DESCARTE IRREGULAR DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM RIBEIRÃO PRETO-SP

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Transcrição:

117 DESCARTE IRREGULAR DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM RIBEIRÃO PRETO-SP Fabricia Cidro Silva Acadêmica do curso de Engenharia Civil do Centro Universitário Estácio de Ribeirão Preto. Julia Bachega Acadêmica do curso de Engenharia Civil do Centro Universitário Estácio de Ribeirão Preto. Alexandre Marques Buttler Mestre em Engenharia Civil (USP); docente do Centro Universitário Estácio de Ribeirão Preto. RESUMO O aumento populacional das grandes cidades levou a indústria da construção civil a um grande crescimento nos últimos anos, como aconteceu no município de Ribeirão Preto SP. Além de benefícios, o aumento do número de construções causa diversos impactos ambientais e urbanos, como o consumo de recursos naturais e a alta geração de resíduos. O maior problema no município em questão é o descarte irregular de RCC e a pouca utilização da reciclagem. A pesquisa analisou a legislação vigente e os principais erros do Plano Municipal de Gestão de Resíduos Sólidos da Construção Civil, e, desta forma, apresentou possibilidades de minimização da produção de resíduos e de seu descarte irregular no município. Palavras-chave: resíduos da construção civil; descarte irregular; reciclagem de resíduos da construção civil. ABSTRACT The population increase of the big cities has led the construction industry to a growth in recent years, as happened in the city of Ribeirão Preto - SP. In addition to benefits, the increase in the number of buildings causes diverse environmental and urban impacts, such as the consumption of natural resources and high generation of waste. The major problem in the municipality in question is the irregular disposal of construction waste and the low use of recycling. The research analyzed the current legislation and the main errors of the Municipal Plan for the Management of Solid Waste of Civil Construction, and, in this way, presented possibilities of minimizing the production of waste and its irregular disposal in the city. Key-words: construction waste; irregular disposal; recycling of construction waste. Introdução A Construção Civil é reconhecida como uma das mais importantes atividades para o progresso econômico e social, e, por outro lado, ainda age como grande geradora de impactos ambientais, pelo consumo de recursos naturais e inclusive pela geração de resíduos. Na cidade de Ribeirão Preto, cerca de 70% da quantidade total de sólidos produzidos é resultante da construção civil, de acordo com a SindusCon (2005). O município apresentou um crescimento populacional de 12,84%, em um período de sete anos (2010 a 2017), de acordo com os dados do IBGE, levando a indústria da construção civil a uma alta progressão, e, consequentemente, a uma alta geração de RCC. Enquanto a

118 geração de resíduos era de 1043 toneladas por dia em 2005 (SindusCon, 2005), a Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto estima que em 2017 este valor passa de 1500 toneladas diárias. Este aumento na produção de resíduos tem trazido problemas de saneamento urbano à cidade e seus munícipes, devido ao descarte irregular em áreas inapropriadas, públicas e privadas. Pinto e González (2005) estudaram a geração diária de RCC em algumas cidades brasileiras e conforme mostra a tabela 1, e Ribeirão Preto apresenta a maior quantidade entre as cidades estudadas, sendo sua maioria resultante de novas edificações. Municípios Tabela 1 Origem dos RCC em cidades brasileiras Novas edificações (t/dia) Reformas, ampliações e demolições (t/dia) Remoção e deposições (t/dia) Total de RCC (t/dia) São José dos Campos 201 184 348 733 Ribeirão Preto 577 356 110 1043 Santo André 477 536-1013 São José do Rio Preto 244 443-687 Jundiaí 364 348-712 Vitória da Conquista 57 253-310 Uberlândia 359 359 241 958 Guarulhos 576 732-1308 Diadema 137 240 81 458 Piracicaba 204 416-620 Fonte: Pinto e González (2005) Segundo Karpinsk et al. (2009), no geral, os resíduos da construção civil são considerados de baixa periculosidade, sendo o maior impacto causado pelo grande volume gerado. Porém, pode-se encontrar dentre os RCC materiais orgânicos, produtos perigosos e embalagens que podem acumular água e favorecer a proliferação de insetos e vetores de doenças. A importância da reciclagem dos resíduos da construção civil e o uso do material reciclado ainda é pouco discutido e muitos ainda têm certo preconceito relacionado a duração, resistência ou qualidade de um material sustentável, que pode substituir certo material novo sem perder essas características. A reciclagem de resíduos na construção civil deve ser prioridade na Política Nacional de Resíduos Sólidos, conforme resolução CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) 307 de 2002, como forma de reduzir os impactos

