Regime Financeiro do Processo Civil III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação PUCRS Nome do Aluno da Pós: Alexandre Schmitt da Silva Mello, Nome do Orientador: José Maria Rosa Tesheiner Programa de Pós-Graduação em Direito, Mestrado em Direito, Faculdade de Direito, PUCRS, Resumo Não obstante a Constituição Federal de 1988 apregoar como direito fundamental o acesso à justiça e, portanto, necessária a facilitação da prestação jurisdicional, o processo civil implica custos financeiros. O exercício da jurisdição pelo Estado envolve empenho para manutenção de recursos humanos (juízes, serventuários e auxiliares) e recursos materiais (prédios, instalações, material consumido etc), assim como também é exigido dispêndio econômico para a defesa dos interesses das partes em juízo. A lei processual acaba por definir regras sobre o adiantamento de despesas e sobre a responsabilidade final pelo custo geral do processo que é concebido como regime financeiro do processo 1. Sobre o ponto, merecem destaque as palavras de ARAKEN DE ASSIS: para acudir ao Estado e resolver seu litígio, os titulares do direito à Justiça deverão avaliar, além das perspectivas de êxito da sua causa, o custo do processo, pois o Estado cobra pelo simples fato de alguém utilizar seus serviços judiciários, e por cada ato individualmente considerado (art. 19, 1º do CPC). Daí por que acentua Nicolò Trocker, a disponibilidade financeira 1 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civl, vol. II, 3ª ed., São Paulo. Malheiros, 2003, p.632.
constitui relevantíssimo pressuposto da possibilidade de pôr em causa direitos ou defende-los em juízo. 2 Os custos financeiros do processo abrangem despesas processuais e honorários advocatícios. As primeiras são concebidas como gastos realmente indispensáveis à consecução dos atos processuais 3 e por isso ensejadores de reembolso. Ao seu turno, os honorários teriam caráter indenizatório 4. O regime geral adotado pela legislação processual acaba por impor ao derrotado sob o ponto de vista objetivo da derrota 5 o dever de ressarcimento do vencedor relativo aos custos financeiros que incorreu dentro de parâmetros estabelecidos pela legislação processual. Nota-se a tentativa de materialização da efetividade do processo civil ao impor o ressarcimento e indenização pelos encargos decorrentes da própria existência do processo judicial 6. A concepção da responsabilização geral da parte sucumbente não é pacífica na literatura jurídica 7, existindo diversos modelos de regimes distintos de distribuição dos encargos financeiros do processo judicial não só em razão da jurisdição voluntária, mas mesmo nos casos de jurisdição contenciosa. 8 Além disso, entre os instrumentos para facilitação do acesso à jurisdição encontramos hipóteses de isenção e suspensão da exigibilidade do pagamento de valores 2 ASSIS, Araken de. Garantia de acesso à justiça: Benefício da gratuidade. In CRUZ E TUCCI, José Rogério (coord) Garantias constitucionais do processo civil, São Paulo, RT, 1999. 3 ASSIS, Araken de. Manual da execução. 10ª ed. São Paulo. RT, 2006. 4 ONÓFRIO, Fernando Jacques. Manual de honorários advocatícios, São Paulo, Saraiva, 1998. 5 O fundamento dessa condenação é o fato objetivo da derrota e a justificação desse instituto está em que a atuação da lei não deve representar uma diminuição patrimonial para a parte a cujo favor se efetiva; por ser interesse do Estado que o emprego do processo não se resolva em prejuízo de quem tem razão, e por ser, de outro turno, interesse do comércio jurídico que os direitos tenham um valor tanto quanto possível nítido e constante. CHIOVENDA, Giusepe. Instituições de Direito Processual. Tradução de J. Guimarães Menegale e notas de Enrico Túlio Liebman. São Paulo, Saraiva, 1942, apud BARBI, Celso Agrícola. Comentários ao Código de Processo Civil, vol. I, Rio de Janeiro, Forense, 1999, p. 134. 6 A efetividade do processo mostra-se ainda particularmente sensível através da capacidade, que todo o sistema tenha, de produzir realmente as situações de justiça desejadas pela ordem social, política e jurídica.... A tendência do direito processual moderno é também no sentido de conferir maior utilidade aos provimentos jurisdicionais. DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo, 7ª ed., São Paulo, Malheiros, 1999, p. 320. 7 CAHALI, Yussef Said. Honorários advocatícios, 3ª ed., São Paulo, RT, 1997, p.38. 8 Miguel Carlos Teixeira Patrício noticia a existência do sistema europeu continental (adotado de modo temperado pela legislação brasileira), o sistema Quayle no qual o perdedor paga os seus custos e paga ao vencedor um valor equivalente a esses custos, o sistema Marshall, no qual o perdedor paga os seus custos e os do vencedor e o sistema Mathew, no qual o vencedor paga os seus custos e o perdedor paga uma certa proporção dos custos do vencedor. In PATRÍCIO, Miguel Carlos Teixeira. Análise econômica da litigância, Coimbra, Edições Almedina, 2005.
