COMISSÃO EUROPEIA Bruxelas, 14-X-2004 C(2004) 4047 Assunto: Auxílio estatal / Portugal Auxílio n. NN 40/2003 Auxílio à Coopafreixo-Cooperativa Agrícola, CRL Senhora Ministra, Pela presente, a Comissão tem a honra de informar o Governo português de que, após ter apreciado as informações transmitidas pelas autoridades portuguesas sobre a medida em epígrafe, decidiu não levantar objecções a seu respeito. I- Procedimento 1. Por carta de 24 de Setembro de 2002 (ref.: AGR 022255), os serviços da Comissão solicitaram às autoridades portuguesas informações relativamente a uma série de medidas de apoio que as autoridades municipais de Freixo de Espada à Cinta teriam concedido à cooperativa oleícola Coopafreixo, CRL, desde 1999. Nomeadamente, de acordo com as informações recebidas através de uma queixa, as autoridades municipais dessa localidade estariam a prever a concessão de um auxílio aos investimentos dessa cooperativa no montante de 249 398,95 euros. 2. Em 14 de Março de 2003, os serviços da Comissão enviaram uma carta de insistência (ref.: AGR 07815). Por carta de 19 de Março de 2003, as autoridades portuguesas precisaram que, em 2002, as autoridades locais tinham efectivamente decidido conceder uma subvenção de 50 000 euros a Coopafreixo, CRL, para a construção e instalação de uma nova linha de produção de azeite. Acrescentaram que esse investimento teria sofrido atrasos e que, até à data, só teria sido concedido, de facto, um montante de 5 000 euros. Tratando-se de um auxílio já posto em execução, foi inscrito no registo dos auxílios não notificados. 3. Após exame desta comunicação, os serviços da Comissão solicitaram, por carta de 5 de Maio de 2003 (ref.: AGR 011837), uma nova série de informações sobre o(s) auxílio(s) em questão. 4. Por carta de 4 de Junho de 2003, a Representação Permanente de Portugal junto da União Europeia solicitou uma prorrogação de quatro semanas do prazo fixado para a prestação das informações solicitadas Sua Excelência Dr. Teresa Gouveia Ministra dos Negócios Estrangeiros e das Comunidades Portuguesas Largo do Rilvas P - 1354 - Lisboa Codex Commission européenne, B-1049 Bruxelles / Europese Commissie, B-1049 Brussel - Belgien. Telefon: (32-2) 299 11 11. http://europa.eu.int/comm/secretariat_general
pelos serviços da Comissão. Por carta de 25 de Julho de 2003 (ref.: AGR 019489), os serviços da Comissão concederam esse prazo suplementar. 5. Não tendo recebido resposta no prazo suplementar fixado na carta supramencionada, em 19 de Dezembro de 2003, os serviços da Comissão enviaram às autoridades portuguesas uma nova carta de insistência (ref.: AGR 34552) na qual indicaram que, na ausência de resposta nos vinte dias seguintes à recepção dessa carta, se reservavam o direito de propor à Comissão que desse início ao procedimento de injunção para prestação de informações ao abrigo do disposto no n.º 3 do artigo 10º do Regulamento (CE) n.º 659/1999 do Conselho, de 22 de Março de 1999, que estabelece as regras de execução do artigo 93º (actual artigo 88 ) do Tratado CE1. 6. Tendo expirado o prazo acima mencionado sem que tenha recebido qualquer resposta, a Comissão decidiu, por carta de 26 de Março de 2004 [SG-Greffe(2004) D/201183] e por força do disposto no n.º 3 do artigo 10º do Regulamento (CE) n.º 659/1999 do Conselho, de 22 de Março de 1999, instar as autoridades portuguesas a fornecer-lhe todos os dados necessários à adopção de uma decisão quanto à compatibilidade do auxílio em causa com o Tratado. As autoridades portuguesas responderam a esta injunção da Comissão através da carta de 8 de Junho de 2004. II- Descrição 7. Através de uma queixa, os serviços da Comissão foram informados das várias medidas de apoio que as autoridades municipais de Freixo de Espada à Cinta teriam concedido à cooperativa oleícola Coopafreixo, CRL, desde 1999. Das informações transmitidas decorre também que as autoridades municipais dessa localidade teriam decidido contribuir para o financiamento do investimento que a referida cooperativa prevê realizar num montante de 249 398, 95 euros. 8. Na sua carta de 19 de Março de 2003, as autoridades portuguesas confirmaram algumas informações recebidas pela Comissão relativas à aprovação, em 2002, de um apoio no montante de 50 000 euros à citada cooperativa com vista a apoiar a construção, por esta última, de uma nova linha de produção de azeite. 9. Convém registar que, nessa comunicação, as autoridades portuguesas não fazem qualquer menção a outras eventuais medidas de apoio que, segundo as informações fornecidas à Comissão, teriam sido concedidas à mesma cooperativa desde a sua criação, ou seja: crédito no valor de 120 milhões de euros e atribuição, em condições favoráveis e sem qualquer procedimento formal de atribuição, de um terreno numa zona industrial da municipalidade. 1 JO L 83 de 27.03.1999, p. 1. 2
