Viabilidade econômica da produção de milho safrinha de 2016 e 2017 na EDR de São João da Boa Vista/SP Luiz Fernando Osório¹, Marcelo Scantamburlo Denadai² ¹Tecnólogo em Agronegócio, Faculdade de Tecnologia de Botucatu, fernando_luiz_btu@hotmail.com. ²Professor mestre da Faculdade de Tecnologia de Botucatu, mdenadai@fatecbt.edu.br 1 INTRODUÇÃO O milho é um dos principais produtos do agronegócio brasileiro, gerando muitos empregos no campo e gerando divisas para o pais. Segundo Alvarenga, et al. (2010), dentre os cereais cultivados no Brasil, o milho é o mais expressivo, com cerca de 232 milhões de toneladas de grãos produzidos, em uma área de aproximadamente 58 milhões de hectares (CONAB, 2017), referentes às duas safras: normal e safrinha. Por suas características fisiológicas, a cultura do milho tem alto potencial produtivo, já tendo sido obtido no Brasil, produtividade superior a 16 t ha -1 em concursos de produtividade de milho conduzidos por órgãos de assistência técnica e extensão rural e por empresas produtoras de semente. Agostinho (2011) diz que o planejamento da rega do milho depende da situação hídrica do solo, ou seja, de quanta água ele vai receber em determinado período chuvoso de meio-ano, entre os meses de maio, junho e julho para que a cultura possa se desenvolver adequadamente. Segundo Esperancini, Paes e Bicudo (2004), em culturas agrícolas, dado o capital imobilizado para a exploração, interessa ao produtor verificar se, no curto prazo, as receitas auferidas em determinada safra são suficientes para cobrir os custos operacionais de produção. No longo prazo, é necessário verificar se as receitas são capazes de cobrir os investimentos decorrentes da imobilização do capital fixo, bem como os custos operacionais durante um determinado horizonte temporal. O objetivo deste trabalho foi avaliar a viabilidade de produção do milho safrinha em 2016 e 2017, na região de São João da Boa Vista/SP, comparando o custo de produção e lucratividade por meio de indicadores. 2 MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho foi desenvolvido por meio de pesquisas de dados do IEA (Instituto de Economia Agrícola) e do Agrianual 2016, obtendo os coeficientes técnicos de produção da região (Tabela 1), preços dos insumos, mão de obra, custo de máquinas,
sendo seus resultados tabulados em planilha no Excel, para assim calcular os custos de produção (COE, COT, CTP), receita bruta (RB) e indicadores, segundo a metodologia proposta por Matsunaga et al. (1976). Informações Tabela 1. Informações gerais da produção do milho safrinha Mão-de-obra Tratores Implementos¹ Limpeza do terreno (h/ha) 1,65 1,65 1,65 Subsolagem (h/ha) 1,10 1,10 1,10 Calagem (h/ha) 0,22 0,22 0,22 Conservação de terraço (h/ha) 0,55 0,55 0,55 Gradeação pesada (h/ha) 1,34 1,34 1,34 Aração (h/ha) 2,20 2,20 2,20 Gradeação leve (h/ha) 1,32 1,32 1,32 Tratamento de semente (h/ha) 0,21-0,00 Plantio-adubação (h/ha) 1,66 0,83 0,83 Aplicação de formicida (h/ha) 0,33-0,00 Aplicação de herbicida (h/ha) 1,32 0,66 0,66 Aplicação de defensivo (h/ha) 1,32 0,66 0,66 Adubação em cobertura (h/ha) 1,32 0,66 0,66 Transporte interno de materiais (h/ha) 1,68 0,56 0,56 Colheita mecânica (h/ha) 2,06-1,03 Total de horas (h/ha) 18,28 12,78 Área plantada (ha/ano) 50 50 50 Horas trabalhadas (h/ano) 1828 1175 1278,00 Custo (R$/ha) 123,35 1119,64 399,67 Vida útil máquinas (h) - 16000 2000,00 Depreciação (R$/ha) - 67,40 52,51 Conservação e risco (R$/ha) - 59,61 33,73 ¹Roçadora, arado 3 discos de 28, grade aradora 14 discos de 26, grade niveladora 28 discos de 18, subsolador 6 hastes, distribuidor de calcário, plantadora adubadora, adubadora de cobertura, carreta tanque 3000 L, pulverizador 600 L, carreta 4 rodas, colhedora automotriz (terceirizado). 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES A safra de 2017 teve uma queda de 54% na lucratividade (Tabela 4) em relação à safrinha de 2016, pois na safrinha de 2016 houve aumento atípico no preço do milho devido à quebra de produção. Mesmo com o custo de insumos (Tabela 2) e custo de produção (Tabela 3) menores para a safrinha de 2017, a receita gerada com a venda do milho foi menor, obtendo indicadores menos interessantes para os produtores de 2017, quando comparado com 2016.
