmente decrescente. Propódio das patas terceira e quarta encurvados, da mesma forma que o dáctilo, e com um tufo basal de cerdas contra as quais o dáctilo se dobra, formando um conjunto preensor. Uma carena sobre a ponta esternal entre as bases dos maxilípedes externos. Dois tubérculos de ápice branco defronte das coxas dos quelípedes. Trab. Oceanogr. Univ. Fed. Pe., Recife, 13 119-132, 1972 120

Dimensões. Uma espécie muito pequena. Macho holótipo, comprimento 6 mm; maior macho, comprimento 9 mm, largura 6 mm. Maior fêmea, comprimento, 7 mm. Variações. Quelípedes da fêmea mais débeis. Abdômen da fêmea com cinco segmentos livres. Coloração. A coloração geral é branca ou amarela pálida. Distribuição geográfica. Bancos ao largo do Rio Grande do Norte, e plataforma continental brasileira desde o Ceará até Pernambuco. Ecologia. Encontrada em fundos de algas calcárias desde 22,5 até 61 metros de profundidade, e em fundos de areia a 20,5 metros de profundidade. Material examinado. 7 espécimens provenientes de 6 estações. BANCOS AO LARGO DO RIO GRANDE DO NORTE. (localidade tipo), Sald. 1682, 1 m (holótipo), 1 f. ov. CEARÁ. Camocim, Sald. 1722, 1 f. ov.; Paracatu, Can. 64, 1 m. RIO GRANDE DO NORTE. Natal, Sald. 1657, 1 m. PERNAMBUCO. Recife, dragagem III (23.03.1967), 1 j., dragagem 133, 1 f. ov. Observações. Fêmeas ovadas em abril e outubro. Comentários. Podochela minuscula é uma espécie endêmica do Atlântico sul-ocidental, que difere das outras espécies brasileiras na posse de uma carena entre as bases dos maxilípedes externos. Óifere de P. algicola (Stebbing) no formato do rostro, e de P. gracilipes Stimpson, a outra espécie com rostro em forma de espinho, difere nos seguintes pontos: 1) o contorno da carapaça é diferente. 2) a porção posterior da carapaça de P. minuscula é deprimida. 3) a elevação cardíaca é colocada mais posteriormente. 4) os propódios das patas ambulatórias são relativamente mais curtos, e de formato diferente. 5) os quelípedes são menos espinhosos, e os dedos estão em contacto em todo o seu comprimento. P. minuscula possui estreitas afinidades com P. grossipes Stimpson, uma espécie que atinge maior tamanho; em ambas a carapaça possui contorno semelhante, e os artículos terminais das patas posteriores são transformados em aparelho preensor Trab. Oceanogr. Univ. Fed. Pe., Recife, 13 119-132, 1972 121

