2 Embrapa Cerrados, BR 020, Km 18, Caixa

Documentos relacionados
Balanço do Potássio em Solo do Cerrado no Sistema Plantio Direto Termos para indexação Introdução

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2010)

Palavras chave: doses de calcário, ph do solo, formas de manejo, produção.

PP = 788,5 mm. Aplicação em R3 Aplicação em R5.1. Aplicação em Vn

Atributos químicos do solo sob diferentes tipos de vegetação na Unidade Universitária de Aquidauana, MS

16 EFEITO DA APLICAÇÃO DO FERTILIZANTE FARTURE

DINÂMICA DAS FRAÇÕES DE FÓSFORO EM FUNÇÃO DO MANEJO, EM SOLOS DE CERRADO

18 PRODUTIVIDADE DA SOJA EM FUNÇÃO DA

Construção de Perfil do Solo

EFEITO DA APLICAÇAO DE MICROGEO NA QUALIDADE FÍSICA DO SOLO EM ÁREAS DE PRODUÇÃO DE GRÃOS SOB PLANTIO DIRETO

EFEITO DE ADUBAÇÃO NITROGENADA EM MILHO SAFRINHA CULTIVADO EM ESPAÇAMENTO REDUZIDO, EM DOURADOS, MS

Desempenho Operacional de Máquinas Agrícolas na Implantação da Cultura do Sorgo Forrageiro

MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO (MOS) Fertilidade do Solo Prof. Josinaldo

Acadêmicos Carla Regina Pinotti (UNESP/Ilha Solteira) Maria Elisa Vicentini (UNESP/Jaboticabal)

V Semana de Ciência e Tecnologia do IFMG campus Bambuí V Jornada Científica 19 a 24 de novembro de 2012

SISTEMA DE CULTIVO NAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO-HÍDRICAS EM LATOSSOLO DISTROCOESO SOB CERRADO NO MARANHÃO (1)

AVALIAÇÃO DO USO DO PÓ DE ROCHA NO DESEMPENHO DE DUAS VARIEDADES DE MANDIOCA DE MESA

ESTABILIDADE DE AGREGADOS EM ÁGUA EM SOLOS DO CERRADO DO OESTE BAIANO EM FUNÇÃO DO MANEJO ADOTADO.

O SOLO COMO F0RNECEDOR DE NUTRIENTES

DECOMPOSIÇÃO DE RESÍDUOS DE PALHA DE MILHO, AVEIA E NABO FORRAGEIRO EM SISTEMA CONVENCIONAL E PLANTIO DIRETO

Título da Pesquisa: QUALIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE DA SOJA EM SISTEMAS DE MANEJO DE LONGO PRAZO

CALAGEM SUPERFICIAL E GESSAGEM EM PLANTIO DIRETO

Acidez do solo em plantios de Eucalyptus grandis sob efeito residual da adubação com diferentes lodos de esgoto

EFEITO DO TRÁFEGO DE MÁQUINAS SOBRE ATRIBUTOS FÍSICOS DO SOLO E DESENVOLVIMENTO DA AVEIA PRETA. Instituto Federal Catarinense, Rio do Sul/SC

ANÁLISE GRANULOMÉTRICA (Dispersão Total)

FERTILIDADE E MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO EM DIFERENTES SISTEMAS DE MANEJO DO SOLO

MANEJO DA FERTILIDADE DO SOLO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO NO CERRADO

17 EFEITO DA APLICAÇÃO DE MICRONUTRIENTES NA

INDICADORES QUÍMICOS DE QUALIDADE DO SOLO

DINÂMICA DO POTÁSSIO NO SISTEMA SOJA-MILHO EM ÁREA DE ALTA PRODUTIVIDADE EM SORRISO-MT.