Tabela 2. Custo de insumos para semeadura do milho safrinha nos anos de 2016 e 2017 Insumos Especificação Quant. (Un.) Custo 2016 (R$/ha) Custo 2017 (R$/ha) Semente Milho 24,800 kg/ha R$271,81 R$222,46 Calcário Dolomítico 0,275 t/ha R$24,15 R$23,70 Fertilizante 04-20-20 0,413 t/ha R$618,83 R$548,79 Fertilizante Sulfato de amônia 0,252 t/ha R$409,98 R$357,04 Formicida Mirex-S 0,400 kg/ha R$4,49 R$4,52 Herbicida Primestra Gold 4,000 L/ha R$145,00 R$147,40 Inseticida Lorsban 480 BR 1,030 L/ha R$40,57 R$43,57 Inseticida Lannate 0,600 L/ha R$16,63 R$16,25 Total R$1.531,46 R$1.363,73 O preço do saco de milho vendido em 2016 foi 107% superior ao comercializado no mesmo período em 2017 (Tabela 3), sendo isto relacionado com uma quebra de safra internacional. Tabela 3. Custo de produção do milho safrinha em 2016 e 2017 Custo Operacional Efetivo - COE 2016 2017 Insumos R$1.531,46 R$1.363,73 Máquinas R$1.519,31 R$1.519,31 Mão-de-obra R$123,35 R$123,35 Encargos diretos R$40,71 R$40,71 COE R$3.214,82 R$3.047,10 Custo Operacional Total - COT 2016 2017 COE R$3.214,82 R$3.047,10 Encargos financeiros R$803,71 R$761,77 Assistência técnica R$64,30 R$60,94 CESSR R$177,15 R$85,58 Depreciação máquinas R$119,91 R$119,91 Conservação e risco R$93,34 R$93,34 COT R$4.473,23 R$4.168,65 Custo Total de Produção - CTP 2016 2017 COT R$4.473,23 R$4.168,65 Custo oportunidade capital R$186,69 R$186,69 Custo oportunidade terra R$750,00 R$1.050,00 CTP R$5.409,92 R$5.405,34 Receita Bruta - RB 2016 2017 Produtividade (sc/ha) 167 167 Preço de venda (R$/sc) R$46,12 R$22,28 RB R$7.702,04 R$3.720,76
Observa-se que na média da EDR de São João da Boa Vista, na safrinha de 2017 o preço pago pela venda produção foi suficiente para pagar somente o custo operacional efetivo (COE), e dessa forma, o produtor não conseguiu gerar renda para cobrir os custos de depreciação, juros e outros encargos, o que gera à não sustentabilidade da produção à longo prazo. O cultivo de milho em duas épocas, safra e safrinha, posiciona o Brasil entre os principais países produtores, mas, por outro lado, faz com que haja o aumento expressivo na pressão de inóculo de vários patógenos. Neste contexto, as doenças merecem destaque especial, uma vez que são de difícil controle e podem causar danos significativos, principalmente em condições de safrinha (SILVA et al., 2009). Tabela 4. Indicadores econômicos da produção do milho safrinha em 2016 e 2017 Indicadores 2016 2017 Margem bruta - COE (%) 139,6% 22,1% Margem bruta - COT (%) 72,2% -10,7% Ponto de nivelamento - COE (sc/ha) 69,71 136,76 Ponto de nivelamento - COT (sc/ha) 96,99 187,10 Preço de equilíbrio - COE (R$/sc) 19,25 18,25 Preço de equilíbrio - COT (R$/sc) 26,79 24,96 Lucro operacional (R$/ha) 3228,81-447,89 Índice de lucratividade (%) 41,9% -12,0% Com estas informações nota-se que há grande diferença entre a safra de 2016 e 2017, pois o ano de 2016 foi atípico, com alta excessiva no preço do milho safrinha. Já no ano de 2017 os preços são considerados normais para a cultura, por isso uma grande diferença na lucratividade da cultura. Sabendo-se que a distância entre o lucro e o prejuízo é cada vez menor, o conhecimento dos custos de produção é condição fundamental para a gestão da propriedade, uma vez que a mesma está inserida em um mercado competitivo e dinâmico (RICHETTI et at., 2015). 