UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

Documentos relacionados
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

DAU_1079_PRG_ARQUITETURA_E_URBANISMO_NO_RIO_GRANDE_DO_SUL.pdf DAU_1093_PRG_ATELIE_4.pdf DAU_1104_PRG_ATUAcAO_PROFISSIONAL.pdf

QUADRO DE EQUIVALÊNCIAS ESTRUTURAS CURRICULARES 2001 E 2009 CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS IDEAL

CURSO: ARQUITETURA E URBANISMO FORMULÁRIO DE AVALIAÇÃO DO TCC

Currículos dos Cursos do CCH UFV HISTÓRIA. COORDENADORA DO CURSO DE HISTÓRIA France Maria G. Coelho

SOCIOLOGIA AULA 02 INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA PROFESSOR FELIPE

CURSO: PEDAGOGIA EMENTAS º PERÍODO

Paisagem patrimônio projeto arquitetônico

REGULAMENTO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO TFG

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO PUC RIO. Sup. Prof. Alder Catunda

Turismo Histórico-Cultural. diretrizes para o desenvolvimento Ministério do Turismo

REGULAMENTO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO TFG

SOCIOLOGIA 1ª SÉRIE 11-SOCIOLOGIA

Professora: Izabela Gonçalves. Centro Brasileiro de Acupuntura Clínica e Medicina Chinesa

APRENDER E ENSINAR EM ACAMPAMENTOS-MST- TOCANTINS: REFLEXÕES SOBRE SABERES CONSTRUÍDOS NA LUTA PELA TERRA.

PATRIMÔNIO CULTURAL LOCAL: MEMÓRIA E PRESERVAÇÃO REGIÃO LITORAL DO RIO GRANDE DO SUL - RS

15 Congresso de Iniciação Científica A PESQUISA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL: PERÍODO

Currículo do Curso de História

ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

APRESENTAÇÃO AOS ALUNOS TRABALHO DE CURSO DIURNO - 2º SEMESTRE/2015 ESCOLA DE ARQUITETURA DA UFMG

Disciplina: Estudos Socioeconômicos Código da Disciplina: verificar Professora: Dra. Volia Regina Costa Kato

BRASÍLIA O URBANISMO MODERNO. HISTÓRIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO III Prof. a Raquel Portes

Edifício Ambiental. Semestre. Estúdio Avançado ÊNFASES T.I.A A. Obra civil Patrimônio. Planejamento urbano e regional Livre AMB

A construção do conhecimento em Sociologia

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA INSTITUTO FEDERAL GOIANO - CAMPUS TRINDADE

P L AN I F I C AÇ Ã O AN U AL

AULA 9 Geocodificação de Endereços. 9.1 Como funciona a Geocodificação de Endereços

ANÁLISE DOS CURSOS PROMOVIDOS PELO PRONERA NA ZONA DA MATA PERNAMBUCANA

ETNOMATEMÁTICA NO GARIMPO: UMA PROPOSTA PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

METODOLOGIA DE ANÁLISE DE PROJETO

Urbanismo Culturalista

Objetivos/Competências

Cidade Linear. Arturo Soria y Mata

CURRÍCULO MÍNIMO 2013

NASCIMENTO, Érica Peçanha do. Vozes Marginais na Literatura. Rio de Janeiro: Aeroplano, Vozes Marginais?

Conteúdo Básico Comum (CBC) de ARTE do Ensino Médio Exames Supletivos/2017

CURRÍCULO MÍNIMO 2013 CURSO NORMAL - FORMAÇÃO DE PROFESSORES SOCIOLOGIA

Currículos dos Cursos UFV. HISTÓRIA Bacharelado e Licenciatura. COORDENADOR Fábio Adriano Hering

PROJETO DE EXTENSÃO: FORMAÇÃO CONTINUADA PARA PROFESSORES DE ESTUDANTES SURDOS

CURSO: PEDAGOGIA EMENTAS º PERÍODO DISCIPLINA: CONTEÚDO E METODOLOGIA DO ENSINO DA ARTE

Produção de conhecimento: uma característica das sociedades humanas

Critérios de Avaliação

HISTÓRIA Bacharelado. COORDENADORA Patrícia Souza de Faria

Unidade: Introdução à Sociologia

LISTA DE FIGURAS...ix LISTA DE TABELAS...xii LISTA DE ANEXOS... xiv INTRODUÇÃO DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO METODOLOGIA...

