A RESPONSABILIDADE CIVIL PELO DANO AO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO



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Transcrição:

UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO DO TRABALHO E PREPARAÇÃO PARA MAGISTRATURA TRABALHISTA SANDRO SVENTNICKAS A RESPONSABILIDADE CIVIL PELO DANO AO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2009

SANDRO SVENTNICKAS A RESPONSABILIDADE CIVIL PELO DANO AO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para obtenção do grau de pós-graduado no curso de Pós-Graduação em Direito do Trabalho e Preparação para Magistratura Trabalhista da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Orientador(a): Prof. (ª) MSc. Carlos Alberto Begalles CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2009

Dedico esse trabalho aos meus pais João Paulo e Alaídes e a minha filha Ana Carolina, minhas razões de vida.

AGRADECIMENTO Agradeço a Deus, a meus pais, a minha filha, aos professores e ao meu orientador, que de uma forma ou outra contribuíram para a conclusão deste trabalho.

...O melhor mesmo é prevenir para evitar danos e nada pagar; porque indenização nenhuma compensa a perda de uma vida. Raimundo Simão de Melo

RESUMO Este trabalho trata da Responsabilidade Civil pelo Dano ao Meio Ambiente do Trabalho. A partir de uma pesquisa bibliográfica, caracterizou-se o meio ambiente em geral e, especificamente, o meio ambiente do trabalho. Analisou-se a responsabilidade civil do empregador e do empregado, ressaltando-se as correntes existentes que passam pela teoria subjetivista até chegar-se na teoria objetivista pura, bem como, as excludentes de responsabilidade dos mesmos. Além disso, explanou-se sobre a responsabilidade civil da Administração Pública em relação aos danos ao meio ambiente do trabalho causados no interior dos órgãos públicos, em estabelecimentos privados e decorrentes de caso fortuito e força maior. Em suma, demonstrou-se que o objetivo maior deve ser a preservação do meio ambiente do trabalho, como forma de garantir à vida e à saúde do cidadão. E quando esses direitos fundamentais são violados, o dever de reparação surge de forma concorrente, seja a cargo do empregador, do empregado ou da Administração Pública, dependendo do caso. Palavras-chave: Meio Ambiente do Trabalho. Dano. Responsabilidade Civil do Empregador, Empregado e da Administração Pública.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CCB Código Civil Brasileiro CLT Consolidação das Leis do Trabalho CRFB Constituição da República Federativa do Brasil

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...8 2 MEIO AMBIENTE DO TRABALHO...9 2.1 Definição Legal de Meio Ambiente...9 2.2 Espécies de Meio Ambiente...10 2.3 Definição de Meio Ambiente do Trabalho...11 2.4 Enquadramento Normativo do Meio Ambiente do Trabalho...14 2.4.1 Constituição da República Federativa do Brasil...14 2.4.2 Lei 6.938/81...19 2.4.3 Consolidação das Leis do Trabalho - CLT...20 2.5 Ilação...21 3 RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR E DO EMPREGADO PELO DANO AO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO...22 3.1 Responsabilidade Civil...22 3.2 Responsabilidade Civil do Empregador...24 3.2.1 Teoria Subjetiva da Responsabilidade...24 3.2.2 Teoria da Culpa Presumida da Responsabilidade...28 3.2.3 Teoria Objetiva Pura da Responsabilidade...29 3.2.4 Teoria do Risco da Responsabilidade...32 3.2.5 Exclusão da Responsabilidade do Empregador...36 3.2.6 Considerações Finais sobre a Responsabilidade do Empregador...39 3.3 Responsabilidade Civil do Empregado...40 4 RESPONSABILIDADE CIVIL DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA...41 4.1 Das Obrigações da Administração Pública...41 4.2 Responsabilidade Civil da Administração Pública...43 4.2.1 Danos Causados no Interior de seus Órgãos e aos seus Funcionários...44 4.2.2 Danos Causados por Empregadores e /ou Empregados...44 4.2.3 Danos Causados por Caso Fortuito e Força Maior...48 4.3 Considerações Finais...49 5 METODOLOGIA...58 6 CONCLUSÃO...59 REFERÊNCIAS...52

8 1 INTRODUÇÃO O dano ao meio ambiente do trabalho tem sem mostrado um tema pujante nos últimos anos, principalmente em virtude da valorização dos direitos fundamentais da vida e da saúde dos empregados. Assim, se torna importante a caracterização do dano ao meio ambiente laboral, observando a sua contextualização como uma espécie do dano ao meio ambiente geral. Também se faz necessária a demonstração da responsabilidade civil do empregador, do empregado e da Administração Pública pelos prejuízos causados ao meio ambiente do trabalho. Destarte, o tema proporcionará aos estudiosos do direito uma visão precisa de quem poderá ser responsabilizado civilmente pelos danos causados ao meio ambiente do trabalho, auxiliando-nos na identificação do responsável pela recuperação do ambiente degradado e pelo pagamento de indenizações de cunho material e moral.

