Fungos Nematófagos em Pomares de Citros nos Estados de São Paulo e Goiás*

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Transcrição:

ARTIGO Fungos Nematófagos em Pomares de Citros nos Estados de São Paulo e Goiás* Fungos Nematófagos em Pomares de Citros nos Estados de São Paulo e Goiás* Paulo R.P. Martinelli 1 **, Jaime M. Santos 1, Samuel J. Sant Anna 2 & Pedro L.M. Soares 1 *Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor. 1 Departamento de Fitossanidade, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias Universidade Estadual Paulista (FCAV UNESP), 14884-900 Jaboticabal (SP) Brasil 2 Graduando em Agronomia, Universidade Federal de Viçosa. **Autor para correspondência: prpmartinelli@yahoo.com.br Recebido para publicação em 02 / 02 / 2008. Aceito em 11 / 10 / 2008 Editado por Guilherme Asmus Resumo Martinelli, P.R.P., J.M. Santos, S.J. Sant Anna & P.L.M. Soares. 2009. Fungos nematófagos em pomares de citros nos Estado de São Paulo e Goiás. Trinta e nove amostras de pomares de citros dos Estados de São Paulo e Goiás, todos infestados por Tylenchulus semipenetrans e/ou por Pratylenchus jaehni, foram analisadas quanto à presença de fungos nematófagos. Em 68,4 % das amostras foram encontrados fungos predadores de nematoides. As principais espécies fúngicas isoladas pertencem ao gênero Arthrobotrys, sendo a frequência de Arthrobotrys robusta de 23,7 % nas amostras, A. musiformis 18,4 %, A. oligospora 10,5 % e A. conoides 5,2 %. As espécies Monacrosporium elegans, M. eudermatum, Dactyllela leptospora e Paecilomices lilacinus foram encontradas em 2,63 % das amostras. Do total de 26 isolados dos fungos obtidos, 92,8 % foram patogênicos a T. semipenetrans e 82,1 % a P. jaehni. A capacidade predatória dos isolados variou entre espécies e entre os isolados de uma mesma espécie. Os isolados que exibiram maior capacidade predatória a T. semipenetrans in vitro foram A. oligospora ppm-1, A. oligospora ppm-2, A.musiformis ppm-2, A. musiformis ppm-5, A. robusta ppm-1, A. robusta ppm-2, M. eudermatum, M. elegans e D. leptospora. Para P. jaehni, os isolados M. eudermatum, M. elegans, D. leptospora, A. oligospora ppm-2, A. oligospora ppm-1, A. robusta ppm-3 e A. musiformis ppm-4 foram os mais eficazes. Palavras-chaves: nematoide-dos-citros, nematoide-das-lesões-radiculares-dos-citros, fungos nematófagos, controle biológico, Arthrobotrys spp., Monacrosporium spp. Summary - Martinelli, P.R.P., J.M. Santos, S.J. Sant Anna & P.L.M. Soares. 2009. Nematophagous fungi from citrus orchards in São Paulo and Goiás States. Thirty-nine samples from citrus orchards in São Paulo and Goiás States, all infested by Tylenchulus semipenetrans and/or Pratylenchus jaehni, were screened for the presence of nematophagous fungi. Fungal predator of nematodes in the soil were found in 68.4 % of the samples. The main species isolated were of the genus Arthrobotrys, with 23.7 % of the samples infested with Arthrobotrys robusta, 18.4 % with A. musiformis, 10.5 % with A. oligospora and 5.2 % with A. conoides. The fungi Monacrosporium elegans, M. eudermatum, Dactyllela leptospora and Paecilomices lilacinus were found in 2.63 % of the samples. From the total of 26 isolates of nematophagous fungi obtained, 92.8 % were pathogenic to T. semipenetrans and 82.1 % to P. jaehni. The predatory capacity of the isolates was not the same among the species not even among isolates of the