10. Em resposta à injunção para prestação de informações enviada pela Comissão, através da carta de 8 de Junho de 2004, as autoridades portuguesas: confirmaram que, apesar de as autoridades locais terem inicialmente previsto a concessão de um auxílio no valor de 50 000 euros à Coopafreixo, CRL, para apoiar a realização dos investimentos necessários à construção de uma nova linha de produção de azeite, de facto, só teriam sido concedidos 5 000 euros para apoiar a realização de um projecto ou estudo prévio de arquitectura, necessário para a apresentação de um processo completo destinado a solicitar às autoridades competentes o eventual financiamento dos referidos investimentos pelo Quando Comunitário de Apoio III; ofereceram garantias de que a cooperativa Coopafreixo era, no momento da concessão do auxílio, uma empresa economicamente viável com base numa avaliação das perspectivas de exploração e respeitava as normas mínimas em matéria de ambiente e higiene; demonstraram que há um escoamento normal no mercado para o(s) produto(s) em causa (azeite). Neste contexto, as autoridades portuguesas forneceram informações sobre a situação deficitária no que respeita à produção de azeite em Portugal, que importará anualmente uma quantidade superior a 40 000 toneladas para cobrir as suas necessidades. As autoridades apresentam informações pormenorizadas sobre a existência de um plano de plantação de oliveiras perfazendo um total de 30 000 novos hectares, bem como sobre a tendência de um aumento progressivo do consumo deste produto nos próximos anos em Portugal; asseguraram que não foi concedida qualquer outra medida de auxílio à mesma cooperativa desde 24 de Setembro de 1992. As autoridades declararam que as autoridades municipais não concederam um crédito de 120 milhões de euros (nem que qualquer outro montante) à cooperativa em causa e asseguram que, contrariamente às informações recebidas pela Comissão, esta cooperativa não terá recebido gratuitamente um terreno numa zona industrial da municipalidade, tendo adquirido o dito terreno a preço de mercado. III- Avaliação 1. Carácter de auxílio. Aplicabilidade do n.º1 do artigo 87º do Tratado 11. Na acepção do n.º 1 do artigo 87º do Tratado, e excluídas as derrogações previstas no próprio Tratado, são incompatíveis com o mercado comum, na medida em que afectem as trocas comerciais entre os Estados- Membros, os auxílios concedidos pelos Estados ou provenientes de recursos estatais, independentemente da forma que assumam, que 3
falseiem ou ameacem falsear a concorrência, favorecendo certas empresas ou certas produções. 12. Essas condições parecem, a priori, estar reunidas no caso vertente: o auxílio sob a forma de subvenção directa é concedido pela autoridade pública local, implica a utilização de fundos públicos e afecta a concorrência e as trocas comerciais entre os Estados-Membros. Segundo uma jurisprudência constante, a condição de afectação das trocas comerciais verifica-se quando a empresa beneficiária exerce uma actividade económica que dê origem a trocas comerciais entre os Estados-Membros. O simples facto de o auxílio reforçar a posição dessa empresa em relação a outras empresas concorrentes no âmbito das trocas comerciais intracomunitárias permite considerar que tais trocas foram afectadas. 13. No caso em apreço, o montante atribuído à Coopafreixo, CRL, ou seja, 5 000 euros para apoiar a realização de um projecto ou estudo prévio de arquitectura, pressupõe uma vantagem de que as outras empresas não podem beneficiar; por outro lado, o beneficiário exerce uma actividade económica no sector da produção e comercialização do azeite, produto que é objecto de numerosas trocas comerciais entre os Estados- Membros2. Trata-se, pois, em princípio, de um auxílio estatal nos termos do n.º 1 do artigo 87º do Tratado. 2. Legalidade do auxílio 14. As autoridades portuguesas não notificaram o auxílio em causa à Comissão, nos termos do disposto no n.º 3 do artigo 88º do Tratado. Por conseguinte, trata-se de um novo auxílio não notificado à Comissão e, por esse facto, ilegal na acepção da alínea f) do artigo 1º do Regulamento (CE) n.º 659/1999 do Conselho, de 22 de Março de 1999, que estabelece as regras de execução do artigo 93 (novo artigo 88º) do Tratado CE. 3. Compatibilidade do auxílio 15. Todavia, são admitidas derrogações ao princípio da incompatibilidade consagrado no n.º 1 do artigo 87º. 16. A única derrogação que pode ser considerada nesta fase para o caso em apreço é a estabelecida no n.º 3, alínea c), do artigo 87º, a qual prevê que podem ser consideradas compatíveis com o mercado comum os auxílios destinados a facilitar o desenvolvimento de certas actividades ou regiões económicas, quando não alterem as condições das trocas comerciais de maneira que contrariem o interesse comum. 17. O Regulamento (CE) n. 1/2004 da Comissão, de 23 de Dezembro de 2003, relativo à aplicação dos artigos 87 e 88 do Tratado CE aos auxílios estatais a favor das pequenas e médias empresas que se dedicam à produção, transformação e comercialização de produtos 2 Em 2002, as trocas intra-ue de azeite ascendiam a 756 000 toneladas com base nas entradas e a 633 000 toneladas com base nas saídas (Fonte: Comissão Europeia, Eurostat). 4