9 2 Meio Ambiente do Trabalho Para se discorrer sobre meio ambiente do trabalho, é importante que num primeiro plano se teça considerações sobre o meio ambiente de uma forma genérica, ressaltando a definição legal e as espécies que se subdivide mencionado instituto. Concluídas essas considerações, se poderá analisar pormenorizadamente o meio ambiente do trabalho, com sua definição e seu enquadramento normativo. 2.1 Definição Legal de Meio Ambiente A Lei n. 6938/81 que trata da Política Nacional de Meio Ambiente, em seu art. 3º, I, assevera que meio ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. Pela definição estabelecida em lei ordinária, a preocupação maior do legislador era com as condições naturais (físicas, químicas e biológicas), deixando de forma secundária a participação do ser humano, apesar deste ser o principal beneficiário com a proteção ao meio ambiente. Contudo, a presença do ser humano foi ressaltada pela Constituição da República Federativa do Brasil - CRFB de 1988, que em seu art. 225 estabelece que Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público

10 e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Note-se que a CRFB além de proteger o meio ambiente em seus diversos aspectos, deu ênfase ao objetivo primordial da proteção, qual seja, preservar o meio ambiente para que proporcione qualidade de vida ao Homem e as suas futuras gerações. Melo R. (2008, p. 5) conclui: 1 Assim, dois são os objetos de tutela ambiental constantes da definição legal, acolhidos pela Carta Maior: um, imediato a qualidade do meio ambiente em todos os seus aspectos e outro, mediato a saúde, segurança e bem estar do cidadão, expresso nos conceitos vida em todas as suas formas (Lei n. 6.938/81, art. 3º, inciso I) e qualidade de vida (CF, art. 225, caput). 2.2 Espécies de Meio Ambiente A partir da promulgação da CRFB a doutrina tem classificado o meio ambiente em: a) físico ou natural; b) cultural; c) artificial; d) do trabalho. Meio ambiente físico ou natural é aquele composto pela flora (elementos do conjunto vegetal), fauna (elementos do conjunto animal), solo, água (oceanos, mares, lagos, rios, córregos, lençóis subterrâneos, chuva), atmosfera, incluindo os ecossistemas (biológicos ou abióticos), conforme dispõe o art. 225, 1º, I e VII, da CRFB. O meio ambiente cultural é caracterizado pelo patrimônio cultural, artístico, arqueológico, paisagístico, manifestações culturais, populares, entre outros. Assevera o art. 216 da CRFB que: 1 MELO, Raimundo Simão de. Direito ambiental do trabalho e a saúde do trabalhador. 3. ed. São Paulo: LTr, 2008, p. 25.

11 Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. Entende-se por meio ambiente artificial o conjunto de edificações particulares ou públicas, urbanas ou rurais, desde que criadas pela ação do homem e que atendam a sua função social. Encontra previsão nos arts. 182, 21, XX, 5º, XXIII e 225 da CRFB. Por fim, o meio ambiente do trabalho, é a espécie que se caracteriza pelo conjunto de condições existentes no local de trabalho que deve primar pela qualidade de vida do trabalhador (art. 7º, XXXIII e art.200, II e VIII, da CRFB). Tendo em vista que o tema do presente trabalho é a responsabilidade civil pelo dano ao meio ambiente do trabalho, imperioso que se analise de uma forma detalhada o instituto em epígrafe. 2.3 Definição de Meio Ambiente do Trabalho restritiva: 2 Nascimento (1999, p.584) define meio ambiente do trabalho de uma forma 2 NASCIMENTO, Amauri Mascaro do. A defesa processual do meio ambiente do trabalho. Revista LTr, Vol. 63, p. 584, maio 1999.

12 o complexo máquina-trabalho: as edificações do estabelecimento, equipamentos de proteção individual, iluminação, conforto térmico, instalações elétricas, condições de salubridade ou insalubridade, de periculosidade ou não, meios de prevenção à fadiga, outras medidas de proteção ao trabalhador, jornadas de trabalho e horas extras, intervalos, descansos, férias, movimentação, armazenagem e manuseio de materiais que formam o conjunto de condições de trabalho... Entretanto, encontra-se na doutrina entendimento mais ampliativo do que aquele defendido por Amauri Mascaro do Nascimento, no qual considera o meio ambiente do trabalho não só o complexo do estabelecimento empresarial, mas também os mais diversos fatores que interferem na prestação laboral. Melo. R. (apud SILVA; LEDA MARIA MESSIAS DA SILVA, 2008, p. 1121) define meio ambiente e meio ambiente do trabalho da seguinte forma: 3 O meio ambiente natural diz respeito ao solo, à água, ao ar, à flora e à fauna; o artificial, ao espaço urbano construído; o cultural, à formação e cultura de um povo, atingindo a pessoa humana de forma indireta. O meio ambiente do trabalho, diferentemente, está relacionado de forma direta e imediata com o ser humano trabalhador no seu dia-a-dia, na atividade laboral que exerce em proveito de outrem. No mesmo sentido, Melo. S. (2008, p. 49) leciona que vários trabalhadores prestam os seus serviços em locais diversos das edificações da empresa, Tomemos o exemplo dos condutores de transportes coletivos urbanos (ônibus, metrô, trem), dos pilotos de aeronaves e dos eletricitários que atuam, em vias públicas, na manutenção de redes elétricas, apenas para referirmos alguns. 4 Pode-se ainda citar, sem caracterizar um rol taxativo, outros trabalhadores que exercem suas atividades fora das edificações da empresa, tais como, os motoristas de transporte de cargas, os trabalhadores a domicílio, os funcionários de manutenção de ferrovias, entre outros. 3 MELO, Raimundo Simão de. Direito ambiental do trabalho e a saúde do trabalhador: responsabilidades legais, dano material, dano moral, dano estético, perda de uma chance. 2. ed. São Paulo: LTr, 2006, p. 24. 4 MELO. Sandro Nahmias Melo. Meio ambiente do trabalho e greve ambiental. Revista Anamatra, Brasília, n. 54, p. 49, 1º semestre 2008.

