PROJETO PROVEDOR DE INFORMAÇÕES SOBRE O SETOR ELÉTRICO RELATÓRIO MENSAL ACOMPANHAMENTO DE CONJUNTURA: RENOVÁVEIS MAIO DE 2012 Nivalde J. de Castro Maria Luiza T. Messeder
ÍNDICE SUMÁRIO EXECUTIVO...3 1- ENERGIA A PARTIR DA BIOMASSA...4 2-ENERGIA EÓLICA...6 3-ENERGIA SOLAR...9 4-QUESTÕES GERAIS... 10 2
SUMÁRIO EXECUTIVO Este relatório tem como objetivo apresentar os principais fatos, dados, informações e ações sobre energias renováveis do Setor elétrico brasileiro do mês de Maio de 2012. A estrutura do relatório está dividida em cinco partes: energia a partir de Biomassa, energia eólica, energia solar, Pequenas Centrais Hidrelétricas e questões gerais sobre energias renováveis. Uma das principais notícias sobre energia a partir da Biomassa foi que a falta de acesso a crédito para expansão da capacidade de cogeração e os preços pagos pela energia gerada são hoje os principais fatores limitantes para o crescimento da bioeletricidade no País. A conclusão aparece em pesquisa elaborada pelo CeiseBr e pela PwC. Já no setor de energia Eólica, um levantamento da Abeeólica mostra que apenas quatro parques que venderam energia no leilão de reserva de 2009 não iniciaram as obras. Esses parques somam 99,6 MW e representam 5% do total da energia comercializada no certame - que contratou 1.841,43 MW, provenientes de 71 empreendimentos. Quanto à energia solar, o Programa Luz para todos enfrenta agora sua fase mais complexa, que é atender a cerca de 30 mil comunidades isoladas, localizadas principalmente na Região Norte do país. Para chegar a locais onde não há possibilidade de fazer ligações elétricas convencionais, o MME está investindo em energias alternativas, especialmente a solar. Por fim, na seção de questões gerais, vale destacar que a diretoria da Aneel aprovou a revogação da autorização para instalação de uma PCH e um parque eólico. Ambos os projetos não apresentavam qualquer evolução há anos e deram como explicação o não enquadramento no Proinfa, que garantia a venda de energia à Eletrobras em contratos de 20 anos. 3
1- ENERGIA A PARTIR DA BIOMASSA A falta de acesso a crédito para expansão da capacidade de cogeração e os preços pagos pela energia gerada são hoje os principais fatores limitantes para o crescimento da bioeletricidade no País. A conclusão aparece em pesquisa elaborada pelo CeiseBr e pela PwC. Na área de geração de energia a partir da biomassa de cana-de-açúcar, 37% dos agentes colocou o crédito como fator "muito preocupante" na hora de segurar os investimentos, enquanto as tarifas foram apontadas como vilãs por 36%. A falta de acesso à rede elétrica também foi citada, por 34% dos opinantes. Nos comentários dos participantes, houve pesadas críticas à política de contratação de energia por parte do governo. O principal alvo é o conceito de que as fontes devem concorrer juntas, com a vitória sendo dada pela menor tarifa oferecida ao consumidor. Nesse sentido, a "oferta de energia eólica e outras renováveis" a preços menores foi apontada como preocupante por 17% do setor. Assim, a crise da bioeletricidade no momento em que completa 25 anos de cogeração a biomassa de cana-de-açúcar tem feito os agentes do setor pedirem a criação de uma política específica para o segmento. Um primeiro projeto nesse sentido foi apresentado no em meados de abril na Câmara dos Deputados. Ainda no começo da tramitação na Comissão de Minas e Energia, o Projeto de Lei 3.529/2012, de autoria do deputado Irajá Abreu (PSD-TO), institui uma política nacional de cogeração de energia elétrica a partir da biomassa. O PL recebeu a emenda nº 1 do deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP), que obriga as distribuidoras, já a partir de 2013, a adquirir pelo menos 2 GW de potência instalada, por meio de leilão, por um período de 10 anos. Os certames, pela proposta, seriam regionais com foco em empreendimentos, que estejam autorizados pela Aneel a operar como geração distribuída. Já a proposta original do deputado Irajá Abreu prevê a contratação de 250 MW médios por ano, a partir de 2014, por um período de 25 anos. Os contratos teriam vigência de 15 anos. Neste modo, sem fazer alarde e em ritmo aquém da necessidade da indústria, o governo está montando um "Proetanol", para estimular a produção do biocombustível e tentar reverter a queda de produção, que vai se agravar nos próximos dois anos. Às vésperas da Rio+20, o retrato do biocombustível - que desde 1975, com o Proálcool, reduziu as emissões de CO2 em 600 milhões de toneladas- não é dos melhores. O pacote está sendo debatido por 4
