EFEITO DA CALAGEM E ADUBAÇÃO COM MICRONUTRIENTES NA PRODUÇÃO DO ALGODOEIRO NO CERRADO DE GOIÁS (*) Juarez Patrício de Oliveira Júnior 1, Wilson Mozena Leandro 1, Maria da Conceição Santana Carvalho 2, José da Cunha Medeiros 2, Cristiano Ramos Evangelista 3, Diogo Rodrigues Machado 3. (1) EA/UFG. Caixa Postal 131, CEP 74970-000, Goiânia, GO, e-mail: juarez@agro.ufg.br; (2) Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz, 1143 Centenário Caixa Postal 174, 58107-720, Campina Grande, PB, e-mail: ceica@cnpa.embrapa.br; (3) EA-UFG. Caixa Postal 131, CEP 74970-000, Goiânia, GO. RESUMO O objetivo do presente trabalho foi avaliar os benefícios da calagem e da aplicação de micronutrientes, bem como da interação entre estas duas práticas, na produção e qualidade da fibra do algodoeiro nas condições do cerrado de Goiás Os tratamentos foram a combinação de cinco doses de calcário (0; 0,5; 1; 2 e 4 vezes a doze recomendada) e quatro doses de micronutrientes (0; 0,5; 1 e 2 vezes a doze recomendada). O cálculo da quantidade de calcário foi feito para atingir 70% da saturação por bases na camada 0-20 cm. Os micronutrientes foram aplicados na forma de FTE com base no teor de zinco: dose = 5,0 kg/ha de Zn. O calcário foi aplicado em superfície e incorporado, dois meses antes do plantio. No plantio, procedeu-se a adubação completa com NPK e os micronutrientes foram aplicados no plantio na forma FTE BR-12 mais ácido bórico de acordo com os tratamentos.o delineamento experimental foi blocos ao acaso, com parcelas subdivididas dispostas em faixas com quatro repetições, sendo doses de calcário nas faixas horizontais e doses de adubo com micronutrientes nas faixas perpendiculares. Não houve resposta do algodoeiro à aplicação de doses crescentes de calcário. As doses crescentes de micronutrientes, entretanto, foram significativas para a produtividade, sendo que a dose de 1,5 kg/ha de B, associada à dose de 2 kg/ha de Zn foi a que proporcionou a maior produtividade no algodão em caroço, independentemente da dose de calcário utilizada. INTRODUÇÃO Vários fatores concorrem para que a região do Cerrados seja considerada dentre aquelas de maior potencial agrícola do país, entre elas destacam-se a facilidade de mecanização, correção e construção da fertilidade, possibilidade de irrigação, elevada profundidade, friabilidade, porosidade e boa drenagem interna dos solos. Entretanto, em termos gerais, os solos dos cerrados goianos são ácidos, com elevada saturação por alumínio, baixa capacidade de troca de cátions e retenção de umidade, apresentando deficiência generalizada de nutrientes, particularmente de fósforo. As raízes do algodoeiro não se desenvolvem adequadamente em solos muito ácidos do Cerrado, que contêm excesso de Al 3+ e teores muito baixos de Ca e Mg. A alternativa mais viável para a correção da acidez do solo é a calagem. Os principais efeitos da prática da calagem são a correção da acidez, diminuição da toxidez por Al e Mn, e suprimento de Ca e Mg. Além destes também ocorrem aumento da CTC e da disponibilidade de N, P, S e Mo, diminuição gradual da disponibilidade de Cu, Fe, Mn e Zn, aumento da mineralização da matéria orgânica, aumento do volume de solo explorado pelas raízes, diminuição da fixação do fósforo, favorecimento da fixação simbiótica do nitrogênio e melhoria das propriedades físicas e biológicas do solo. Para que os resultados da calagem sejam adequados, aspectos como a qualidade, época, modo de aplicação e dose devem ser considerados. Para corrigir a acidez, o calcário necessita sofrer uma reação regulada pela presença de água e pelo contanto com as partículas de solo.