same species. The isolates with higher in vitro predatory capacity to T. semipenetrans were A. oligospora ppm-1, A. oligospora ppm-2, A. musiformis ppm-2, A. musiformis ppm-5, A. robusta ppm-1, A. robusta ppm-2, M. eudermatum, M. elegans and D. leptospora The isolates M. eudermatum, M. elegans, D. leptospora, A. oligospora ppm-2, A. oligospora ppm-1, A. robusta ppm-3 and A. musiformis ppm-4 were the most effective for P. jaehni. Key words: citrus nematode, citrus lesion nematode, nematophagous fungi, biological control, Arthrobotrys spp., Monacrosporium spp. 123

Paulo R.P. Martinelli, Jaime M. Santos, Samuel J. Sant Anna & Pedro L.M. Soares Introdução Entre os vários nematoides associadas às plantas cítricas, cerca de dez espécies são consideradas espécies-chaves para a cultura (Duncan & Cohn, 1990). No Brasil, as espécies-chaves da citricultura são apenas Tylenchulus semipenetrans e Pratylenchus jaehni. Com efeito, embora as perdas causadas por nematoides aos citros ainda não tenham sido quantificadas Brasil, apenas essas duas espécies estão associadas a danos expressivos à cultura no Estado de São Paulo (Santos et al., 2006). As perdas causadas por nematoides à produção mundial dos citros são estimadas em 14,2 % (Sasser & Freckman, 1987). Entretanto, Tersi et al. (1995) constatou que, em talhões infestados por P. jaehni no município Itápolis (SP), a produção foi cerca de três vezes menor que em talhões não infestados. O controle biológico com fungos nematófagos vem despertando grande interesse para o manejo de nematoides, tanto no Brasil como no exterior (Barron, 1977; Santos, 1991; Maia et al., 2001; Corbani, 2002; Martinelli & Santos, 2007ab). Numerosos microorganismos já foram encontrados associados a T. semipenetrans, tais como espécies de fungos predadores (Stirling & Mankau, 1978; Gaspard & Mankau, 1986; Walter & Kaplan, 1990; Raccuzzo et al., 1992) e as bactérias hiperparasitas Pasteuria spp. (Fattah et al., 1989; Walter & Kaplan, 1990; Sorribas et al., 2000). Cerca de 75 % desses fungos pertencem à biota dos solos agricultáveis (Jatala, 1986; Van Gundy, 1985 citado por Santos, 1991; Stirling, 1991). Quanto a P. jaehni, os estudos sobre os inimigos naturais ainda são incipientes, em razão de a espécie ter sido descrita recentemente (Inserra et al., 2001). Martinelli & Santos (2007c) isolaram algumas espécies de Arthrobotrys, Monacrosporium e Dactyllela em pomares de citros do Estado de São Paulo infestados por P. jaehni. O objetivo desse trabalho foi isolar fungos nematófagos da rizosfera de pomares cítricos infestados por T. semipenetrans e P. jaehni, identificálos, documentá-los ao microscópio fotônico e avaliar a capacidade predatória in vitro desses agentes para ambos nematoides. Material e Métodos O estudo foi conduzido no Laboratório de Nematologia do Departamento de Fitossanidade da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias Universidade Estadual Paulista (FCAV UNESP), Jaboticabal (SP). Foram utilizadas 38 amostras de vários pomares de citros dos Estados de São Paulo e Goiás para o estudo. A detecção e isolamento dos fungos foram efetuados pelo método de espalhamento de solo segundo Barron (1977), modificado por Santos (1991). Em placas-de-petri (9 cm) contendo ágar-água 2 % foi colocado 1 a 2 g de solo das amostras, no centro das placas. Em seguida foi adicionado 1 ml de suspensão aquosa contendo aproximadamente 5.000 