4 CONCLUSÕES Conclui-se que com os resultados obtidos, nota-se uma grande disparidade nos preços obtidos na safrinha do milho 2016 e 2017 na região de São João da Boa Vista/SP,
pois observou-se um aumento repentino e não esperado no ano de 2016. Já os resultados obtidos na safrinha de 2017 refletem a realidade de outras safras, devendo o produtor atentar-se para o custo total de produção. 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGOSTINHO, Jorge Manuel Ferreira da Silva. O aumento da rentabilidade do milho no Minho: eficiência do uso da água e redução dos custos associados à rega e à fertilização. Revista de Ciências Agrárias, v. 34, n. 1, p. 24-41, 2011. Disponível em <http://www.scielo.mec.pt/scielo. php?script=sci_arttext&pid=s0871-018x2011000100004 > Acesso em 12 mar.2017 AGRIANUAL. Anuário da agricultura brasileira. 21. ed. São Paulo: FNP Consultoria e Comércio, p.338-344. 2016. ALVARENGA, R. C. et al. Cultivo do milho. Embrapa Milho e Sorgo, 2010. Disponível em <https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/27037/1/plantio.pdf > Acesso em 12 mar. 2017 CONAB. Companhia Nacional de Abastecimento Acompanhamento da safra brasileira de cana-deaçúcar, v.4, n.12, safra 2016/17. Disponível em:< http://www.conab.gov.br/olalacms/uploads/arquivos/17_09_12_09_01_56_boletim_graos_setembro_20 17.pdf>. Acesso em: 05 out. 2017. ESPERANCINI, Maura Seiko Tsutsui; PAES, Andrea Regina; BICUDO, Silvio José. Análise de rentabilidade e risco na produção de milho verão, em três sistemas produtivos, na região de Botucatu, estado de São Paulo. Informações Econômicas, v. 34, n. 8, p. 25-33, 2004. IEA. Instituto de Economia Agrícola. 2017. Disponível em: <www.iea.agricultura.sp.gov.br>. Acesso em: 10 set 2017. MATSUNAGA, M.; BEMELMANS, P.F.; TOLEDO, P.E.N.; DULLEY, R.D.; OKAWA, H.; PEDROSO, I.A. Metodologia de custo de produção utilizada pelo IEA. Agricultura em São Paulo: Boletim Técnico do Instituto de Economia Agrícola, São Paulo, v. 23, p.123-139, 1976. RICHETTI, A.; FLUMIGNAM, D.L.; ALMEIDA, A.C.S. Viabilidade econômica do milho safrinha, sequeiro e irrigado, na região sul de Mato Grosso do Sul, para 2016. Comunicado técnico 207, Dourados, MS, Dezembro, 2015. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/137275/1/cot2015207.pdf>. Acesso em: 01 out. 2017. SILVA L. H. C. P.; CAMPOS H. D.; SILVA J. R. C.; MORAES E. B.; CARMO G. L. controle químico de doenças foliares do milho safrinha. X Seminário Nacional de Milho Safrinha, 2009. Disponível em: < http://www.abms.org.br/milhosafrinha/palestras/palestra03.pdf>. Acesso em 03 out. 2017.