PROCESSO Nº : 10143-71.2010.4.01.3900 CLASSE : 2100 MANDADO DE SEGURANÇA INDIVIDUAL IMPETRANTE : MARIA RUTH CHAVES DE SANTANA IMPETRADO : PRESIDENTE DO CONSELHO REG. DE ADMINISTRAÇÃO DO PARÁ E AMAPÁ JUIZ FEDERAL : ALEXANDRE BUCK MEDRADO SAMPAIO SENTENÇA I - RELATÓRIO Maria Ruth Chaves de Santana impetrou mandado de segurança contra ato do presidente do Conselho Regional de Administração do Pará e do Amapá, por meio do qual busca a declaração de ilegalidade da multa aplicada por meio do auto de infração nº. 1.391 ou, sucessivamente, que a mesma seja convertida em advertência. Diz, em resumo, que em 14 de janeiro de 2.009 foi autuada e multada em R$ 1.900,00 (mil e novecentos reais) pelo Conselho Regional de Administração por exercer, sem registro profissional, funções típicas e privativas do administrador, eis que ocupante do cargo de analista de recursos humanos sênior na empresa Alunorte. Aduz que, segundo o aludido auto de infração, a infringência consistiu na violação ao artigo 3º da Lei nº 4.769/65 e ao artigo 2º do Regulamento aprovado pelo Decreto nº 61.934/67, e a sanção correspondente está cominada no artigo 16, a, da Lei nº 4.769/65 e no artigo 52, a, do citado Regulamento c/c art. 3º, III, a.2, da Resolução Normativa CFA nº 364/2008. Alega que o artigo 16, a, da Lei nº 4.769/65 estabelece que o valor da multa a ser aplicada pelos Conselhos Regionais de Administração aos infratores dos dispositivos da citada lei será correspondente a no mínimo 5% e no máximo 50% do valor do maior salário mínimo vigente no país, no entanto, o CRA PA/AP, valendo-se do artigo 3º, III, a.2, da Resolução Normativa CFA nº 364/2008, aplicou-lhe multa no valor de R$ 1.900,00 (mil e novecentos reais), violando, portanto, dispositivo de lei federal, por meio de resolução. Argúi, ainda, que a pena de multa aplicada não observou o princípio da proporcionalidade, uma vez que deveria ter sido aplicada, primeiramente, a pena de advertência. Assevera que, contra o referido auto de infração, apresentou defesa administrativa / manifestação, no entanto, em sessão plenária realizada no dia 10-03- 2009, o CRA PA/AP sustentou a possibilidade de aplicação do valor da multa lançada, a 1
impossibilidade de vinculação ao salário mínimo, e, ainda, reiterou que as atividades desenvolvidas por ela (impetrante) são privativas de administradores, indeferindo, por fim, sua defesa, razão pela qual busca o judiciário. Liminar deferida (folhas 128-33). Vieram as informações (folhas 138-54), aduzindo que o CRA tem o direito/dever de promover atividades de fiscalização em cumprimento à sua função institucional, ressaltando que a impetrante exerce na empresa Alunorte cargo que tem funções privativas do administrador. No que toca ao valor da multa, diz a autoridade impetrada que está de acordo com o previsto no artigo 3º da Resolução Normativa nº. 364/08 do Conselho Regional de Administração. O Ministério Público Federal opinou pela concessão parcial da segurança (folhas 169-71). É o relatório. II - FUNDAMENTAÇÃO Realce inicial a que a Constituição Federal estabelece em seu artigo 5º, XIII, que, a despeito da liberdade para o exercício de qualquer atividade profissional, a lei pode estabelecer critérios de qualificação profissional. A propósito desses critérios, a Lei nº. 4.769/65 dispôs sobre o exercício da profissão do técnico de administração, a qual descreve, em seus artigos 2º e 3º, suas tarefas, assim: Art. 2º - A atividade profissional de Técnico de Administração será exercida, como profissão liberal ou não, (VETADO), mediante: a) pareceres, relatórios, planos, projetos, arbitragens, laudos, assessoria em geral, chefia intermediária, direção superior; b) pesquisas, estudos, análise, interpretação, planejamento, implantação, coordenação e controle dos trabalhos nos campos da administração VETADO, como administração e seleção de pessoal, organização e métodos, orçamentos, administração de material, administração financeira, relações públicas, administração mercadológica, administração de produção, relações industriais, bem como outros campos em que esses se desdobrem ou aos quais sejam conexos; c) VETADO. 2