exemplares de Panagrellus sp., obtidos através de populações puras mantidas em meio de cultura de aveia, que serviram de isca para os fungos. Foram preparadas três repetições por amostra. Essas culturas foram incubadas à temperatura ambiente no escuro. As observações foram efetuadas diariamente, com auxilio de um estereoscópio, a partir de dois dias do início do período de incubação. Depois de uma semana, foram efetuadas observações semanais durante dois meses. Os fungos isolados foram transferidos para placas-de-petri (9 cm de diâmetro) contendo o meio BDA (batata-dextroságar), onde foram mantidos por 15 dias. Os testes para avaliação da capacidade predatória dos fungos foram conduzidos em placas-de-petri contendo ágar-água 2 %. Discos de 5 mm de diâmetro retirados dos bordos das colônias dos fungos mantidos em BDA foram depositados no centro de cada placa. Foram adotadas três repetições cada uma constituída por uma placa. As culturas foram incubadas em câmara tipo BOD (biochemical oxygen demand), à temperatura de 25 ± 1 C no escuro. Após cinco dias, adicionaram-se 100 espécimes de T. semipenetrans ou de P. jaehni por placa e avaliou-se a capacidade predatória dos isolados diariamente por três dias, determinando-se a percentagem de nematoides predados. Para os isolados de P. lilacinus não foram realizados teste de patogenicidade. O nematoide T. semipentrans utilizado nos testes in vitro foram obtidos de amostras de raízes coletadas em plantas infestadas no campo; P. jaehni foi mantido em culturas axênicas em cilindros de cenoura pela técnica de Moody (1972) modificada por Gonzaga (2006). Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste 124 Vol. 33(2) - 2009

Fungos Nematófagos em Pomares de Citros nos Estados de São Paulo e Goiás* de Tukey a 5 % de probabilidade, utilizando-se o programa ESTAT 2.0 (Barbosa et al., 1992). Para a extração dos nematoides, as amostras de solo foram processadas pela técnica da flutuação centrífuga em solução de sacarose (Jenkins, 1964), e as raízes pelo método de Coolen & D Herde (1972). Para a identificação dos fungos, foram utilizadas chaves de identificação (Cooke & Godfrey, 1964; Rubner, 1996; Barron, 1972) que levam em consideração os tipos de órgãos de captura, formato e tamanho dos conídios e tipos de conidióforos formados. Resultados e Discussão Os fungos nematófagos foram detectados em 68,4 % das amostras de solo. Dos fungos isolados, 92,8 % foram patogênicos a T. semipenetrans (Tabela 1). Esses resultados assemelham-se aos dados obtidos Gené et al. (2005), que encontraram fungos nematófagos em 69 % das amostras de solo de pomares de citros na região da Catalúnia, Espanha. As espécies mais abundantes foram do gênero Arthrobotrys Corda, tendo sido A. robusta Dudd a espécie mais frequente (23,7 %), seguida de A. musiformis Drechsler (18,42 %), A. oligospora Fresenius (10,5 %) e A. conoides Drechsler (5,26 %). Outras espécies foram encontradas em 2,63 % das amostras: Monacrosporium elegans Oudem, Monacrosporium eudermatum Drechsler, Dactyllela leptospora Grove e Paecilomices lilacinus Thorn (Figura 1 A-F). Foram ainda encontradas duas espécies não identificadas (CAN e GO49) em 2,63 %. As espécies predominantes encontradas no presente estudo também foram encontradas em pomares da Espanha (Gené et al., 2005) e Flórida (EUA) (Walter & Kaplan, 1990). Na Califórnia (EUA), as espécies de Arthrobotrys também predominaram