Análise da Balança Comercial Brasileira jan-set/2011 Exportação mantém crescimento acelerado puxado pelas commodities No ano de 2011, até setembro, as exportações estão crescendo a uma taxa de 31,1%, em relação ao mesmo período de 2010. Esse desempenho levou a um aumento inclusive sobre os valores pré-crise, com expansão de 16,5% sobre janeiro-setembro de 2008. Pelo lado da importação o crescimento foi de 26,3 % nos primeiros nove meses do ano em comparação com igual período do ano anterior. Em relação ao período janeiro-setembro de 2008 o aumento foi de 16,8%. A corrente de comércio apresentou expansão de 28,8% e 16,6% respectivamente. O saldo comercial, depois de quedas seguidas desde 2007, voltou a subir alcançando US$ 3,1 bilhões, o maior no último quadriênio. No período outubro/2010 a setembro/2011, o comércio do Brasil com o mundo atingiu o recorde de US$ 463,5 bilhões. Gráfico 1: Balança Comercial Brasileira em períodos de 12 meses 500 450 400 IMPORTAÇÃO EXPORTAÇÃO 350 216,5 300 250 200 150 100 50 0 58,2 48,1 46,6 58,1 57,5 69,7 Out/00 a Set/01 Out/01 a Set/02 Out/02 a Set/03 58,5 90,8 Out/03 a Set/04 71,7 113,1 Out/04 a Set/05 86,2 132,6 Out/05 a Set/06 110,3 153,5 Out/06 a Set/07 166,1 194,9 Out/07 a Set/08 132,3 158,9 Out/08 a Set/09 169,3 186,1 Out/09 a Set/10 247,0 Out/10 a Set/11 Ao contrário do ocorrido no ano passado, quando as importações se expandiram a um ritmo mais acentuado do que as exportações, 45,8% e 29,6% respectivamente, neste ano as vendas ao exterior voltaram a crescer de forma mais intensa, como apontado anteriormente, superando inclusive as cifras de 2008. No tocante às médias diárias, tanto as de exportação, como as de importação apresentam-se ascendentes no primeiro semestre e mantém certa estabilidade no segundo semestre, observando um padrão marcado pelo desempenho das commodities, caso da exportação, e da economia doméstica, caso da importação. Ambas as curvas atingiram valores recordes em agosto de 2011. 1
Gráfico 2: Exportação e Importação pela média mensal US$ milhões FOB 1200 1100 1000 900 EXPORTAÇÃO 800 700 600 500 IMPORTAÇÃO 400 jan/07 mai/07 set/07 jan/08 mai/08 set/08 jan/09 mai/09 set/09 jan/10 mai/10 set/10 jan/11 mai/11 set/11 Exportações brasileiras A pauta das exportações do Brasil, quando avaliada em termos de fator agregado, evidencia a contínua ampliação do peso dos produtos básicos em detrimento dos industrializados, fundamentalmente em virtude da elevação das cotações das commodities e da perda de dinamismo das exportações de produtos industrializados (manufaturados e semimanufaturados), motivada sobretudo pela apreciação do real, não compensada por ganhos de competitividade que poderiam advir com medidas de desoneração, melhoria e expansão da infraestrutura, redução da burocracia, dentre outros elementos do chamado custo Brasil. Gráfico 3: Exportação Brasileira por Fator Agregado Participação % 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Manufaturado Básico Semim anufat. 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2008 2009 2010 2011* 2
