PARASITOS DE Rhamdia spp. PROVENIENTES DO MERCADO PÚBLICO DE PELOTAS, RS RODRIGUES, Alice Pozza 1 ; DIAS, Joziani Scaglioni 1 ; MORAIS, Neila Cilene 1 ; BERNE, Maria Elisabeth 1. 1- Departamento de Microbiologia e Parasitologia- DEMP- UFPel Campus Universitário Caixa Postal 354 CEP 96010-900. alicepozza@ibestvip.com.br 1- INTRODUÇÃO O peixe é utilizado como uma importante fonte de alimento para o homem em diferentes regiões do mundo e a sua produção vem crescendo rapidamente nos últimos anos no Brasil. Dentre as espécies nativas de água doce do Rio Grande do Sul, Rhamdia spp. (Jundiá) tem despertado interesse para o cultivo (Santos, 2002). Apresenta um bom desempenho de crescimento e fecundidade em criações intensivas, adaptando-se facilmente ao manejo reprodutivo (Cardoso et al. 1999). Aliado a isso possui boa aceitação no mercado consumidor, boa produtividade em açudes e alta potencialidade de comercialização. Entretanto, vários problemas de ordem sanitária podem interferir no bom desenvolvimento e comercialização dos peixes, dentre os quais destacam-se as parasitoses (Pavanelli et al.1998). O conhecimento dos parasitos de peixes é fundamental sob aspecto de produção, pois através da ação espoliativa, tóxica ou mecânica, eles podem desencadear quadros patológicos que restringem o crescimento e até podem levar à morte dos hospedeiros. Aliado a isto, alguns destes ictioparasitos podem infectar o homem, como já foi reportado em vários países, inclusive no Brasil (Clemente et al.1996; Eiras, 1994) No Brasil, já foram registrados aproximadamente 310 espécies de helmintos em peixes de água doce, entre formas adultas e larvas (Moreira, 2002). Tendo em vista a importância de Rhamdia spp. na região, o presente estudo teve como objetivo verificar os parasitos de peixes comercializados em Pelotas, os parâmetros de intensidade média de infecção, abundância média e prevalência, bem como identificar parasitos com potencial zoonótico. 2- MATERIAL E MÉTODOS Foram examinados 36 espécimes de Rhamdia spp., adquiridos frescos em peixarias de Pelotas. Os peixes foram transportados em caixas térmicas contendo gelo, até o Laboratório de Parasitologia do DEMP-IB-UFPel. Dados de biometria como comprimento total (standard, da ponta do focinho até a última vértebra) e peso foram anotados. Posteriormente foi realizado o exame externo do peixe para coleta dos ectoparasitos. A etapa seguinte foi a execução da necropsia através da adaptação das técnicas de Pavanelli et al.(1998) e Eiras et al.(1998).
Os órgãos foram separados em placas de Petry e analisados ao estereomicroscópio, juntamente com seus respectivos conteúdos. Estes foram processados em tamises com malhas de 40µm através de jatos de água destilada. O material obtido foi invertido em placa de Petry com a finalidade de coletar o conteúdo restante e os endoparasitos. Os parasitos coletados foram contados e conservados em álcool 70 o GL, com exceção dos nematóides que foram conservados em álcool 70 o GL com 5 a 10% de glicerina. Os índices de intensidade média de infecção (IMI), abundância média (AX) e prevalência (P%) foram calculados segundo Bush et al. (1997). 2- RESULTADOS E DISCUSSÕES Dos 36 espécimes de Rhamdia spp. comercializados no município de Pelotas, 18 eram fêmeas e 18 machos, com peso médio de 709,68 gramas e comprimento médio de 38,625 cm. Destes, apenas três não estavam parasitados. Os tecidos mais parasitados foram musculatura, intestino, gônadas e brânquias com 217, 193, 156 e 155 parasitos, respectivamente. O maior número, 425, pertencem à Classe Trematoda, seguido da Classe Hirudinea, Filo Nematoda, Filo Acanthocephala e Classe Cestoda com 175, 102, 72 e 18 exemplares, respectivamente (Figura 1). Os índices avaliados estão representados na Tabela1. 4 0 0 3 7 2 3 5 0 3 0 0 2 5 0 2 0 0 1 5 0 1 0 0 1 7 3 8 5 6 9 T re m a t o d a H iru d in e a N e m a t o d a A c a n t h o c e p h a la C e s t o d a 5 0 0 1 0 FIGURA 1. Número total de parasitos por Classe ou Filo presentes em Rhamdia spp. comercializados em Pelotas, RS.
