EDUCAÇÃO EM SAÚDE, INTERDISCIPLINARIDADE E SAÚDE DO IDOSO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA DA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL NA ATENÇÃO BÁSICA EM MANAUS.

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Transcrição:

EDUCAÇÃO EM SAÚDE, INTERDISCIPLINARIDADE E SAÚDE DO IDOSO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA DA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL NA ATENÇÃO BÁSICA EM MANAUS. Danielle Bezerra Maia 1 Nathalie Santana Melo 2 Ellen Thais Graiss de Souza 3 Lilian Augusta Rosa Machado Maciel 4 Yoshiko Sassaki 5 1 Mestranda do Curso de Pós-graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas. 2 Mestre em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas. 3 Mestranda do Curso de Pós-graduação em Saúde Pública pela Universidade Estadual da Paraíba em Campina Grande. 4 Mestranda do Curso de Pós-graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas. 5 Professora Doutora da Universidade Federal do Amazonas e orientadora no Curso de Pós-graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia.

EDUCAÇÃO EM SAÚDE, INTERDISCIPLINARIDADE E SAÚDE DO IDOSO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA DA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL NA ATENÇÃO BÁSICA EM MANAUS. AN EXPERIENCE REPORT OF HEALTH EDUCATION, MULTIPROFESSIONAL RESIDENCE IN PRIMARY CARE - MANAUS. Titulo Reduzido: EDUCAÇÃO EM SAÚDE, INTERDISCIPLINARIDADE E SAÚDE DO IDOSO. RESUMO - O objetivo deste trabalho é analisar a inserção da Residência Multiprofissional em Saúde na atenção básica visando à construção de ações interdisciplinares na busca de novas formas de assistência em saúde no nível primário. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de caráter descritivo sobre a experiência e as atividades desenvolvidas por residentes multiprofissionais da Universidade Federal do Amazonas nos meses de junho a dezembro de 2010. A equipe era formada por seis profissionais das áreas de enfermagem, educação física, fisioterapia, farmácia e serviço social. Foram realizadas atividades educativas e práticas em grupo, debate, palestras com recursos audiovisuais, voltadas a um grupo de idosas com monitoramento de glicemia e de hipertensão, além da atenção farmacêutica, atividade física, de lazer e acompanhamento fisioterapêutico. A inserção da equipe de residentes multiprofissionais em uma Unidade Básica de Saúde indicou a possibilidade e a necessidade da construção de ações interdisciplinares na busca de novas formas de assistência em saúde no nível primário. Essas ações mostraram-se coerentes com os princípios do Sistema Único de Saúde, através de práticas que estimularam a interação entre várias disciplinas, resultando na troca de saberes, criando a possibilidade de um trabalho interdisciplinar, humanizado e com integralidade. Sendo assim, a interdisciplinaridade estimulada no decorrer da atuação dos residentes mostrou-se de grande contribuição para alcançar o objetivo principal das práticas de saúde, que é a saúde integral do indivíduo. Palavras-chave: Educação em Saúde; Relações Interprofissionais; Atenção Primária à Saúde. INTRODUÇÃO Nas sociedades contemporâneas velhice é intimamente relacionada ao aparecimento de enfermidades e debilidades. De fato, a incidência de doenças é bastante expressiva entre os idosos, por isso é fundamental compreender que respostas o Estado vem dando a essa problemática em Manaus, uma vez que em tempos neoliberais há um desmonte das políticas sociais, principalmente as de saúde. Desse modo, é importante vislumbrar se os serviços de saúde oferecidos aos usuários envelhecidos são eficazes para o enfrentamento dessas doenças no nível da atenção básica. O envelhecimento populacional tornou-se uma questão social sujeito de intervenções do Estado e, apesar dos avanços das políticas públicas de atenção ao segmento idoso, há ainda muitos desafios para sua viabilização. Da parte do Estado, decorre do número reduzido de Instituições com estrutura adequada para responder as demandas de idosos, principalmente