Melhoria sustentável das condições biológicas, químicas e físicas do solos dos Cerrados

Igor Rodrigues Queiroz. Bacharel em Agronomia pela Faculdade Dr. Francisco Maeda (FAFRAM) Anice Garcia

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA EMBRAPA- PESCA E AQUICULTURA FUNDAÇÃO AGRISUS RELATÓRIO PARCIAL-01/10/2016

1) Introdução CONCEITO:

V Semana de Ciência e Tecnologia do IFMG campus Bambuí V Jornada Científica 19 a 24 de novembro de 2012

Prof. Dr. Avacir Casanova Andrello

FONTES DE ADUBOS FOSFATADOS EM ARROZ DE TERRAS ALTAS.

DISTRIBUIÇÃO DAS FORMAS DE FÓSFORO APÓS 15 ANOS DA ADOÇÃO DE SISTEMAS DE MANEJO

PRODUÇÃO DO ALGODOEIRO EM DIFERENTES SISTEMAS DE ROTAÇÃO E SUCESSÃO DE CULTURAS EM GOIÂNIA, GO

EFEITO DA COBERTURA DE MILHO, MILHETO E SORGO NA TEMPERATURA E UMIDADE DO SOLO

Manejo de plantas de cobertura para sistemas agrícolas de alta produtividade

Palavras-Chave: Adubação mineral. Adubação orgânica. Cama de Peru. Glycine max.

Adubação do Milho Safrinha. Aildson Pereira Duarte Instituto Agronômico (IAC), Campinas

Desafios para aumento da produtividade da soja

Qualidade da Matéria Orgânica do Solo e Estoques de Carbono e Nitrogênio em Fragmento de Mata Atlântica do Município de Neópolis, Sergipe

Fundação de Apoio e Pesquisa e Desenvolvimento Integrado Rio Verde

BOLETIM TÉCNICO 2015/16

RELATÓRIO PARA AUXÍLIO DE PESQUISA

XX Congreso Latinoamericano y XVI Congreso Peruano de la Ciencia del Suelo

SOLO. Matéria orgânica. Análise Granulométrica

11 EFEITO DA APLICAÇÃO DE FONTES DE POTÁSSIO NO

Manejo da adubação nitrogenada na cultura do milho

Adubação da Cultura da Soja no Paraná e Goiás

Geologia e conservação de solos. Luiz José Cruz Bezerra

Biomassa Microbiana em Sistemas de Manejo do Solo e de Culturas Típicas da Região Norte do Paraná

Análise química do solo: amostras para análise

Avaliação de variedades sintéticas de milho em três ambientes do Rio Grande do Sul. Introdução

431 - AVALIAÇÃO DE VARIEDADES DE MILHO EM DIFERENTES DENSIDADES DE PLANTIO EM SISTEMA ORGÂNICO DE PRODUÇÃO

Avaliação da velocidade de reação do corretivo líquido na camada superficial de um Latossolo Vermelho distroférrico

08 POTENCIAL PRODUTIVO DE CULTIVARES DE SOJA

NÍVEIS DE MICRONUTRIENTES EM SOLOS COM USO INTENSIVO DE FERTILIZANTES.

PRODUÇÃO DE GRÃOS E DECOMPOSIÇÃO DOS RESÍDUOS CULTURAIS DE MILHO E SOJA EM FUNÇÃO DAS PLANTAS DE COBERTURA

BOLETIM TÉCNICO 2015/16

Qualidade de solo submetido a sistemas de cultivo com preparo convencional e plantio direto

Av. Ademar Diógenes, BR 135 Centro Empresarial Arine 2ºAndar Bom Jesus PI Brasil (89)

13 AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO VIA

VII Semana de Ciência Tecnologia IFMG campus

Impacto do Aumento de Produtividade de Pastagens nas Mudanças dos Estoques de Carbono no Solo