TABELA 1. Relação de índices parasitários em Rhamdia spp.comercializados em Pelotas, RS. IMi ax p(%) Nematoda 3,92 2,83 72,22 Trematoda 20,93 11,80 58,33 Acanthocephala 8,0 2,0 25,0 Cestoda 2,57 0,5 19,44 Hirudinea 10,29 4,86 47,22 IMI- Intensidade Média de Infecção; AX- Abundância Média; P(%) Prevalência O alto índice de infecção por parasitos da Classe Trematoda e Filo Acanthocephala deve estar relacionado com o fato do hospedeiro estudado co-habitar com uma ampla diversidade de hospedeiros intermediários potenciais desses parasitos. Segundo (Erasmus, 1972), estes parasitos apresentam ciclos que envolvem dois ou mais hospedeiros. Além disso, os espécimes examinados são provenientes de ambiente natural o que favorece a conclusão do ciclo de vida desses parasitos. A presença de espécimes da Classe Hirudinea deve ser levada em consideração, pois dependendo da intensidade de infecção podem causar patologias severas como edemas, ulcerações com resposta inflamatória local e, perdas de sangue ou hemorragias pronunciadas devido a provável presença de substâncias anticoagulantes na saliva desses parasitos (Volonterio et al.,2004). Segundo Eiras (1994), esses parasitos podem ser eficientes agentes de transmissão de outros patógenos importantes como vírus, bactérias ou protozoários, que se multiplicam com velocidade em seu tubo digestório. Esse autor afirma ainda que existe a possibilidade de hirudíneos serem responsáveis pela transmissão de hemoparasitos como hemogregarinas e piroplasmídeos. A presença de espécimes do Filo Nematoda deve ser levada em consideração pelo fato deste apresentar gêneros potencialmente causadores de zoonoses (Pereira Jr., 2002). Talvez este problema ainda não seja alvo de investigação médica mais intensa, pela falta de diagnóstico (Amato,1984). 4- CONCLUSÃO Os espécimes de Ramdia spp. comercializados em Pelotas, estão contaminados por parasitos das Classes Trematoda, Cestoda, Hirudinea e dos Filos Nematoda e Acanthocephala. Os resultados deste estudo apontam para a necessidade de investigações complementares sobre esses parasitos para definir ciclos de vida, patologia, estratégias de transmissão, entre outros aspectos especialmente em relação aos grupos onde essas informações sejam incipientes.
5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMATO, J.F.R.; BARROS, G.C.; Anisakíase Humana no Brasil, Problema inexistente ou não pesquisado. Rev. Bras. Med. Vet. 6 (1):12, 1984. BUSH, A. O., K. D. LAFFERTY, J. M. LOTZ, e A. W. SHOTAK. Parasitoloy meets ecology on terms: Margolis et al. Revisited. Journal of Parasitology, 1997 v.83, n.4, p.575-583, CARDOSO, A. P.; MEDEIROS, T.S.; RADUNZ NETO, J. Criação de larvas de jundiá (Rhamdia quelen) alimentadas com rações contendo fígado bovino ou de aves. In: XXXVIII Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Santa Maria, 1999. CLEMENTE, S. C.; MATOS, E.; TORTELLY, R.; LIMA, F. C. Histopatologia do parasitismo por metacercárias de Clinostomum sp em Tamoata hoplosternum littorale (Hancock, 1828). Parasitol. Día v.22 n. 1-2 Santiago, 1998. EIRAS, J. C.. Elementos de Ictioparasitologia. Ed. Fundação Eng. António de Almeida, Porto, Portugal. 1994, 339 p. ERASMUS, D. A. The biology of Trematodes. Edward, Arnold, London. 1972 MOREIRA, N.I.B. Helmintos parasitos de peixes de lagos do médio Rio Doce, Minas Gerais, Brasil, Belo Horizonte-MG. Tese de doutorado (Doutorado em Parasitologia) Curso de Pós Graduação em Parasitologia. Universidade Federal de Minas Gerais, 2002. PAVANELLI,G.C.; EIRAS, J.C.;TAKEMOTO,R.M. Doenças de Peixes. EDUEM- Editora da Universidade Estadual de Maringá, 1998, 264p. PEREIRA JR., J.; AlLMEIDA, F.M.; MORAIS, N.C.M.; VIANNA,R.T. Hysterothylacium sp. em Micropogonias furnieri (Desmarest,1823) no litoral do Rio Grande do Sul. In: VIIEncontro Brasileiro de Patologistas de Organismos Aquáticos e III Encontro Latino Americano de Patologistas de Organismos Aquáticos, Foz do Iguaçu, PR. Resumos, PR, VII ENBRAPOA e III ELAPOA, 2002, 239p. p.159. SANTOS, G.O. Fecundidade do Jundiá, Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard, 1824) parasitados por Argulus sp. em tanques de terra (Teleostei: Pimelodidae). Comum. Mus. Ciênc. Tecnol. PUCRS, Sér. Zool.,Porto Alegre, julho, 2002, V.15, n. 1, p.55-60. VOLONTERIO, O.; LÓPEZ-DE-LEÓN, R. Infestation dynamics and histopatology of two species of freshwather leeches (Hirudinea: Pscicolidae) on teleost fish from Uruguay. Comparative Parasitology, 2004, 71 (1): 21-28.