Prevenção ao uso indevido de drogas em empresas: Revisão da literatura



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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO PÓS-GRADUAÇÃO LATU-SENSU EM DEPENDÊNCIA QUÍMICA Magali Silvana Ortolan Prevenção ao uso indevido de drogas em empresas: Revisão da literatura Trabalho apresentado ao Curso de Especialização à Distância em Dependência Química da Universidade Federal de São Paulo, como requisito obrigatório para a conclusão do curso. Orientadora: Profª Drª Zila van der Meer Sanchez Leitor: Fernando Januario Silva São Paulo 2014

2 Resumo O objetivo deste artigo é fazer uma revisão da literatura científica sobre prevenção ao uso indevido de drogas (lícitas e ilícitas) em empresas tendo como base publicações dos últimos 14 anos. A literatura aponta que o uso indevido de sustâncias provoca sérios problemas para os empregadores, gerando aumento de custos por faltas, rotatividade de funcionários, baixa produtividade e aumento na incidência de acidentes de trabalho. Para os funcionários pode gerar perda de emprego, baixo desempenho, acidentes que podem provocar lesõe e incapacitações e dificuldades nos relacionamentos interpessoais. Hoje existe uma grande preocupação com relação à prevenção. Existem vários tipos de intervenções sendo utilizadas com diferentes métodos e em diferentes locais de trabalho, o que dificulta a avaliação comparativa de resultados uma vez que não existe um consenso quanto à qual seria melhor. O que se observa é que programas baseados em intervenção breve, exames de saúde, mudança de estilo de vida e treino de habilidades sociais têm apresentado resultados positivos. Para elaborar um programa de prevenção efetivo, deve-se levar em conta as necessidades e especificidades de cada ambiente de trabalho. Palavras-chave: Uso de drogas, Prevenção, Empresas.

3 1. Introdução O consumo de substâncias psicoativas constitui-se em um importante problema de saúde pública, pois além de gerar ônus ao sistema público de saúde, também causa danos ao indivíduo, afeta de modo significativo a qualidade de vida, interfere nas suas relações interpessoais e, muitas vezes, no seu ambiente de trabalho, seja na possibilidade de riscos de acidente de trabalho, prejuízo da capacidade no trabalho ou relacionamento com colegas e chefias (LOPES, 2011; ORTIZ & MARZIALE, 2010). Sobre o uso de álcool no Brasil, as pesquisas apontam que 64% dos homens e 39% das mulheres adultas relatam consumir álcool regularmente (pelo menos 1 vez por semana). Dentre os bebedores, 17% apresentaram critérios para abuso e/ou dependência de álcool. Dos adultos que bebem 32% referiram já não terem sido capazes de conseguir parar de beber. Mulheres, especialmente as mais jovens, é a população de maior risco, apresentando maiores índices de aumento entre 2006 e 2012 e bebendo de forma mais nociva (II LENAD, 2012). Com relação ao uso de maconha, 3% da população relatou uso no último ano. Quase 4% dos adolescentes já usaram pelo menos uma vez na vida e a taxa de uso no último ano foi de 3% (mesma taxa dos adultos). Quase 40% dos adultos usuários são dependentes e um em cada 10 adolescentes que usam maconha é dependente (II LENAD, 2012). Considerando-se que a maioria dos indivíduos com uso abusivo ou dependência de drogas está trabalhando ativamente é muito provável que as consequências do uso sejam sentidas no local de trabalho (BENNETT et al, 2000). O uso de drogas existe cada vez mais entre as pessoas incorporadas à vida produtiva, trazendo como consequências a diminuição da produtividade, alteração das relações na ordem laboral, interpessoal, familiar, social e da saúde (CARRILLO & MAURO, 2004), portanto a prevenção ao uso de drogas no ambiente de trabalho se faz necessário e deve visar à redução de custos, à proteção do funcionário contra danos físicos e emocionais e à melhora da produtividade.