ESTATÍSTICA APLICADA A SAÚDE I. Profs: Karen/Marco (1C)/Eleonora (2C-R) ELETIVA. Laboratório de informática

Quais são os objetivos mais comuns da pesquisa social?

AGRADECIMENTOS. Ao Prof. Doutor Manuel João Silva pela disponibilidade que sempre demonstrou em me ajudar.

ANÁLISE ESPACIAL ATRAVÉS DA FOTOGRAFIA E UMA CRÍTICA SOBRE A CIDADE DE ÉVORA UM OLHAR INOCENTE

Ensino Técnico Integrado ao Médio

UFV Catálogo de Graduação HISTÓRIA Bacharelado e Licenciatura. COORDENADORA Patrícia Vargas Lopes de Araújo

CONCEITOS BASICOS MARIA DA CONCEIÇÃO MUNIZ RIBEIRO

A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA PAISAGEM NO ENSINO DA GEOGRAFIA

Título: Produção autônoma e história do espaço cotidiano: o caso da Vila das Antenas Proponente: Silke Kapp

PROJETO DE OFICINA PEDAGÓGICA

Psicologia. Introdução

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA BAHIA CAMPUS IRECÊ

REGULAMENTO TRABALHO DE CURSO

Ensino Técnico Integrado ao Médio

UNIVERSIDADE ALTO VALE DO RIO DO PEIXE UNIARP CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

Governo do Estado do Ceará Secretaria da Educação Básica CEJA Paulo Freire PROJETO PENAS ALTERNATIVAS

Lista das disciplinas com ementas: DISCIPLINAS OBRIGATÓRIAS:

ROTEIRO DE ATIVIDADES 1º bimestre da 3ª Série do Ensino Médio: 2º CICLO EIXO BIMESTRAL: POESIA E ROMANCE NO MODERNISMO / MANIFESTO

IDENTIDADES E SABERES DOCENTES NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE HISTÓRIA E NA CONSTRUÇÃO DO FATO HISTÓRICO

ESTATÍSTICA APLICADA A SAÚDE I. Profs: Karen/Marco (1C)/Eleonora (2C-R) ELETIVA: Laboratório de informática

CONCURSO INTERNO DE ESTUDOS PRELIMINARES Módulos para Comércio e Serviços das Entradas Sul e Norte do ICC

2 Trajetória da pesquisa

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO REITORIA. Avenida Rio Branco, 50 Santa Lúcia Vitória ES

avaliação do comportamento

C ENTRO U NIVERSITÁRIO C ATÓLICO S ALESIANO A UXILIUM MISSÃO SALESIANA DE MATO GROSSO MANTENEDORA

Conteúdo Básico Comum (CBC) de Artes do Ensino Fundamental do 6º ao 9º ano Exames Supletivos / 2013

Aula 2: Cultura e Sociedade: Objeto e método das Ciências Sociais.

CAPELA DO TAIM: UMA REPRESENTAÇÃO MATERIAL DA IDENTIDADE LOCAL (RIO GRANDE / RS)

TÍTULO: A PERMACULTURA APLICADA AO PLANEJAMENTO URBANO CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: ENGENHARIAS E ARQUITETURA SUBÁREA: ARQUITETURA E URBANISMO

Mestrado em Arquitetura e Urbanismo

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO SUDESTE DE MINAS GERAIS ASSESSORIA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS REITORIA

A ARQUITETURA MODERNA NO BRASIL E SEUS PRINCIPAIS REPRESENTANTES

XIII ENCONTRO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UNI7 ARQUITETURA E HISTÓRIA: O CENTRO DE CONVENÇÕES DO CEARÁ E SUA IMPORTÂNCIA PARA A CIDADE DE FORTALEZA

TÍTULO: POLÍTICA SOCIAL E ÉTICA NA FORMAÇÃO DOS DISCENTES DE DIREITO: UM IMPACTO NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA. Programa da Unidade Curricular HISTÓRIA DA ARQUITECTURA PORTUGUESA MODERNA CONTEMPORÂNEA. Ano Lectivo 2013/2014

Artefatos culturais e educação...