representantes de quatro ministérios (Minas e Energia, Fazenda, Agricultura e desenvolvimento), que dizem desconhecê-lo, mas reconhecem que reuniões sobre o tema têm ocorrido. Por outro lado, as exportações líquidas de etanol na safra 2012/13 do Centro-Sul do Brasil devem variar entre 1 bilhão e 1,3 bilhão de litros, segundo estimativa da SCA Trading. A estimativa da empresa é que o país exporte 1,8 bilhão de litros e importe cerca de 500 milhões de litros. Na temporada anterior, a 2011/12, as exportações líquidas do Centro-Sul foram de 850 milhões de litros, resultado de embarques de 1,85 bilhão de litros e importações de 1 bilhão de litros. Por fim, a moagem de cana-de-açúcar na região Centro-Sul do país, acumulada até 15 de abril, totalizou 4,74 milhões de toneladas, um recuo de 32,2% em relação ao mesmo período de 2011 (6,99 milhões de toneladas), os dados são da Unica. Até 15 de abril, 70 unidades produtoras da região estavam em operação. Em 2011, eram 113. Segundo a Unica, o número de unidades em operação e a moagem observada até o momento estão dentro do esperado. Do total de cana colhida até a data analisada, 34,4% foram destinados à produção de açúcar e, a maior parte, 65,5%, à produção de etanol. A fabricação de açúcar alcançou 152,08 mil toneladas até a primeira quinzena do quarto mês do ano. Já a produção de etanol, atingiu 180,5 milhões de litros. Para os dois produtos, houve retração das quantidades produzidas quando comparadas ao mesmo período de 2011. 5
2-ENERGIA EÓLICA A Aneel aprovou o edital da chamada pública 01/2012, que tem como objetivo identificar agentes interessados em usar instalações de conexão compartilhadas - as chamadas ICGs, que fazem a ligação de parques eólicos ao sistema. A chamada é destinada a usinas que foram viabilizadas pelo leilão de energia A-5 de 2011, realizado em dezembro. Pela decisão da diretoria do órgão regulador, os investidores tiveram somente de 15 a 16 de maio para responder. As instalações funcionarão como estações coletoras da energia gerada pelas usinas. Na chamada, a Aneel prevê a construção de três ICGs: duas no Ceará (Arati II e Cruz) e uma na Bahia (Campo Formoso). A agência também delegou à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica parte da operacionalização da chamada pública. O certame A-5 contratou 39 usinas eólicas, que precisam iniciar a operação em janeiro de 2016. Por outro lado, a diretoria da Aneel aprovou o pedido da EDP Renováveis para desistir da instalação do parque eólico de Santa Vitória do Palmar (RS). Segundo justificou a empresa, a implantação do empreendimento estaria impossibilitada pela a "inviabilidade do sistema de transmissão", conforme explanou o relator do processo na agência, diretor Romeu Rufino. De acordo a apresentação do relator, baseada no parecer da área técnica, a construção de uma linha de transmissão de cerca de 100 quilômetros - que conectaria o parque eólico à subestação Quinta - foi descartada por questões ambientais. O projeto, que tinha 126MW e foi redimensionado para 81MW, estava há tempos na carteira da companhia, tendo sido adquirido pela EDP junto à Elebrás Projetos. Na época, o negócio envolveu também uma usina já contratada pelo Proinfa - a EOL Tramandaí, com 70MW - e mais 452MW em projetos em desenvolvimento. Quanto aos parques que venderam energia no leilão de reserva de 2009, um levantamento realizado pela Abeeólica apontou que apenas quatro parques não iniciaram as obras. Esses somam 99,6 MW e representam 5% do total da energia comercializada no certame - que contratou 1.841,43 MW, provenientes de 71 empreendimentos. Os números contrastam com os divulgados pela Aneel, que mostra que 23 usinas estariam nessa situação, somando 654,6 MW. De acordo com Élbia Melo, presidente executiva da Abeeólica, a associação entrou em contato com os empreendedores para saber qual o estágio da obra e 6