4 Este artigo pretende avaliar através da revisão bibliográfica as melhores práticas para prevenção ao uso de drogas (legais e ilegais) em empresas. 2. Metodologia A metodologia utilizada no presente artigo foi a revisão narrativa da literatura tendo como fonte de pesquisa as bases de dados Pubmed e Scielo para artigos publicados entre 2000 e 2014. Os descritores utilizados para o Pubmed foram prevention and drug use and worplace; prevention and alcohol abuse and workplace. Para a base de dados Scielo os termos utilizados foram prevenção and drogas and trabalho e prevenção and álcool and trabalho. Foram selecionados 17 artigos nos idiomas português, inglês e espanhol que abordam a relação entre o uso de drogas (legais ou ilegais) e o ambiente de trabalho, tanto na elaboração de programas de prevenção quanto para análise do ambiente como fator de risco ou proteção. Nos artigos selecionados, os estudos foram: descritivo exploratório, descritivo com abordagem qualitativa, estudo de corte transversal, estudo epidemiológico transversal descritivo. Foram utilizados levantamos epidemiológicos atuais sobre o uso de álcool e drogas realizados no Brasil. Dentre os 17 artigos revisados, nove são de autores brasileiros e tiveram uma atenção especial por retratarem o que mais se aproxima da realidade desse país e fornecer um olhar mais apurado para as ações realizadas como prevenção ao uso de drogas para o trabalhador brasileiro. 3. Desenvolvimento 3.1 Uso indevido de drogas e local de trabalho

5 O trabalho é fator de grande importância na vida do individuo posto que confere a ele identidade, promove subsistência própria e de seus familiares e pode ser fonte de satisfação e realização (CARRILLO & MAURO, 2004). O trabalho é uma atividade essencialmente humana que responde às necessidades e carências do individuo, portanto, deve possibilitar a autotransformação do trabalhador devendo ser uma prática livre e autônoma, levando à emancipação e humanização da pessoa (MASSON & MONTEIRO, 2009). Ao longo do tempo, a relação do homem com o trabalho e droga-trabalho tem sido fomentada, utilizada, encoberta, tolerada, perseguida e castigada. Durante a revolução industrial na Inglaterra, era tolerado o consumo de bebidas alcoólicas por parte dos trabalhadores das manufaturas, com objetivo de que resistissem mais tempo no desempenho de suas atividades na linha de produção (CARRILLO & MAURO, 2003). O trabalho que, inicialmente, era visto como atividade penosa e árdua exercida pelos escravos ou por pessoas de condições sócias desfavorecidas passou a ocupar nos dias atuais destaque e centralidade na vida de todos os homens como forma de direito a ser conquistado (MASSON & MONTEIRO, 2009). Com relação ao uso de substâncias por trabalhadores, pesquisa coordenada pelo SESI no ano de 2000 coletando dados sobre uso de drogas entre os trabalhadores e publicada pelo Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (OBID) mostra que, quanto ao uso de drogas em geral na vida, o tabaco foi referido por 38,7%, o álcool por 78,7%, os medicamentos por 87%, e as drogas ilícitas por 10,5% do total dos trabalhadores pesquisados. O uso de tabaco, álcool e drogas ilícitas foi significativamente maior entre os homens. Os resultados mostraram que os homens fumam 1,5 vezes mais que as mulheres, e a chance de um homem já ter feito uso de alguma droga ilícita foi 2,5 vezes maior em relação às mulheres. A única substância mais utilizada pelas mulheres em relação aos homens são os medicamentos: no último ano, computou-se 93,6% para elas, e 84,6% para eles (SESI SENAD, 2000). O mesmo levantamento apontou que 10% dos entrevistados referiu que alguém já se machucou em consequência do seu consumo de álcool; 8% dos entrevistados admitem que o uso de álcool já causou efeitos prejudiciais ao seu

6 trabalho; 4,9% dos bebedores já perdeu o emprego devido ao consumo de álcool; 9% admitem que o uso do álcool prejudicou suas relações familiares e afetivas (SESI SENAD, 2000). Segundo estudo realizado por Silva e Yonamine (2004), que tinha como objetivo descrever o perfil do abuso de drogas entre os trabalhadores das cinco regiões brasileiras (norte, nordeste, sudeste, centro-oeste e sul) atraves da realização de testes de urina, mostra que a maconha foi a droga mais comumente detectada entre trabalhadores, com 59,9 % de todos os resultados positivos, seguido de cocaína com 17,7 %, e anfetamina com 14,6%. A associação de duas drogas foi encontrada em 7,7 % de resultados positivos, sendo 6,5% de maconha / cocaína, 0,9% maconha / anfetamina e apenas 0,4% de cocaína /anfetamina. O estudo aponta ainda que a alta prevalencia da maconha pode ser explicada por ser uma droga amplamente distribuida em todo o pais e pelo fato do principal metabólito ser detectado varios dias após a exposição. O local de trabalho oferece muitas vantagens para prevenir problemas de uso de álcool e outras drogas. Empregados de empresas passam uma porção significativa de seu tempo no trabalho, aumentando a possibilidade de exposição a mensagens ou programas preventivos oferecidos por meio de ações locais nestas instituições. Intervenções no local de trabalho podem acessar grupos específicos que, de outra forma, seriam difíceis de alcançar (AMES & BENNETT, 2011). Os empregadores têm o interesse em manter seus funcionários saudáveis e produtivos. Eles podem, portanto, usar a sua influência para incentivar os trabalhadores a participar em programas de prevenção. Muitos empregadores oferecem Programas de Assistência ao Empregado (EAP) para ajudar os funcionários a lidar com problemas pessoais, incluindo o abuso de substâncias, que podem afetar negativamente o seu desempenho no trabalho, saúde e bemestar (AMES & BENNETT, 2011; MERRIK et al, 2007). 3.2 - Fatores de risco ou proteção para o uso indevido de álcool e outras drogas no ambiente de trabalho