pela falta de recursos humanos qualificados, habilitados e comprometidos com as expressões da questão social que envolve a velhice e o envelhecimento no país. Como o Brasil está passando por um momento de transição demográfica, onde está configurado o aumento da população idosa, essa mudança no perfil etário indica grandes despesas no setor de saúde, uma vez que as doenças que acometem os idosos são crônicas e consequentemente duradouras, exigindo a busca constante pelo Sistema Único de Saúde. Importa saber se os serviços respondem satisfatoriamente às demandas trazidas pelos idosos e quais são essas demandas. A proposta do presente trabalho é fomentar a reflexão dos limites e possibilidades na construção de ações integrais na atenção à saúde do idoso no nível de atenção básica a partir da experiência vivida por um grupo de residentes multiprofissionais em saúde na cidade de Manaus. O recorte que fizemos foi de um grupo de idosas usuárias de uma Unidade Básica de Saúde UBS. Partindo do pressuposto que esse estrato populacional se torna prioridade no Sistema Único de Saúde SUS, a partir de 2006, com Pacto pela Vida do Ministério da Saúde, compreendendo que a promoção, prevenção e tratamento deste grupo devem ser feito por meio de ações estratégicas com ênfase na atenção primaria de saúde. Cabe mencionar que o trabalho em equipe interdisciplinar, torna-se estratégia central na busca da integralidade da atenção aos indivíduos. Pois, promove a compreensão junto à equipe da importância de um planejamento e execução de ações de forma interdisciplinar. Segundo a Política de Atenção Básica de 2011, este nível se caracteriza por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que busca a atenção integral, sempre visando à promoção em saúde, à prevenção e tratamento de doenças e, à redução de danos ou de sofrimentos, através de ações integrais de interdisciplinares. Imerso nesta temática está o Sistema Único de Saúde, que nos últimos vinte anos sofreu avanços quanto à universalização do acesso e à construção de uma rede assistencial.

Contudo, ainda permanecem desafios no que se refere às mudanças efetivas na forma de realizar a atenção em saúde. Assim sendo, a qualificação dos trabalhadores do SUS implica em um processo amplo de mudanças no trabalho em saúde, o que exige estratégias em direções distintas, primeiramente mudanças no campo da assistência da gestão dos serviços bem como no plano da formação em saúde. Para o alcance desses objetivos destaca-se a importância da ampliação das políticas de Recursos Humanos em Saúde, dentre as quais se situa a Residência Multiprofissional em Saúde, como uma modalidade de formação que compartilha possibilidades de contribuições para a consolidação do SUS (CLOSS, 2010). A Residência Multiprofissional em Saúde - RMS, foi instituída no Brasil por meio da Portaria Interministerial nº 1.077, de 12 de novembro de 2009, sendo uma modalidade em ensino de pós-graduação lato sensu, que propõe a integração entre diferentes profissões, proporcionando um espaço para atuação interdisciplinar nos diversos cenários da saúde. Segundo Vargas e Bellini (2010) as políticas de educação para o SUS propõe a educação permanente, na expectativa da busca da transformação das práticas das equipes de saúde. A Residência Multiprofissional propõe a integração entre trabalho e formação ao situar as necessidades de saúde da população usuária como eixo norteador de suas ações, tomando o cotidiano dos serviços do SUS como lócus de ensino e aprendizagem. Além de procurar superar a fragmentação e a especialização em áreas, congregando diferentes profissões numa formação pautada pelo trabalho em equipes multiprofissionais. A conformação da RMS como política publica é recente, o que aponta para a necessidade de serem ampliados os debates e as pesquisas sobre os seus impactos, tendo em vista sua ampliação e consolidação nos serviços públicos. JUSTIFICATIVA

