PARECER CREMEB N 12/09 (Aprovado em Sessão da 1ª Câmara de 05/03/2009)



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PARECER CREMEB N 12/09 (Aprovado em Sessão da 1ª Câmara de 05/03/2009) Consulta nº 159.756/08 Assuntos: - Filmagem em interior de UTI. - Legalidade de contratação de médicos plantonistas como pessoa jurídica. - Orientação sobre conduta a ser seguida diante das situações acima. Relatora: Consª Hermila Tavares Vilar Guedes Consulta Ementa: Câmeras de filmagem cujo campo de captação de imagens inclua um leito de paciente, não devem estar ligadas ao sistema de segurança patrimonial do hospital. Tais equipamentos somente podem ser acionados com a anuência prévia do paciente ou seu representante legal, através da assinatura de um Termo de Consentimento Informado e em situações previstas pelo protocolo da unidade / instituição. No caso de filmagem de procedimento médico, a concordância do profissional executante também deve ser expressa por documento semelhante. A vinculação de trabalho entre médicos e instituições hospitalares pertence, primariamente, à esfera trabalhista. Infrações aos Direitos Civis do cidadão devem ser encaminhadas à Justiça Civil. A presente consulta foi enviada por um profissional da Medicina. Questiona sobre a permissibilidade e legalidade do uso de câmeras de filmagem no interior de Unidades de Terapia Intensiva, sem autorização nem dos pacientes nem dos funcionários. Além disso, indaga sobre a opinião do Conselho no que diz respeito ao vínculo de pessoa jurídica entre médicos plantonistas e hospital, e não de CLT. Diz ainda que em caso de não ser permitido nem legal o uso de câmeras neste contexto, assim como a relação médico- hospital estar equivocada, gostaria de saber quais as medidas que podem ser tomadas no sentido de notificar e coibir tais condutas. Relatório O Direito à preservação da própria imagem é protegido pelo art. 5º, inciso X da Constituição Federal de 1988:

"Art. 5. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade dos direitos à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: X São invioláveis: a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas; assegurando o direito à indenização pelo dano material ou moral, decorrente de sua violação. Apesar disso, há aspectos não contemplados nas leis, uma vez que a contínua evolução tecnológica torna impossível abranger todas as situações que surgem continuamente, à medida que se desenvolvem os meios de registro de imagem, bem como as diversas maneiras de fazer uso dela. Sobre esse aspecto, Antônio Chaves escreveu: "Não se pode impedir que outrem conheça a nossa imagem, e sim que a use contra a nossa vontade, nos casos expressamente previstos em lei." Há limitações impostas que restringem o exercício do direito à própria imagem. Essas restrições têm como base a existência de interesse social, pois o direito coletivo sobrepõe o direito individual. O uso da imagem realizada com objetivo cultural é também de uso livre, uma vez que o direito da comunidade à informação cultural prevalece sobre o direito do indivíduo, desde que respeitadas as finalidades da informação ou notícia, e que as imagens não causem constrangimentos ao indivíduo retratado. Há, ainda, situações onde a limitação do direito de preservação da própria imagem está relacionada à ordem pública, como acontece com a reprodução e a difusão de retrato falado, pela polícia. Também há limitação do direito de imagem nos casos onde o indivíduo é mostrado em cenário público ou em acontecimentos sociais, pois, ao transitar ou permanecer em local público, a veiculação de sua imagem no contexto da notícia estaria implicitamente autorizada. Nesses casos, o direito à própria imagem estará sendo violado se a utilização desta tiver objetivo comercial. Excluindo-se as situações anteriores, qualquer outro uso da imagem alheia sem autorização expressa constitui violação do direito à imagem, que poderá ocorrer sob três formas diferentes: - Quanto ao consentimento: quando o indivíduo tem sua imagem utilizada sem o seu consentimento; - Quanto ao uso: quando há o consentimento, mas o uso da imagem não está restrito aos limites da autorização;

- Quanto à inadequação da exceção atribuída ao uso: quando não há consentimento e a utilização das imagens não tem finalidade cultural ou informativo. A utilização de câmeras de filmagem tem sido uma estratégia que visa à segurança de pessoas e da própria instituição, o que também ocorre em estabelecimentos hospitalares. Quando se fala em segurança, há que ser analisada sob dois aspectos diferentes: o primeiro leva em conta a segurança patrimonial da instituição, para cujo setor é importante observar a movimentação de pessoas e a monitoração dos locais; funções estas que são enormemente facilitadas pelo uso de câmeras. O segundo aspecto trata da segurança que o registro de ações realizadas pode representar, uma vez que um filme pode ser um documento importante em situações de dúvidas sobre condutas ético-profissionais. A questão que envolve a instalação de câmeras em Unidades de Tratamento Intensivo deve considerar a localização do equipamento na unidade, a transmissão das imagens e seu uso. No caso de filmagem pelo sistema de segurança do hospital, o campo de captação de imagens deve incluir apenas locais de circulação ou de uso coletivo pela equipe de trabalho, não focalizando procedimentos específicos em pacientes. Imagens de procedimentos médicos não podem ser transmitidas a equipes de segurança que monitoram a filmagem realizada por câmeras instaladas em áreas de circulação. Portanto, a câmera que objetiva a filmagem técnica não deve integrar o sistema de vigilância do hospital. Em muitas unidades que utilizam o recurso da filmagem como meio de avaliar a efetividade de procedimentos (como reanimação cardio-respiratória, por exemplo), o equipamento é mantido desligado, sendo ativado em situações previstas pelo protocolo de condutas da unidade e da instituição. Filmes obtidos por essas câmeras também têm sido utilizados como documentos em situações que envolvem dúvidas quanto a condutas profissionais. Os profissionais envolvidos na normatização do uso de equipamento de filmagem (chefes de unidade e diretores médicos) devem ter especial atenção aos artigos 2º, 48, 63 e 104 do Código de Ética Médica, independentemente da obtenção da anuência dos pacientes filmados.