chegou nesses dados. O levantamento da associação apontou ainda que 38 parques, que representam 54% da potência contratada, estão com cronograma normal; 11 parques (15%) já entraram em operação; 8 parques (11%) estão atrasados, mas já iniciaram a construção; e 10 parques (14%) estão com a postergação em análise. Contudo, o parque eólico Cabeço Preto, tocado pela Gestamp, recebeu autorização para colocar em operação comercial suas 11 unidades geradoras, totalizando 19,8MW de potência. A liberação da Aneel foi publicada em despacho no DOU. O projeto foi viabilizado no primeiro leilão de contratação de energia eólica realizado pelo governo brasileiro, em dezembro de 2009. A planta havia recebido autorização para funcionar em regime de testes em março deste ano. Outro empreendimento da Gestamp, o parque eólico Moxotó, também recebeu o aval da agência para operação comercial de todas as suas unidades geradoras. As duas plantas da companhia estão localizadas na cidade de João Câmara (RN). Em um terceiro despacho, a Aneel liberou ainda a operação em testes da primeira turbina da UTE Bio Ipê, da CPFL, com 25MW. A planta, localizada em Nova Dependência, interior de São Paulo, é movida a biomassa. Entretanto, a Renova Energia terá os seus primeiros 14 parques eólicos prontos para operar em julho deste ano, no total de 293,6 MW, que gerarão uma Ebitda adicional, em termos anualizados, de R$ 165 milhões. Entretanto, os projetos não devem entrar em operação na data prevista, já que os sistemas de conexão de transmissão, de responsabilidade da Chesf, do grupo Eletrobras, estão atrasados. "Se a linha de transmissão estivesse pronta, dava para antecipar receita... Mas a receita (futura) não é prejudicada. Estando disponível para operar, a gente tem direito a essa receita", disse o diretor de Relações com Investidores e Novos Negócios da Renova, Pedro Pileggi. Deste modo, a diretoria da Aneel resolveu abrir um processo para discutir o tratamento a ser dado aos contratos fechados por parques eólicos que devem estar concluídos em julho deste ano, mas que não terão como gerar energia devido à falta de conexão à rede. As usinas, que foram viabilizadas pelo primeiro certame da fonte, em 2009, precisarão esperar a construção das ICGs que vão escoar a produção para o sistema. A implantação das ICGs está a cargo da estatal Chesf, que alega problemas no licenciamento ambiental. A Abeeólica estima que cerca de 636MW em plantas no Rio Grande do Norte e na Bahia serão afetadas pelo atraso das ICGs. A expectativa da entidade é de que, assim que provarem que as usinas estão prontas, os geradores assegurarão o direito de receber a receita combinada nos contratos. O processo 7
referente à questão foi distribuído em sorteio na manhã do dia 28 de maio e deve em breve ser colocado em discussão em uma reunião da diretoria colegiada da Aneel. Já, as usinas contratadas pelo Proinfa entre 2005 e 2010 já receberam R$1,8 bilhões do BNDES, de um total de R$2,8 bilhões em financiamentos concedidos. Tais projetos somam 1GW e R$5,3 bilhões em investimentos. Em 2011, foram 1,1GW financiados com R$3,4 bilhões, dos quais R$2,2 bilhões já foram liberados. Neste ano, o banco estima aumentar em 30% o ritmo. Atualmente, entre usinas contratadas em processo de liberação de recursos, plantas em análise, projetos enquadrados e em carta-consulta, o BNDES conta 107 parques eólicos. Os empreendimentos somam R$12,3 bilhões em investimento, sendo que o banco deve financiar R$8,2 bilhões. Por fim, o BNDES estima que o investimento necessário para construir cada MW de um parque de geração de energia eólica no Brasil caiu 45% desde os tempos do Proinfa. A iniciativa tinha um custo médio de R$6 milhões por MW instalado. No leilão A-5 do ano passado, que viabilizou quase 1GW eólico, tal valor ficou em R$3,3 milhões por MW. Os números aparecem em apresentação feita pelo BNDES durante evento da Abeeólica realizado em São Paulo. Contratadas por tarifas incentivadas, as plantas do Proinfa hoje vendem a geração a cerca de R$309,30 por MWh. O montante é quase três vezes maior que o preçomédio do certame do ano passado, de R$105 por MWh. O banco do governo estima que somente as melhores condições oferecidas em seus financiamentos para projetos eólicos foram responsáveis por uma redução de 25% nas tarifas. Do outro lado, a queda nos valores dos equipamentos ajudou a baixar o custo geral dos parques. 8