Pesquisas apontam que a população mundial com mais de 60 anos aumentou nas últimas três décadas como nunca antes registrado na história por consequência de avanços tecnológicos, científicos e a visível diminuição da taxa de natalidade. A conjuntura em que a maioria dos idosos brasileiros encontra-se, com destaque para os da camada popular baixa, não é muito animadora. O aumento desse estrato atinge todas as classes sociais. O que antes se restringia a esfera privada e familiar, hoje com o aumento do envelhecimento, tornou-se uma questão de política pública. Excluídos do mercado de trabalho por sua idade, expropriados de sua vitalidade, passam a viver a mercê de políticas públicas assim como da seguridade social que mais parece dissolver-se no mar de desigualdades que a lógica capitalista impõe à esfera do trabalho e da sociedade. O custo com a saúde do idoso é muito elevado. De acordo com Veras (2003) um fator é preponderante: eles consomem mais os serviços de saúde que as outras faixas etárias. Pois, a presença de doenças crônico-degenerativas é bastante expressiva para essa população, implicando assim, internações continuas, recuperação mais lenta e permanência maior no leito sobrecarregando o nível terciário do Sistema Único de Saúde (SUS) e uso de tecnologia de alta complexidade. Segundo a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (2006), cabe à atenção básica, por meio da Estratégia Saúde da Família, atuar como porta de entrada ao Sistema Único de Saúde para os idosos. Será que de fato a atenção básica tem sido o primeiro contato dos idosos com o SUS? Diante de tantos avanços e recuos das políticas de saúde e das condições sociais e econômicas em que muitos idosos se encontram, surge o questionamento: saúde e velhice é uma equação possível? Os serviços oferecidos aos idosos no nível primário de saúde estão de fato desenvolvendo ações que abrangem a promoção, a prevenção e recuperação em saúde?

Este estudo é relevante na medida em que propõe o debate do tema, ao relacionar as categorias educação em saúde, saúde do idoso e residência multiprofissional. Para tanto, primeiramente voltamos nossa análise para o que está preconizado nas políticas públicas de saúde. Em seguida será descrito e analisado as ações desenvolvidas pela equipe de residentes no período em que estiveram inseridos na atenção básica. Este trabalho é fruto das experiências vivenciadas pela primeira turma de residentes do Amazonas no ano de 2010. OBJETIVO Analisar a inserção da Residência Multiprofissional em Saúde na atenção básica visando à construção de ações interdisciplinares de educação em saúde na busca de novas formas de assistência em saúde ao idoso no nível primário. REFERENCIAL TEÓRICO O Ministério da Saúde (2006) afirma que a atenção primária desenvolvida nas Unidades Básicas de Saúde deveria resolver 85% dos agravos. Se a atenção básica possuísse uma real cobertura à atenção a saúde preventiva evitaria a concentração nos níveis mais onerosos do sistema, onde exames ambulatoriais e cirurgias de alto custo são realizados. Schraiber e Mendes-Gonçalves (2000) afirmam que a variedade de demandas, definidas como necessidades básicas, requer um conjunto de ações que na qualidade de atuação médica e sanitária envolve um complexo trabalho: requisitos assistenciais de alta capacidade resolutiva e sensibilidade diagnóstica para atuar corretamente nas demandas reprimidas e propor encaminhamentos adequados no interior do sistema e intersetoriais (Assistência social, educação, esporte, lazer e habitação). Assim, em termos de sua competência resolutiva esse serviço define-se como captador de demandas de menor custo, mas com poder de desonerar os demais níveis do sistema.