EFICIÊNCIA AGRONÔMICA E VIABILIDADE TÉCNICA DO PROGRAMA FOLIAR KIMBERLIT EM SOJA

ADUBAÇÃO DE MANUTENÇÃO PARA A CULTURA DA SOJA NO SISTEMA PLANTIO DIRETO

BOLETIM TÉCNICO 2015/16

o custo elevado dos fertilizantes fosfatados solúveis em água

CARACTERÍSTICAS AGRONÔMICAS DA SOJA EM FUNÇÃO DOS SISTEMAS DE CULTIVO E VELOCIDADE DE DESLOCAMENTO RESUMO

Programa Analítico de Disciplina SOL250 Constituição, Propriedades e Classificação de Solos Departamento de Solos - Centro de Ciências Agrárias

Relatório de pesquisa de utilização de basalto na agricultura biodinâmica em parceria com o Grupo Siqueira.

FÓSFORO E FUNGOS MICORRÍZICOS ARBUSCULARES NA PRODUÇÃO DE SOJA EM UM LATOSSOLO VERMELHO DEGRADADO

AVALIAÇÃO DA REPETITIVIDADE E REPRODUTIBILIDADE PARA CÁLCULO DE INCERTEZA NA ANÁLISE GRANULOMÉTRICA

Determinação de matérias estranhas, impurezas e fragmentos em milho

Solos e suas várias importâncias

AMOSTRAGEM DE SOLO. Pedro Marques da Silveira. III Encontro de Laboratório do PAQLF. Goiânia GO 16/09/2009

Sistema Plantio Direto e Integração Lavoura-Pecuária em Mato Grosso do Sul

Atributos químicos no perfil de solos cultivados com bananeira sob irrigação, no Projeto Formoso, Bom Jesus da Lapa, Bahia

Correção da acidez subsuperficial no plantio direto pela aplicação de calcário na superfície e uso de plantas de cobertura e adubação verde

CÁLCULOS DE FECHAMENTO DE FORMULAÇÕES E RECOMENDAÇÃO DE ADUBAÇÃO

Estimativa da infiltração de água no solo através de pedofunções em área de floresta plantada

Acúmulo e exportação de nutrientes em cenoura

ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO E RENDIMENTO DE GRÃOS DE MILHO SOB DO CULTIVO CONSORCIADO COM ADUBOS VERDES. Reges HEINRICHS. Godofredo César VITTI

BOLETIM TÉCNICO SAFRA 2014/15

PERDAS DE NUTRIENTES E MATÉRIA ORGÂNICA POR EROSÃO

ÉPOCAS DE SEMEADURA DE MILHO SAFRINHA SOLTEIRO E CONSORCIADO COM Brachiaria ruziziensis

BOLETIM TÉCNICO 2015/16

Manejo Químico e Atributos de Fertilidade de Solos Arenosos. Equipe Fundação MT / PMA Leandro Zancanaro

Efeito do uso de MAP revestido com polímeros de liberação gradual em teores de nitrogênio e fósforo foliares na cultura do milho.

Matéria Orgânica do Solo e utilização de resíduos na agricultura

DENSIDADE DO SOLO 1. INTRODUÇÃO 2. CONCEITOS

PRODUÇÃO DE FITOMASSA DE ADUBOS VERDES DE VERÃO EM CULTIVO EXCLUSIVO E CONSORCIADO

DESEMPENHO DO MÉTODO DAS PESAGENS EM GARRAFA PET PARA A DETERMINAÇÃO DA UMIDADE DO SOLO

Comparação de métodos de análise granulométrica para diferentes solos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina

Palavras-chave: Dióxido de carbono. Micro-organismo. Manejo. Atmosfera.