Neste contexto o objetivo do presente trabalho foi avaliar os benefícios da calagem e da aplicação de micronutrientes, bem como da interação entre estas duas práticas, na produção e qualidade da fibra do algodoeiro nas condições do cerrado de Goiás MATERIAL E MÉTODOS Os tratamentos foram a combinação de cinco doses de calcário (0; 0,5; 1; 2 e 4 vezes a doze recomendada) e quatro doses de micronutrientes (0; 0,5; 1 e 2 vezes a doze recomendada). O cálculo da quantidade de calcário foi feito para atingir 70% da saturação por bases na camada 0-20 cm. Os micronutrientes foram aplicados na forma de FTE com base no teor de zinco: dose = 5,0 kg/ha de Zn. O calcário foi aplicado em superfície e incorporado, dois meses antes do plantio. No plantio, procedeuse a adubação completa com NPK e os micronutrientes foram aplicados no plantio na forma FTE BR- 12 mais ácido bórico de acordo com os tratamentos. O delineamento experimental foi blocos ao acaso, com parcelas subdivididas dispostas em faixas com quatro repetições, sendo doses de calcário nas faixas horizontais e doses de adubo com micronutrientes nas faixas perpendiculares. A área de cada subparcela foi 70 m 2 (7m x 10m), e as avaliações de solo planta foram feitas em 18 m 2 de área útil (4 linhas centrais de 5 m, espaçadas 0,90 cm). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados apresentados na Tabela 1 indicam que não houve resposta do algodoeiro à aplicação de doses crescentes de calcário. As doses crescentes de micronutrientes, entretanto, foram significativas para a produtividade, sendo que a dose de 1,5 kg/ha de B, associada à dose de 2 kg/ha de Zn (M1) foi a que proporcionou a maior produtividade no algodão em caroço, independentemente da dose de calcário utilizada. A ausência de resposta à calagem neste experimento pode estar relacionada a alta fertilidade dos solos, que devido à contínua adubação e correção, encontra-se em bons níveis para a exploração agrícola. Uma outra explicação é menor reatividade do calcário no primeiro ano de aplicação. Outro aspecto importante a salientar refere-se ao nível de exigência que pode depender das variedades cultivadas (Rosolem & Ferrelli, 1999). Além disso, há ainda a possibilidade de efeito residual de adubações realizadas em anos anteriores. No estado de São Paulo, por exemplo, Silva (1999) relatou que altas e freqüentes adubações com boro podem levar a acúmulo desse nutriente no solo, em profundidade, propiciando condições até de toxicidade. Na Tabela 2 são apresentados os valores das variáveis no solo relacionadas com a calagem. De forma semelhante ao ensaio entre calagem e gessagem os teores no solo de Ca, Mg, ph e V% nas camada de 0-10, 10-20 e 20-40 cm, encontram-se em níveis altos segundo os critérios da COMISSÃO CORRETIVOS E DE FERTILIZANTES DE GOIÁS (1988). A variação dos teores médios de saturação por bases (Tabela 2) foi de 59,74 % a 68,65 %. A calagem foi calculada para atingir 70% porém na testemunha os valores de V% já são elevados (61,13% na camada de 0-10 cm). Tais resultados tendem a ser mais pronunciados nos próximos cultivos onde a reação dos calcários terá sido mais intensa e, conseqüentemente, as respostas a micronutrientes sejam maiores nos próximos cultivos. Os valores médios, a análise de variância e coeficiente de variação para as variáveis relacionadas com a qualidade de fibra são apresentados na Tabela 3. As doses de calcário mostraram diferenças significativas nas variáveis porcentagem de fibra (Figura 1) e fiabilidade (CSP) (Figura 2). As doses de micronutrientes não apresentaram diferenças significativas para todas as variáveis (Tabela 3). Os menores valores de porcentagem de fibra e maiores de CSP foram obtidos na dose de calcário C3, correspondente a duas vezes a quantidade de calcário, calculada para atingir 70% da saturação por
bases. Os valores médios do ensaio indicam que o LEN apresentou valores médios, o UNF muito uniforme, o SFI muito baixo, STR forte, ELON muito alta e MIC médio. Os valores médios de RD, b+ e CSP foram 77,49; 9,91 e 1586 respectivamente. Na Tabela 4 são indicados os teores foliares de nutrientes na cultura do algodão. Utilizando-se a classes de interpretação propostas por Silva (1999), verifica-se que os teores de Mg, S e Cu estão em níveis dentro da faixa considerada adequada para o algodoeiro, enquanto os teores de Ca e Fe encontram-se acima da faixa adequada CONCLUSÕES Os teores de Zn (Tabela 4) estão abaixo do adequado. Já os teores de Mn encontram-se adequados na testemunha e nos tratamentos que receberam doses maiores de micronutrientes (M2 e M3), enquanto nos tratamentos que receberam calcário os teores encontram-se abaixo da faixa adequada. Em todos os tratamentos os teores de P estão em níveis adequados (dados não mostrados). % Fibra 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 42,35 a 41,99 ab 42,08 ab 41,47 b 42,08 ab C0 C1 C2 C3 C4 Doses de calcário Figura 1. Efeito das doses de calcário observadas porcentagem de fibra no ensaio calagem x micronutrientes. Turvelândia, safra 2001/2002. 1500 1582 ab 1559 b 1578 ab 1625 a 1587 ab CSP 1000 500 0 C0 C1 C2 C3 C4 Dose de calcário Figura 2. Efeito das doses de calcário observadas na fiabilidade da fibra (CSP) do algodão no ensaio calagem x micronutrientes. Turvelândia, safra 2001/2002.