13 Melo. S. (2008, p. 49) complementa: 5 Completa e, por isso, parece-nos mais adequada, é a definição dada por Rodolfo de Camargo Mancuso, ao apontar o meio ambiente do trabalho como habitat laboral, isto é, tudo que envolve e condiciona, direta e indiretamente, o local onde o homem obtém meios para prover o quanto necessário para a sua sobrevivência e desenvolvimento, em equilíbrio com o ecossistema. E arremata o autor, declarando que a contrario sensu, portanto, quando aquele habitat se revele inidôneo a assegurar as condições mínimas para uma razoável qualidade de vida do trabalhador, aí se terá uma lesão ao meio ambiente do trabalho Na mesma corrente de raciocínio Silva (2008, p. 1121) ensina que: 6 Pode-se concluir, que o meio ambiente do trabalho está contido no meio ambiente geral, o qual, na esfera trabalhista, e, especialmente, do contrato de trabalho deve-se compreender como meio ambiente do trabalho não só o local onde o trabalhador presta os seus serviços, mas também como parte do meio ambiente do trabalho, todos os fatores internos ou externos que possam interagir com o trabalho e influenciar de alguma forma esse meio ambiente, contribuindo para o seu equilíbrio ou desequilíbrio. Aspecto que merece atenção é o fato de que o meio ambiente do trabalho saudável e equilibrado não é uma prerrogativa do trabalhador com vínculo de emprego. Em que pese no presente trabalho tratar-se apenas da responsabilidade civil do empregador e do empregado, realça-se que a responsabilidade civil deve recair sobre qualquer tomador de serviço ou prestador de serviço que cause um dano ao meio ambiente do trabalho. Assim, o meio ambiente do trabalho não está adstrito apenas as regras da relação de emprego (ao contrato de trabalho em si), mas tem natureza jurídica mais ampla, constituindo-se um direito fundamental, com previsão constitucional. 5 MELO. Sandro Nahmias Melo. Meio ambiente do trabalho e greve ambiental. Revista Anamatra, Brasília, n. 54, p. 49, 1º semestre 2008. 6 SILVA, Leda Maria Messias da. O cumprimento da função social do contrato no tocante ao meio ambiente do trabalho. Revista LTr, São Paulo, ano 72, p. 1121, setembro 2008.

14 2.4 Enquadramento Normativo do Meio Ambiente do Trabalho O meio ambiente do trabalho possui previsão em várias normas, entre elas: na Constituição Federal, na Lei de Política Nacional de Meio Ambiente, na Consolidação das Leis do Trabalho, entre outras. 2.4.1 Constituição da República Federativa do Brasil A Constituição Federal assegura em seu art. 1º 7 a cidadania, a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho, como fundamentos da República Federativa do Brasil. Nesse aspecto é que o meio ambiente do trabalho é caracterizado como um direito fundamental, eis que tem em sua essência a proteção à dignidade da pessoa humana e aos valores sociais do trabalho, tutelando em suma: à vida. A Constituição Federal possui outros dispositivos que exaltam o ser humano e o trabalho realizado por ele, como por exemplo: O art. 5º, XIII, estabelece que é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer, ou seja, a pessoa pode exercer a atividade que desejar, tem liberdade para tanto, desde que tenha qualificação e que o trabalho não seja vedado por lei. O art. 6º 8 caracteriza a saúde, o trabalho e a segurança, entre outros, como direito social do cidadão brasileiro. 7 Art. 1º da CRFB: A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.

15 O art. 7º 9, por sua vez, assegura aos trabalhadores vários direitos que visam proteger sua saúde e sua condição de trabalho, bem como, melhorar sua condição social e humana: salário mínimo que atenda as necessidades básicas (moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social); limitação da jornada de trabalho como preservação da saúde do trabalhador (jornada máxima, intervalos intra e inter-jornada, repouso semanal remunerado, férias); licença gestante e licença paternidade; redução dos riscos do trabalho; adicional para atividades penosas, insalubre e periculosas; proibição do trabalho do menor de dezoito anos em atividades perigosas, insalubre ou noturnas e do trabalho do menor de dezesseis anos em qualquer atividade, exceto na condição de aprendiz. No mesmo diapasão, o art. 170 10 da Carta Magna ressalta a valorização do trabalho humano e da livre iniciativa como fundamento da ordem econômica, 8 Art. 6 o da CRFB: São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. 9 Art. 7º da CRFB: São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim; XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho; XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva; XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos; XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal; XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias; XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança; XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias; XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei; XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; 10 Art. 170 da CRFB: A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e

16 assegurando a existência digna, com a observância de princípios tais como da soberania nacional, função social da propriedade, defesa do meio ambiente e busca do pleno emprego. Soma-se ainda o disposto no art. 196 11 da Constituição Federal, que fixa a competência do Estado para garantir a proteção contra doenças, a redução dos riscos, assim como, a recuperação das moléstias geradas. Competência essa que, sem dúvida, engloba os fatos ocorridos no meio ambiente do trabalho. Em complemento ao artigo supra, vem o art. 200 12 da Constituição Federal que determina que o sistema único de saúde tem por competência a execução de ações de proteção à saúde do trabalhador e o meio ambiente do trabalho. Além dos artigos mencionados, se extrai da Constituição Federal princípios que norteiam e embasam a criação de várias normas sobre meio ambiente e, mais especificadamente, sobre meio ambiente do trabalho. Como é o caso do princípio da prevenção que advém do art. 225 13 da CRFB, ao estabelecer que compete ao Poder Público e a coletividade o dever de defender e preservar o meio ambiente. de seus processos de elaboração e prestação; VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; 11 Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. 12 Art. 200 da CRFB: Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador; VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. 13 Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que