na rizosfera de pomares de citros (Gaspard & Mankau, 1986). No Brasil, em estudos envolvendo a detecção de fungos nematófagos da rizosfera de outras culturas, essas espécies também foram muito frequentes (Ribeiro et al., 1999; Maia, 2000). No que diz respeito à predação de T. semipenetrans (Tabela 2), os isolados ppm-1, ppm-2, ppm-3, ppm- 4, ppm-5, ppm-6 e ppm-7 de A. musiformis tiveram comportamento muito semelhante em todas as avaliações. Não houve diferença estatística entre os isolados ppm-1 a ppm-8 de A. robusta nas avaliações de 24 e 48 horas após a adição dos nematoides às culturas dos fungos. Entretanto, depois de 72 horas, o isolado ppm-4 de A. robusta exibiu a menor porcentagem de predação (53,18 %), diferindo dos demais. Com efeito, todos os outros isolados predaram mais que 75 % dos espécimes adicionados às culturas dos fungos. Entre os isolados de A. oligospora obtidos, ppm-1 e ppm-2 foram os mais promissores com predação acima de 60 % no período Tabela 1 - Espécies de fungos nematófagos isolados de amostras de solo da rizosfera de plantas cítricas em pomares infestados por Tylenchulus semipenetrans e/ou Pratylenchus jaehni nos Estados de São Paulo e Goiás. Espécies de fungos % das espécies Patogenicidade a Patogenicidade a presentes T. semipenetrans P. jaehni Arthobotrys conoides 5,26 +1 ± Arthobotrys musiformis 18,42 + + Arthobotrys oligospora 10,5 ±2 ± Arthobotrys robusta 23,7 + ± Dactylella leptospora 2,63 + + Monacrosporium elegans 2,63 + + Monacrosporium eudermatum 2,63 + + Paecilomyces lilacinus 2,63-3 - CAN 2,63 ± - GO49 2,63 - - % de pomares com fungos 68,4 92,8 82,1 % de pomares sem fungos 31,6 7,2 17,9 Total 100,0 1 Todos os isolados predaram ou parasitaram os nematodes. 2 Alguns isolados da espécie não predaram os nematodes. 3 Não foi feito teste de patogenicidade. 125

Paulo R.P. Martinelli, Jaime M. Santos, Samuel J. Sant Anna & Pedro L.M. Soares Figura 1 - Fotomicrografias dos órgãos de captura de fungos nematófagos isolados de amostras de solo de citros no Estado de São Paulo: (A) espécime de Tylenchulus semipenetrans capturado por rede adesiva tridimensional de Arthrobotrys robusta; (B) T. semipenetrans capturado por A. musiformis; (C) fêmea de T. semipenetrans parasitada por Paecilomyces lilacinus; (D) rede bidimensional de Monacrosporium eudermatum; (E) fêmea de T. semipenetrans com ovos parasitados por P. lilacinus; (F) T. semipenetrans capturado em rede adesiva de A. oligospora; (G) Pratylenchus jaehni capturado por A. robusta; (H) P. jaehni capturado por A. musiformis. 126 Vol. 33(2) - 2009

Fungos Nematófagos em Pomares de Citros nos Estados de São Paulo e Goiás* Tabela 2 - Porcentagem da predação in vitro de T. semipenetrans por 26 isolados de fungos nematófagos após 24, 48 e 72 horas de exposição. Isolados Capacidade predatória 24 horas 48 horas 72 horas Arthrobotrys musiformis ppm-2 62,5 a 80,9 ab 90,5 a A. musiformis ppm-3 62,3 a 75,7 abc 78,8 a Monacrosporium elegans 61,6 ab 84,9 a 95,4 a A. robusta ppm-1 61,3 ab 75,0 abc 84,1 a A. musiformis ppm-4 60,7 ab 76,9 ab 88,7 a A. musiformis ppm-1 61,1 ab 77,9 ab 80,6 a A. oligospora ppm-1 59,8 ab 81,4 abc 89,5 a A. oligospora ppm-2 60,2 ab 78,7 ab 90,2 a M. eudermatum 59,9 ab 80,3 ab 92,0 a A. musiformis ppm-7 59,9ab 75,7 ab 79,5 a A. robusta ppm-6 50,2 ab 50,7 bc 65,6 ab A. musiformis ppm-6 44,1 ab 56,9 abc 75,3 ab A. robusta ppm-2 42,9 ab 74,3 abc 85,5 a