Tabela 1. Produtividades de Algodão em função dos diferentes doses de calcário e micronutrientes. Safra 2001/2002. Turvelândia. Tratamentos (1) Doses de micronutrientes Doses de calcario M0 M1 M2 M3 Média ----------------------------------- kg/ha--------------------------------------- C0 3.228,48 3.256,25 2.911,13 2.697,90 3.023,44 a C1 3.132,63 3.509,73 2.734,03 2.584,03 2.990,10 a C2 3.062,50 3.404,86 2.630,55 2.726,40 2.956,08 a C3 3.290,98 3.463,89 2.688,20 2.856,28 3.074,84 a C4 3.452,78 3.508,33 2.800,68 2.859,03 3.155,20 a Média 3.233,47 a 1 3.428,61 a 2.752,92 b 2.744,73 b 1 Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste T ( P<0,05) a 5%; letras minúsculas comparam médias nas linhas e letras maiúscula comparam médias nas colunas. Tabela 2. Teores de Ca, Mg, ph e V% em função dos diferentes doses de calcário. Turvelândia. Safra 2001/2002. Profundidade Dose de Calcário Ca Mg ph V% cmol c /dm 3 cmol c /dm 3 CaCl 2 % 0-10 cm C0 2,47 1,03 5,25 61,13 C1 2,60 1,07 5,32 61,65 C2 3,25 1,10 5,53 65,21 C3 3,15 1,15 5,63 67,40 C4 3,33 1,17 5,75 68,65 10-20 cm C0 2,96 1,14 5,64 60,54 C1 3,12 1,24 5,65 61,56 C2 3,21 1,21 5,73 63,01 C3 3,41 1,22 5,71 64,77 C4 3,91 1,34 5,81 66,71 20-40 cm C0 3,13 1,08 5,58 59,74 C1 3,70 1,10 5,63 63,52 C2 3,28 1,28 5,63 61,95 C3 3,28 1,25 5,60 62,85 C4 3,60 1,20 5,60 65,49 (1) Médias dos quatro níveis de micronutrientes.
Tabela 3. Média, coeficiente de variação e Teste F para as variáveis porcentagem de fibra Fibra, peso de um capulho (g), comprimento de fibra - LEN (mm), uniformidade - UNF (%), índice de fibras curtas - SFI (%), resistência - STR (g/tex), Elongação - ELON (%), Finura - MIC (µg/pol); maturidade da fibra (%), reflectância - RD (%), índice de amarelo (+b) e previsão da tenacidade do fio CSP (NE 22) para os diferentes tratamentos no ensaio Calagem X Micronutrientes. Turvelândia, safra 2001/2002. %Fibras Peso 1 Capulho LEN UNF SFI STR ELON MIC RD B+ CS P mm % % g/tex % mg/pol Média 41,98 6,08 29,06 85,05 3,81 28,21 10,16 4,55 77,49 9,91 158 6 Calc. 2,83* 1,50 0,54 2,32 1,52 1,03 1,75 0,70 2,71 0,71 2,81 * Micro 1,49 0,36 2,03 0,69 2,71 1,06 0,22 0,08 1,29 1,76 0,97 CxM 0,85 0,41 0,33 1,63 1,50 0,59 0,68 0,80 0,95 0,74 0,25 C.V.% 1,81 5,66 2,37 2,32 13,20 6,41 10,10 5,41 1,22 8,66 3,64 1 - * significativo a 5% de probabilidade, ** significativo a 1% de probabilidade e ausência de asteriscos - não significativo. Tabela 4. Teores foliares de Ca, Mg, S, Cu e Mn em função das diferentes doses de calcário e micronutrientes. Turvelândia, safra 2001/2002. Tratamento Ca Mg S Cu Fe Mn Zn g/kg g/kg g/kg mg/kg mg/kg mg/kg mg/kg Calcário C0 45,5 6,3 5,3 8 771 36 23 C1 41,8 6,8 7,4 9 705 16 22 C2 45,5 6,8 6,3 9 658 13 22 C3 47,8 7,0 5,8 8 727 12 23 C4 46,5 6,3 7,1 8 653 14 23 Micro M0 41,8 6,4 6,0 8 756 14 22 M1 42,2 6,4 7,7 10 618 9 25 M2 45,8 6,4 5,7 6 695 31 21 M3 51,8 7,2 6,0 9 742 29 22 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COMISSÃO DE CORRETIVOS E FERTILIZANTES DO ESTADO DE GOIÁS. Recomendação de corretivos e fertilizantes para o Estado de Goiás. Goiânia:UFG, 1988, 51p. ROSOLEM, C.A.; FERELLI, L. Resposta diferencial de cultivares de algodão ao manganês em solução nutritiva. In: CONGRESSO BRASILEIRO DO ALGODÃO, 2. Ribeirão Preto, 1999. Anais. Ribeirão Preto: EMBRAPA/Instituto Biológico, 1999. p.407-410. SILVA, N.M. da. Nutrição mineral e adubação do algodoeiro no Brasil. In: CIA, E.; FREIRE, E.C.; SANTOS, W.J. dos. (Ed.). Cultura do algodoeiro. Piracicaba: POTAFOS, 1999, p.57-92.