Como conseqüência desse quadro, consolidou-se o cenário de reversão da diversificação das exportações brasileiras, levando o seu perfil a retornar ao que vigorava antes da década de oitenta, assinalando o que se convencionou chamar de reprimarização da pauta exportadora. Nos primeiros nove meses do ano, as vendas externas de produtos industrializados cresceram 23,2% (semimanufaturados, 35,3%; e manufaturados, 19,0%), ao passo que as de produtos básicos aumentaram 40,5%, particularmente em razão da elevação das cotações do minério de ferro, que sozinho contribui com 25,4% do aumento geral das exportações brasileiras. Principais grupos e produtos exportados Tabela 1: Exportação brasileira por fator agregado US$ milhões FOB Janeiro/Setembro Variação Part.% Produto 2011 2010 % 2011 2010 Básicos 90.975 64.729 40,5 47,9 44,7 Minério de ferro 30.672 19.233 59,5 16,1 13,3 Petróleo em bruto 15.799 11.285 40,0 8,3 7,8 Soja em grão 14.010 10.326 35,7 7,4 7,1 Café em grão 5.621 3.375 66,5 3,0 2,3 Carne de frango 5.152 4.251 21,2 2,7 2,9 Farelo de Soja 4.341 3.485 24,6 2,3 2,4 Carne bovina 3.077 2.961 3,9 1,6 2,0 Fumo em folhas 2.162 2.084 3,7 1,1 1,4 Milho em grão 1.768 1.043 69,5 0,9 0,7 Demais básicos 8.373 6.686 25,2 4,4 4,6 Semimanufaturados 26.879 19.868 35,3 14,1 13,7 Açúcar em bruto 8.206 6.301 30,2 4,3 4,3 Celulose 3.714 3.463 7,2 2,0 2,4 Produtos semimanuf. de ferro ou aço 3.538 1.655 113,8 1,9 1,1 Ferro-ligas 1.885 1.492 26,3 1,0 1,0 Ouro semimanufaturado 1.644 1.271 29,3 0,9 0,9 Couros e peles 1.551 1.297 19,6 0,8 0,9 Óleo de soja em bruto 1.497 932 60,6 0,8 0,6 Demais semimanufatura dos 4.844 3.457 40,1 2,5 2,4 Manufaturados 68.159 57.260 19,0 35,9 39,5 Automóveis de passageiros 3.009 3.179-5,3 1,6 2,2 Autopeças 3.008 2.493 20,7 1,6 1,7 Óleos combustíveis 2.938 2.081 41,2 1,5 1,4 Açúcar refinado 2.590 2.587 0,1 1,4 1,8 Aviões 2.424 2.543-4,7 1,3 1,8 Motores e geradores elétricos 2.364 1.799 31,4 1,2 1,2 Polímero s plásticos 1.727 1.170 47,6 0,9 0,8 Óxidos e hidróxidos de alumínio 1.718 1.243 38,2 0,9 0,9 Máqs. E apars. Terraplanagem 1.613 960 68,0 0,8 0,7 Veículos de carga 1.190 1.191-0,1 0,6 0,8 Laminados planos de ferro ou aços 1.560 1.161 34,4 0,8 0,8 Pneumáticos 1.223 997 22,7 0,6 0,7 Demais manufaturados 42.795 35.856 19,4 22,5 24,7 Operações Especiais 3.987 3.072 29,8 2,1 2,1 Total 190.000 144.929 31,1 100,0 100,0 Ao analisarmos a composição da pauta exportadora brasileira (vide Tabela 1), o fato que mais chama a atenção é a contínua concentração em termos de produto. No período janeiro- 3
setembro de 2011, o valor total exportado pelo Brasil aumentou 31,1%. Contudo, apenas o minério de ferro cresceu 58,6% o valor exportado, expandindo sua participação de 13,3% para 16,1%. Menos intenso, mas também significativa foi a expansão da participação do petróleo (de 7,8% para 8,3%) da soja em grão (de 7,1% para 7,4%) e do café (de 2,3% para 3,0%). Esses produtos, que representavam 30,54% da pauta em janeiro-setembro de 2010, passaram a responder por 34,5% das exportações nacionais nos nove primeiros meses de 2010. Importações brasileiras O valor das importações brasileiras cresceu expressivos 45,6% no período janeiro-setembro de 2010, refletindo o aquecimento da economia doméstica e a maior competitividade dos produtos importados em face da apreciação do real (vide Tabela 2). Em termos de categoria de uso, o grupo que mais cresceu foi o de combustíveis e lubrificantes (61,1%), em virtude da elevação das cotações do petróleo; em seguida, a maior expansão foi de bens de consumo (50,9%), com destaque para as compras de automóveis (65,1%); os grupos matérias-primas e produtos intermediários e bens de capital registraram aumento de 43,3% e 38,9%, respectivamente. Tabela 2: Importação brasileira por categoria de uso US$ milhões FOB Janeiro/Setembro Variação Part.