119 ambientais gerados pelos materiais descartados. Ainda que o texto legal estabeleça a transformação dos resíduos a fim de que possam ser reutilizados, muitos gestores do setor não veem vantagem financeira nessa operação. O resíduo da construção civil tem valor agregado muito baixo porque substitui brita e areia que são produtos de custo relativamente baixo. O presente trabalho tem como objetivo identificar os impactos causados pela geração crescente de RCC descartados irregularmente na cidade de Ribeirão Preto SP, analisar a legislação vigente e os principais problemas da gestão municipal, e, desta forma, buscar possibilidades de minimização da produção de resíduos e de seu descarte irregular no município. 1. Legislação vigente 1.1. Conceito, classificação e destinação final dos RCC A Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) nº 307/2002 (BRASIL, 2002) define os RCC como os provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos. São eles tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica, etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha (BRASIL, 2002). A mesma Resolução n 307/2002, em seu Art. 3, classifica tais resíduos em quatro classes (A, B, C e D), os quais, após triagem, deverão ser destinados das seguintes formas (Art. 10 da Resolução CONAMA 307/2002, alterada pelas Resoluções 348/2004, 431/2011 e 448/2012), apresentadas na Tabela 2. Tabela 2 Classificação e Destino Final dos Resíduos Sólidos da Construção Civil Classes Integrantes Elementos A Resíduos reutilizáveis ou recicláveis Componentes cerâmicos, argamassas, concretos. B C Resíduos recicláveis para outros fins Resíduos não recicláveis ou sem recuperação economicamente viável Plásticos, papel e papelão, metais, vidros, madeiras e outros. Gesso, isopor e outros. D Resíduos perigosos, contaminados ou prejudiciais à saúde. Tintas, solventes, óleos, telhas de amianto e outros. Fonte: Resolução CONAMA 307/2002, alterada pelas Resoluções 348/2004, 431/2011 e 448/2012 (BRASIL, 2002).

120 1.2. Responsabilidade pela geração dos RCC A Resolução CONAMA n 307/2002 determina aos geradores de RCC a responsabilidade pelos resíduos das atividades de construção, reforma, reparos e demolições de estruturas e estradas, bem como por aqueles resultantes da remoção de vegetação e escavação. De acordo com o Art. 4 da Resolução CONAMA n 307, modificada pela Resolução 448/2012, os geradores possuem as seguintes atribuições: Os geradores deverão ter como objetivo prioritário a não geração de resíduos e, secundariamente, a redução, a reutilização, a reciclagem, o tratamento dos resíduos sólidos e a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos. Segundo a resolução, o poder público tem o dever de criar planos e medidas com regulamentações para reciclagem e descarte final desses resíduos, que não devem ser depositados em aterros de lixo doméstico. Para as construtoras, é imposta a execução de projetos de gerenciamento dos resíduos das obras que também devem ser entregues à prefeitura da cidade para aprovação. 1.3. Responsabilidade municipal frente à Resolução CONAMA n 307 Para regulamentar a gestão de RCC e disciplinar o exercício das responsabilidades de todos os geradores, o CONAMA estabeleceu diretrizes, critérios e procedimentos para a diminuição dos impactos ambientais negativos gerados pelos resíduos oriundos da construção civil. As alterações trazidas pela Resolução CONAMA nº448/2012 adequaram a Resolução nº307/2002 ao disposto na Lei 12.305/2010 da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Assim, aos órgãos municipais competem a elaboração e a execução de seu Plano Municipal de Gestão de Resíduos Sólidos da Construção Civil - PMGRCC, como um importante instrumento para a implementação da gestão local de RCC. No PMGRCC devem constar (Art. 6 da Resolução CONAMA nº 307/2002, alterada pela Resolução n 448/2012): I - as diretrizes técnicas e procedimentos para o exercício das responsabilidades dos pequenos geradores, em conformidade com os critérios técnicos do sistema de limpeza urbana local e para os Planos de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil a serem elaborados pelos grandes geradores, possibilitando o exercício das responsabilidades de todos os geradores; II - o cadastramento de áreas, públicas ou privadas, aptas para recebimento, triagem e armazenamento temporário de pequenos volumes, em conformidade com o porte da área urbana municipal, possibilitando a destinação posterior dos resíduos oriundos de pequenos geradores às áreas de beneficiamento; III - o estabelecimento de processos de licenciamento para as áreas de beneficiamento e reservação de resíduos e de disposição final de rejeitos; IV - a proibição da disposição dos resíduos de construção em áreas não licenciadas; V - o incentivo à reinserção dos resíduos reutilizáveis ou reciclados no ciclo