TEOR E EXTRAÇÃO DE NPK EM DOIS GENÓTIPOS DE MILHO SAFRINHA SOLTEIRO E CONSORCIADO COM BRAQUIÁRIA

Transcrição:

Fracionamento da Matéria Orgânica de um Solo sob Sistema de Preparo Convencional e Plantio Direto Rafael de Souza Nunes 1, Djalma Martinhão Gomes de Sousa 2, Wenceslau J. Goedert 1, João Ricardo Ramos Soares 1 ( 1 Universidade de Brasília, Campus Universitário Darcy Ribeiro, 70910-900 Brasília, DF, rafaelsouza_nunes@yahoo.com.br; 2 Embrapa Cerrados, BR 020, Km 18, Caixa Postal 08223, 73010-970, Planaltina, DF.) Introdução Dentre os componentes do solo, a matéria orgânica é aquele que mais se relaciona com os parâmetros de qualidade, físicos, químicos ou biológicos, potencializando características como a resistência do solo à erosão, taxa de infiltração e retenção de água no solo, capacidade de troca catiônica, estoque de nutrientes, resistência a perturbações e a atividade biológica (VEZZANI, 2001; MIELNICZUK et al., 2003). O fracionamento físico da matéria orgânica do solo permite diferenciá-la quanto ao estado de decomposição, humificação do material, estrutura e função in situ no sistema, sendo considerada menos destrutível quando comparados com as técnicas de fracionamento químico (CHRISTENSEN, 1992; SIX et al., 2002). Nas técnicas de fracionamento físico baseadas na granulometria, as frações obtidas correspondentes ao tamanho areia (> 0,053 mm) constituem as mais dinâmicas e mais sensíveis ao manejo. As frações inferiores a 0,053 mm estariam dominadas por material orgânico associado aos compontes minerais do solo, formando complexos organo-minerais, de modo que sua sensibilidade ao manejo é bastante reduzida (ROSCOE et al., 2006). O objetivo deste trabalho foi avaliar a distribuição das frações da matéria orgânica do solo (MOS) nos sistemas de preparo convencional (SPC) e plantio direto (SPD), após 10 anos de cultivo, tomando o Cerrado nativo como referência, obtidas por meio do fracionamento granulométrico. Material e Métodos O trabalho foi realizado numa área experimental localizada na Embrapa Cerrados, em Planaltina, DF, cujas coordenadas geográficas de referência são 47º42 W e 15º36 S. A área experimental encontra-se a 1.014 m do nível do mar, o clima é Cwa, a precipitação média anual é de 1.570 mm e a temperatura media anual de 21,3 C. O relevo caracteriza-se como plano, e o solo

é classificado como Latossolo Vermelho distrófico (LV) com conteúdo médio de argila, silte e areia de 571, 72 e 357 g kg -1, respectivamente. A vegetação natural é o Cerrado. As parcelas utilizadas na amostragem foram convertidas em sistema de cultivo no ano de 1976. No ano de 1996, iniciou-se o experimento quando se procedeu correção dos níveis de acidez e fertilidade e se estabeleceu os sistemas de cultivo: preparo convencional e plantio direto, cultivados com sucessão soja-milho e o milheto como planta de cobertura cultivado na entressafra. As adubações anuais foram 100 Kg/ha de P 2 O 5 na forma de superfosfato triplo aplicado no sulco de plantio e 80 Kg/ha de K 2 O aplicados a lanço simultaneamente ao plantio da cultura da soja e milho, além da adição de 150 Kg/ha de N na cultura do milho na forma de uréia. Nas últimas duas safras, a produção média das parcelas analisadas foi de 11,6 e 12,3 Mg/ha para a cultura do milho na safra 2004/2005 e 4,1 e 3,9 Mg/ha de soja na safra 2005/2006 para SPC e SPD, respectivamente. Ao longo dos 10 anos de cultivo, foram devolvidas ao sistema 134,5 Mg/ha e 130,2 Mg/ha de matéria seca no SPD e SPC, respectivamente. As amostras foram coletadas, em agosto de 2006, com trado, em seis camadas de solo (0 cm a 2,5 cm; 2,5 cm a 5,0 cm; 5,0 cm a 10,0 cm; 10,0 cm a 20,0 cm; 20,0 cm a 40,0 cm e 40,0 cm a 60,0 cm) com três repetições por tratamento e oito subamostras para cada amostra composta encaminhada para análise de laboratório. As amostras compostas, após serem secas ao ar e à sombra, foram passadas em peneira de 8 mm e depois em peneira de 2 mm. Neste trabalho, utilizou-se o método de fracionamento granulométrico da matéria orgânica descrito por Cambardella e Elliott (1992) com a alteração de utilizar hidróxido de sódio (NaOH) 0,1N na proporção 1:5 (solo:solução) como agente dispersante, seguido de agitação por 3 horas. Após a agitação, o material foi passado em peneira de 53 µm com auxílio de jato d água. O material retido foi lavado com água destilada e representou a fração 2000-53 µm, correspondente à areia fina e areia grossa. Em seguida, foi transferido para um Becker de 250 ml previamente pesado e levado até estufa, onde à temperatura de 60 C permaneceu até a retirada completa da umidade. Após a secagem, o material foi pesado e moído manualmente em gral de porcelana até atingir homogeneidade de cor e granulométrica. Em seguida, foi feita análise do teor de matéria orgânica (EMBRAPA, 1997). A MO retida na peneira de 53 µm está associada às frações areia fina e areia grossa e foi denominada de matéria orgânica particulada (MOP) representada em g de matéria orgânica por quilograma de partículas > 53 µm, correspondendo à fração lábil da matéria orgânica.