% Categoria / Produto 2011 2010 % 2011 2010 Bens de Capital 35.263 29.783 18,4 21,1 22,5 Matérias Primas e Intermediários 76.591 61.092 25,4 45,9 46,2 Bens de Consumo 28.955 22.355 29,5 17,3 16,9 - Não-duráveis 11.584 9.233 25,5 6,9 7,0 - Duráveis 17.371 13.122 32,4 10,4 9,9 - Automóveis 8.288 5.914 40,1 5,0 4,5 Combustíveis e Lubrificantes 26.157 18.922 38,2 15,7 14,3 - Petróleo 10.425 7.771 34,2 6,2 5,9 - Demais 15.732 11.151 41,1 9,4 8,4 Total 166.966 132.152 26,3 100,0 100,0 Intercâmbio comercial brasileiro por regiões do mundo China se consolida como maior parceiro comercial do Brasil A situação que vem se observando nos últimos anos, consolidou-se nos nove primeiros meses de 2010. A China assumiu em definitivo a condição de maior parceiro comercial do Brasil e passou a responder por 31,3% do volume de comércio do País com o mundo, deixando aos Estados Unidos, tradicionalmente o maior parceiro comercial brasileiro, a segunda colocação, com participação de 25,6%. Em termos de mercado de destino, a China em janeiro setembro de 2010, absorveu 16%, com uma taxa de expansão de 34,3% sobre igual período do ano anterior. Os EUA, em segundo lugar, com participação de 9,7%, mas com uma taxa de crescimento menor, de 24,8%. Na importação brasileira, os Estados Unidos ainda são os maiores fornecedores, respondendo por 15% e aumento de 34,4% sobre o igual período de 2009. Contudo, a China vem crescendo a um ritmo mais rápido (65,2%) e sua participação já alcança 13,8%, portanto, está muito próxima de ultrapassar os EUA. 4
Além da excessiva concentração do intercâmbio comercial brasileiro com a China, há outro aspecto que diz respeito à qualidade do comércio, posto que a China compra do Brasil basicamente commodities e vende uma gama diversificada de produtos industrializados. Gráfico 4: Comércio do Brasil com Países Selecionados 2005 Jan-Set/2011 Alemanha Japão China Alemanha Japão China Argentina EUA Argentina EUA Balança comercial e Balanço de pagamento Cresce saldo negativo em Transações Correntes Persiste o quadro de ampliação do déficit em conta corrente. Em Janeiro Agosto de 2011, apesar de o superávit na balança comercial ter quase dobrado, passando de US$ 11,6 bilhões para US$ 20,0 bilhões, isto não foi suficiente para compensar o impacto negativo dos déficits de US$ 55,8 bilhões em serviços e rendas, agravando ainda mais os resultados negativos que são observados desde 2008. Tabela 4: Balanço de Pagamentos em Transações Correntes (US$ bilhões) Saldo Transferências Transações Balança comercial Unilaterais Correntes Serviços Rendas correntes Período (a) (b) (c) (d) (a+b+c+d) 2003 24,9 2,9-4,9-18,6 4,3 2004 33,8 3,2-4,7-20,5 11,8 2005 44,9 3,6-8,3-26,0 14,2 2006 46,5 4,3-9,6-27,5 13,7 2007 40,0 4,0-13,2-29,3 1,5 2008 24,7 4,2-16,7-40,6-28,4 2009 25,3 3,3-19,2-33,7-24,3 2010 20,3 2,8-31,0-39,6-47,5 jan/ago 2010 11,6 1,9-18,9-26,1-31,4 jan/ago 2011 20,0 2,0-24,8-31,0-33,8 Fonte: BACEN Por enquanto, o País não tem encontrado dificuldades em financiar esse déficit, em razão do forte ingresso de investimentos estrangeiros, mas a sua continuada elevação pode trazer riscos para a estabilidade das contas externas, só conquistada em razão dos sucessivos superávits obtidos na balança comercial no período 2002 a 2007. 5