17 E, preciso, é o art. 7º, XXII, da Constituição que define como direito do trabalhador a redução dos riscos inerentes ao trabalho por meio de normas de saúde, higiene e segurança no trabalho, o que demonstra a preocupação máxima com a prevenção do meio ambiente do trabalho. Convergente com o princípio analisado, é o princípio da precaução, que encontra previsão no 1º, inciso IV, do art. 225 da CRFB, ao exigir estudo prévio de impacto ambiental para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de degradação ao meio ambiente. Precaução significa se antecipar aos danos, mesmo que o risco seja incerto ou em potencial. Havendo risco, deve o Poder Público e a coletividade agir de modo a evitar prováveis prejuízos, seja para o meio ambiente em geral, para o meio ambiente do trabalho e, principalmente, para o ser humano. Outro princípio destacado pela Constituição Federal é o do desenvolvimento sustentável, ou seja, desenvolver as atividades econômicas progressivamente, mas sem afetar outras áreas de desenvolvimento, como a do ser humano, a social, a histórica, a cultural, a do meio ambiente. Melo R. (2008, p. 47) define muito bem a aplicação do princípio do desenvolvimento sustentável na seara do meio ambiente do trabalho 14 : Não há campo mais fértil para a aplicação desse princípio do que no meio ambiente do trabalho, porque, enquanto o caput do art. 225 da Constituição Federal assegura a todos um meio ambiente equilibrado, o art. 1º da Lei Maior estabelece como fundamentos da República Federativa e do Estado justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. 14 MELO, Raimundo Simão de. Direito ambiental do trabalho e a saúde do trabalhador. 3. ed. São Paulo: LTr, 2008, p. 47.

18 Democrático de Direito, entre outros, a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho. Por outro lado, o art. 170, que cuida da ordem econômica, fundado na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, assegura a todos existência digna, observados os princípios da defesa do meio ambiente e do pleno emprego. Assim, desenvolvimento econômico e humano devem caminhar juntos, lado a lado, em igualdade de condições. A Constituição exalta ainda o princípio do poluidor-pagador, quando em seu art. 225, 3º, estabelece que As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Logo, o poluidor deve ser responsabilizado nas esferas administrativa e judicial (cível, criminal, previdenciária e trabalhista, se for o caso), de modo que responda pelos danos que causou ao meio ambiente em geral e ao meio ambiente do trabalho. Contudo, o cerne desse princípio não deve ser entendido apenas com o cunho de reparação (punitivo), mas também tem de exaltar o aspecto educativo da prevenção de eventuais danos. Intimamente ligado ao princípio do poluidor-pagador encontra-se na Constituição o princípio da responsabilidade participativa, ou como se verá em item próprio mais adiante, o da responsabilidade compartilhada. Dispõe o caput do art. 225 da CRFB que é obrigação do Poder Público e da coletividade defender e preservar o meio ambiente, isto é, a responsabilidade pelo meio ambiente ecologicamente equilibrado é do Poder Público (União, Estados, Municípios e seus respectivos órgãos) e de toda a coletividade, incluindo-se aqui as empresas, os sindicatos, as CIPAS e o próprio cidadão.

19 Ocorrido o dano, devem ser apuradas as responsabilidades de forma participativa, respondendo de forma solidária todos aqueles que tiveram participação direta ou indireta para a ocorrência do prejuízo. Portanto, resta claro que a Constituição Federal de 1988 por seus diversos dispositivos e princípios, garantiu a dignidade aos seus cidadãos, tanto nos aspectos voltados para a própria pessoa quanto para os relacionados ao trabalhador, dando ênfase ao direito à vida. 2.4.2 Lei 6.938/81 A Lei 6.938/81, que estabelece a Política Nacional de Meio Ambiente, apresenta em seu art. 1º apenas a definição de meio ambiente, em cunho geral. Todavia, como a norma mencionada foi recepcionada pela CRFB, quando a Lei 6.938/81 conceitua o meio ambiente (art. 3º, I), deve ser compreendido, nessa definição legal, também o meio ambiente do trabalho. 15 Na legislação aqui citada, também se encontram presentes os princípios constitucionais já definidos no item anterior, como por exemplo, o da preservação (arts. 2º, 4º, 5º, 13), o da precaução (arts. 2º, 4º, incisos I e IV, 5º, 9º, 10, 13), o do desenvolvimento sustentável (arts. 4º, incisos I e IV, 5º, 9º, 13) e o da responsabilidade participativa (arts. 2º, 4º, 14). 15 MELO, Raimundo Simão de. Direito ambiental do trabalho e a saúde do trabalhador. 3. ed. São Paulo: LTr, 2008, p. 34.