A. robusta ppm-7 41,1 ab 55,8 abc 79,4 a A. conoides ppm-2 39,4 ab 63,0 abc 77,5 a A. robusta ppm-3 39,5 ab 85,5 a 88,9 a A. robusta ppm-4 38,1 ab 41,6 c 53,1 b A. robusta ppm-5 34,1 abc 49,9 bc 77,5 a A. robusta ppm-8 33,7 abc 68,2 abc 90,3 a CAN 28,9 abc 38,7 c 50,1 b A. musiformis ppm-5 27,3 abc 62,7 abc 80,3 a A. conoides ppm-1 26,0 bc 60,7 abc 76,2 ab Dactylella leptospora 5,7 cd 60,4 abc 78,0 a A. oligospora ppm-3 2,4 cd 2,4 d 2,4 c GO-49 0 d 0 d 0 c A. oligospora ppm-4 0 d 0 d 0 c Teste F 15,42** 27,78** 28,31** CV (%) 21,5 14,7 8,6 Médias seguidas pelas mesmas letras nas colunas não diferem entre si pelo teste Tukey a 5 % de probabilidade; para análise estatística os dados foram transformados em arc sen %. **Significativo a 1% de probabilidade. de 24 horas, 80 % em 48 horas e ao redor de 90 % em 72 horas. Corbani et al. (2001) e Corbani (2002) também observaram alta capacidade predatória de A. oligospora a T. semipenetrans, com predação de 100 % dos espécimes no tempo de 96 horas. Os isolados ppm-3 e ppm-4 de A. oligospora apresentaram a menor capacidade predatória do nematoide. O primeiro predou apenas 2,45 % dos espécimes de T. semipenetrans adicionados às placas, enquanto o segundo não foi patogênico ao nematoide. Araujo et al. (1993) também observaram comportamento díspar entre isolados da mesma espécie de Arthrobotrys em seus estudos. Os isolados ppm-1 e ppm-2 de A. conoides diferiram estatisticamente entre si na avaliação depois de 24 horas, com predação de 26 e 39,4 % respectivamente. Entretanto, nas avaliações de 48 e 72 horas, os dois isolados não diferiram estatisticamente e obtiveram predação em torno de 77 %. O isolado de M. eudermatum e o de M. elegans obtidos não diferiram estatisticamente entre si nem da maioria dos demais isolados; predaram mais de 90 % dos espécimes de T. semipenetrans em 72 horas. Por conseguinte, esses fungos também podem ser considerados agentes potenciais do controle biológico do nematoide. A capacidade predatória do isolado de D. leptospora a T. semipenetrans foi inferior a da maioria dos demais isolados obtidos, no período de 24 horas. Entretanto, nos períodos de 48 e 72 horas, a capacidade predatória desse isolado foi incluída entre os melhores. 127

Paulo R.P. Martinelli, Jaime M. Santos, Samuel J. Sant Anna & Pedro L.M. Soares Os dois isolados não identificados (CAN e GO49) não demonstraram potencial como agentes do controle biológico de T. semipenetrans, visto que depois 72 horas as porcentagens de predação foram de 50,15 % e zero, respectivamente (Tabela 2). No que diz respeito a P. jaehni, 82,1 % dos fungos nematófagos isolados foram patogênicos (Tabela 1), sendo que alguns isolados da mesma espécie não predaram ambos os nematoides (Tabela 3). Isso ocorre por se tratarem de isolados encontrados em amostras retiradas em áreas onde uma ou outra espécie dos nematoides não estavam presentes (Tabela 4). Com efeito, Ahren & Tunlid (2003) mencionaram que a coevolução das espécies de fungos nematófagos com os nematoides é um pré-requisito para o desenvolvimento da capacidade predatória dos fungos. Nordbring-Hertz (1972) demonstrou que existe especificidade do fungo com relação ao nematoide, e que esta é de natureza bioquímica. Se houver reconhecimento entre as lecitinas dos órgãos de captura do fungo e açúcares presentes na cutícula do nematoide, pode ser estabelecida a relação de parasitismo. Esse fato