121 produtivo; VI - a definição de critérios para o cadastramento de transportadores; VII - as ações de orientação, de fiscalização e de controle dos agentes envolvidos; VIII - as ações educativas visando reduzir a geração de resíduos e possibilitar a sua segregação (BRASIL, 2002). O diagnóstico dos resíduos gerados nas municipalidades é uma necessidade básica, pois só o conhecimento sobre a natureza desses resíduos poderá conduzir a planos de gestão e de gerenciamento mais adequados. A PNRS introduziu o conceito da gestão integrada de resíduos sólidos como um conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável (BRASIL, 2010). Dentre seus instrumentos, a PNRS dispõe sobre os planos de resíduos sólidos, exigidos em diferentes níveis governamentais. No âmbito local, os municípios devem elaborar e implementar seus Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS), os quais devem apresentar, entre outros itens, indicadores de desempenho operacional e ambiental dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, incluindo os RCC. Os PMGRCC deverão, portanto, estar em consonância a cada PMGIRS, podendo ser elaborados conjuntamente com outros municípios. 2. Metodologia A metodologia adotada foi a organização sistemática de dados coletados através de entrevista e questionários destinados a um gestor público da Secretaria Municipal de Ribeirão Preto SP e a responsáveis em duas empresas de coletas com licenciamento ambiental ativo, e observação de campo. 3. Resultados Atualmente, a gestão pública enfrenta problemas em relação à deposição de entulho em locais inapropriados devido ao grande número de empresas de coleta não licenciadas para a atividade, quase um terço do total, e pequenos geradores depositarem resíduos em áreas públicas e privadas sem autorização. A Coordenadoria de Limpeza Urbana da Prefeitura de Ribeirão Preto - SP disponibiliza informações em seu site (www.ribeiraopreto.sp.gov.br/) ou telefone sobre o descarte de resíduos provenientes de obras ou reformas residenciais, comerciais ou prediais que é de responsabilidade total do gerador. A deposição irregular é passível de multa que pode variar de R$501,00 a R$11.000,00, segundo Lei Complementar Municipal nº

122 1704/2004, Lei Complementar Municipal nº 1616/2004 e Lei de Crimes Ambientais nº 9605/1998. O Plano Municipal de Gestão de Resíduos da Construção Civil (PMGRCC) já possui alternativas para minimização do descarte irregular, como a campanha de caçambas sociais em alguns pontos da cidade e na ecopraça. As caçambas são divididas por cores para a separação dos resíduos e reciclagem: verde para entulho; vermelho para descartáveis; amarelo para madeira e restos de jardinagem. Este serviço permite uma quantidade diária de descarte de 50 kg por pessoa, sendo seu recolhimento diário. Figura 1 Caçambas Sociais Fonte: Próprio Autor A prefeitura disponibiliza também, um serviço de deposição gratuito para até 2m³ de resíduos para aqueles que os levarem com os meios próprios até a Usina de Reciclagem de Entulho da Construção Civil, onde o material é separado e reciclado. Construtoras ou moradores que necessitarem do aluguel de caçambas para um descarte de maior volume, devem entrar em contato com empresas de coleta autorizadas e licenciadas pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente e pela CETESB. As empresas que coletam RCC necessitam do licenciamento ambiental da CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) juntamente com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, que definem os locais apropriados para o descarte dos resíduos de cada