20 2.4.3 Consolidação das Leis do Trabalho - CLT O Diploma Celetário possui vários artigos que dispõem sobre as condições do meio ambiente de trabalho. Chama a atenção inicialmente o capítulo específico que existe na CLT sobre segurança e medicina do trabalho, no qual constam normas gerais de proteção e punição administrativa (arts. 154 a 159), de fiscalização, embargo e interdição (arts. 160 e 161), de composição e organização dos órgãos de segurança e medicina do trabalho (arts. 162 a 165), de equipamentos de proteção individual (arts. 166 e 167), de medidas preventivas de medicina do trabalho (arts. 168 e 169), das edificações (arts. 170 a 174), da iluminação (art. 175 ), do conforto térmico (arts. 176 a 178), das instalações elétricas (arts. 179 a 181), da movimentação, armazenagem e manuseio de materiais (arts. 182 e 183), de dispositivos de proteção ao trabalhador em máquinas e equipamentos que ofereçam perigo (art. 184 a 186), dos trabalhos em caldeiras, fornos e recipientes sob pressão (arts. 187 e 188), do desempenho de atividades insalubres e periculosas (arts. 189 a 197), da prevenção à fadiga (arts. 198 e 199), de outras medidas de proteção a serem criadas pelo Ministério do Trabalho em relação a segurança, medicina e higiene no trabalho (art. 200). Além do capítulo mencionado, a CLT estabelece vários direitos que protegem o meio ambiente do trabalho e, por conseqüência, o próprio trabalhador, como por exemplo: a limitação da duração da jornada e das condições de trabalho seja para o trabalhador em geral (arts. 57 a 75 e 129 a 153) ou para categorias específicas (arts. 224 a 350), a proteção ao trabalho da mulher (arts. 372 a 400), a

21 proteção ao trabalho do menor (arts. 402 a 441), entre tantos outros direitos previstos no Diploma Celetário. 2.5 Ilação O que se deve ter em mente é que a idéia principal em termos de meio ambiente e meio ambiente do trabalho, visando à premissa maior que é a dignidade da pessoa humana, é a prevenção e precaução. Institutos esses que se revelam como princípios constitucionais expressos no art. 225 da Constituição Federal. A partir do momento que tais princípios não são observados e que o meio ambiente laboral sofre um desequilíbrio, causando prejuízos seja ao próprio empregador, ao empregado ou à sociedade em geral (aqui englobando vizinhos, terceiros prestadores de serviços, comunidade em geral), surge a necessidade de se apurar quem poderá ser o responsável civil pelo dano. Responsabilidade esta que será analisada em seguida em relação ao empregador, ao empregado e ao Poder Público, verificando-se a obrigação isolada de cada um, bem como, a responsabilidade compartilhada entre os mesmos.

22 3 Responsabilidade Civil do Empregador e do Empregado pelo Dano ao Meio Ambiente do Trabalho Dispõe o art. 225 da CRFB que compete ao Poder Público e à coletividade o dever de defender e preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado. No contexto do meio ambiente do trabalho, deve-se entender que a expressão coletividade prevista na norma constitucional engloba tanto os empregadores como os próprios empregados, incluindo-os como responsáveis civis pelo desequilíbrio ecológico gerado pela atividade da empresa e/ou pela forma da prestação de trabalho do empregado. Destarte, necessário se faz abordar algumas considerações sobre responsabilidade civil, para em seguida, adentrar na responsabilidade dos empregadores e dos empregados pelos prejuízos causados ao meio ambiente laboral. 3.1 Responsabilidade civil O termo responsabilidade tem origem no latim, na palavra spondeo que vinculava o devedor nos contratos verbais existentes no Direito Romano. Stoco (2004, p. 119/120) apud Milton Paulo de Carvalho conceitua reponsabilidade como O conjunto de princípios e normas que disciplinam a obrigação de reparar o dano resultante do inadimplemento de um contrato, da

23 inobservância de um dever geral de conduta ou, nos casos previstos em lei, mesmo da prática de ato lícito. 16 Deste modo, havendo o descumprimento de uma obrigação que acarrete um prejuízo material ou moral a outrem, surge a responsabilidade civil como fator harmonizador, objetivando o restabelecimento do status quo, ou, não sendo mais possível atingir o estado anterior, o pagamento de uma indenização que corresponda e compense o dano sofrido. Assim, a finalidade precípua da responsabilidade civil é de natureza reparatória/punitiva, de modo a satisfazer a pessoa que sofreu a lesão e responsabilizar aquela que cometeu o ato danoso. Além disso, a responsabilidade civil possui uma finalidade educativa/preventiva, com caráter secundário, que objetiva tanto a conscientização do causador do dano quanto a dos demais integrantes da sociedade de forma a não causarem outros prejuízos, sob pena de serem responsabilizados nas mesmas proporções em que já houve a condenação anterior. Finalidade esta que se torna de suma importância ao se tratar de meio ambiente do trabalho, eis que mais importante do que ressarcir danos é prevenir a ocorrência de danos reincidentes, é atuar pedagogicamente para que novos prejuízos não ocorram e não gerem o denominado dupping social. É de ressaltar que a obrigação de reparar o dano ao meio ambiente do trabalho pode ser do empregador, ou do empregado, ou de ambos, ou, ainda, do Poder Público, como se discorrerá a seguir. 16 STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil. 6. ed. São Paulo: RT, 2004, p. 119/120.