semelhante. Porém em P. grossipes o contorno da porção posterior da carapaça é diferente, os dedos dos quelipedes são muito mais curtos que a palma, e com um hiato entre si, as patas ambulatórias são relativamente mais longas, a carapaça é relativamente mais curta e mais larga, e o rostro não é prolongado em espinho delgado. Foi possível realizar esta comparação entre P. grossipes e P. minuscula graças à colaboração de Mme. D. Guinot, do Muséum National d'histoire Naturelle, que emprestou para estudo um exemplar macho de P. grossipes com as seguintes indicações: "Basse Terre, Guadeloupe, vers le vieux port, drague, 15-20 m, R. Lami col. 20.02.1936, Th. Monod det". P. grossipes é conhecida de São Tomás à Santa Lúcia, nas Antilhas, entre 15 e 30 metros de profundidade, uma distribuição simétrica à de minuscula'; ambas são típicas de fundos de algas calcárias. Foi recentemente descrita sob o nome de P. l>otti (Turkay, 1968, p. 255, fig. 3a e 3b, 6a e 6b) uma espécie muito semelhante a P. grossipes. Pelo que é possível observar das fotografias e da descrição, ela difere de P. minuscula no formato do rostro e das quelas, bem como nas dimensões da carapaça. Outra diferença importante é que P. botti (como P. grossipes) possui o ápice do pleópodo do macho bifurcado, os dois lobos apicais sendo bem desenvolvidos, enquanto em P. minuscula o lobo interno é pouco desenvolvido. <. Podochela brasiliensis, nova espécie Podochcla sp. B Coelho, 1971a (p. 236); Podochela macrodera: Coelho, 1971b, p. 139 (não Podochela macrodera Stimpson, 1860). Holótipo. Macho, que será depositado no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Localidade tipo. Recife, Estado de Pernambuco, dragagem n. 126, lat. 08 04'48"S, long. 34 47'12"W, 22 metros de profundidade, fundo de algas calcárias. Parâtipos. Um total de 4 espécimens, além do holótipo, foram examinados e se encontram depositados na Coleção Carcinológica do LACIMAR, com exceção de um que será depositado no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Diagnose. Rostro triangular, espesso não terminado em espinho. Porção posterior da carapaça deprimida. Propódio das patas posteriores consideravelmente mais longo que o dáctilo, e não em forma de foice. Fêmeas com um lobo na porção anterior da margem do artículo basal da antena. Trab. Oceanogr. Univ. Fed. Pe., Recife, 13 119-132, 1972 122

Descrição. Carapaça triangular. Regiões branquiais e cardíaca deprimidas, dando à porção posterior da carapaça uma superfície achatada. Rostro triangular, armado com cerdas curvas. "Pescoço" quase inexistente. Região gástrica elevada, com dois tubérculos medianos coroados de cerdas, e quatro tufos de cerdas dispostos em retângulo. Região branquial com uma fileira longitudinal de pelos curvos, um tufo de pelos curvos no ângulo interno; margem externa um pouco côncava. órbitas circulares, espessadas, com uma fileira de pelos; grânulo pós-orbital inconspícuo. Pedúnculos oculares largos na base, com uma constricção junto da base da córnea, acuminada na porção anterior. Região hepática projetando além do contorno lateral, com um tufo de pelos curvos na margem anterior, e um tubérculo apical muito pequeno. Ruga pterigostomiana com um tubérculo mediano coroado por um pelo. Fossas antenulares grandes, incompletamente divididas; septo interantenular baixo, com uma carena longitudinal dupla. Artículo basal da antena percorrido por uma carena mediana larga e baixa. Mero do maxilípede externo com o ângulo interno formando um lobo aproximadamente quadrado, e o lobo externo arredondado. Quelípedes do macho robustos, peludos e espinhosos. Margem curva do mero armada com uma franja de pelos que continua no ísquio. Carpo sem espinhos ou tubérculos na superfície exterior. Palma inflada, uma fileira de pelos na margem superior, outra na margem inferior, alguns tufos de pelos curvos na superfície externa, uma fileira de tubérculos na margem inferior, alguns tubérculos dispostos irregularmente na superfície interior. Dedos deixando um hiato na porção basal. Primeira pata ambulatória é a mais longa, igual ao duplo do comprimento da carapaça. Propódio da primeira pata quatro vezes mais longo que seu dáctilo, na segunda duas vezes, das duas patas posteriores consideravelmente mais longo que o dáctilo e fracamente encurvado. Superfície superior de todas as patas com tufos de pelos curvos regularmente espaçados. Placas esternais lisas e convexas; dois tubérculos prominentes ao nível das coxas dos quelípedes. Primeiro segmento do abdômen do macho com um tubérculo, os outros sem tubérculos. Dimensões. Carapaça: macho holótipo, comprimento, 9 mm, maior macho, comprimento 12 mm, largura 9mm; fêmea, comprimento 9 mm, largura 7 mm. Trab. Oceanogr. Univ. Fed. Pe., Recife, 13 119-132, 1972 123