Todavia, o que se vê é que essa sensibilidade diagnóstica gira em torno apenas da visão biomédica onde o foco é a relação saúde/doença desconsiderando os fatores biopsicossociais da totalidade humana, colocando o médico como personagem principal na resolução dos problemas de saúde (VICINI, 2002). Se o caráter preventivo da atenção básica fosse efetivado, profissionais como psicólogos, nutricionistas, farmacêuticos, e educador físico também fariam parte da equipe básica de saúde na atenção básica. Prova disso são as demandas trazidas pelas idosas, que foram pesquisadas, como hipertensão, diabetes, colesterol, reumatismo, problemas articulares e vasculares (demandas para médicos e enfermeiros); baixo peso e sobrepeso (demanda para nutricionistas); depressão, inúmeros são os fatores que desencadeiam a depressão na velhice, tais como as perdas que podem ser físicas, de status e identidade bem como problemas sociais como conflitos familiares, muitos idosos revelaram ter problemas com filhos e netos viciados em álcool ou drogas (demandas para assistentes sociais e psicólogos). Foi verificado na presente pesquisa que nenhuma UBS em Manaus possuía estrutura física e recurso humano para oferecer atividade física entendida como um importante meio de prevenção e promoção a saúde dos idosos (demanda de educador físico). Como os idosos são os grandes usuários dos serviços de saúde, é imprescindível que os profissionais compreendam que a velhice é um fenômeno complexo, constituído de inúmeras dimensões. De acordo com Beauvoir (1990), velhice é um fenômeno biossociocultural, isto é, como uma totalidade que não pode ser entendida por uma simples descrição de seus aspectos biológicos. Percepção essa, corriqueira na área da saúde. Por este fenômeno ultrapassar a esfera estritamente biológica é necessário compreender sua totalidade levando em conta suas outras dimensões, tanto sociais, como econômicas, políticas e culturais. Não há como negar que houve um avanço na área da saúde, entretanto, muito ainda precisa ser feito. As políticas estão formuladas, mas não são colocadas em prática. Nesse

sentido, se saúde equivale à junção de determinantes fisicos, sociais e econômicos, e ela determina a organização social e econômica de um país, a situação do Brasil é lastimável. É necessário, portanto, a criação de alternativas viáveis para a reversão do atual quadro das políticas de saúde no país, de modo que supere seu histórico padrão excludente e ineficaz, principalmente no que concerne a saúde do idoso. A única política pública que é universal e preconiza como direito de todo cidadão e dever do Estado é a saúde. Entretanto, em decorrência das necessidades do capitalismo, as políticas sociais, percebidas como instrumento de concretização dos direitos de cidadania, são responsabilizadas pelo esvaziamento dos cofres públicos. Como o ideário neoliberal visa à redução dos gastos sociais do Estado, a crise fiscal é uma forma de justificar a impossibilidade de financiar as políticas sociais universais. Esse processo de retirada do Estado de sua responsabilidade, com o argumento de estar inserido numa profunda crise, acaba por aprofundar as desigualdades sociais da sociedade capitalista brasileira. A Política Nacional de Atenção Básica preconiza a promoção e a proteção a saúde como sendo norteadoras para as ações no nível primário por meio do desenvolvimento de ações interdisciplinares em uma equipe multiprofissional no oferecimento de um diagnóstico multidimensional no atendimento à população resultando em uma visão integral do usuário e do sistema. Essa organização pressupõe o deslocamento do processo de trabalho centrado em procedimentos profissionais, para um processo centrado no usuário, onde o cuidado do usuário é o imperativo ético-político que organiza a intervenção técnico-científica; e dessa forma estimular a participação dos usuários ampliando sua autonomia no cuidado à saúde, além de organizar e orientar os serviços a partir de lógicas mais centradas no usuário. Para uma melhor compreensão sobre o trabalho interdisciplinar que deve ser desenvolvido nas unidades básicas de saúde nos embasamos em Saupe (2005) que aponta a