justifica a patogenicidade ou não de um isolado a um certo nematoide. Araujo et al. (1993) também observaram diferenças na capacidade predatória entre isolados de uma mesma espécie de Arthrobotrys a juvenis de Meloidogyne sp. A maioria dos isolados fúngicos foi menos eficiente na predação de P. jaehni, sendo que alguns isolados da mesma espécie de fungo e de espécies diferentes Tabela 3 - Porcentagem de predação in vitro de Pratylenchus jaehni por 26 isolados de fungos nematófagos após 24, 48 e 72 horas de exposição. Isolados Capacidade predatória 24 horas 48 horas 72 horas Arthrobotrys oligospora ppm-2 64,4 a 80,3 a 85,5 ab Monacrosporium elegans 57,5 ab 74,7 abc 93,1 a A. musiformis ppm-6 54,9 ab 61,1 abcd 69,7 abcd A. robusta ppm-1 54,3 ab 59,3 abcde 61,6 abcde A. musiformis ppm-3 47,6 abc 49,9 abcdefg 70,5 abcd A. oligospora ppm-1 43,9 abc 78,1 ab 80,1 abc M. eudermatum 40,2 abcd 75,9 ab 95,3 a A. robusta ppm-3 40,0 abcd 77,2 ab 79,1 abcd A. musiformis ppm-1 32,1 abcde 41,6 bcdefg 58,2 abcdef A. musiformis ppm-4 30,5 abcde 62,6 abcd 78,1 abcd A. robusta ppm-6 27,8 bcdefg 57,1 abcdef 65,2 abcde A. robusta ppm-7 23,3 bcdefg 36,6 bcdefg 38,7 bcdefg A. musiformis ppm-2 20,4 bcdefg 29,6 bcdefg 33,5 defg A. oligospora ppm-3 18,9 bcdefg 25,1 cdefgh 35,3 cdefg Dactylella leptospora 16,2 cdefg 67,1 abc 89,7 a A. conoides ppm-1 13,1 defgh 13,1 defgh 13,1 gh A. robusta ppm-4 7,2 efgh 10,2 efgh 13,1 gh A. robusta ppm-5 6,7 efgh 12,0 efgh 17,8 fgh A. musiformis ppm-5 5,7 efgh 12,8 efgh 24,0 efgh A. musiformis ppm-7 5,5 fgh 6,1 fgh 6,4 gh A. conoides ppm-1 3,5 gh 4,3 gh 8,4 gh GO 49 0 h 0 h 0 h CAN 0 h 0 h 0 h A. robusta ppm-2 0 h 0 h 0 h A. conoides ppm-2 0 h 0 h 0 h A. oligospora ppm-4 0 h 0 h 0 h Teste F 15,75** 22,34** 24,45** DMS - Tukey 5 % 23,95 26,64 29,47 CV (%) 36,35 30,38 29,11 Médias seguidas pelas mesmas letras nas colunas não diferem entre si pelo teste Tukey a 5 % de probabilidade; para análise estatística os dados foram transformados em arc sen %. **Significativo a 1% de probabilidade. 128 Vol. 33(2) - 2009

Fungos Nematófagos em Pomares de Citros nos Estados de São Paulo e Goiás* Tabela 4 - Distribuição dos fungos nematófagos em amostras de solo de pomares de citros infestados por Tylenchulus semipenetrans e Pratylenchus jaehni nos Estados de São Paulo e Goiás. Município Amostra Cultura Idade Espécimes Espécimes Fungos (anos) T. semipenetrans P. jaehni isolados Solo Raiz Ovos Solo Raiz Ovos (100 cm 3 ) (10 g) (10g) (100 cm 3 ) (10 g) (10 g) Bebedouro Arthrobotrys robusta Amostra 1 Laranja Pêra 13 58 698 857 - - - A. musiformis Amostra 2 13 159 987 1.287 - - - A. robusta Amostra 3 13 207 789 886 - - - A. oligospora Amostra 4 18 1.142 9.872 6.780 - Amostra 5 18 2.578 7.982 3.258 - Cândido Rodrigues Amostra 1 Lima ácida Tahiti 25 164 503 2.050 - - - A. conoides Amostra 2 25 144 3.118 3.685 - - - A. robusta Amostra 3 25 790 858 3.206 - - - A. musiformis Amostra 4 25 198 304 1.999 - - - A. musiformis Amostra 5 25 234 400 2.570 - - - A. oligospora Amostra 6 25 486 2.007 5.968 - - - A. oligospora Amostra 7 17 14.784 15.280 23.280 - - - Paecilomyces lilacinus Goiânia (GO) Amostra 1 Laranja Valência 10 3.320 16.080 7.488 - - - Monacrosporium elegans Amostra 2 10 2.980 15.662 5.889 Itápolis (SP) Amostra 1 Laranja Natal 20 - - - 0 32 8 A. musiformis Amostra 2 20 478 981 1.024 16 280 50 A. robusta Amostra 3 20 298 395 582 80 658 120 A. oligospora Amostra 