CONSIDERAÇÕES SOBRE EVOLUÇÃO DE REDE URBANA 1



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1 CONSIDERAÇÕES SOBRE EVOLUÇÃO DE REDE URBANA 1 ROMANA DE FÁTIMA CORDEIRO LEITE UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS-UNIMONTES romanafl@hotmail.com BEATRIZ RIBEIRO SOARES UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA brsoares@ufu.br RESUMO Este artigo objetiva apresentar alguns comentários sobre o processo da evolução de rede urbana considerando a rede Christalleriana. Buscou-se entender a hierarquia urbana e análise de conceitos geográficos pertinentes ao tema, porém considerou-se também as alterações advindas da globalização e da revolução técnico-científica. Estas promoveram intensas alterações nas relações de fluxos bem como nas funções centrais das cidades favorecendo o estabelecendo novas relações urbanas, permitindo, tanto à cidade, quanto à rede urbana, uma refuncionalização através da passagem de um padrão de função para outro. Foi realizada uma breve evolução histórica baseada em pesquisa bibliográfica de renomados autores da Geografia Urbana e constitui parte integrante do primeiro capítulo da dissertação de mestrado NORTE DE MINAS E MONTES CLAROS: o significado do ensino superior na (re) configuração da rede urbana regional, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia em julho de 2003. Palavras-Chave: Rede Urbana; Cidade; Globalização; INTRODUÇÃO Temática muito utilizada pelos geógrafos, a rede urbana teve a principal difusão conceitual no período de 1920 a 1955, através das proposições divulgadas por Walter Christaller e Mark Jefferson. Christaller (1933) concentrou seus estudos na ideia de centralidade que uma localidade exerce sobre as demais. Segundo ele, é da relação existente entre uma área central e o espaço polarizado que surgirá uma rede de cidades em que as localidades situadas nas regiões dependentes serão consideradas cidades satélites, possuindo assim grau de dependência com o lugar central. 1 Texto integrante de dissertação de mestrado.

2 No entender de Corrêa (1989, p.8) a rede urbana constitui: [...] um conjunto de centros funcionalmente articulados - tanto nos países desenvolvidos como subdesenvolvidos, reflete e reforça as características sociais e econômicas do território, sendo uma dimensão sócio-espacial da sociedade. O estudo de uma rede urbana deve contemplar uma determinada região e as cidades aí localizadas; o papel econômico que poderá ter sido influenciado pelo processo histórico; como essas cidades estão inseridas neste espaço e o papel que as mesmas desempenham. Nesse contexto, incorpora-se ao estudo de rede urbana, a hierarquia das cidades. ABORDAGEM SOBRE O PROCESSO DE FORMAÇÃO E REESTRUTURAÇÃO DE REDE URBANA O conceito de rede urbana tem uma longa trajetória de discussão, de princípios e definições, elaborados por especialistas de áreas do conhecimento da Geografia Urbana e pelo grau de interesse despertado, amplamente difundido na literatura especializada. Há de considerar para os estudos de formação e reestruturação de rede urbana as pesquisas que evidenciam a hierarquia urbana. Segundo Corrêa (1989), os geógrafos Hans Bobek e Robert Dickinson abordaram nas décadas de 1920 e 1930 a temática da hierarquia urbana. Para ele, foi com a expansão do capitalismo e, mais tarde, com a industrialização que se verificou a expansão de oferta de produtos industriais e serviços, o que acentuou o processo de diferenciação das cidades. O modelo Christalliano evidencia que quanto mais produtos diferenciados e maior alcance a serem ofertados, mais importância terá a localidade. Possuidora de um setor terciário desenvolvido em relação às demais cidades do sistema, uma localidade tornase central pela capacidade de ofertar bens e serviços para outras localidades. Consagrada pelos geógrafos a rede Christalleriana, trata-se de uma rede hierarquizada na qual o centro modal de maior nível hierárquico tem uma localização central (Figura 01).

