Priscilla Mona de Amorim a,1 Roselaine Ten Caten Piper a,2 Eronaldo Assunção Valles a,3 a Departamento de Geografia ICHS UFMT (PET/FNDE) 1 priscilla_amorim_22@hotmail, ² rosetencatenpiper@hotmail.com, ³ naldovalles@gmail.com Distribuição Espacial dos Casos de Mortes por Agressão na Cidade de Cuiabá- MT entre os anos 2000 e 2010. INTRODUÇÃO Atualmente no Brasil, as mortes causadas por agressão tem se configurado em um grave problema de saúde pública, tornando-se um grande desafio aos gestores públicos. As estatísticas mostram que os jovens são as maiores vítimas. Todos os anos se perdem, para a violência, milhares de jovens em idade produtiva, resultado que indica que há falhas na execução de políticas públicas voltadas a qualidade de vida da população. A globalização chegou, e a população brasileira apresenta problemas acumulados do período colonial, e uma das consequências é um crescimento urbano intenso e desordenado, o que contribui com os índices de disparidade econômica, cultural e social. OBJETIVO: O presente trabalho tem como objetivo apresentar dados descritivos de mortalidade causada por agressão na cidade de Cuiabá-MT, no período de 2000 a 2010 e sua distribuição espacial. MATERIAIS E MÉTODOS Para a elaboração deste trabalho foram utilizados dados do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde e dados de população do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Para a realização desta análise
foram considerados os seguintes tipos de agressão: armas de fogo; objeto cortante, penetrante ou contundente; enforcamento, estrangulamento e sufocação; maus tratos; fumaça, fogo e chamas; afogamento e submersão; força corporal e agressão sexual. Para cálculo das taxas anuais do município, estratificados por idade e sexo, foram utilizados dados de população dos censos 2000 e 2010 e das projeções intercensitárias do IBGE. Para o cálculo das taxas por bairro foram utilizados os dados dos censos de 2000, 2007 e 2010, extrapolados para os anos em que não houve censo (2001, 02, 03, 04, 05, 06, 08 e 09). As tabelas e gráficos construídos, tanto para a escala municipal como para a escala dos bairros, foram elaboradas em Tabela Dinâmica do Excel 2007 (Microsoft Inc.). Foi utilizado o software SPSS 10 para o cálculo do coeficiente de correlação de Spearman entre as variáveis renda média (em reais) e a taxa de mortalidade por violência (1/10.000 hab.) nos bairros de Cuiabá. O coeficiente de Spearman revela a medida da relação entre duas variáveis. Para esta análise foi utilizado somente os dados de renda do ano 2010 e a taxa de mortalidade do ano 2010 é a média dos anos 2009, 10 e11. Para elaboração de um mapa da distribuição espacial da mortalidade por violência nos bairros de Cuiabá foi utilizado o software TERRAVIEW 4.1 (INPE). As taxas foram estratificadas segundo o desvio padrão, o que possibilita identificar áreas com taxas acima e abaixo da média. Este tipo de estratificação é uma importante forma de diagnosticar os bairros e levantar hipóteses destas ocorrências. RESULTADOS E DISCUSSÃO Analisando os dados concluiu-se que os casos de agressão por disparo de arma de fogo, com 2110 mortes e objeto cortante, penetrante ou contundente, com 585 mortes, apresentaram os índices mais elevados. A partir da análise dos dados concluiuse que no ano de 2000 e 2001 ocorreram mais de 300 mortes por agressão em cada ano. De 2002 a 2010 houve uma queda significativa destes casos, ficando entre 202 e 235 mortes.
Na figura 1, analisamos o percentual de mortalidade por sexo, observa-se que o gênero masculino apresenta os maiores índices de mortalidade causadas por agressão, sendo responsável por uma média acima de 90% dos óbitos, enfoca também a taxa de mortalidade a cada 10 mil habitantes, com destaque para o ano de 2001, que apresenta uma taxa de mortalidade de aproximadamente 7 mortes a cada 10 mil habitantes, destes óbitos aproximadamente 93% eram do sexo masculino. Figura 1: Taxa de mortalidade por agressão em Cuiabá entre os anos 2000 a 2010 e estratificação segundo sexo. Observou-se que em 2000 houve 316 vítimas, sendo que aproximadamente 56% são da faixa etária de 10 a 29 anos, e destes aproximadamente 98% eram do sexo masculino. Já em 2010 foram registrados 217 mortes, aproximadamente 62% tinham entre 10 e 29 anos, sendo que destes 96% eram do sexo masculino. A partir destes dados foi possível observar um padrão quanto à faixa etária e gênero das vítimas, sendo constatado que as maiores vítimas de agressão na cidade de Cuiabá-MT entre os anos 2000 e 2010 são do sexo masculino e jovens com idades inferiores a 30 anos.