Aquela que passou pela peneira de 53 µm está associada às frações silte e argila foi denominada matéria orgânica mineral (MOM), representada em g de matéria orgânica por quilograma de partículas < 53 µm correspondendo à fração não lábil da matéria orgânica. Os valores da matéria orgânica mineral foram obtidos subtraindo a matéria orgânica do solo (obtida da amostra sem dispersão química) da matéria orgânica particulada (CAMBARDELLA e ELLIOTT, 1992). Para efetuar as comparações entre tratamentos, foi utilizado o teste nãoparamétrico de Wilcoxon a 10 %. Resultados e Discussão Os resultados do fracionamento da matéria orgânica do solo encontram-se na Tabela 1. Tabela 1. Teores médios de matéria orgânica particulada (MOP) e mineral (MOM) de seis camadas de um Latossolo Vermelho distrófico cultivado sob sistema de preparo convencional e plantio direto durante 10 anos e sob vegetação nativa de Cerrado. Camada Cerrado SPD SPC MOP -1 cm g kg 0-2,5 25,72 aa 13,07 ab 7,08 ac 2,5-5,0 14,98 ba 7,85 bb 5,78 bb 5,0-10,0 8,66 ca 6,38 bcab 5,47 bb 10,0-20,0 7,14 ca 3,54 cdc 4,74 bb 20,0-40,0 4,56 da 2,67 deb 3,02 cb 40,0-60,0 3,48 da 2,84 ea 2,71 ca MOM -1 cm g kg 0-2,5 46,60 ab 52,47 aa 42,60 ab 2,5-5,0 40,10 bb 48,97 ba 40,80 ab 5,0-10,0 35,95 cb 43,33 ca 38,17 aab 10,0-20,0 33,10 cb 38,50 da 39,93 aa 20,0-40,0 28,82 db 32,80 ea 33,83 ba 40,0-60,0 22,70 eb 24,17 fab 27,33 ba Médias seguidas da mesma letra na coluna (minúscula) e na linha (maiúscula) não diferem entre si pelo teste de Wilcoxon (p < 0,10). Observou-se um maior teor de MOM em relação à MOP nos dois sistemas em todas as profundidades amostradas. A superioridade de teores médios de MOM em relação aos teores