3 Hierarquia dos Centros Hierarquia dos Centros Interações Espaciais Figura 01 - Rede Christalleriana Fonte: CORRÊA, 1997, p.308. Org.: LEITE, R. F. C., 2003. Já, Corrêa (1989), estabelece a hierarquização de oferta de bens e serviços através de um quadro hipotético de hierarquia urbana e funções centrais (Figura 02). Centros Funções Centrais Metrópole regional abcd efgh ijkl mnop qrst Capital regional efgh ijkl mnop qrst Centro sub-regional ijkl mnop qrst Centro da zona mnop qrst Centro local qrst Figura 02: Exemplo hipotético de hierarquia urbana e funções centrais Fonte: CORRÊA, 1989, p.23. Da análise do referido quadro, é possível detectar que a metrópole regional oferece uma gama completa de bens e serviços e à medida que vão reduzindo as funções centrais ocorre uma redução das ações dos centros em relação ao nível hierárquico da rede urbana. Para Corrêa (1989, p.24): [...], a hierarquia sistemática e acumulativa de funções e localidades centrais associa-se ao esquema de centros e regiões de influência sistematicamente encaixadas os menores nos maiores. Como Roberto Lobato Corrêa (1989), Milton Santos (1997) buscou nas ideias de Christaller embasamento teórico para o estudo de rede urbana e propôs para a rede urbana uma classificação de funções urbanas abrangendo: cidades locais, cidades regionais, metrópoles incompletas e metrópoles completas. Haveria uma tendência piramidal em que as cidades com o mesmo nível hierárquico buscariam bens e serviços que não tivessem condições de produzir nas cidades superiores.

4 A década de 1980, com suas transformações econômicas, ideológicas e estratégicas nos convidam a repensar as consequências dessas transformações nas hierarquias e redes urbanas frente ao processo de globalização mundial. Nesta nova perspectiva de expansão capitalista faz-se necessário repensarmos o conceito de rede urbana. Para Moura (1997, p.28): As tecnologias abrem um leque de possibilidades locacionais e a aglomeração deixa de condicionar o sucesso de um empreendimento. A rede urbana deixa de ser uma instância regional ou de traduzir o arranjo das cidades de um país. O mundo, no final do século XX, apresentou-se dominado por comunicações instantâneas da revolução técnico-científica favorecendo o estabelecimento de novas relações urbanas, permitindo, tanto à cidade, quanto à rede urbana, uma refuncionalização através da passagem de um padrão de função para outro. As noções clássicas de rede urbana estão nos nossos dias, em função da globalização da economia, cedendo lugar a novas concepções, levando-nos a concordar com Siebert (1997) pelo fato de que uma nova hierarquia urbana está sendo estruturada em função das melhorias de transportes e comunicações que permitem que cidades de pequeno porte tenham relações comerciais diretas com o centro regional e mesmo estabelecendo relações comerciais externas à sua região. A instantaneidade e a simultaneidade, resultante do meio técnico-científico no que se refere à circulação de informações, não mais dependem tanto das mercadorias e sim das pessoas. Nesta nova perspectiva, sob a influência da globalização e do meio técnicocientífico, concordamos com Santos (1994) apud Moura (1997, p. 29), ao justificar esta nova concepção da seguinte forma: [ ] a mundialização permite a criação de lugares especializados e complexos em que o meio humano possibilita a floração de múltiplas atividades localmente complementares e espacialmente distribuídas. Quanto à reestruturação do conceito de rede urbana, Santos (1988, p.60) assim expressou: [...] a rede urbana passa a ser diferentemente definida por que se constituirá de agora em diante pelos pontos de encontros, nós ou nódulos, pelas conexões entre diversos círculos de cooperação. Reafirmando esta concepção, Santos e Silveira (2001, p.281) concluíram:

5 [...] as cidades constituem, cada vez mais, uma ponte entre o global e o local, em vista das crescentes necessidades de intermediação e da demanda também crescente de relações, e que as cidades pequenas e médias acabam beneficiadas ou, ao contrário, são feridas ou mortas em virtude da resistência desigual dos seus produtos e de suas empresas face ao movimento de globalização. EVIDENCIANDO CIDADE MÉDIA E CIDADE LOCAL NA REDE URBANA REGIONAL Vários são os trabalhos que procuram identificar as funções exercidas por cidades médias, assim caracterizadas por Soares (1998, p.56): Atualmente elas são caracterizadas por altas taxas de crescimento populacional como econômico; por sua geração de empregos, que absorvem números expressivos de força de trabalho; por apresentarem altos índices de qualidade de vida; por sua especialização econômica, particularmente no que diz respeito à diversificação e concentração de atividades comerciais e de serviços; pela existência de redes de transportes, comunicação e informação moderna; enfim, as mesmas são difusoras de inovações e desenvolvimento para as cidades sob sua área de influência. A partir da caracterização acima, percebe-se que ocorreu uma grande evolução conceitual no que se refere à cidade média, pois, este conceito, para instituições oficiais, era baseado em critérios demográficos. Para o IBGE (1996), as cidades médias possuíam população entre 100.000 e 500.000 habitantes, enquanto a Organização das Nações Unidas (1994) classificou de cidade média, para a América Latina, as cidades com uma população entre 100 mil e um milhão de habitantes. Fazendo uma análise mais apurada deste critério, Santos (1993) alerta quanto à necessidade de uma interpretação cautelosa dos dados estatísticos, pois os números podem refletir dados de momentos históricos. De início, o que se percebe ao estudar uma cidade média, é a dificuldade em classificála como tal, frente suas especialidades expressas em gênese, tamanho, funções, elementos de natureza política, social e cultural. Percebendo isto, ainda na década de 1980, foram sugeridos como indicadores de cidades médias, conforme Amorim Filho (1984, p.9):