decorrentes da litigância, como por exemplo o benefício da gratuidade da justiça 9 e, até mesmo, a inversão financeira dos ônus processuais. Também merece referência a adoção pelo modelo brasileiro da reversão em favor da outra parte das multas eventualmente impostas aos litigantes no curso do processo (art. 35 do CPC), o que impõe necessário interesse sobre as medidas financeiras dissuasórias da litigância inadequada decorrentes da má-fé processual, litigância de má-fé 10 e até mesmo aquelas estimulatórias do cumprimento dos comandos jurisdicionais. 11 Dos elementos acima expostos descortina-se questão fundamental sobre a integralidade da reparação dos custos decorrentes do processo civil previstos no próprio ordenamento processual e seus efeitos sobre o estímulo à litigância socialmente adequada. Introdução O provimento jurisdicional sobre a responsabilidade pelos encargos financeiros do processo não detém conotação inferior à pretensão principal deduzida perante o Poder Judiciário. A análise do regime financeiro dos encargos, diante da natureza pública do direito processual civil, implica manifestação estatal sobre a própria necessidade da prestação jurisdicional. O tema sob análise, portanto, parte da necessária identificação de modelo jurisdicional capaz de desestimular a lide temerária ou abusiva, e, também, preservar o processo como meio de recomposição do interesse jurídico molestado, assegurada a via judicial para satisfazê-lo, de tal modo que a garantia constitucional (art. 5, XXXV) do direito de ação não se dilua na sua eficácia prática. 12 Daí questiona-se a efetividade do modelo adotado como instrumento frente ao desideratos constitucionais postos na Constituição Federal de 1988. Metodologia 9 ASSIS, Araken de. Garantia de acesso à justiça: Benefício da gratuidade. In CRUZ E TUCCI, José Rogério (coord) Garantias constitucionais do processo civil, São Paulo, RT, 1999. 10 Oliveira, Ana Lúcia Iucker Meirelles de. Litigância de Má-Fé, São Paulo, RT, 2000. 11 Amaral, Guilherme Rizzo. As astreintes no processo civil brasileiro, Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2004. 12 CAHALI, Yussef Said. Honorários advocatícios, 3ª ed., São Paulo, RT, 1997, p.20.
Considerados os objetivos da pesquisa, o presente estudo será elaborado mediante levantamento bibliográfico e jurisprudencial, ressalvadas ainda eventuais entrevistas com estudiosos do tema. Resultados (ou Resultados e Discussão) Entre os resultados que obtidos já é possível identificar e definir os principais modelos de regime financeiro no processo civil contemporâneo, bem como examinar os princípios adotados pelos modelos de regime financeiro no processo civil contemporâneo e as principais classificações dos encargos financeiros no processo civil brasileiro. Ainda é possível verificar severa discussão sobre os limites da reparação e ressarcimento dos encargos financeiros no processo civil brasileiro e o tratamento do regime financeiro do processo civil quanto aos encargos financeiros do processo na jurisprudência brasileira; Conclusão Considerando que a pesquisa ainda não restou concluída, os resultados se apresentam parciais, contudo já é possível traçar diretrizes gerais a propósito do regime financeiro do processo civil pautado no seu caráter não indenizatório, mas meramente retributivo. E, em razão disso, cumpre apontar a ausência de efetividade das normas de direito endoprocessual sobre a reparação e ressarcimento dos encargos financeiros dos litigantes. Daí é possível apontar o problema da irreparabilidade integral dos encargos financeiros do processo civil brasileiro a ensejar o desenvolvimento do presente estudo. Referências AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes no processo civil brasileiro, Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2004. ARAGÃO, E. D. Moniz de. Comentários ao código de processo civil. Vol. 2. 6ª ed. Rio de Janeiro, Forense, 1989. ASSIS, Araken de. Garantia de acesso à justiça: Benefício da gratuidade. In Garantias constitucionais do processo civil, coord. José Rogério Cruz e Tucci, São Paulo, RT, 1999. ASSIS, Araken de. Eficácia civil da sentença penal. 2.ed.rev.atual.ampl. São Paulo. Editora Revista dos Tribunais, 2000. ASSIS, Araken de. Cumulação de ações. 4.ed. São Paulo. Revista dos Tribunais, 2002. ASSIS, Araken de. Manual da execução. 10ª ed. São Paulo. RT, 2006. ASSIS, Araken. Cumprimento da sentença. Rio de Janeiro: Forense, 2006. BARBI, Celso Agrícola. Comentários ao Código de Processo Civil, vol. I, Rio de Janeiro, Forense, 1999.