característica da interdisciplinaridade como uma intensa troca entre especialistas que buscam a integração das disciplinas em um mesmo projeto, veiculando a ideia de reciprocidade, de mutualidade, reforçando uma produção de sentidos co-compartilhada. A interação produz terreno fértil ao diálogo entre os envolvidos. Ainda nas linhas do autor, a interdisciplinaridade depende, assim, de uma mudança de atitude em relação ao conhecimento e a troca de uma concepção fragmentada por uma concepção de unidade nas pessoas e em seus fazeres. Essas trocas entre diferentes saberes geram uma nova configuração interna, que, se ouvida e entendida, cria a possibilidade de atitudes interdisciplinares. Isso quer dizer que a atitude interdisciplinar não se dá porque duas ou mais profissões vão habitar o mesmo espaço, mas porque se produz um ambiente no qual os profissionais interagem, se comunicam, trocam e unem informações e conhecimentos. Portanto, para haver interdisciplinaridade, são necessárias duas ou mais pessoas com seus diferentes saberes querendo interagir e comunicar seu conhecimento. A pessoa que busca trabalhar na área da saúde deve ter em mente o perfil que esta atividade exige, que envolve trocas, sendo este um fator presente na quase totalidade de funções de outros setores: público ou privado. (SAUPE, 2005). Dentro desse cenário a Residência Multiprofissional busca promover a transformação dos serviços de saúde onde estiver inserida instigando a crítica sobre a prática interdisciplinar e as possibilidades e limites de transformação da realidade. (BRASIL 2009) A intrínseca característica da interdisciplinaridade confere caráter inovador aos programas de Residência Multiprofissional em Saúde, demonstrado principalmente por meio da inclusão das catorze categorias profissionais da saúde (Resolução CNS nº 287/ 1998). Este modo de operar a formação 'inter-categorias' visa à formação coletiva inserida no mesmo 'campo' de trabalho sem deixar de priorizar e respeitar os 'núcleos' específicos de saberes de cada profissão (BRASIL, 2009).

Ao passar por linhas gerais dos conceitos de Atenção básica, Interdisciplinaridade e Residência Multiprofissional é possível perceber que o desenvolvimento deste tipo de assistência integrada, pode esbarrar em vários percalços do sistema de saúde e das realidades locais das UBS e as ESF, como também na visão biomédica onde o foco é a relação saúdedoença, desconsiderando os fatores biopsicossociais da totalidade humana, colocando o médico como personagem central na resolução dos problemas de saúde (SAUPE, 2005). Tais fatores podem gerar dificuldades na efetivação de um trabalho interdisciplinar. Contudo, como será exposto a seguir, desenvolver um trabalho em equipe interdisciplinar se torna a melhor estratégia na atenção primária para efetivação da Política de Atenção Básica no Brasil. MATERIAIS E MÉTODOS Trata-se de uma pesquisa qualitativa de caráter descritivo que objetiva relatar as atividades desenvolvidas por um grupo de residentes multiprofissionais da Universidade Federal do Amazonas, em uma Unidade Básica de Saúde de uma zona periférica da cidade Manaus-AM, no período de junho a dezembro de 2010, somando 72 dias, 432 horas entre planejamento e execução das atividades, envolvia as profissões de: Enfermagem, Educação Física, Fisioterapia, Farmácia e Serviço Social, Após o reconhecimento da estrutura, rotina e serviços oferecidos na Unidade e a compreensão epidemiologia e socioeconômica dos usuários da UBS, a equipe multiprofissional de residentes planejou suas ações objetivando que fossem oferecidas atividades de forma Interdisciplinar e que envolvessem a Educação em Saúde voltada ao coletivo. Partindo desse pressuposto foram escolhidos programas da UBS que possuíssem um público de frequência regular a unidade. Foram implantadas, dentre outras atividades, ações educativas interdisciplinares com um grupo de Idosas, devido a já unidade possuir um grupo

de idosas que frequentavam o espaço do centro de convivência do idoso que era um anexado a UBS. A estratégia utilizada pela equipe foi a prevenção e promoção à saúde por meio de atividades práticas e no repasse de informações que envolvessem de forma interdisciplinar todos os âmbitos da saúde. A metodologia foi embasada no tripé Informação/Participação/Interação. A Informação é o veículo pelo qual se pode conhecer e resolver questões que envolvam a saúde do individuo, assim como permite ao paciente e seus familiares fazerem parte no processo saúde-doença. Além de ser o meio para o empoderamento da população usuária dos serviços de saúde. Em todas as ações voltadas para esse âmbito, as informações eram transmitidas por meio de atividades coletivas ou individuais que abordassem aspectos biopsicossociais sempre utilizando recursos audiovisuais, como vídeos e slides, matérias didáticos impressos do Mistério da Saúde ou confeccionados pelos residentes de forma personalizada, levando sempre em consideração o nível de escolaridade das participantes. A Participação é a ação e o feito de participar, ou seja, o indivíduo toma parte no processo de Educação em Saúde e na construção de seu saber e autocuidado. Haja vista a valorização do usuário nas atividades desenvolvidas por meio dos espaços abertos coletivos e individuais na comunicação e esclarecimento de dúvidas. Foi constatado ao termino das atividades a melhora em qualidade de vida e controle dos agravos. Além disso, havia a participação em atividades práticas como as atividades físicas, de lazer e relaxamento. A Interação é o processo de integração do conhecimento adquirido e sua aplicação nos cuidados à saúde. O objetivo era fazer com que as idosas além de aplicar na prática as informações recebidas levassem adiante o conhecimento adquirido, as pessoas que estão ao seu redor, tornando-se um agente multiplicador de informações. Esse ponto foi muito