Variações. Fêmeas com quelípedes mais delgados, dedos com pequeno hiato junto à porção basal; um lobo na porção anterior da margem externa do artículo basal da antena. Abdômen da fêmea com cinco segmentos livres. Coloração. Variando do branco até o marron claro. Distribuição. Plataforma continental brasileira desde o Ceará até Sergipe. Ecologia. Encontrada em fundos de algas calcárias entre 22 e 50 metros de profundidade. Material examinado. 5 espécimens provenientes de 4 estações. CEARA Fortaleza, Can. 20, 1 m. PERNAMBUCO. Recife, dragagem 126, 1 m (holótipo), 1 f.; Tamandaré, Can. 78, 1 m. SERGIPE Aracaju, Aka. 121, 1 m. Comentários. Podochela brasiliensis mostra afinidades com P. macrodera Stimpson, uma espécie das Antilhas. P. brasiliensis difere de P. macrodera nos caractereres seguintes (ver MILNE EDWARDS, 1879 e RATHBUN, 1925) : 1) os quelípedes de P. macrodera são mais fortes. 2) o hiato entre os dedos de P. macrodera é maior. 3) as patas ambulatórias de P. macrodera são mais longas. 4) os ápices dos dáctilos de P. macrodera, quando se dobram sobre os propódios, se encaixam contra um tubérculo, semelhante a um calcanhar, não existente em P. brasiliensis. Epitaltoides rostratus, nova espécie Epitaltus longirostris Coelho, 1971a (pág. 237), 1971b, p. 140 (não Epitaltus longirostris Stimpson, 1860). Holótipo. Macho de 6 mm de comprimento, incompleto, a ser depositado no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Localidade tipo. Tutóia, Estado do Maranhão, Sald. 1731, lat. 02 30'S, longitude 41 51'W, 24 metros de profundidade, fundo de areia. Diagnose. Rostro alongado, convergindo anteriormente, ápice truncado. Dente pré-orbital pouco desenvolvido, dente pósorbital inconspícuo. Lobo hepático maior que o branquial, de Trab. Oceanogr. Univ. Fed. Pe., Recife, 13 119-132, 1972 124

Podochela (vista brasiliensis dorsal) Fig. 1 Espécies novas de Podochela. a: vista dorsal de Podochela brasiliensis; b: vista dorsal de Podochela minuscula; c; vista ventral de Podochela minuscula.

PoJ, mo Podochela minuscula ( vista dorsal )

Podochela minuscula ( vista ventral)

Fig. 2 Epialtoides rostratus. a: vista dorsal de uma fêmea; b: vislateral de uma fêmea; c: extremidade daquela de uma fêmea vista pelo lado interno; d: extremidade da quela de uma fêmea vista pelo lado externo; e: rostro e porção orbital do holótipo macho; f: abdômen do holótipo macho. o*

margem anterior armada com um tubérculo. Carapaça com elevações gástrica e cardíaca, e dois tubérculos gástricos. Descrição. Carapaça quase lisa. Rostro longo e estreito, de ápice truncado, sem carena dorsal forte. Regiões gástrica e cardíaca muito prominentes; dois tubérculos gástricos em linha transversal. Margem anterior do lobo hepático inclinando para a frente e para baixo e provida com um tubérculo pouco nítido. Lobo hepático maior que o branquial, ambos agudos; seio intermediário largo. Dente pré-orbital pouco desenvolvido, dente pós-orbital apenas discernível. Quelípedes robustos, alongados, a palma mais longa que o mero, e este de comprimento igual ao da carapaça. Palma com alguns tubérculos pouco nítidos, pouco comprimida, enlarguecendo fracamente perto da extremidade distai e de comprimento aproximadamente igual a quatro vezes o do dáctilo; dedos curtos e fortes, o pólex sendo encuravdo bem abaixo da palma. Patas ambulatórias delgadas, desprovidas de pelos. Dimensões. Macho holótipo, comprimento 6 mm, largura 5 mm; maior fêmea, comprimento 7 mm, largura 6 mm. Variações. Um total de sete fêmeas e um jovem são atribuídos com hesitação a esta espécie, pois diferem do holótipo em vários caracteres. Assim, as fêmeas sempre apresentam: 1) ápice do rostro trilobado 2) dente pré-orbital mais desenvolvido. 3) tubérculo da margem anterior do lobo hepático mais desenvolvido. 4) quelípedes mais curtos e mais fracos. Coloração. Variando do branco ao amarelo-palha nos indivíduos conservados em álcool. Distribuição geográfica. Plataforma continental do Brasil desde o Maranhão até Alagoas. Ecologia. Encontrado em fundos de algas calcárias ou de areia entre 19 e 54 metros de profundidade. Material examinado. 9 espécimens provenientes de 8 estações. MARANHÃO. Tutóia, Sald. 1731, 1 m. (holótipo). PIAUÍ. Sald. 1730, 1 f. ov. Trab. Oceanogr. Univ. Fed. Pe., Recife, 13 119-132, 1972 129