CAHALI, Yussef Said. Honorários advocatícios, 3ª ed., São Paulo, RT, 1997. DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 9ª ed. São Paulo, Malheiros, 2001. DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil, vol. II, 3ª ed., São Paulo. Malheiros, 2003. DIDIER JR., FREDIE. Pressupostos processuais e condições da ação. São Paulo, Saraiva, 2005. FERNANDES, Luís Eduardo Simardi. Embargos de declaração. São Paulo, RT, 2003. FUX, Luiz; NERY JÚNIOR, Nelson; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (Coord.). Processo e Constituição: estudos em homenagem ao professor José Carlos Barbosa Moreira. São Paulo: Rev. dos Tribunais, 2006. LACERDA, Galeno. Despacho saneador. 2ª ed. Porto Alegre, Fabris, 1985. MARINONI, Luiz Guilherme (Coord.). Estudos de direito processual civil: homenagem ao Professor Egas Dirceu Moniz de Aragão. São Paulo: Rev. dos Tribunais, 2005. MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. MENDONÇA Júnior, Delosmar. Princípios da Ampla Defesa e da Efetividade no Processo Civil Brasileiro. São Paulo. Malheiros, 2001. MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao código de processo civil, vol. V, Rio de Janeiro, Forense, 2005. NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal, 7ª ed., São Paulo. Ed. Revista dos Tribunais, p. 20, 2002. NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos. 6.ed. atual., amp. São Paulo. Rev. dos Tribunais, 2004 NERY JÚNIOR, Nelson; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; FUX, Luiz (Coord.). Processo e Constituição: estudos em homenagem ao professor José Carlos Barbosa Moreira. São Paulo: Rev. dos Tribunais, 2006. OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de. Do formalismo no processo civil. São Paulo, Saraiva, 1997. Oliveira, Ana Lúcia Iucker Meirelles de. Litigância de Má-Fé, São Paulo, RT, 2000. ONÓFRIO, Fernando Jacques. Manual de honorários advocatícios, São Paulo, Saraiva, 1998. PATRÍCIO, Miguel Carlos Teixeira. Análise econômica da litigância, Coimbra, Edições Almedina, 2005. PASSOS, José Joaquim Calmon de. Esboço de uma teoria das nulidades aplicada às nulidades processuais. Rio de Janeiro, Forense, 2002. PORTANOVA, Rui. Princípios do processo civil. 4ª ed. Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2001. SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Curso de processo civil. Vol 1. 2ª ed. Porto Alegre, Fabris, 1991. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Processo Civil, vol. 1, 45ª ed., Rio de Janeiro, Forense, 2006. TESHEINER, José Maria Rosa. Eficácia da sentença e coisa julgada no processo civil. São Paulo, RT, 2001. TESHEINER, Jose Maria Rosa. Elementos para uma teoria geral do processo. São Paulo: Saraiva, 1993. WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Nulidades da sentença. São Paulo, Revista dos Tribunais, 1987. WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; FUX, Luiz ; NERY JÚNIOR, Nelson (Coord.). Processo e Constituição: estudos em homenagem ao professor José Carlos Barbosa Moreira. São Paulo. Rev. dos Tribunais, 2006. WATANABE, Kazuo. Da Cognição no Processo Civil. 3ª. ed., São Paulo: Perfil, 2005.