123 classe. A partir do questionário verificou-se que as empresas licenciadas para a coleta de RCC realizam de forma correta o descarte e a separação dos resíduos em classes de acordo com a legislação municipal vigente. Porém, a reciclagem ainda não é completa, uma vez que os responsáveis pelas empresas estimam que apenas cerca de 60% dos resíduos recicláveis são, de fato, reciclados. Conclusão Pode-se concluir que, os principais causadores pelo descarte irregular de entulho são os pequenos geradores e que os pontos críticos de deposição inapropriada são localizados em áreas mais carentes da cidade. O aluguel de caçambas de empresas de coleta licenciadas possui um preço elevado, desta forma, muitos munícipes buscam uma área vazia próxima para descartar os RCC. As medidas já tomadas pela Prefeitura Municipal são ineficientes para o tamanho do município, como por exemplo, as caçambas sociais são localizadas todas apenas em uma única região da cidade, distantes de algumas áreas que possuem o descarte irregular constante. Desta forma, também dificultando o acesso dos munícipes que residem em áreas mais distantes do local onde estão instaladas. A campanha de caçambas sociais seria mais eficaz se cobrisse mais regiões do município e se seu recolhimento fosse, de fato, diário. A cidade possui cinco pontos críticos de descarte irregular que comprometem o saneamento urbano, localizados nas avenidas Patriarca, Rio Pardo, Cásper Líbero, General Euclídes de Figueiredo e Avenida dos Andradas, que mesmo com as medidas já tomadas pela Prefeitura, continuam recebendo entulho, visto que o poder público não exerce uma fiscalização rígida no cumprimento da legislação imposta. Além disso, a falta de conscientização popular é a maior causadora do problema em questão.

124 Figura 2 Pontos consideráveis críticos onde se encontram as caçambas sociais. Fonte: Próprio Autor Além do aumento da fiscalização, a gestão municipal pode seguir ações propostas por John e Agopyan (2003) como a criação de campanhas educativas. Contudo, para minimizar a quantidade de resíduos descartados é necessário que, primeiramente, diminua-se a quantidade de resíduos gerados, partindo para a ideia da reciclagem e reutilização destes, assim como algumas grandes construtoras já vêm adotando. Os impactos ambientais das áreas inapropriadamente utilizadas para o descarte de RCC vão além de visuais, visto que, os dejetos de telhas de amianto, material altamente nocivo, e restos de tintas e solventes, que possuem propriedades tóxicas, podem causar poluição do solo e dos lençóis freáticos. Outro problema gerado pelo entulho é o acumulo de água em embalagens de produtos, contribuindo com a proliferação de mosquitos vetores de doenças, como a dengue, além de outros animais que podem se procriar dentre os resíduos. A campanha de caçambas sociais seria mais eficaz se cobrisse mais regiões do município e se seu recolhimento fosse, de fato, diário.

125 REFERÊNCIAS ÂNGULO, Sérgio Cirelli; ZORDAN, Sérgio Edurado; JOHN, Vanderley Moacyr. Desenvolvimento sustentável e a reciclagem de resíduos na construção civil. São Paulo: SP, 2001. AZEVEDO, Gardênia Oliveira David de; KIPERSTOK, Asher; MORAES, Luiz Roberto Santos. Resíduos da construção civil em Salvador: os caminhos para uma gestão sustentável. Eng. sanit. ambient, v. 11, n. 1, p. 65-72, 2006. BRASIL (2002) CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução n 307, de 5 de julho de 2002. Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão de resíduos da construção civil. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=307>. Acesso em 19 set. 2017. BRASIL (2010) Lei n.º 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei n 9.605, de 12 de fevereiro de 1988; e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>>. Acesso em 19 set. 2017 DELONGUI, Lucas et al. Panorama dos resíduos da construção civil na região central do Rio Grande do Sul Construction and demolition waste situation in central region of Rio Grande do Sul. Teoria e Prática na Engenharia Civil, n. 18, p. 71-80, 2011. JOHN, Vanderley M.; AGOPYAN, Vahan. Reciclagem de resíduos da construção. Seminário Reciclagem de Resíduos Sólidos Domésticos, 2000. KARPINSK, Luisete Andreis. Gestão diferenciada de resíduos da construção civil: uma abordagem ambiental. EDIPUCRS, 2009. OLIVEIRA, Edieliton Gonzaga de; MENDES, Osmar. Gerenciamento de resíduos da construção civil e demolição: estudo de caso da Resolução 307 do CONAMA. http://pucgoias.edu.br/ucg/prope/cpgss/arquivosupload/36/file/continua/gere NCIAMENTO%20DE%20RES%C3%8DDUOS%20DA%20CONSTRU%C3%87%C3%83O %20CIVIL%20E%20DEMOLI%C3%87%C3%83O%20- %20ESTUDO%20DE%20CASO%20DA%20RESOL.pdf, v. 87, p. C3, 2008. PINTO, Tarcísio de Paula. Metodologia para a gestão diferenciada de resíduos sólidos da construção urbana. São Paulo, v. 189, 1999.