U N I V E R S I D A D E D E C A X I A S D O S U L P R Ó - R E I T O R I A D E E X T E N S Ã O C U R S O D E E X T E N S Ã O

Nesse sentido, as políticas públicas de lazer têm, além de muitas outras funções, a de ser um dos indicadores de qualidade de vida de um povo.

APRESENTAÇÃO. Jeanne Marie Ferreira Freitas 1 Rita de Cássia Lucena Velloso 2

Componentes físicos Componentes sociais

Introdução

TEORIAS DA CIDADE. Magda de Lima Lúcio * FREITAG, Bárbara. Teorias da cidade. Campinas (SP): Papirus, p.

A Mobilização Da Comunidade São Benedito Para Documentar A Sua História 1

O DESENHO UNIVERSAL E A ACESSIBILIDADE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO TRANSPORTE HIDROVIÁRIO DA AMAZÔNIA PARAENSE

SÍNTESE PROJETO PEDAGÓGICO

Breve História das Capitais Brasileiras

ENSINANDO UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA PARA ALUNOS SURDOS: SABERES E PRÁTICAS

ANÁLISE E VIVÊNCIA DA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA NA E.I. MARCELINO ALVES DE MATOS

RESOLUÇÃO Nº 009/2009-CTC

FACULDADE DE EDUCAÇÃO / UERJ COORDENAÇÕES E DEPARTAMENTOS

Orientações gerais a serem observadas na apresentação do Projeto e Trabalho de Conclusão de Curso TCC

UNIVERSIDADE ALTO VALE DO RIO DO PEIXE UNIARP CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

FAU MACKENZIE - Arquitetura no Brasil 2 Prof.ª Ana Gabriela Godinho 1º semestre de 2013, Turma E

Currículo do Curso de História

A cartografia na proposta curricular oficial do Estado do Rio de Janeiro

Transcrição:

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA NATÁLIA PERES KORNIJEZUK A FESTA DA IGREJINHA DA 308 SUL: vivências, conflitos, representações. BRASÍLIA 2010

Universidade de Brasília Instituto de Ciências Sociais Departamento de Sociologia Monografia de Graduação A FESTA DA IGREJINHA DA 308 SUL: vivências, conflitos, representações. Autor: Natália Peres Kornijezuk Orientadora: Profª. Mariza Veloso Motta Santos (SOL/UnB) Examinadora: Profª. Christiane Machado Coêlho (SOL/UnB) 2

Introdução Os estudos acadêmicos nas Ciências Sociais sobre os processos de urbanização que ocorrem em Brasília vêm se desenvolvendo ao longo de seus 50 anos de existência. Pouco a pouco, as áreas temáticas de estudo foram se diversificando e abrangendo o discurso inicial muito pautado pela questão arquitetônica. Brasília no contexto dos estudos sociológicos destaca-se por se tratar de uma cidade ímpar, pois constitui-se em uma das cidades laboratório do mundo no que se refere à experiência de planejamento urbano. O tema proposto não é um estudo sobre o processo de urbanização de Brasília propriamente dito (migração rural-urbana, adaptação e mudança social e cultural), por tal tema já ter sido tratado em outros textos acadêmicos, mas visa à apreensão da representação construída por determinadas pessoas a respeito de cidade e modo de vida urbano. Neste trabalho, me preocupo com a representação urbana enquanto relacionada com a definição socialmente construída do modo de vida urbano. Portanto, pretendo estudar as relações sociais constituídas nesse espaço. O lócus escolhido para a pesquisa foi a Unidade de Vizinhança 1 (UV) da superquadra 308 sul. Como ferramenta de campo, utilizei a Igreja de Nossa Senhora de Fátima e sua festa para poder visualizar como se dá a socialização nesse espaço idealizado por Lucio Costa 2. Propondo um debate sobre o modelo modernista da Unidade de Vizinhança frente as realidades urbanas contemporâneas. A principal dificuldade que se encontra na análise de Brasília está, justamente, nessa identificação da cidade com planejamento urbano ou com o projeto original e oficial. O presente trabalho parte da seguinte questão norteadora: quem é a comunidade que está por trás da Festa de Nossa Senhora de Fátima, e quais são suas representações sobre Unidade de Vizinhança Modelo. Estando consciente da abrangência dessa questão, delimito o objeto de estudo pelo acompanhamento da festa e as manifestações sociais em torno das quadras que constituem a Unidade de Vizinhança Modelo, dando destaque para a dinâmica social configurada pela realização da Trezena Cultural de Nossa Senhora de Fátima. A partir da análise do discurso, busco compreender as diversas falas sobre as superquadras e Brasília, construídas socialmente pelo morador da Unidade de Vizinhança, para tentar entender a identidade peculiar deste morador de Brasília. 1 A abreviatura UV será utilizada algumas vezes no texto para indicar a expressão Unidade de Vizinhança.9 2 O nome completo do urbanista seria Lucio Marçal Ferreira Ribeiro de Lima e Costa. A grafia correta seria "Lucio Costa", sem acento no "u". Contudo, em várias publicações oficiais, e também em enciclopédias, se encontra "Lúcio Costa". Segundo Haroldo de Queiroz, arquiteto, Presidente do IAB/DF. 6