Segundo levantamentos realizados pela Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Mato Groso (SEJUSP MT), publicado no relatório estadual de 2010, que têm como objetivo realizar uma pesquisa de condições de vida e vitimização em Mato Grosso, Cuiabá se apresenta com uma urbanização acentuada, e com a presença marcante das periferias da capital do estado como pano de fundo para as principais situações de violência, não fugindo da realidade dos demais grandes centros do país. Os crimes que mais preocupam a população, tais como: roubo a residências, assaltos, homicídios, estão associados ao tráfico de drogas. As principais causas de homicídio estão ligadas a acertos de dividas de drogas e disputa de territórios entre traficantes e gangues (sendo o território considerado sagrado nesta disputa). As principais vítimas, seja do tráfico de drogas ou das gangues, são adolescentes e jovens das periferias, estes por sua vez, em muitos casos são responsáveis pelas práticas de roubos é outros delitos para sustentar seu vicio. Figura 2: Distribuição dos casos de mortalidade segundo faixas etárias. A média de mortalidade por agressão em Cuiabá no espaço temporal analisado é de 52.9 óbitos a cada 10.000 habitantes. Dentre os bairros que apresentaram as maiores taxas se destaca o São Gonçalo Beira Rio que registrou 187 mortes a cada 10 mil hab.,
seguido por Parque Nova Esperança, Osmar Cabral, Carumbé, Bandeirantes e Jardim Cuiabá, que apresentam números três vezes maiores que a média. A área destacada com o círculo vermelho na figura 3 são os bairros Osmar Cabral, Jardim Fortaleza, São João Del Rei e Santa Laura. Nestes bairros a renda média é de R$ 192,78 valor considerado baixo frente a média geral de todos os bairros que é de R$ 581,51. A área vermelha no interior do retângulo representa o Distrito Industrial de Cuiabá, esta região apresenta uma característica peculiar, pois não é um bairro com elevado número populacional, tendo aproximadamente 379 habitantes e ocorreu poucos casos de mortes por agressão, porém quando estratificadas.
Figura 3: Mapa de espacialização de mortalidade causada por agressão por bairros em Cuiabá, no período de 2000 a 2010. O Coeficiente de correlação de Spearman entre Renda média dos bairros de Cuiabá e as taxas de mortalidade por violência é de -0,414, ou seja, quanto menor a renda maior é a taxa de mortalidade. A figura 4 é um gráfico de dispersão das variáveis renda per capita versus taxa de mortalidade dos bairros de Cuiabá no ano de 2010. A linha pontilhada (Função Linear) mostra a tendência de queda de mortalidade na medida em que a renda aumenta. Devia-se ao capitalismo, às estruturas de exploração, dominação e exclusão inerentes a este modo de organização societário. Em decorrência, estabelecia-se uma sorte de associação mecânica, por assim dizer, entre pobreza e violência. Quanto maior a pobreza, maior a violência. A violência urbana aparecia então como expressão de lutas entre as classes dominantes e o conjunto dos subalternos. (ADORNO, 2002)
Figura 4: Gráfico de dispersão entre as variáveis renda média e taxa de mortalidade no ano de 2010. A figura 4 destaca que quanto menor a renda, maiores serão as taxas de mortalidade causada por agressão, de acordo com ADORNO (2002), ao decorrer do tempo a sociedade brasileira se tornou mais densa e mais complexa a respeito das relações de classes, nas suas relações entre sujeito e sujeito, e sujeito e objeto, implica em saber como resolver as diferenças entre indivíduos que convivem em uma mesma sociedade. A partir do momento em que passa a ocorrer uma disparidade de direitos e acesso à justiça, os conflitos tornam-se mais acentuados. Considerações Finais Esta pesquisa encontra-se em andamento, porém apresenta resultados significativos no que diz respeito à espacialização dos dados de mortalidade e a relação destes com os fatores socioeconômicos da população cuiabana. O mapa se apresenta não somente como uma espacialização pronta e acabada, e sim como uma ferramenta
para análises mais aprofundadas. É importante fazer deste, um instrumento que traga melhorias para a população e desperte nas autoridades competentes e nos órgãos ligados a estes setores um olhar atento ás regiões que estão mais vulneráveis a este tipo de violência. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE MORTALIDADE (SIM). Disponível em: http://www2.datasus.gov.br/datasus/index.php?area=040701 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Disponível em: http://www.ibge.gov.br MATO GROSSO. Secretaria de Justiça e Segurança Pública, Pesquisa de condições de vida e vitimização em Mato Grosso. 2002. Disponível em: < http://www.seguranca.mt.gov.br/userfiles/file/asscom/relatorio_estadual_- _Qualitativo.pdf> acessado em: 22/06/2014, às 15:27 hs. ADORNO, S. Exclusão Socioeconômica e violência urbana. Sociologia, Porto Alegre, ano 4, nº 8, pag. 84-135, jul./dez., 2002. ZALUAR, A.; BARCELLOS, C. Mortes prematuras e conflito armado pelo domínio das favelas no Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 28, nº 81, fevereiro 2013.