ressaltado em todas as ações do residente ao mostrar a importância da informação e de seu uso para o ganho na qualidade de vida e prevenção em saúde. A pesquisa buscou obter dados descritivos, obtidos no contato direto com a realidade estudada enfatizando mais o processo que o produto e preocupando-se em retratar a perspectiva de todos os participantes envolvidos. Por ser qualitativa a pesquisa trabalhou mais o universo de significados, valores e atitudes. (MINAYO, 1998). Além dos dados qualitativos ao término das ações, pode-se obter dados quantitativos por meio das anotações nos registros de campo dos residentes e das fichas cadastrais. RESULTADOS Tendo em vista que em Manaus os serviços nas Unidades Básicas de Saúde restringem-se a atendimentos rotineiros que fragmentam o atendimento ao usuário através de encaminhamentos entre os profissionais sem haver a troca de informação dentro da equipe, criando falsamente a impressão da existência de um trabalho interdisciplinar (SASSAKI et al, 2009), a experiência de inserção dos residentes multiprofissionais na atenção básica e o desenvolvimento de ações interdisciplinares educativas voltadas para promoção e prevenção em saúde se mostrou adequado com o que preconiza a política de atenção básica no Brasil no que concerne ao trabalho interdisciplinar como estratégia na promoção, prevenção e tratamento em saúde. A seguir pontuaremos um breve perfil das idosas e em seguida os ganhos que o grupo obteve após as intervenções interdisciplinares. A faixa etária que se destacou foi de 60-65 anos (39%), e de 70-75 anos (25%). A maior parte é casada com 40%. Caracterizam-se por possuírem uma baixa escolaridade sendo 40% analfabeto funcional, e 23% analfabeto, e 22% possuem o ensino primário completo. Quanto à renda 62,5% é aposentada; 7,5% pensionista; 25% não possuía renda e 5% diz

trabalhar. A maioria das idosas 52,5% diz não depender financeiramente de nenhum familiar. 40% dependem dos filhos para sua manutenção de vida. Quando se pergunta como é o relacionamento com filhos e netos 87,5% dizem ter um bom relacionamento. Quanto aos remédios 52,5% afirmaram buscar na unidade de saúde, e 27,5% busca parte na unidade e parte compra em drogarias, elas justificam esse fato devido nem sempre encontrarem os remédios na unidade ou não ser fornecido pela rede do SUS. E uma pequena parcela, 7,5% afirma não tomar remédios. Cinco são os fatores recomendados para que o idoso tenha saúde: independência, casa, ocupação, afeição e comunicação. Isso é confirmado na pesquisa, pois quando se questionava se sentiam velhas a maioria 47,5% afirmou que não, associando sempre o fato de ainda poderem fazer coisas em casa, como arrumar e limpar, vir à feira, poder caminhar sozinha, lavar louça etc. Cerca 17,5% associou se sentir velho por não poder trabalhar devido às limitações físicas. De fato, a pesquisa apontou que 88% das idosas manifestavam mais de uma doença crônica. Essas doenças são reflexos das precárias condições de vida confirmada por meio do perfil socioeconômico das idosas entrevistadas que demonstrou o baixo nível de renda devido à baixa escolaridade e a inserção no mercado informal, o que dificultou o acesso à alimentação saudável e ao saneamento básico. Quanto à avaliação feita sobre a melhora de saúde das idosas após usar os serviços oferecidos pela unidade 98% das idosas disseram ter sentido melhora em sua condição de saúde e na qualidade de vida, afirmando terem uma maior disposição, diminuição das dores articulares, e um convívio social muito agradável. No quadro a baixo é possível visualizar os ganhos que o grupo de idosas obteve após as intervenções interdisciplinares.

