Agronegócio é uma palavra nova, da década de 1990, e é também uma construção ideológica para tentar mudar a imagem latifundista da agricultura

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Transcrição:

QUE É AGRONEGÓCIO?

Agronegócio é uma palavra nova, da década de 1990, e é também uma construção ideológica para tentar mudar a imagem latifundista da agricultura capitalista. O latifúndio carrega em si a imagem da exploração, do trabalho escravo, da extrema concentração da terra, do coronelismo, do clientelismo, da subserviência, do atraso político e econômico. A imagem do agronegócio foi construída para renovar a imagem da agricultura capitalista, para modernizá-la. É uma tentativa de ocultar o caráter concentrador, predador, expropriatório e excludente para dar relevância somente ao caráter produtivista, destacando o aumento da produção, da riqueza e das novas tecnologias.

O agronegócio intensificou a produção e a produtividade, mas não solucionou os problemas socioeconômicos e políticos: o latifúndio efetua a exclusão pela improdutividade, o agronegócio promove a exclusão pela intensa produtividade; A agricultura capitalista ou agricultura patronal ou agricultura empresarial ou agronegócio, qualquer que seja o eufemismo utilizado, não pode esconder o que está na sua raiz, na sua lógica: a concentração e a exploração.

Nessa nova fase de desenvolvimento, o agronegócio procura representar a imagem da produtividade, da geração de riquezas para o país. Desse modo, se torna o espaço produtivo por excelência, cuja supremacia não pode ser ameaçada pela ocupação da terra. Se o território do latifúndio pode ser desapropriado para a implantação de projetos de reforma agrária, o território do agronegócio apresenta-se como sagrado, que não pode ser violado. O agronegócio é um novo tipo de latifúndio e ainda mais amplo, agora não concentra e domina apenas a terra, mas também a tecnologia de produção e as políticas de desenvolvimento (este é o grande desafio da agricultura camponesa)

Outra construção ideológica do agronegócio é convencer a todos de que é responsável pela totalidade da produção da agropecuária. Toda vez que a mídia informa os resultados das safras, credita toda a produção na conta do agronegócio. É a arte da supremacia. O agronegócio se apropria de todos os resultados da produção agrícola e da pecuária com se fosse o único produtor do país. A agricultura camponesa que é responsável por mais da metade da produção com exceção da soja, cana e laranja, não aparece como grande produtora. Com essa estratégia, o agronegócio é privilegiado com a maior fatia do crédito agrícola.

O agronegócio vende a idéia de que seu modelo de desenvolvimento é a única via possível. Essa condição é reforçada pela mídia e por estudiosos que homogeneízam as relações sociais, as formas de organização do trabalho e do território como se fossem da mesma natureza. O poder do agronegócio aparece como se fosse construído a partir do mercado, do livre comércio. Enquanto de fato o mercado é construído a partir das ações resultantes das políticas que regulam as práticas do mercado. Portanto, o mercado não está começo, mas nos resultados das políticas. Com esse poder de controle social, o mercado é o paraíso do agronegócio e o purgatório da agricultura familiar.

O agronegócio procura manter o controle sobre as políticas e sobre o território, conservando assim um amplo espaço político de dominação. As ocupações de terra ferem profundamente esta lógica e por essa razão o agronegócio investe ferozmente na criminalização da luta pela terra. Não importa para o capital ser o dono da terra, o que importa é que a forma de acesso seja por meio das relações de mercado, de compra e venda. Por essa razão, as ocupações de terra são uma afronta ao agronegócio, porque essa prática secular de luta popular encontra-se fora da lógica de dominação das relações capitalistas.

A cada ano o agronegócio se territorializa com maior rapidez e desterritorializa a agricultura camponesa ou familiar. O empobrecimento dos pequenos agricultores e o desemprego estrutural agudiza as desigualdades e não resta à resistência camponesa outra saída a não ser a ocupação da terra como forma de ressocialização. O campesinato é um grupo social que além das relações sociais em que está envolvido, tem o trunfo do território. Os agricultores familiares precisam construir seus próprios espaços políticos de enfretamento com o agronegócio e manter sua identidade socioterritorial. Essas condições são fundamentais para o desenvolvimento da agricultura e do Brasil.

PERSPECTIVAS DA AGRICULTURA CAMPONESA A agricultura camponesa não é adepta do produtivismo, ou seja produzir uma única cultura e com exclusividade para o mercado e nem se utiliza predominantemente de insumos externos. Seu potencial de produção de alimentos está na diversidade, no uso múltiplo dos recursos naturais. Nas regiões onde há concentração de pequenos agricultores, a desigualdade é menor e por conseguinte os índices de desenvolvimento estão entre os maiores.

CAMPO DO AGRONEGÓCIO Monocultura Commodities. Paisagem homogênea e simplificada Produção para exportação (preferencialmente) Cultivo e criação onde predomina as espécies exóticas. Erosão genética Tecnologia de exceção com elevado nível de insumos externos Competitividade e eliminação de empregos Concentração de riquezas, aumento da miséria e da injustiça social Êxodo rural e periferias urbanas inchadas Campo com pouca gente Campo do trabalho assalariado (em decréscimo) Paradigma da Educação rural Perda da diversidade cultural CAMPO DA AGRICULTURA CAMPONESA Policultura uso múltiplo dos recursos naturais. Paisagem heterogênea e complexa Produção para o mercado interno e para exportação Cultivo e criação onde predomina as espécies nativas e da cultura local. Conservação e enriquecimento da diversidade biológica. Tecnologia apropriada, apoiada no saber local, com base no uso da produtividade biológica primária da natureza. Trabalho familiar e geração de emprego Democratização das riquezas desenvolvimento local Permanência, resistência na terra e migração urbano rural Campo com muita gente, com casa, com escola... Campo do trabalho familiar e da reciprocidade Paradigma da Educação do Campo Riqueza cultural diversificada festas, danças, poesia, música exemplo: o Mato Grosso é o maior produtor brasileiro de milho e não comemora as festas juninas. Já no Nordeste... AGRO NEGÓCIO AGRI - CULTURA

Da escravidão à colheitadeira controlada por satélite, o processo de exploração e dominação está presente, a concentração da propriedade da terra se intensifica e a destruição do campesinato aumenta.

NÃO SÃO AS GRANDES COORPORAÇÕES QUE AFIRMAM QUE OS PEQUENOS AGRICULTORES/AGRICULTORES FAMILIARES/CAMPONESES SÃO AGRONEGÓCIO, MAS SIM ALGUNS INTELECTUAIS E ALGUMAS ORGANIZAÇÕES QUE PROCURAM ENCAIXAR A PRODUÇÃO FAMILIAR NO CONCEITO DE AGRONEGÓCIO