4 20 720 1.200 1.705 25 380 85 A. musiformis Amostra 6 20 78 198 780 40 2.667 780 - Amostra 7 20 48 337 541 30 1.870 541 M. eudermatum Amostra 8 20 57 225 147 12 558 147 - Monte Alto (SP) A. musiformis Amostra 1 Laranja Pêra 12 1.520 2.408 9.720 - - - A. robusta Amostra 2 12 316 624 960 - - - - Amostra 3 12 736 1.720 3.760 - - - - Amostra 4 12 48 120 160 - - - - Amostra 5 12 252 216 328 - - - A. robusta Amostra 6 12 188 156 152 - - - - Amostra 7 18 20 160 6804 0 - - Taquaral (SP) Amostra 1 Laranja Pêra 30 358 1.298 1.850 - - - - Amostra 2 30 198 1.472 2.200 - - - - Amostra 3 30 145 1.582 1.997 - - - A. robusta Taquaritinga (SP) Amostra 1 Laranja Pêra 11 452 1.181 1.588 - - - A. musiformis Amostra 2 11 652 1.458 2.699 - - - A. conoides Amostra 3 11 487 1.683 2.362 - - - A. robusta Amostra 4 11 187 583 1.024 - - - Dactylella leptospora Amostra 5 8 56 399 802 - - - A. oligospora Amostra 6 8 98 1.255 1.532 - - - - Amostra 7 8 147 987 1.036 - - - A. robusta Médias seguidas pelas mesmas letras nas colunas não diferem entre si pelo teste Tukey a 5 % de probabilidade; para análise estatística os dados foram transformados em arc sen %. **Significativo a 1% de probabilidade. diferiram estatisticamente quanto a sua capacidade predatória (Tabela 3). Os isolados mais eficientes no controle de P. jaehni foram M. eudermatum, M. elegans, D. leptospora, A. oligospora ppm-2, A. oligospora ppm-1, A. robusta ppm-1, ppm-3 e ppm-6 e A. musiformis ppm-1, ppm-3 e ppm-6, com porcentagens de predação em 72 horas de 95,3; 93,1; 89,6; 85,5; 80,2; 61,6; 79; 65,2; 58,2; 70,5; e 69,7 respectivamente, não diferindo estatisticamente entre si. Enquanto os isolados A. oligospora ppm-4, A. conoides ppm-2, A. robusta ppm-2, CAN, GO49, A. conoides ppm-1, A. musiformis ppm-7 tiveram patogenicidade muito baixa 129

Paulo R.P. Martinelli, Jaime M. Santos, Samuel J. Sant Anna & Pedro L.M. Soares menos de 10 % ou não predaram o nematoide (Tabela 3). As diferenças na capacidade predatória dos isolados fúngicos a T. semipenetrans e a P. jaehni (Tabelas 2 e 3) provavelmente decorrem do fato de que a maioria das amostras analisadas (94,8 %) tinha a presença de T. semipenetrans, enquanto que P. jaenhi foi constatado em apenas 21,1 % delas (Tabela 1 e 4). Contudo, Santos (1991) explica que o tamanho do corpo do nematoide e a forma de movimentação dos nematoides influenciam na porcentagem de captura ou até mesmo na não captura do nematoide. A predominância de T. semipenetrans nas amostras de solo dos pomares de citros foi proporcional ao número de fungos nematófagos encontrados nas amostras, os quais foram patogênicos a esse patógeno, conforme Walter & Kaplan (1990) já haviam observado. Alguns isolados exibiram expressiva capacidade predatória a ambos nematoides, podendo ser usados no manejo desses patógenos como alternativa de controle. Gaspard & Mankau (1986) e Walter & Kaplan (1990) também mencionaram que os isolados de fungos nematófagos associados a T. semipenetrans podem ser utilizados no manejo desse nematoide. Martinelli & Santos (2007a,c) demonstraram o potencial do controle biológico in vitro de alguns fungos no controle de P. jaehni e T. semipenetrans. Em outros estudos desenvolvidos no Laboratório de Nematologia da UNESP/FCAV de Jaboticabal, foi demonstrado o potencial do controle biológico de diferentes nematoides por outros fungos em diversas outras culturas (Corbani, 2002; Bernardo, 2002; Soares, 2006). Os resultados obtidos no presente trabalho reforçam a possibilidade do uso de fungos nematófagos no controle de T. semipenetrans e P. jaehni. Literatura Citada AHREN, D. & A. TUNLID. 