Antes das intervenções Depois das intervenções interdisciplinares. 88% possuíam algum tipo de agravo 98% obtiveram melhora no aspecto geral de saúde 43% possuíam hipertensão e diabetes 46% obtiveram controle da glicemia e pressão arterial 30% possuíam sobre peso 50% obtiveram redução do peso da massa corporal 90% possuíam pouca flexibilidade equilíbrio, coordenação e força. Pouco conhecimento sobre rede sócio assistencial voltado ao idoso em Manaus Quadro comparativo do antes e depois das intervenções interdisciplinares. Fonte: Residência Multiprofissional em Saúde, 2010. 80% obtiveram maior flexibilidade, equilíbrio, coordenação e força, além da diminuição da fadiga. Maior conhecimento e acesso a rede sócio assistencial voltada aos idosos em Manaus. DISCUSSÃO De acordo com Veras (2003), envelhecer com alguma debilidade é quase uma regra, uma vez que a maioria das doenças crônicas que acometem os idosos tem na própria idade seu principal fator de risco. Schraiber e Mendes (2000) apontam que os principais fatores de risco envolvidos no aparecimento de doenças crônicas estão relacionados ao estilo de vida das populações urbanas. A pesquisa verificou que cerca de 88% das participantes possuíam algum tipo de agravo com destaque para a hipertensão arterial com 43%. O acompanhamento e orientação da enfermeira e da farmacêutica associados à atividade física e ao processo de educação em saúde que envolvia todos os profissionais, resultou na redução do peso da massa corporal em mais de 50% das participantes, assim como a redução e controle da glicemia e pressão arterial em 46%. Melhoras nas capacidades físicas básicas mais de 80% passaram a ter maior flexibilidade, equilíbrio, coordenação e força, além da diminuição da fadiga. Associado a melhora com cuidado em saúde foi viabilizado o conhecimento e o acesso à rede sócioassistencial voltado para o idoso em Manaus. As falas das idosas demonstram a importância de um espaço como este: Ajuda e como ajuda. Eu me sinto bem, os exercícios me fizeram melhorar de saúde (79 anos). Ter as nossas amigas me ajudou muito a melhorar. Ter aquela convivência, ter aquela brincadeira. A gente se sente nova de novo, como uma criança (68 anos).

Melhorou minha saúde, aqui a gente vem, faz ginástica, ai a gente melhora muito, quando eu estou fazendo eu não sinto nada, se eu parar uma semana, ai ataca os ossos, quando eu venho para cá passa (69 anos). Acredita-se que o espaço para integração social e atividade física ou de lazer, possua enorme influência sobre a qualidade de vida, pois contribuem para o atendimento das necessidades primárias do ser humano como afeto, sentir parte de uma sociedade, segurança de não estar só, assim como o apoio prático, o que para uma pessoa idosa é de suma importância (DOLL, 1999). Esta experiência permitiu compreender o processo de envelhecimento em sua totalidade e complexidade. Geralmente quando se fala de envelhecimento populacional recorre-se a dados e estatísticas. Tratá-los como mera estatística é homogeneizá-los, uma vez que não se leva em conta as diferentes dimensões envolvidas nesse processo, que são: diferenças de classe, gênero, cor, educação, renda, e outros. É necessário entender essas dimensões do processo de envelhecimento para saber quais são suas reais demandas e necessidades na busca de um envelhecimento digno e saudável. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em termos de saúde o Brasil parece ter formulado uma política democrática e cidadã no que diz respeito ao público idoso. Entretanto, existe um fosso entre legislação e realidade, como foi possível observar a partir da análise dos dados coletados. A formação interdisciplinar proposta pela Residência Multiprofissional mostrou-se de suma importância para a atuação profissional dos residentes. Pois, através desta competência os profissionais estarão interligados para que o objetivo principal das práticas de saúde seja alcançado, ou seja, a saúde integral do indivíduo. Além disso, esta experiência trouxe aos residentes a possibilidade da troca entre os saberes através de atividades planejadas e