7 Os fatores de proteção se referem às condições do ambiente e características individuais de uma pessoa que em constante interação, contribui para reduzir a probabilidade de que apareçam problemas relacionados ao uso de drogas. Por outro lado, os fatores de risco são as características individuais e condições ambientais que expõem os sujeitos e os deixam mais vulneráveis ao consumo de substancias psicoativas (BRAVO ORTIZ & MARZIALE, 2010). O trabalhador é suscetível a uma gama enorme de fatores, tanto internos quanto externos, que podem colaborar para o uso problemático de substâncias. A pessoa que trabalha não é uma mera receptora de ordens para executar tarefas ou de um estímulo de esforço físico e mental, mas é um ser humano integral no qual estão presentes os seus problemas individuais, sua história familiar e social e sua situação financeira (CARRILLO & MAURO, 2004). Algumas ocupações são consideradas de maior risco para desenvolver problemas com uso de substâncias, entre as quais podemos citar os motoristas e pilotos que dirigem ou pilotam por grandes distâncias, trabalhadores noturnos que necessitam de constante vigilância, profissionais que atuam em ambiente de grande estresse e entretenimento noturno (CARRILLO & MAURO, 2004). Entre os fatores de risco para uso indevido de álcool e outras drogas no trabalho, podemos destacar os ritmos acelerados de produção, pressão claramente repressora e autoritária instalada numa hierarquia rígida e vertical, falta de controle do trabalhador sobre a execução do trabalho, falta de afinidade com o trabalho desenvolvido, alienação do trabalho e do próprio trabalhador, fragmentação das tarefas, jornadas excessivamente longas, desqualificação para o trabalho realizado, inexistência de pausas para descanso ao longo da jornada (OLIVEIRA & FUREGATO, 2008). O estresse laboral se deve à existência de fatores próprios da organização e ao conteúdo do trabalho. Existem fatores tanto qualitativos (quantidade de trabalho, pressão de tempo, altas demandas de atenção) como fatores qualitativos (trabalho com pouca criatividade e escassa interação social). O

8 estresse laboral aumenta a vulnerabilidade ao uso de drogas que podem provocar risco aos trabalhadores e potencializar doenças (CARRILLO & MAURO, 2004). Segundo a pesquisa realizada pelos autores, 89,2% dos trabalhadores pesquisados consideram que o trabalho gera estresse e 14,3 % fazem uso de alguma substância para aliviar o estresse. 3.3 Programas de prevenção ao uso de drogas em empresas Nos últimos anos as empresas têm se conscientizado da necessidade de investir em medidas que possam favorecer a diminuição do uso de drogas (legais e ilegais) pelos seus empregados. Diminuindo o impacto negativo causado pelo uso, consequentemente terão como benefício a melhora na produtividade, melhora do ambiente de trabalho, diminuição do risco de acidentes, de faltas, licenças médicas e atrasos (AMES & BENNETT, 2011; SILVA & YONAMINE, 2004; RONZANI et al, 2007). Dentre os artigos selecionados verifica-se que foram utilizadas diferentes abordagens de prevenção e as que se mostraram mais efetivas foram as que buscaram fortalecer os fatores de proteção e diminuir os fatores de risco ao uso de drogas. Programas bem desenvolvido para a prevenção primária do abuso de álcool no local de trabalho são mais a exceção do que a regra. Entretanto, relatos recentes sugerem que algumas abordagens promissoras estão sendo desenvolvidas e implementadas. As abordagens baseadas na promoção da saúde física, promoção da saúde social, intervenção breve, incluindo intervenções baseadas na Web (feedback), visam à mudança de comportamento individual, aliadas às intervenções ambientais, que buscam reduzir os fatores de risco, alterando o ambiente de trabalho, têm se mostrado mais efetivas. A combinação dessas abordagens em um mesmo programa favorece que seja mais completo e abrangente (AMES & BENNETT, 2011). A promoção da saúde pode ser feita através de campanhas de mudança de estilo de vida, incentivando o trabalhador a reduzir o estresse, melhorar a

