AVALIAÇÃO DE CONSTITUINTES FISICOQUÍMICOS DE SEMENTES DE ALGODOEIRO HERBÁCEO DO ENSAIO INTERNACIONAL EM DUAS LOCALIDADES DO NORDESTE DO BRASIL Paulo de Tarso Firmino 1, José Rodrigues Pereira 2, Joaquim Nunes da Costa 3, Pablícia Oliveira Galdino 4, Juçara de Sá Mousinho 4, Gleibson Dionízio Cardoso 5, Lígia Maria Ribeiro Lima 6. (1) Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz, 1143, Centenário, 58107-720 Campina Grande, PB, e-mail: firmino@cnpa.embrapa.br, (2) Embrapa Algodão, e-mail: rodrigue@cnpa.embrapa.br, (3) Embrapa Algodão, e-mail: jnunes@cnpa.embrapa.br, (4) Universidade Estadual da Paraíba, UEPb, (5) Embrapa Algodão, e-mail: gleibson@cnpa.embrapa.br, (6)Universidade Estadual da Paraíba, UEPB, e-mail: ligia@hotmail.com RESUMO Em estudos realizados no Laboratório de Análise Multidisciplinar da Embrapa Algodão, utilizando-se sementes de 10 genótipos de algodoeiro herbáceo constantes do Ensaio Internacional de Cultivares, conduzidos em duas localidades do Nordeste do Brasil, no ano de 1999, objetivando-se verificar a variação dos percentuais de umidade, óleo e proteínas, num delineamento inteiramente cazualizado com quatro repetições. Verificou-se que os genótipos de algodoeiro herbáceo estudados se diferenciaram, apresentando variação nos teores de umidade, de óleo e de proteínas; ocorreu maior variação entre os genótipos para as variáveis estudadas no local onde o ensaio foi conduzido em regime de sequeiro;houve tendência de destaque para IAC 97-86 (IAC/Brasil) e IAN 338 (PIEA/Paraguai) no teor de óleo, em regime de sequeiro e irrigado, respectivamente, em relação ao conteúdo de proteína na semente, destacaram-se os genótipos CCA 347 (ADEPA-CIAT/Bolívia) em cultivo de sequeiro e o DELTA OPAL (MDM/Brasil), em regime de irrigação total. INTRODUÇÃO O processo de indicação de cultivares é dinâmico e contínuo, levando-se em consideração a produção, as características do capulho e a qualidade de fibra, verificando-se certo esquecimento para estudos relacionados com outras características da semente. Na íntegra e ao natural, a semente de algodão pode ser utilizada diretamente na alimentação de bovinos (Cardoso, 1998; Beltrão, 2000) e até de humanos: cultivares sem gossipol (Beltrão, 2000). Do processamento industrial, obtém-se diversos subprodutos importantes para a humanidade, entre os quais o óleo, o línter e as proteínas de elevado valor biológico (Beltrão, 2000). Na alimentação animal são usados tradicionalmente, subprodutos do algodoeiro, sendo os mais importantes o farelo, o caroço e a casca do caroço de algodão (Cardoso, 1998). Segundo Beltrão (2000), o óleo do algodão é um dos cinco mais importantes do mundo, tanto em volume de produção como em qualidade. Vários autores (Mehlenbacker,1960; Sousa, 1968; Cherry & Leffler, 1984; Ungaro et. al., 1992) demonstraram que a composição de óleo depende da cultivar utilizada, do meio em que vegeta e do estado final de maturação da semente. No presente trabalho objetiva-se verificar a variação dos percentuais de umidade, de óleo e de proteínas em sementes de genótipos de algodão herbáceo, constantes do Ensaio Internacional de Cultivares, conduzido no Nordeste do Brasil (Russas, CE e Touros, RN) no agrícola de 1999.
MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizadas sementes de algodão de genótipos de algodoeiro herbáceo do Ensaio Internacional de Algodoeiro Herbáceo, conduzido no Nordeste do Brasil em 1999, da rede internacional de ensaios de cultivares transnacionais coordenada pelo CIRAD - Paraguai. Os ensaios foram conduzidos, um em regime de sequeiro (Russas, CE) sendo que, em caso de estiagem, poder-se-ia aplicar uma ou mais irrigações complementares, e outro, em regime de irrigação por aspersão tipo pivô central (Touros, RN). Para análise das sementes no laboratório, esses ensaios obedeceram a um delineamento inteiramente ao acaso, tendo, cada deles, dez tratamentos e quatro repetições, assim distribuídos. IAN 338 (PIEA/Paraguai), Cacique e Ouro Branco (INTA/Argentina), CCA 347 (ADEPA CIAT/Bolívia), OC 96-252 (COODETEC/Brasil), PR 97-192 (IAPAR/Brasil), IAC 97-86 (IAC/Brasil), MT 95-122 (Fundação MT/Brasil), CNPA 87-33 (CNPA/Brasil) e DELTA OPAL (MDM/Brasil). Estas sementes foram preparadas para determinação dos teores de umidade, de óleo e de proteínas, através dos métodos da AOAC (1975), da Ressonância Magnética Nuclear no Oxford 4.000 (Gondim-Tomaz et al., 1997) e pela metodologia descrita por Le Poidevin & Robinson (1964) respectivamente. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os percentuais médios de umidade, de óleo e de proteínas nas sementes dos genótipos de algodoeiro herbáceo estudados no Ensaio Internacional, conduzido em duas localidades do Nordeste do Brasil, estão distribuídos nas Tabelas 1 e 2 (Russas, CE e Touros, RN, respectivamente). O teste F (Análise de Variância) foi significativo a nível de 1% de probabilidade para todas as variáveis estudadas, em ambas as localidades. Quanto ao teor de umidade na semente, só ocorreu variação visível entre os genótipos em cultivo de sequeiro (Tabela 1). As sementes produzidas neste local apresentaram, também, menor teor médio de umidade na semente. Possivelmente, no local com irrigação por pivô central (Tabela 2), a necessidade de água das plantas foi plenamente satisfeita por todo o ciclo da cultura, até a maturação dos frutos, pois apenas os genótipos IAN 338 (PIEA/Paraguai) e CCA 347(ADEPA- CIAT/Bolívia) não foram afetados pelas variações de disponibilidade hídrica. Para o teor de óleo dos genótipos, por sua vez, a menor variação e o menor teor médio ocorreram no local onde a necessidade hídrica foi, teoricamente, suprida (Tabela 2). Certamente, com o ambiente e, consequentemente, a semente com maior percentual de umidade, a composição lipídica diminuiu, mas uniformemente dentro dos genótipos estudados. Destacaram-se para esta variável as cultivares IAC 97-86 (IAC/Brasil), DELTA OPAL (MDM/Brasil), OURO BRANCO e CACIQUE (INTA/Argentina), embora não tenha diferido estatisticamente dos genótipos CCA 347 (ADEPA- CIAT/Bolívia), PR 97-172 (IAPAR/Brasil), MT 95-122 (FUNDAÇÃO MT/Brasil) (Tabela 1) e IAN 338 (PIEA/Argentina), OC 96-252 (COODETEC/Brasil), CCA 347 (ADEPA- CIAT (Bolívia), DELTA OPAL (MDM/Brasil) e Ouro Branco (INTA/Argentina) (Tabela 2). Para a variável teor médio de proteínas, praticamente se constatou a mesma variação entre os genótipos estudados nas duas localidades, denotada pela mesma média geral (22%) destacando-se os genótipos CCA 347 (ADEPA-CIAT/Bolívia), que apresentou ótimo desempenho em ambos os locais (Tabela 1 e 2), e DELTA OPAL (MDM/Brasil) e IAC 97 86 (IAC/Brasil) CNPA 87-33 (CNPA/Brasil) e PR 197 192 (IAPAR/Brasil), Ouro Branco (INTA/Argentina) E IAN 338 (PIEA/Argentina) (Tabela 2). Finalmente, todos os genótipos estudados nos dois locais, apresentaram-se com teores físicoquímicos (umidade, óleo e proteínas) dentro da faixa da composição da semente de algodão, conforme sumarizada por Beltrão (2000): 6-12% de umidade, 16 a 26% de proteínas e 14 a 25% de óleo.