diz que: Ainda sobre o tema, o regulamento da categoria (Decreto nº 61.934/67) Art. 3º - A atividade profissional do Técnico de Administração, como profissão, liberal ou não, compreende: a) elaboração de pareceres, relatórios, planos, projetos, arbitragens e laudos, em que se exija a aplicação de conhecimentos inerentes as técnicas de organização; b) pesquisas, estudos, análises, interpretação, planejamento, implantação, coordenação e controle dos trabalhos nos campos de administração geral, como administração e seleção de pessoal, organização, análise métodos e programas de trabalho, orçamento, administração de matéria e financeira, relações públicas, administração mercadológica, administração de produção, relações industriais bem como outros campos em que estes se desdobrem ou com os quais sejam conexos; c) o exercício de funções e cargos de Técnicos de Administração do Serviço Público Federal, Estadual, Municipal, autárquico, Sociedades de Economia Mista, empresas estatais, paraestatais e privadas, em que fique expresso e declarado o título do cargo abrangido; d) o exercício de funções de chefia ou direção, intermediária ou superior assessoramento e consultoria em órgãos, ou seus compartimentos, de Administração Pública ou de entidades privadas, cujas atribuições envolvam principalmente aplicação de conhecimentos inerentes as técnicas de administração; e) o magistério em matéria técnicas do campo da administração e organização. Parágrafo único. A aplicação do disposto nas alíneas c, d, e e não prejudicará a situação dos atuais ocupantes de cargos, funções e empregos, inclusive de direção, chefia, assessoramento e consultoria no Serviço Público e nas entidades privadas, enquanto os exercerem. No caso concreto, as atividades desempenhadas na empresa Alunorte (folhas 51-3) pela impetrante, cuja graduação é segundo grau, identificam-se com as descritas nos dispositivos acima transcritos, razão pela qual o cargo somente poderia ser ocupado por bacharel em administração. De seu turno, o artigo 14 da Lei nº. 4.769/65 prevê a imposição de multa para o caso de inobservância do preceito, consoante se vê adiante: Art. 14. Só poderão exercer a profissão de Técnico de Administração os profissionais devidamente registrados nos C.R.T.A., pelos quais será expedida a carteira profissional. 1º A falta do registro torna ilegal, punível, o exercício da profissão de Técnico de Administração. 3
(...). Induvidoso, portanto, que a impetrante não poderia exercer o cargo que ocupava na empresa Alunorte, do que decorre a legalidade de imposição de multa. Ressalte-se, ademais, que, para o caso vertente, inexiste previsão no regulamento de cominação da pena de advertência, motivo pelo qual não há falar na gradação reclamada pela impetrante. De outra banda, tem razão a impetrante quanto à ilegalidade do valor da multa, por isso que encontrado no artigo 3º da Resolução Normativa CFA nº. 364. Ilegal porque o artigo 39, alínea d, do Decreto nº. 61.934/67 prevê que as sanções impostas pelos conselhos regionais devem corresponder às penalidades previstas nessa norma e na Lei nº. 4.769/65. Eis o teor do dispositivo: Art. 39. Os Conselhos Regionais de Técnicos de Administração, com sede nas capitais dos Estados, Distrito Federal e Territórios, terão por finalidade; (...); e d) julgar as infrações e impor as penalidades referidas na Lei número 4.769, de 9 de setembro de 1965, e neste Regulamento; Não há, por outra, na lei ou no decreto, dispositivo que outorgue aos conselhos regionais autorização para majorar o valor da sanção mediante resolução interna. Nesse passo, deveria prevalecer o artigo 52 do Decreto nº. 61.934/67, cujo teor estabelece que o valor da multa deve variar de 5% a 50% do valor do salário mínimo vigente no país, assim: Art. 52. O Conselho Regional de Técnicos de Administração aplicará as seguintes penalidades aos infratores dos dispositivos da Lei número 4.769, de 9 de setembro de 1965, e do presente Regulamento: a) multa de 5% (cinco por cento) a 50% (cinqüenta por cento) do maior salário-mínimo vigorante no país, aos infratores dos dispositivos legais em vigor; (...). Nesse diapasão, a jurisprudência do E. TRF da 4ª Região: MANDADO DE SEGURANÇA. CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO - CRA/SC. MULTA COBRADA COM BASE NO ARTIGO 6º, III, 'E', DA RESOLUÇÃO NORMATIVA CFA Nº 242/00. IMPOSSIBILIDADE. O valor da multa cobrada está além daquele permitido pelo art. 16, 'a', da Lei nº 4.769/65, que limita a multa aos infratores de qualquer artigo ao montante entre 5% (cinco por cento) a 50% (cinqüenta por 4
III - CONCLUSÃO cento) do maior salário-mínimo, vigente no País. No caso dos autos, a multa foi fixada em R$ 988,00 (novecentos e oitenta e oito reais), por força do disposto no artigo 6º, III, 'e', da Resolução Normativa CFA nº 242/00. A exacerbação do valor da multa, por ato infralegal, fere o Princípio da Legalidade que deve pautar toda a atividade administrativa. As resoluções não se prestam à criação ou majoração de penalidades. Apelação desprovida. (TRF4, AMS 200372000008857, TERCEIRA TURMA, MARIA LÚCIA LUZ LEIRIA, D.E. de 12/09/2007) Ante o exposto, concedo parcialmente a segurança para anular o auto de infração apenas no que tange ao valor da multa, que deve observar os parâmetros previstos no artigo 52 do Decreto nº. 61.934/67. Custas na forma da lei. Sem honorários. Sentença sujeita a reexame necessário. P.R.I. Belém, 21 de junho de 2011. ALEXANDRE BUCK MEDRADO SAMPAIO Juiz Federal da 1ª Vara 5