2003. Evolution of parasitism in nematode-traping fungi. Journal of Nematology, 35 (2):194-197. ARAUJO, J.V., M.A., SANTOS, S. FERRAZ & A.S. MAIA. 1993. Antagonistic effect of predacious Arthrobotrys fungi on effective Haemonchus placei larvae. Journal of Helminthology, 67 (1): 136-138. BARBOSA, J.C., E.B. MALHEIROS & D.A. BANZATTO. 1992. ESTA - um Sistema de Análises Estatísticas de Ensaios Agronômicos. BARRON, G.L. 1972. The Genera of Hyphomycetes from Soil. R.E. Krieger Publishing Co., Huntington & New York,364 p. BARRON, G.L. 1977. The Nematode-destroing Fungi. Canadian Biological Publications Ltda., Ghelph, 140 p. BARRON, G.L. & R.G. THORN. 1987. Destruction of nematodes by species of Pleurotus. Canadian Journal of Botany, 65: 774-778. BERNARDO, E.R.A. 2002. Eficácia do controle biológico de Rotylenchulus reniformis (Linford & Oliveira, 1940) em algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) com fungos nematófagos.(dissertação de Mestrado). Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias Universidade Estadual Paulista (FCAV UNESP), Jaboticabal (SP), 74 p. COOKE, R.C. & B.E.S. GODFREY. 1964. A key to the nematode-destroying fungi. Trans. Brit. Mycol. Soc, 47 (1): 61-74. COOLEN, W.A. & D HERDE, C.J. 1972. A Method for the Quantitative Extration of Nematodes from Plant Tissue. State Agricultural Reserch Center, Gent, 77 p. CORBANI, R.Z. 2002. Potencial do controle biológico de Tylenchulus semipenetrans com fungos nematófagos. (Dissertação de Mestrado). Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias Universidade Estadual Paulista (FCAV UNESP), Jaboticabal (SP), 44 p. CORBANI, R.Z., SANTOS, J.M. & MAIA, A.S. 2001. Estudo de agentes potenciais do controle biológico do nematóide dos citros (Tylenchulus semipenetrans). In: CONGRESSO PAULISTA DE FITOPATOLOGIA, XXIV, Piracicaba Summa Phytopathologica, 27 (supl.): 134-135. DUNCAN, L.W. & E. COHN. 1990. Nematode diseases of citrus. In: BRIDGE, J., M. LUC & R. SIKORA (ed). Plant Parasitic Nematodes in Subtropical Agriculture. CAB International, Wallingford (UK), p. 321-346. FATTAH, F.A., H.M. SALEH & H.M. ABOUD. 1989. Parasitism of the citrus nematode, Tylenchulus semipenetrans, by Pasteuria penetrans in Iraq. Journal of Nematology, 21 (3): 431-433. GASPARD, J.T. & R. MANKAU. 1986. Nematophagous fungi associated with Tylenchulus semipenetrans and the citrus rhizosphere. Nematologica, 32: 359-363. GENÉ, J., S. VERDEJO-LUCAS, A.M. STCHIGEL, F.J. SORRIBAS. & J. GUARRO. 2005. Microbial parasites associated with Tylenchulus semipenetrans in citrus orchards of Catalonia, Spain. Biocontrol Science and Technology, 15 (7): 721 731. GONZAGA, V., J.M. SANTOS & M.A.F. COSTA. 2006. Multiplicação de Pratylenchus spp. in vitro em cilindros de cenoura. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FITOPATOLOGIA, XXXIX, Salvador. Fitopatologia Brasileira 31 (supl.): 208. INSERRA, R.N., L.W. DUNCAN, A. TROCCOLI, D. DUNN, J.M.dos SANTOS, D. KAPLAN & N. VOVLAS. 2001. Pratylenchus jaehni sp. n. from citrus in Brazil and its relationship with P. coffeae and P. loosi (Nematoda: Pratylenchidae) Nematology, 3 (7): 653-665. 130 Vol. 33(2) - 2009

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