Há na cidade idéias cristalizadas no senso comum de que o brasiliense é uma pessoa fria. Essa pesquisa procura entender a real face pública e urbana da cidade, através da sua orientação estética, das suas relações de sociabilidade, códigos de comportamento e sobreposições entre as propostas de Lucio Costa de que o homem pode ocupar o espaço de modo racionalista e cooperativo, conforme contidas no plano urbanístico do Plano Piloto, e outras ocupações espontâneas e menos entre racionais. Desenvolvo uma análise do discurso oficial sobre Brasília, considerando oficial o discurso expresso pelos arquitetos e urbanistas que planejaram a cidade, atenta as categorias contidas no plano urbanístico e as justificativas da construção da cidade. E o discurso nãooficial que abarca a fala dos moradores da quadra e a sua realidade urbana e seu cotidiano. Pode-se dizer que o campo já vem sendo vivenciado por mim há muito tempo, por fazer parte da festa, como moradora de Brasília, por tradição familiar. Mas a pesquisa para o trabalho de campo foi realizado durante o período de setembro de 2009 a maio de 2010, momento em que me dediquei a ir as festividades da Igreja Nossa Senhora de Fátima, a Igrejinha, passar algumas horas observando a quadra da 308 sul e a realizar entrevistas semiestruturadas com os moradores da quadra SQS 308, incluindo moradores de outras quadras da Unidade de Vizinhança Modelo, os responsáveis pela festa, alguns coordenadores de barracas da Trezena, e também algumas pessoas responsáveis pela mobilização contra a festa da igreja. Assim, a monografia está estruturada em quatro capítulos. O primeiro traz o marco histórico institucional. Neste capítulo apresento as condições de execução da pesquisa, as dificuldades encontradas e também algumas informações necessárias à contextualização do objeto de pesquisa em questão. Procuro também situar historicamente e conceituar algumas locais e conceitos utilizados por mim na definição do espaço. O segundo capítulo aborda as contribuições de diversos autores à compreensão do objeto de pesquisa, que engloba desde as questões mais gerais relacionadas à questão urbana, passando pelas especificidades de Brasília. As contribuições da chamada Escola de Chicago se deve ao fato seus autores terem observado, comentado, e criticado o cotidiano da cidade moderna. O modernismo foi a corrente do pensamento durante da criação de Brasília, e a condição moderna da sua arquitetura e engajamento político daqueles que a elaboraram e construíram o plano urbanístico da cidade O terceiro capítulo contempla uma etnografia do espaço da Igreja de Nossa Senhora de Fátima e sua festa, minha tentativa nesse capítulo é de apresentar as segmentações espaciais 7

como reflexo das relações sociais. Como os conflitos em torno da Igreja moldaram os grupos que construíram a festa. Por fim o quarto capítulo no qual trato dos conflitos, vivências e representações dos moradores da quadra durante a realização da festa e também no seu cotidiano. E os conflitos entre a instância pública e privada da cidade. Para um entendimento das representações sociais do que é ser um morador da quadra, que aborda as diferentes concepções relativas ao significado de ser um brasiliense, que reúne as múltiplas formas de relações de sociabilidade, códigos de comportamento, modos de vida e representações sociais. 8