médios de MOP no SPD e SPC, respectivamente, foi de: 4,02 e 6,01 vezes na camada de 0 cm-2,5 cm; 6,23 e 7,05 vezes na camada de 2,5 cm-5 cm; 6,79 e 6,97 vezes na camada de 5 cm-10 cm; 10,88 e 8,43 vezes na camada de 10 cm-20 cm; 12,29 e 11,20 vezes na camada de 20 cm-40 cm; 8,50 e 10,07 vezes na camada de 40 cm-60 cm. Esses dados estão de acordo com Sá (2001) que, comparando a relação entre matéria orgânica associada à fração > 53 µm e < 53 µm, encontrou valores de 1,75 vezes a 14,5 vezes em favor da matéria orgânica associada à fração < 53 µm para as camadas de 0 cm-2,5 cm e 20 cm-40 cm respectivamente, avaliando camadas ate 40 cm sob plantio direto. Outra forma de analisar o acúmulo de MOM é avaliar sua participação percentual na MOS. Nessa análise para o SPD e SPC, respectivamente, a MOM representou em percentagem da MOS: 88,33 % e 91,64 % na camada de 0 cm-2,5 cm; 93 % e 93,06 % na camada de 2,5 cm-5 cm; 89,6 % e 90,13 % na camada de 5 cm-10 cm; 95,45 % e 94,25 % na camada de 10 cm-20 cm; 95,58 % e 94,93 % na camada de 20 cm-40 cm; e 94,51 % e 94,23 % na camada de 40 cm-60 cm. Esses dados estão de acordo com Salton et al. (2005), que em experimento com sistemas com pastagem, lavoura e integração lavoura-pastagem, verificaram que entre 77 % e 93 % do carbono orgânico total do solo estava na fração da matéria orgânica associada aos minerais ativos do solo (< 0,053 mm) e entre 7 % e 23 % do carbono orgânico total estava na fração particulada não associada (> 0,053 mm). Isso se deve à intimidade das interações de proteção física e química estabelecidas que minimizam a decomposição da MOS e, por fim, determinam o seu tempo de residência. Essa proteção do COS está diretamente correlacionada com o teor de argila do solo (RESENDE et al., 1997). A proteção da argila evitando a intensa decomposição do COS envolve dois mecanismos: a interação química do C orgânico do solo com a superfície das partículas de argila (ligações de coordenação, pontes de cátions, pontes de hidrogênio, eletrostática e interações de van der Waals) e oclusão física do material orgânico na matriz dos agregados do solo (HASSINK; WHITMORE, 1997). No que se refere à MOP, a diferença entre o SPD e SPC ocorreu apenas nas camadas de 0 cm-2,5 cm e 10,0 cm-20,0 cm, em favor do SPD e SPC respectivamente. Isso se deve ao local de aporte do material vegetal nos dois sistemas. Para a camada de 0-2,5 cm, a MOP do SPD compreende resíduos de culturas de vários anos anteriores em diferentes estágios de decomposição,