Além da privacidade individual e do sigilo profissional, esta avaliação deve considerar, ainda, que a percepção de estar sendo filmado pode influir na atuação do profissional, principalmente diante de situações de estresse. Não foram encontradas nos Conselhos, Federal ou Regionais, normas que proíbam, indiscriminadamente, a filmagem de procedimentos médicos. O uso de filmes em cursos, congressos e sessões de capacitação e atualização tem sido um recurso didático importante. Também não se considera que existe impedimento ético-profissional em filmagens em salas de parto, pela família da parturiente. No entanto, para que sejam assegurados os direitos ditos de imagem das pessoas filmadas e o Princípio Bioético da Autonomia, é mister que os envolvidos (tanto aquele que realiza o procedimento quanto o que tem sua imagem divulgada) concordem com a filmagem e com o uso do filme, com vistas ao objetivo ao qual se destina. Essa concordância deve ser expressa através da assinatura de um Termo de Consentimento Informado. Para o médico, a utilização inadequada de um filme que mostre o profissional em ação, poderia ter como conseqüência a divulgação de procedimento de forma não ética, infringindo os Artigos 131 e 132 do CEM. Contudo, em se tratando de filmagem realizada por câmera do sistema hospitalar, a responsabilidade pela divulgação e pelo uso inadequado das imagens pertence a esta instituição, sendo objeto do Direito Civil. Quanto à legalidade da contratação de médicos plantonistas em instituições hospitalares, como pessoa jurídica, ou seja, a chamada terceirização, trata-se, primariamente, de objeto pertencente à esfera trabalhista. Contudo, uma vez que cabe aos Conselhos Federal e Regionais de Medicina fiscalizar a atuação ético-profissional dos médicos, havendo denúncia de constrangimento a esses profissionais pela instituição empregadora, haverá a investigação de denúncia protocolada, a fim de verificar a existência de indícios de infração ético-profissional. É importante ressaltar que somente o médico (pessoa física) é passível de ser submetido a processo ético disciplinar. No caso de denúncia contra instituição hospitalar no CRM, o responsável legal é o diretor médico. Parecer A forma ética de proceder a quaisquer tipos de filmagens de indivíduos sob a condição de pacientes, bem como utilizar as imagens obtidas, em ambientes leigos ou não, consiste na obtenção prévia de uma autorização do paciente ou seus responsáveis legais, sob a forma de Termo de Consentimento Informado,

devidamente assinado. O consentimento deve ser específico, para que não haja o uso indevido da imagem e/ou do documento. As instituições hospitalares, bem como qualquer organização, podem instalar câmeras em suas dependências, em espaços de circulação, para fins de segurança, desde que haja informação evidenciando o ato de filmar. Tal prática não constitui infração à privacidade, pela legislação brasileira. Porém, no caso de um indivíduo considerar que a filmagem constrange, intimida ou viola a honra ou a intimidade do empregado e/ou dos clientes, a instituição pode ser objeto de processo civil. Em suma, é facultado filmar a movimentação em áreas de circulação ou setores de serviços especiais (caixas, etc), desde que não viole a intimidade dos indivíduos filmados. A vinculação de trabalho entre médicos e instituições hospitalares diz respeito, primariamente, à esfera trabalhista. O Sindicato dos Médicos é a instância mais indicada para esclarecer dúvidas quanto à legalidade de vínculos trabalhistas, tanto da classe, como do médico enquanto pessoa física. Havendo constrangimento ao profissional médico, em quaisquer situações, a efetivação de uma denúncia protocolada neste Conselho, desencadeará a averiguação de possíveis infrações ético-profissionais. É o parecer. Salvador, 02 de Dezembro de 2008. Consª Hermila Tavares Vilar Guedes Relatora Referências CHAVES, A. Direito à própria imagem. Revista da Faculdade de Direito USP 1972; 67: 48. D AZEVEDO, R.F. Direito à imagem. Jus Navigandi 2000. Disponível em: http://64.233.169.132/search?q=cache:7b8nmfyov3yj:jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp%3fid%3d2306+ %22direito+de+imagem%22&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=1&gl=br. Acesso em 28.12.2008. DURVAL, H. Direito à imagem. São Paulo; Editora Saraiva; 1988. MARTINS, S.P. Direito do Trabalho. Atlas, 21ª Ed.; São Paulo, 2005.