24 3.2 Responsabilidade Civil do Empregador que o 17 : Ao tratar sobre meio ambiente do trabalho Silva (2008, p. 1121) leciona [...] ambiente de trabalho deve ser sadio, tanto no aspecto físico (segurança no trabalho, de um modo geral, condições adequadas sob o ponto de vista ergonômico, uso de Equipamentos de Proteção Individual, etc.), quanto químico (produtos químicos de um modo geral, poeiras, que, inclusive, podem gerar diversas doenças), biológico (fungos e bactérias) e psíquico (ambiente onde as diferenças são respeitadas, onde o assédio moral não seja uma prática, não haja discriminação, enfim, psicologicamente adequado). Quando esse ambiente laboral adequado não é observado por parte do empregador, surge a responsabilidade deste em ressarcir os danos sofridos pelo trabalhador, por terceiros vinculados à atividade ou à sociedade de um modo geral. A doutrina diverge quanto à caracterização da responsabilidade civil do empregador pelos danos ao meio ambiente do trabalho, que pode variar da responsabilidade subjetiva à objetiva, dependendo da fundamentação jurídica e legal. 3.2.1 Teoria Subjetiva da Responsabilidade A teoria subjetiva da responsabilidade encontra-se calcada na comprovação de alguns elementos, tais como: a) a existência de um ato ilícito; b) o dolo ou culpa do agente em sua atitude ativa ou omissiva; c) um dano causado à outrem; d) o nexo de causalidade entre a atitude do agente e o dano gerado. Ato ilícito é aquele que vai de encontro ao ordenamento jurídico, que extrapola o regramento previsto em lei. 17 SILVA, Leda Maria Messias da. O cumprimento da função social do contrato no tocante ao meio ambiente do trabalho. Revista LTr, São Paulo, ano 72, p. 1121, setembro 2008.

25 Todavia, para a responsabilidade civil, somente tem relevância o ato ilícito que causa dano à outra pessoa, pois o ato ilícito que não causa prejuízo não é objeto de reparação civil. Outro elemento caracterizador da responsabilidade subjetiva é a ação ou omissão voluntária do agente, decorrente de sua culpa ou dolo. Stoco (2004, p. 129) leciona que 18 : Esse comportamento (comissivo ou omissivo), deve ser imputável à consciência do agente, por dolo (intenção) ou por culpa (negligência, imprudência, ou imperícia) contrariando, seja um dever geral do ordenamento jurídico (delito civil), seja uma obrigação em concreto (inexecução da obrigação ou de contrato). O dolo se caracteriza pelo fato da pessoa agir ou se omitir propositalmente com o objetivo de causar um ato ilícito e um dano a outrem. Já na culpa, o agente não tem a intenção manifesta de cometer um ato ilícito e causar um prejuízo para outra pessoa. Contudo, em virtude de sua atitude comissiva ou omissiva, movida pela sua imprudência, negligência ou imperícia, acaba por resultar num prejuízo para outro. significam: 19 Stoco (2004, p. 132) ensina que imprudência, negligência e imperícia [...] imprudência: comportamento açodado, precipitado, apressado, exagerado ou excessivo; negligência: quando o agente se omite e deixa de agir quando deveria fazê-lo e deixa de observar regras subministradas pelo bom senso, que recomendam cuidado, atenção e zelo; e imperícia: a atuação profissional sem o necessário conhecimento técnico ou científico que desqualifica o resultado e conduz ao dano. Salienta-se que a culpa ainda se constitui como elemento fundamental da responsabilidade civil, conforme doutrina majoritária, em que pese posição divergente de parte dos juristas. 20 18 STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil. 6. ed. São Paulo: RT, 2004, p. 129. 19 STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil. 6. ed. São Paulo: RT, 2004, p. 132.

26 O dano também entra como requisito da responsabilidade civil, pois somente há dever de reparação se existente um prejuízo. Assim, como determina o art. 944 do Código Civil Brasileiro, a indenização mede-se pela extensão do dano. Dano este que poderá ser de natureza patrimonial (subdivido em danos materiais, lucros cessantes e danos emergentes,) ou extrapatrimonial (dano moral e estético), tudo conforme art. 5º, V, da CRFB e art. 402 do Código Civil Brasileiro. A reparação do dano deve ser a mais justa possível, seja para quem recebe, seja para quem paga, pois se deve evitar o enriquecimento ilícito da vítima e a violação ao art. 944 do CCB. O último requisito, mas não menos importante, para a configuração da responsabilidade civil, é o nexo de causalidade entre a conduta do agente e o dano causado. A análise do nexo causal é tarefa complexa, principalmente quando presentes vários atos ou agentes causadores do dano. Para tanto, a doutrina vem aplicando majoritariamente a teoria da causa adequada, na qual se deve analisar a causa mais preponderante para a ocorrência do prejuízo, descartando-se as demais causas secundárias. O certo é que a análise do nexo de causalidade deverá ser feita caso a caso, pois em cada ato ilícito do qual resulte um dano, poderá haver diferentes causas, devendo-se dar atenção especial àquela que de forma direta acabou por ocasionar o abalo material ou extra-patrimonial. 20 GAGLIANO e PAMPLONA FILHO defendem que A culpa, portanto, não é elemento essencial, mas sim, acidental, pelo que reiteramos nosso entendimento de que os elementos básicos ou pressupostos gerais da responsabilidade civil são apenas três: a conduta humana (positiva ou negativa), o dano ou prejuízo e o nexo de causalidade (GAGLIANO, Pablo Stolze, e PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil Responsabilidade Civil. São Paulo: Saraiva. 2003. p. 28-29)

27 Convém realçar que as excludentes de responsabilidade, como o caso fortuito, força maior e culpa exclusiva da vítima, na realidade almejam desconstituir o nexo causal entre a ação ou omissão do agente e o dano causado. Tais excludentes serão abordadas em item próprio, razão pela qual não se discorrerá sobre elas nesse momento. A teoria subjetivista da responsabilidade civil do empregador, por danos causados ao meio laboral-ambiental, encontra amparo no disposto no art. 7º, XXVIII, da CRFB, que concede ao trabalhador seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa. Os juristas que defendem a corrente em epígrafe, também utilizam como fundamento de seu entendimento os arts. 186, 187 e 927, caput, do CCB, que expressam: Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Art. 927: Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, é obrigado a repará-lo. Contudo, para essa corrente doutrinária, não se aplica ao empregador o disposto no parágrafo único do art. 927 do Código Civil, eis que norma infraconstitucional não pode ir de encontro a Lei Fundamental (art. 7º, XVIII, da CRFB).