executadas em equipe, promovendo a interdisciplinaridade, a integralidade e humanização na assistência à saúde do idoso proporcionando a melhora nas condições de vida e saúde. Em suma, através dessa experiência demonstrou-se que os benefícios e a qualidade nos serviços na atenção básica voltadas aos idosos podem ser efetivados por meio de iniciativas como as descritas, concretizando assim a política de atenção básica e a de saúde do idoso, propondo mudanças nos modelos assistencialistas e reconstruindo as relações de poder dentro da equipe de saúde onde todos sejam atores responsáveis pelo desenvolvimento na construção de uma assistência interdisciplinar voltada para a prevenção e educação em saúde da população idosa. REFERÊNCIAS BRASIL. Portaria n. 2.488, de outubro de 2011. Dispõe sobre a Política de Atenção Básica. Brasília: Diário Oficial da União, Poder Executivo; 2011. BRASIL. Portaria Interministerial n. 1.077, de 12 de novembro de 2009. Dispõe sobre a Residência Multiprofissional em Saúde e a Residência em Área Profissional da Saúde e institui o Programa Nacional de Bolsas para Residências Multiprofissionais e em Área Profissional da Saúde e a Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde. Brasília: Diário Oficial da União, Poder Executivo; 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Residência multiprofissional em saúde: experiências, avanços e desafios. Brasília: Ministério da Saúde; 2006. CLOSS, Thaísa Teixeira. O Serviço Social nas Residências Multiprofissionais em Saúde na Atenção Básica: formação para integralidade? Porto Alegre, setembro 2010. Dissertação (para obtenção do titulo de mestre em Serviço Social). Pontifica Universidade Católica do Rio Grande do Sul. DOLL J. Satisfação de vida de homens e mulheres no Brasil e na Alemanha. Cadernos Pagu 1999; 13: 109-59. MINAYO, Cecilia. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 5ª ed. São Paulo: Hucitec; 1998. SASSAKY, Yoshiko. et al. Política de saúde na atenção básica voltada ao idoso em Manaus. In: Anais da IV Jornada Internacional de Políticas Públicas. Universidade Federal do Maranhão. São Luís: 2009. p.1-10.

SCHRAIBER, Lilia Blima; MENDES-GONÇALVES, Ricardo Bruno. Necessidade de Saúde e Atenção Primaria. In Saúde do Adulto: Programas e Ação na Unidade Básica. 2º ed. São Paulo, Editora Hucitec, 2000. VARGAS, Tatiane Moreira. BELLINI, Maria Isabel Barros. O Serviço Social no Programa de Residência Multiprofissional em Saúde. V Mostra de Pesquisa de Pós-graduação. Pontifica Universidade Católica do Rio Grande de Sul - PUCRS, Rio Grande do Sul, 2010. VERAS, Renato. A longevidade da população: Desafios e conquistas. In: Revista Serviço social e sociedade, velhice e envelhecimento. Ano 24, n. 75. Cortez; 2003.. A longevidade da população: Desafios e conquistas. In: Revista Serviço Social e Sociedade, Velhice e Envelhecimento. Ano XXIV N 75, Editora: Cortez, 2003. VICINI, Giulio. Saúde integral para a velhice uma visão holística e sua manifestação em grupos de idosos. Revista Kairós, São Paulo, 5 (2), dezembro 2002. P. 125-142. SAUPE, Rosita et al. Competência dos profissionais da saúde para o trabalho interdisciplinar. Interface, v. 9, n.18, p. 521-536, set./dez, 2005.