agrícolas 3 não é aplicável ao caso vertente, uma vez que não existem dados suficientes que garantam que o beneficiário é uma PME. 18. Tratando-se de um auxílio concedido em 2002 destinado a apoiar a prestação de assistência técnica, a saber, a realização de um projecto ou estudo de arquitectura, a compatibilidade do auxílio concedido deve ser avaliada utilizando como referência as "Orientações comunitárias para os auxílios estatais no sector agrícola"4, mais concretamente o ponto 14 respeitante ao apoio associado às prestações de assistência técnica aos agricultores. 19. Decorre das informações prestadas pelas autoridades portuguesas que, apesar de inicialmente ter sido prevista a concessão de um auxílio de 50 000 euros à Coopafreixo, CRL, para apoiar os investimentos necessários à construção de uma nova linha de produção de azeite, na realidade, o único auxílio concedido foi de 5 000 euros para apoiar a realização de um projecto de arquitectura prévio à realização dos investimentos. 20. Neste contexto, o projecto de arquitectura consiste numa prestação de assistência técnica prévia à eventual decisão de investimento. O apoio concedido para despesas gerais, como honorários de arquitectos, engenheiros e peritos ou estudos de viabilidade, que deveriam normalmente ser consideradas parte do investimento na qualidade de despesas gerais, pode ser avaliado como assistência técnica. 21. Em conformidade com o ponto 14 das Orientações, a Comissão encara favoravelmente os programas de auxílio destinados a fornecer assistência técnica no sector agrícola. A taxa do auxílio pode, consequentemente, ascender a 100% no que se refere a actividades como o fornecimento de serviços de gestão agrícola ou ao pagamento de honorários de peritos ou de conselheiros. Este tipo de auxílio deve ser acessível a todas as pessoas elegíveis activas na zona em causa, em condições objectivamente definidas e no respeito de um limite máximo de 100 000 euros por beneficiário e por período de três anos. 22. No caso vertente, o auxílio ad hoc atribuído para a realização de um projecto de arquitectura prévio à construção de uma nova linha de produção respeita estas exigências. Com efeito, segundo as informações fornecidas pelas autoridades portuguesas, as despesas elegíveis correspondem às previstas nessa disposição. Em causa está a cobertura das despesas referentes a uma prestação de serviços que não tem um carácter contínuo ou periódico e não está associada a despesas normais de funcionamento da empresa. 23. De acordo com as informações fornecidas, o montante concedido fica bastante aquém do limite máximo de 100 000 euros por período de três anos, não havendo uma sobrecompensação dos custos da prestação. 3 JO L 1 de 3.1.2004, p.1. 4 JO C 28 de 1.2.2000, p. 2. 5
24. A Comissão concluiu que o auxílio concedido à cooperativa agrícola Coopafreixo, CRL, respeita as condições estabelecidas no ponto 14 das orientações comunitárias para os auxílios estatais no sector agrícola, sendo, por conseguinte, compatível com o disposto no nº. 3, alínea c), do artigo 87º do Tratado. 25. A Comissão regista as garantias fornecidas pelas autoridades portuguesas quanto ao facto de não ter sido concedida à mesma cooperativa, desde 24 de Setembro de 1992, qualquer outra medida de auxílio além do apoio de 5 000 euros analisado supra. IV- Conclusão 26. A Comissão lamenta que Portugal tenha posto o regime atrás referido em execução em violação do n.º 3 do artigo 88º do Tratado CE. 27. A Comissão conclui que a medida não apresenta riscos de afectar as trocas comerciais de forma contrária ao interesse comum. Por conseguinte, pode beneficiar da derrogação prevista no n.º 3, alínea c), do artigo 87º do Tratado, na qualidade de medida que pode contribuir para o desenvolvimento do sector. 28. Caso a presente carta contenha elementos confidenciais que não devam ser divulgados a terceiros, a Comissão deve ser informada desse facto no prazo de quinze dias úteis a contar da data de recepção da presente carta. Se a Comissão não receber um pedido fundamentado nesse sentido no prazo indicado, presumirá que existe acordo quanto à publicação do texto integral da carta. O referido pedido deve ser enviado por carta registada ou por fax para: Agrícolas Comissão Europeia Direcção-Geral da Agricultura Direcção H2 - Legislações Económicas Gabinete: Loi 120 5/128 B-1049 BRUXELAS Telecopiadora: 32 2 296 76 72 Queira Vossa Excelência aceitar a expressão da minha mais elevada consideração. Pela Comissão Franz FISCHLER 6 Membro da Comissão
7