28 Martins (2005, p. 461) leciona que: 21 A responsabilidade civil do empregador pelo acidente é subjetiva e não objetiva. Depende de prova de dolo ou culpa. Não é sempre presumida como a hipótese do 6º do art. 37 da Constituição; O parágrafo único do art. 927 do Código Civil de 2002 não se aplica para acidente do trabalho, pois o inciso XXVIII do art. 7º da Constituição dispõe que a indenização só é devida em caso de dolo ou culpa. No mesmo diapasão, Rossagnesi (2004, p. 88) ensina que a responsabilidade do empregador é subjetiva e que gerar empregos não significa colocar em risco ou em perigo; ao contrário, o trabalho e o desenvolvimento são talvez os maiores anseios de nossa nação, sendo fonte de dignidade do cidadão. 22 Sendo assim, pela teoria subjetivista, para que o empregador tenha o dever de reparação, devem restar comprovados quatro requisitos essenciais: a conduta ilícita, o dolo ou a culpa na atitude ativa ou omissiva, a existência de prejuízos (danos materiais ou imateriais) e a presença de nexo de causalidade entre a ação ou omissão do agente e os danos causados ao ambiente laboral. 3.2.2 Teoria da Culpa Presumida da Responsabilidade Como visto acima, a teoria subjetivista da responsabilidade civil possui entre seus requisitos a comprovação da culpa ou dolo do agente no cometimento de um ato ilícito que resultou num dano à vítima. Com o passar dos anos referida teoria evoluiu, surgindo um entendimento no sentido de que em determinados casos não seria necessária a comprovação da culpa do agente, eis que ela (culpa) já estaria presumida. 21 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. 22. ed. São Paulo, 2005, p. 461. 22 ROSSAGNESI, Reinaldo César. O meio ambiente do trabalho e a garantia constitucional da redução dos riscos de acidentes. São Paulo: LTr, 2004, p. 88.

29 Salienta-se que a teoria da culpa presumida ainda mantém a culpa como um dos requisitos da responsabilidade civil, todavia, afasta a comprovação da mesma por parte da vítima. Acontece neste caso, uma inversão do ônus da prova, onde competirá ao causador do dano a comprovação de que não agiu com culpa para a ocorrência dos prejuízos. esclarece: 23 No que se refere aos acidentes de trabalho Stoco (2004, p. 150) Foi assim que nasceu a obrigação de indenizar a vítima de um acidente de trabalho, antes que esse dever assumisse a condição de um instituto autônomo. Entendeu-se que sobrevindo o acidente o empregador tem o dever de indenizar, como conseqüência de uma obrigação contratual (De Page, op. Cit., n. 932-B) Logo, os danos causados ao meio ambiente do trabalho e por conseqüência ao empregado, seriam de responsabilidade do empregador, presumindo-se a sua culpa, diante do caráter de proteção à saúde e bem estar do trabalhador, inerente ao próprio contrato de trabalho. Portanto, a teoria da culpa presumida surgiu a partir de um avanço da teoria subjetiva da responsabilidade civil e no caminho para se chegar à responsabilidade objetiva, teoria esta que se analisará nos próximos dois tópicos. 3.2.3 Teoria Objetiva Pura da Responsabilidade A responsabilidade objetiva ganhou amplitude na França, no decorrer da segunda metade do século XIX, conforme ressalta Silva (1980, p. 93). 24 23 STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil. 6. ed. São Paulo: RT, 2004, p. 150. 24 SILVA, Wilson Melo da. Da Responsabilidade Civil Automobilística, São Paulo, Saraiva, 1980, p.93.

30 A responsabilidade em epígrafe, também denominada de legal, tem como característica a reparação de um dano pela pessoa que o cometeu, independentemente de ter agido com culpa ou dolo, desde que a sua ação ou omissão esteja vinculada por um nexo de causalidade com o prejuízo causado. Assim, o dano, entendido como uma lesão ao bem jurídico, é um elemento indispensável para a configuração da responsabilidade objetiva, podendo ser de ordem material ou imaterial. Da mesma forma, a comprovação do nexo de causalidade, ou seja, liame existente entre o fato lícito ou ilícito e o dano produzido, se torna essencial para a caracterização da responsabilidade objetiva. Fala-se em fato lícito ou ilícito, eis que é irrelevante a comprovação da legalidade do ato. A ação pode até ser autorizada legalmente, mas se a pessoa gerar um dano a outrem, obrigatoriamente terá arcar com os ônus decorrentes de sua atitude. Sobre o tema Nery Junior (2008, p. 175) assevera que 25 : [...] ainda que haja autorização da autoridade competente, ainda que a emissão esteja dentro dos padrões estabelecidos pelas normas de segurança, ainda que a indústria tenha tomado todos os cuidados para evitar o dano, se ele ocorreu em virtude da atividade do poluidor, há o nexo causal que faz nascer o dever de indenizar. Ao contrário do já visto em relação à responsabilidade civil subjetiva, a culpa ou o dolo do agente não são requisitos para a configuração da responsabilidade civil objetiva. Nesta, a idéia principal é a existência do dano e do nexo de causalidade. 25 NERY JUNIOR, Nelson. Responsabilidade Civil por Dano ecológico e a ação civil pública, Justitia, 126:175.