9 nutrição e a pratica de exercícios físicos e reduzir comportamentos de risco como beber e fumar. Estudos apontam que neste tipo de abordagem, mesmo que não se trate explicitamente da questão do uso de substancias provoca uma mudança de atitude importante (AMES & BENNETT, 2011). Na promoção da saúde social, vários estudos demonstram que favorecer a formação da consciência da equipe aumentando os pontos fortes do grupo de trabalho e reduzindo os riscos, com atenção sobre o clima do local de trabalho como um fator de estímulo ao uso de bebida pelos empregados, auxilia a incorporação de mensagens sobre redução do uso de álcool, obviamente devendo ser oferecidas alternativas que não incentivem o vínculo social por meio do beber (AMES & BENNETT, 2011). Outra abordagem considerada promissora na prevenção ao uso de drogas em empresas é a intervenção breve (IB) que se caracteriza por ser uma estratégia de intervenção com tempo limitado, cujo foco é a mudança de comportamento do trabalhador. Estudos sugerem que a efetividade da IB e seu desempenho possam ser superiores aos de outras intervenções que demandam mais tempo. Alem disso, a IB é apontada como uma técnica eficiente levando em conta os resultados obtidos e o baixo custo de sua execução (RONZANI et al, 2007). As intervenções breves normalmente envolvem avaliação pessoal das taxas de consumo de um indivíduo e problemas relacionados, bem como o feedback sobre os riscos de saúde. Estas intervenções normalmente têm sido estudadas em ambientes médicos e, recentemente, têm sido aplicados em ambientes de trabalho (AMES & BENNETT, 2011). Ações de triagens associadas a ações de IB vêm sendo propostas e avaliadas em todo o mundo. A articulação de técnicas de triagem e intervenção breve (TIB) pode auxiliar na organização do sistema de referência para pessoas que já desenvolveram um transtorno por uso de substância. No ambiente de trabalho a TIB ainda foi pouco estudada, apesar da importância de tais praticas neste contexto (RONZANI et al, 2007). Nas intervenções baseadas na WEB, cinco estudos avaliaram a eficácia do uso da Internet na prevenção ao uso de substâncias para trabalhadores adultos. Essas intervenções têm a vantagem de permitir que os funcionários acessem em particular e a qualquer momento o material disponibilizado evitando assim a divulgação de um potencial problema de álcool. Os resultados

10 apresentaram variações, mas se mostraram promissores (AMES & BENNETT, 2011). Intervenções baseadas no ambiente apontam que uma cultura de trabalho e meio ambiente que podem variar de contexto, têm o potencial de colocar indivíduos em risco de beber problemático. Uma vez identificadas e compreendidas, as características do local de trabalho que estimulem ou permitam o desenvolvimento e manutenção de comportamentos de consumo indesejáveis podem ser alterados para reduzir as taxas de problema com a bebida (AMES & BENNETT, 2011). Um trabalho de intervenção desenvolvido em uma empresa onde o uso de drogas era tolerado enfatiza que deve haver modificações na cultura estabelecida (deixar de conceber o uso de drogas como algo natural no ambiente de trabalho). As intervenções devem ser dirigidas à organização como um todo, o que pode ocorrer por meio de um programa sistemático decorrente de uma política institucional, integrando intervenções de saúde e medidas administrativas, reconhecidas formalmente pela organização (ROBERTO et al, 2002). Outra abordagem utilizada na prevenção ao uso de drogas em empresas é a de testagem toxicológica. Pesquisas revelam que a aplicação de testes para detecção do uso de drogas por parte das empresas pode impedir ou inibir o uso de substâncias. O teste de drogas no local de trabalho tem sido considerado uma grande iniciativa para minimizar o problema associado ao uso de drogas. A decisão de implantar esse programa em empresas é baseada na saúde e segurança dos funcionários, na redução do absenteísmo e do turn over (rotatividade de funcionários) (SILVA & YONAMINE, 2004). Segundo Carpenter (2007), nos últimos anos as empresas começaram a questionar os méritos dos testes de drogas. Essa oposição surgiu porque o teste de drogas é uma grande indústria nos Estados Unidos, custando aos empregadores seis bilhões de dólares por ano. Ele ressalta que se o teste reduz o uso por efeito dissuasivo ou por meio do rastreio da empresa os custos podem valer a pena. Carpenter (2007) aponta também que, em sua pesquisa, os trabalhadores mais jovens e os mais qualificados são menos propensos a trabalhar em empresas onde os empregadores realizam testes de drogas.