3-ENERGIA SOLAR A Cemig está implantando o projeto Minas Solar 2014, que tem como objetivo a instalação de uma planta de 1,5MW de energia solar fotovoltaica na cobertura do estádio Mineirão. Para o desenvolvimento do projeto em Belo Horizonte (MG), a companhia abrirá uma concorrência internacional como meio de selecionar as companhias fornecedoras dos módulos fotovoltaicos para a planta. A implantação da usina será realizada através de solução integrada, onde o contratado deverá se responsabilizar integralmente pela entrega da usina montada e conectada à rede. As condições gerais exigidas pela Cemig serão fornecidas junto com a documentação do edital, previsto para ser divulgado em meados de maio. As empresas deverão comprovar experiência de longa data, individualmente ou como membro de consórcios. Também é exigida experiência na instalação de uma usina solar fotovoltaica instalada sobre a cobertura de uma edificação. Contudo, depois de levar energia elétrica a quase 12 milhões de pessoas que vivem em áreas rurais, o Programa Luz para Todos enfrenta agora sua fase mais complexa, que é atender a cerca de 30 mil comunidades isoladas, localizadas principalmente na Região Norte do país. Para chegar a locais onde não há possibilidade de fazer ligações elétricas convencionais, o MME está investindo em energias alternativas, especialmente a solar. Para o secretário de Energia Elétrica do MME, Ildo Grüdtner, atender às localidades isoladas com energia solar é mais vantajoso financeiramente do que fazer a ligação por extensão de rede, que exige a instalação de postes e linhas de transmissão em áreas muito afastadas. De acordo com o coordenador da campanha Clima e Energia do Greenpeace Brasil, Ricardo Baitelo, o uso de energias renováveis pode ser uma boa solução para que o Luz para Todos possa atingir suas metas. 9
4-QUESTÕES GERAIS A diretoria da Aneel aprovou nesta a revogação da autorização para instalação de uma PCH e um parque eólico. Ambos os projetos não apresentavam qualquer evolução há anos e deram como explicação o não enquadramento no Proinfa, que garantia a venda de energia à Eletrobras em contratos de 20 anos. No caso da PCH Rancho Queimado I, que seria instalada em Santo Antônio de Leverger (MT), o cronograma original previa o início da geração de energia em dezembro de 2005. O diretor-geral da Aneel, Nelson Hubner, lamentou o fato de a usina não sair do papel. Hubner também evidenciou que o fato de a planta não ter entrado no Proinfa não seria um grande entrave, uma vez que as tarifas pagas pelo programa às PCHs não eram muito diferentes das praticadas do mercado. A autorização estava nas mãos da Irmãos Rodrigues Centrais Elétricas. Já a eólica Ponta do Mel, que seria construída em Areia Branca (RN), pertencia à Compinvest Mercosul e deveria ter entrado em operação no final de 2003. Por fim, a Abeeólica apresentou um estudo que propõe a criação de um MRE (Mecanismo de realocação de energia) entre hidrelétricas e usinas a vento. E o próximo passo pode ser outra associação, não tão distante - dessa vez com a geração solar. A sócia-diretora da consultoria Engenho, Leontina Pinto, que elaborou o estudo sobre o MRE hidroeólico, disse que a ideia "parece interessante", uma vez que as primeiras indicações são de que a fonte tem maior produção nos momentos em que não há chuva. Além disso, locais em que são instaladas usinas eólicas muitas vezes possuem ventos maiores à noite. Assim, a presença de placas fotovoltaicas e aergoeradores em um mesmo campo levariam a uma geração mais consistente ao longo do dia. A ideia de colocar geração solar em parques eólicos já é estudada pela Abeeólica. E um projeto nesse sentido será desenvolvido pela estatal paranaense Copel. Leontina aponta, no entanto, que ainda é preciso esperar que a energia solar entre em um processo de maturação no País. 10