31 Analisados os elementos caracterizadores da responsabilidade objetiva, necessário se faz analisar a fundamentação de aplicação de tal vertente ao empregador, quando responsável por dano ao meio ambiente do trabalho. Os que defendem a aplicação da responsabilidade objetiva aos empregadores pelos danos causados ao meio ambiente do trabalho, têm sua posição fundamentada no art. 225, 3º e no art. 200, VIII, ambos da CRFB, que dispõem: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. [...] 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: [...] VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. Não obstante os artigos citados dizerem respeito ao meio ambiente, também são aplicados aos casos de dano ao meio ambiente do trabalho, posto que o meio ambiente laboral está inserido no contexto geral de meio ambiente (art. 200, VIII, CRFB). No mesmo diapasão da Carta Magna, a Lei 6.938/81 expressa em seu art. 14, 1º, que: Art 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores:

32 [...] 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. Desta forma, como se depreende da legislação ordinária, muito antes da promulgação da Constituição de 1988, já havia previsão da responsabilidade objetiva para a pessoa que causasse danos ao meio ambiente. Nesse sentido a 1ª Jornada de Direito Material e Processual na Justiça do Trabalho realizada nos dias 21 a 23 de novembro em Brasília, aprovou o enunciado n. 38 que dispõe: Nas doenças ocupacionais decorrentes dos danos ao meio ambiente do trabalho, a responsabilidade do empregador é objetiva. Interpretação sistemática dos arts. 7º. XXVIII, 200, VIII, 225, 3º, da Constituição Federal e do art. 14, 1º, da Lei n. 6.938/81. 26 E essa responsabilidade se daria pelo simples fato do empregador ter causado um dano ao meio ambiente do trabalho, independentemente da atividade exercida pela empresa ser de risco ou não, razão pela qual a difere da Teoria do Risco, que se abordará a seguir. 3.2.4 Teoria do Risco da Responsabilidade Inicialmente, realça-se que a teoria do risco é conceituada pela maioria dos juristas como uma espécie da teoria da responsabilidade objetiva. 26 MONTESSO, Cláudio José et al. Enunciados Aprovados na 1ª Jornada de Direito Material e Processual da Justiça do Trabalho, Brasília, LTr, 2007, p. 41.

33 Todavia, no presente trabalho está sendo analisada a teoria do risco em separado da objetiva pura, uma vez que se entende que para a configuração da responsabilidade com base na teoria do risco exige-se requisito especial, além daqueles exigidos para a responsabilidade objetiva, qual seja: a realização de atividade de risco. A teoria em pauta surgiu como uma forma de humanização da responsabilidade, isto é, com intuito de proteger ainda mais a integridade do ser humano, seja no seu aspecto, físico, mental ou social. Diniz (2004, p. 12) ensina que 27 :...a crescente tecnização dos tempos modernos, caracterizado pela introdução de máquinas, pela produção de bens em larga escala e pela circulação de pessoas por meio de veículos automotores, aumentando assim os perigos à vida e à saúde humana, levaram a uma reformulação da teoria da responsabilidade civil dentro de um processo de humanização. Este representa uma objetivação da responsabilidade, sob a idéia de que todo risco deve ser garantido, visando a proteção jurídica à pessoa humana, em particular aos trabalhadores e às vítimas de acidentes, contra a insegurança material, e todo dano deve ter um responsável. Nesse contexto é que o Código Civil Brasileiro consignou em seu art. 927, parágrafo único, que Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Como se depreende da norma citada, o empregador será considerado responsável pelo dano, independentemente de dolo ou culpa, desde que sua atividade seja de risco e que reste comprovado o nexo de causalidade entre a sua 27 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro Responsabilidade Civil I, 2004, p. 12, vol.vi

34 atitude (ativa ou omissiva) e os prejuízos causados ao empregado ou à sociedade atingida. Segundo Cavalieri Filho (1999, p. 51-53), a teoria do risco subdivide-se em várias modalidades 28 : a)teoria do risco-proveito funda-se essa teoria na idéia de que aquele que tira proveito da atividade danosa é responsável pela reparação do dano. Porém, aplica-se somente aos exploradores de atividades econômicas, e ao lesado impende provar a existência do proveito. b)teoria do risco criado por essa teoria "aquele que, em razão de sua atividade ou profissão, cria um perigo, está sujeito à reparação do dano que causar, salvo prova de haver adotado todas as medidas idôneas de evitá-lo" Dessa elucidação do Mestre Caio Mário se infere, que prescinde a prova do proveito da atividade. c)teoria do risco profissional esta teoria foi desenvolvida especificamente para justificar a reparação dos prejuízos advindos de acidentes do trabalho, e sustenta ser suficiente a lesão, seja em decorrência da atividade ou da profissão do lesado. d)teoria do risco excepcional voltada para responsabilizar exploradores de atividades de riscos coletivos (exploração de energia nuclear, materiais radioativos, etc.), que podem lesar até mesmo terceiros alheios a estas atividades. e)teoria do risco integral para esta teoria basta haver o dano para caracterizar o dever de indenizar. Não admite quaisquer causas excludentes da responsabilidade (culpa exclusiva da vítima, de terceiros, caso fortuito ou força maior). A teoria do risco encontra fundamento do art. 927 do Código Civil mesmo diante da alegação de que referido artigo seria inconstitucional, ante o disposto no art. 7º, XXVIII, da CF, que determina a responsabilidade civil quando houver dolo ou culpa do empregador. A responsabilidade pela teoria do risco vai além do artigo supra mencionado, eis que a Constituição deve ser analisada em seu contexto geral, em 28 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 1999, pp. 51, 52 e 53.