Interações, constantes e duradouras com seu espaço regional e com aglomerações urbanas de hierarquia superior e, tamanho demográfico e funcional suficiente para que possam oferecer um leque largo de bens e serviços à sua área de polarização; capacidade de receber e fixar, através de oferecimento de oportunidades de trabalho, os migrantes das cidades menores ou zona rural; condições necessárias ao estabelecimento de relações de dinamização com o espaço rural da sua região de polarização; diferenciação do espaço intra-urbano, com um centro funcional já bem individualização, formação de subcentros e uma periferia dinâmica, evoluindo segundo um modelo parecido com o das metrópoles; e o aparecimento, semelhante às metrópoles, embora em menor escala, de problemas sócio-ambientais, tais como: pobreza, violência, congestionamento, poluição. 6 Ao estudarem as cidades de porte médio, através do trabalho Cidades de Porte Médio e o Programa de Ações Sócio-educativo-culturais para as populações carentes do meio urbano em Minas Gerais, Amorim Filho, Bueno e Abreu (1998, p.34), discutirem as dificuldades de formular definições sobre as cidades médias, sugeriram como atributos para as mesmas: Relações constantes e duradouras tanto com seu espaço regional, quanto aglomerações urbanas de hierarquia superior; tamanho demográfico e funcional suficientes para que possam oferecer um leque bastante largo de bens e serviços ao espaço regional a elas ligado; capacidade de receber e fixar os migrantes de cidades menores ou da zona rural, através do oferecimento de oportunidades de trabalho, funcionando, assim, como pontos de interrupção do movimento migratório em direção às grandes cidades, já saturadas; condições necessárias ao estabelecimento de relações de dinamização com o espaço rural microrregional que as envolve; diferenciação do espaço intra-urbano, com um centro funcional já bem individualizado e uma periferia dinâmica, evoluindo segundo um modelo parecido com o das grandes cidades, isto é, através da multiplicação de novos núcleos habitacionais periféricos; diferenciação sócio-econômica já bastante avançada da população dessas cidades [ ]. Assim, definir cidade média é uma tarefa complexa e delicada frente ao grande número de variáveis que poderão ser analisadas. Ainda conforme Amorim Filho, Bueno e Abreu (1998, p.35): Em função de tudo isso, e tendo em vista sua simplicidade e comodidade, o critério de classificação baseado no tamanho demográfico tem sido o mais utilizado para identificar as cidades médias, pelo menos como primeira aproximação. Da mesma forma que a cidade média, a pequena cidade identificada por Santos (1993) na década de 1970, como cidade local, vem tendo o seu conceito reestruturado, frente aos impactos da globalização sobre a rede urbana e, mesmo, sobre qualquer centro urbano, que independentemente do seu tamanho populacional é capaz, na atualidade, de manter relações diversas com outros centros urbanos, sem necessariamente seguir um