RIO GRANDE DO NORTE. Cabo Bacopari, Sald. 1655, 1 f. ov. PERNAMBUCO. Ponta de Pedras, Projeto Paraíba/Pernambuco, dragagem 28c, 1 j.; Recife, dragagem 140, 1 f. ov., dragagem 142, 2 f. ov.; Tamandaré, Can. 80, 1 f. ov. ALAGOAS. Maceió, Aka. 59, 1 f. ov. Observações. e dezembro. Fêmaes ovadas em abril, setembro, outubro Comentários. Epitaltoides rostratus se assemelha a Epialtus longirostris Stimpson, com o qual foi confundido anteriormente pelo presente autor, porém difere pelo contorno da carapaça e pela morfologia do rostro, bem como pelo importante caráter da fusão de três segmentos do abdômen do macho. E. rostratus difere de E. kingsleyi (Rathbun) (ver RATHBUN, 1923 e 1925) pelo formato do rostro e pelos quelípedes, mais longos e mais fortes, com hiato entre os dedos muito menor. A nova espécie brasileira difere das espécies do Pacífico (ver RATHBUN, 1923 e 1926; GARTH, 1958): de E. paradigmus Garth e de hiltoni (Rathbun) pela presença de tubérculo na margem anterior do lobo hepático e de E. murphyi (Garth) por possuir carapaça lisa. E. rostratus pode ser considerada espécie análoga a E. kingsleyi, da Flórida, com a qual parece ter maior afinidade do que com as espécies do Pacífico. SUMMARY Description of three new spider crabs from Brazil (Decapoda, Brachyura, Majidae): Podochela minuscula, Podochela brasiliensis and Epitaltoides rostratus. REFERÊNCIAS COELHO, P. A. A distribuição dos crustáceos decápodos reptantes do Norte do Brasil. Trab. Oceanogr. Univ. Federal Pernambuco, Recife, 9/11: 223-238, 1971a. Obs.: Lista das espécies em páginas não numeradas correspondentes a 231-237.. Nota prévia sobre os Majidae do Norte e Nordeste do Brasil. Arq. Mus. Nac. Rio de Janeiro, 54:137-143, 1971b. GARTH, J. S. Brachyura of the Pacific Coast of America. Oxyrhyncha. Allan Hancock Pacific Exped., 21(1 e 2): 1-854, 1958. MILNE EDWARDS, A. Études sur les Crustacés Podophthalmaires de la région méxicaine. Recherches Zoologiques pour servir a VHistoire de la jaune de 1'Amérique Centrale et du Méxique, 5(1): 45-368, 1873-1881. Trab. Oceanogr. Univ. Fed. Pe., Recife, 13 119-132, 1972 130

RATHBUN, M. J. New species of American Spider Crabs Biol. Soe. Washington, 56:71-74, 1923. Proc.. The Spider Crabs of America. Bul. U.S. Nat. Mus., 129: 1-613, 1925. TÜRKAY, M. Dekapoden von den Margarita-Inseln (Venezuela) (Crustacea). Senckenbergiana Biol., 49(3/4): 249-257, 1968. Trab. Oceanogr. Univ. Fed. Pe., Recife, 13 119-132, 1972 131