11 Os riscos com uso dos testes de drogas é vir acompanhado de uma política punitiva e coercitiva, sem assistência aos funcionários que foram positivados nos exames. 4- Conclusão Por meio da revisão dos artigos selecionados foi possível verificar que não existe um modelo único de programa de prevenção que seja eficaz para todos os tipos de problemas relacionados ao uso indevido de substâncias no local de trabalho. É necessário conhecer a cultura da empresa, o grau de satisfação do trabalhador, o risco que uso de substâncias no trabalho pode acarretar e os recursos financeiros disponíveis pela empresa para investir no programa. De acordo com o que foi levantado nos estudos, um programa de prevenção abrangente deve oferecer informações adequadas sobre as possíveis consequências do uso de substâncias, possibilitar a participação ativa do trabalhador nas ações de promoção de saúde e mudança de estilo de vida, possibilitar ajuda profissional para casos de maior comprometimento com uso de substâncias, favorecer a melhoria do ambiente de trabalho e das relações interpessoais, garantir sigilo e respeito à privacidade do trabalhador e assumir compromisso de que não sofrerão sansões ou perdas quanto à possibilidade de ascensão na carreira dentro daquela empresa. 5- Referências Bibliográficas AMES, G. M.; Bennett, J. B. Prevention interventions of alcohol problems in the workplace. Alcohol Res Health, v. 34, n. 2, p. 175-87, 2011. BENNETT, J. B.; LEHMAN, W. E.; REYNOLDS, G. S. Team awareness for workplace substance abuse prevention: the empirical and conceptual development of a training program. Prev Sci, v. 1, n. 3, p. 157-72, 2000.

12 BRAVO ORTIZ, C. M.; MARZIALE, M. H. P. El consumo de alcohol en personal administrativo y de servicios de una universidad del Ecuador. Rev. Latino-Am. Enfermagem, vol.18, p.487-495, 2010. CARPENTER, C. S. Workplace drug testing and worker drug use. Health Serv. Res. v.42, p. 795-810, 2007. CARRILLO, P. L.; MAURO, M. Y. Uso e abuso de álcool e outras drogas: ações de promoção e prevenção no trabalho. R Enferm UERJ, v.11, p.25-33, 2003. CARRILLO, P. L.; MAURO, M. Y. O trabalho como fator de risco ou fator de proteção para o consumo de álcool e outras drogas. Texto & Contexto Enferm.,v,13, n.2, p.217-225,2004. FONSECA, F. F. Conhecimento e opinião dos trabalhadores sobre o uso e abuso de álcool. Esc. Ana Nery, vol.11, p.599-604, 2007. LARA, C.; VARGAS, G.; SALCEDO, A. Consumo de substancias psicoativas em profesionales de la salud (médicos y enfermeros) de lós IPS de primer nível de atención em conduta externa de Bogotá. Rev. Cienc. Salud, v. 10, p. 87-100, 2012. LARANJEIRA, R.; MADRUGA, C. S.; PINSKY, I.; CAETANO, R.; MITSUHIRO, S. S. II Levantamento nacional de álcool e drogas (LENAD) 2012. São Paulo: Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia para Políticas Publica de Álcool e Outras Drogas (INPAD), UNIFESP, 2014. LOPES, M. Uso de álcool, estresse no trabalho e fatores associados entre servidores técnicos-administrativos de uma universidade pública. Diss. Universidade de São Paulo, 2011. MARCHAND, A. Alcohol use and misuse: What are the contributions of occupation conditions and work organization? BCM Public Health V. 8:333, 2008. MARCHAND, A.; Parent-Lamarche, A.; Blanc, M..E. Work and High-Risk Alcohol Consumption in the Canadian Workforce. Int. J. Environ. Res. Public Health, v. 8, 2692-2705, 2011. MASSON, V. A.; MONTEIRO, M. I.; Estilo de vida, aspectos de saúde e trabalho de motoristas de caminhão. Rev. bras. Enferm., v. 63, p. 533-540, 2010. MERRICK, C. S.; VARTANIAN, J. V.; HORGAN, C. M.; ACCANN, M. S. Revisiting employee assistance programs and substance use problems in the

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