justificando o maior valor médio observado, enquanto, no tratamento sob SPC, a MOP provavelmente é constituída preferencialmente por resíduos da última cultura estabelecida que ainda estavam no solo, já que no momento da amostragem ainda não havia sido feito o preparo da área. Para a camada de 10,0 cm-20,0 cm, a MOP do SPD compreende principalmente resíduos de raízes enquanto a MOP do SPC é formada pelo material vegetal alocado nesta camada por efeito do revolvimento do solo promovido pelo arado de discos. O Cerrado apresentou maiores teores de MOP em relação aos demais sistemas em todas as profundidades. Isso se deve possivelmente à qualidade da matéria seca desenvolvida e depositada no solo, além do ph ácido e baixos teores de nutrientes conferindo uma menor taxa de mineralização e transformação de frações mais grosseiras da matéria orgânica para frações mais ativas. No que se refere à MOM, a diferença entre o SPD e SPC ocorreu até a camada de 2,5 cm- 5,0 cm. Isso se deve ao fato de que no SPC há um revolvimento anual do solo promovendo, dentre outros, a trituração do material vegetal na superfície do solo, ruptura dos agregados do solo, que promovem proteção física contra a decomposição microbiana, tornando a matéria orgânica mais exposta, maior aeração e atividade microbiana. O Cerrado apresentou teores de MOM menores do que o SPD e semelhantes ao SPC, principalmente nas primeiras camadas. A estabilidade do sistema permite uma passagem lenta da forma particulada para a forma mineral da matéria orgânica do solo e talvez por isso apresente menores valores que o SPD. Já o revolvimento promovido pelo SPC permite uma excedente passagem da MOP para a MOM e evolução de MOM em CO 2 caracterizando em perda dos teores dos dois compartimentos. Conclusões A maior proporção da matéria orgânica do solo encontra-se na fração mineral (MOM), fato mais proeminente nos solos sob cultivo, quando comparados ao sob Cerrado nativo. O sistema de plantio direto, após 10 anos de cultivo, proporcionou maior acúmulo de matéria orgânica particulada na camada de 0 cm a 2,5 cm e mineral na camada de 0 cm a 2,5 cm e 2,5 cm a 5,0 cm, em relação ao preparo convencional.

O perfil de distribuição de matéria orgânica do solo sob plantio direto, após 10 anos de cultivo, é similar ao do solo sob Cerrado nativo. Referências CAMBARDELLA, C.A; ELLIOT, E.T. Particulate soil organic matter changes across a grassland cultivation sequence. Soil Science Society of America Journal, v.56, p.77-783, 1992. CHRISTENSEN, B.T. Physical fractionation of soil and organic matter in primary particle size and density separates. Advances in Soil Science, v.20, p.2-90, 1992. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Serviço Nacional de Levantamento e Conservação do Solo. Manual de métodos de análise do solo. 2nd ed. Rio de Janeiro, 1997. 212p. HASSINK, J.; WHITMORE, A.P. A Model of the Physical Protection of Organic Matter in Soils. Soil Sci. Soc. Am. J., 61:131-139, 1997. MIELNICZUK, J.; BAYER, C.; VEZZANI, F.; FERNANDES, F. F.; DEBARBA, L. Manejo de solo e culturas e sua relação com estoques de carbono e nitrogênio do solo. Tópicos em Ciência do Solo, Viçosa, MG, v. 3, p. 209-248, 2003. RESENDE, M.; CURI, N.; REZENDE, S.B.; CORREA, G.F. Pedologia: base para a descrição de ambientes. 2nd edição, Viçosa, NEPUT, 1997. 367p. ROSCOE, R.; MADAR, B. E.; MACHADO, P. L. O. A. Fracionamento físico do solo na obtenção de frações mensuráveis para uso em simuladores da dinâmica da matéria orgânica. In: ROSCOE, R.; MERCANTE, F. M.; SALTON, J. S. (Eds) Dinâmica da matéria orgânica do solo em sistemas conservacionistas. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, 2006. p.107-132. SÁ, J.C.M. Dinâmica da matéria orgânica do solo em sistemas de manejo convencional e plantio direto. 2001. 141p. Tese. (Doutorado) Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba, SP. SALTON, J. C.; MIELNICZUK, J.; BAYER, C.; MACEDO M. C. M.; FABRICIO, A. C.; BROCH, D. L.; BOENI, M.; CONCEIÇÃO, P. C. Matéria Orgânica do Solo na Integração Lavoura-Pecuária em Mato Grosso do Sul. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, 2005. SIX, J.; FELLER, C.; DENEF, K.; OGLE, S. M.; SÁ, J. C. M.; ALBERECHT, A. Soil organic matter, biota and aggregation in temperate and tropical soils effects of no-tillage. Agronomie, Paris, v. 22, p. 755-775, 2002.

VEZZANI, F. M. Qualidade do sistema solo na produção agrícola. 2001. 184 f. Tese (Doutorado em Ciência do Solo) - Faculdade de Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.