esquema de relações piramidal, onde se observa que todas as cidades do mesmo nível recorreriam às cidades de nível superior quanto aos bens e serviços que não produziam. 7 Silva (2000, p.41) considera que: A cidade local facilita o acesso da população aos bens e serviços, embora isso se faça a um preço mais elevado que nos centros de nível superior. Seja qual for a sua localização, a cidade local sempre se acha na periferia do sistema urbano. Esta situação significa que o indivíduo se encontra em uma posição desfavorável como produtor e consumidor. Referindo-se às cidades locais, Santos (1989), considera-as como centros que dispõem de uma atividade polarizante, que elas exercem em primeiro nível, e fala de cidades de subsistência. Diante do exposto é relevante destacar que independente da classificação da cidade os estudos relativos às questões urbanas, são interessantes, instigantes e desafiadores. CONSIDERAÇÕES FINAIS O entendimento da rede urbana pressupõe uma discussão de conceitos fundamentais e neste contexto buscou conceituar rede urbana, hierarquia urbana, cidade, cidade média e pequena cidade e perceber a necessidade de revisão destes conceitos ao longo do tempo. O próprio conceito de rede urbana tem uma longa trajetória de discussão e amplamente difundido na literatura específica. No estudo da rede urbana é fundamental identificar a evolução do capitalismo e seus reflexos na organização espacial. Desde as últimas décadas do século XX as transformações geradas com a globalização e a revolução técnico-científica, contribuíram para uma nova tendência de reorganização do espaço regional e definição de novas funções das cidades bem como as relações com seu entorno. Os enfoques teóricos sobre rede e hierarquia urbana, cidade média e cidade local, embora não constituírem uma revisão bibliográfica completa serviram como base para uma análise de importantes aspectos da Geografia Urbana frente a dinamicidade que esta propõe, para tanto o pensar e escrever sobre rede urbana deverá considerar à reestruturação produtiva, em uma nova lógica histórica de reprodução do capital sem

desconsiderar também discussões que antecedem esta lógica por mais que tenha alterado as determinações das estratégias e práticas 8 REFERÊNCIAS AMORIM FILHO, Oswaldo Bueno; BUENO, Mª Elizabeth Taitson; ABREU, João Francisco de. Cidades de Porte Médio e o Programa de Ações Sócio-Educativo- Culturais para as Populações Carentes Meio Urbano em Minas Gerais. Boletim de Geografia Teorética. Rio Claro, v.12, n.23/24, p.33-46, 1998. AMORIM FILHO, Oswaldo B. Cidades médias e organização do espaço no Brasil. Revista Geografia e Ensino, Belo Horizonte: n.5, p.5-34, jun. 1984. CARNEIRO, Marina de Fátima Brandão. Organização espacial de Montes Claros e a região Norte de Minas. 2002. 74f. Dissertação (Mestrado em Geografia). FFLCH / USP, São Paulo. 2002. CORRÊA, Roberto Lobato et al. (Org.). Explorações Geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand, 1997. CORRÊA, Roberto Lobato. A rede urbana. São Paulo: Ática, 1989 (Coleção Princípios).. Interações espaciais. In: CASTRO, Iná Elias de, CORRÊA, Roberto Lobato; GOMES, Paulo César da Costa (Org.). Explorações Geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. p. 279-318.. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 1999. IBGE Contagem da População, Minas Gerais 1996. Rio de Janeiro, IBGE, 1996. MOURA, Rosa. O urbano e as redes. Boletim de Geografia, Maringá: ano 15, n. 1, p. 25-34, 1997. SANTOS, M. Manual de Geografia urbana. São Paulo: Hucitec, 1989.. A natureza do espaço. São Paulo: Hucitec, 1999.. A urbanização brasileira. São Paulo: Hucitec, 1993.. Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo, Hucitec, 1997.

9. O meio técnico-científico e a urbanização no Brasil. Espaço e Debates, n.35. São Paulo, 1988. SANTOS, M; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Record, 2001. SIEBERT, Cláudia Freitas. Estruturação e desenvolvimento da rede urbana do Vale do Itajaí. Blumenau: Ed. da FURB, 1997. SILVA, Nádia Cristina da. A cidade local e o desenvolvimento tecnológico: o exemplo de Machado / MG. 2000. Relatório de qualificação (Mestrado em Geografia) - IG - UFU. Uberlândia, out. de 2000. SOARES, Beatriz Ribeiro. Considerações sobre a produção de Geografia urbana em Minas Gerais. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri (Org.) Os caminhos da reflexão sobre cidades e urbano. São Paulo: Edusp, 1994. p. 145-155.. Repensando as cidades médias brasileiras no contexto da globalização. Palestra Proferida Junto ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, São Paulo, UNESP/ Presidente Prudente, 1998.. Habitação e produção do espaço em Uberlândia. 1988. 225f. Dissertação (Mestrado em Geografia) - FFLCH/USP, São Paulo, 1988.. Uberlândia: da cidade jardim ao portal do cerrado - imagens e representações no Triângulo Mineiro. 1995. 347f. Tese (Doutorado em Geografia) FFLCH/USP, São Paulo, 1995.