CONCLUSÕES Os genótipos de algodoeiro herbáceo estudados se diferenciaram, apresentando variação nos teores de umidade, de óleo e de proteínas; Ocorreu maior variação entre os genótipos para as variáveis estudadas no local onde o ensaio foi conduzido em cultivo de sequeiro; houve tendência de destaque para o IAC 97-86 (IAC/Brasil) e IAN 338 (PIEA/Paraguai) no teor de óleo, em regime de sequeiro e irrigado, respectivamente; Em relação ao conteúdo de proteína na semente, destacaram-se o genótipos CCA 347 (ADEPA - CIAT/Bolívia) em cultivo de sequeiro e o DELTA OPAL ( MDM/Brasil) em regime de irrigação total. Tabela 1. Valores médios do teor de umidade, óleo e proteínas em sementes de genótipos de algodoeiro herbáceo do Ensaio Internacional, conduzido em Russas, CE. 1999 Variáveis (%) Genótipos Umidade Óleo Proteínas IAN 338 8,81 a 19,40 c 22,04 bc Cacique 6,90 bc 23,27 abc 21,48 bc Ouro Branco 6,77 bc 23,40 ab 19,53 cd CCA 347 7,15 b 21,83 abc 25,99 a OC 96-252 6,89 bc 20,26 bc 18,75 d PR 97 192 6,38 c 22,66 abc 21,48 bc IAC 97 86 6,38 c 25,12 a 23,04 b MT 95 122 6,29 c 22,60 abc 23,04 b CNPA 87-33 6,82 bc 20,64 bc 21,87 bc Delta Opal 6,58 bc 24,11 ab 22,26 b Média 6,90 22,33 21,95 F (trat.) 26,65** 4,87** 13,33** C.V. (%) 4,09 7,30 4,95 **Significativo a 1% de probabilidade, pelo teste F Médias seguidas das mesmas letras, nas colunas, não diferem pelo teste de Tukey, a 5%
Tabela 2. Valores médios do teor de umidade, óleo e proteínas em sementes de genótipos de algodoeiro herbáceo do Ensaio Internacional, conduzido em Touros, RN. 1999 Variáveis (%) Genótipos Umidade Óleo Proteínas IAN 338 8,63 a 21,33 a 21,07 abc Cacique 7,83 e 17,83 d 20,70 bc Ouro branco 8,56 a 19,77 abc 21,09 abc CCA 347 8,18 bcd 20,23 abc 23,43 ab OC 96-252 7,95 de 20,82 ab 19,53 c PR 97 192 7,91 de 19,13 bcd 21,87 abc IAC 97 86 8,01 cde 18,84 cd 22,65 ab MT 95 122 8,34 abc 18,91 cd 20,70 bc CNPA 87-33 8,12 cde 19,35 bcd 22,65 ab Delta Opal 8,50 ab 20,53 abc 23,82 a Média 8,21 19,68 21,83 F (trat.) 16,62** 8,36** 4,88** C.V. (%) 1,73 3,74 5,58 **Significativo a 1% de probabilidade, pelo teste F Médias seguidas das mesmas letras, nas colunas, não diferem pelo teste de Tukey a 5%
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AOAC. Official methods of analysis of the Association of Official Analitycal Chemists. 12.ed. Washington, 1975. 1094p. BELTRÃO, N.E. de M. Algodão: Utilidades O que fazer com a semente?. Cultivar, Pelotas, v.2, n.17, p.36-39. 2000. CARDOSO, E.G. Utilização de subprodutos do algodoeiro na alimentação animal. In: EMBRAPA. Centro de Pesquisa Agropecuária do Oeste (Dourados, MS). Algodão: Informações Técnicas. Dourados: EMBRAPA- CPAO; Campina Grande: EMBRAPA-CNPA, 1998.cap.16, p. 255-267. CHERRY, J.P.; LEFFLER, M.R. In: KOEL, R.J.L.; LEWIS, C.F.; 5.ed. Cotton. Madison: American Society of Agronomy, 1984.p.511-569. GONDIM-TOMAZ, R.M.A.; SOAVE, D.; ERISMANN, N. de M.; SABINO, N.P.; KONDON, J.I.; CIA, E.; AZZINI, A. Determinação do teor de óleo em sementes de algodão pelo método de ressonância magnética nuclear: resultados preliminares. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 1., 1997, Fortaleza. Anais... Campina Grande: EMBRAPA-CNPA, 1997. p.593-595. LE POIDEVIN, N.; ROBINSON, L.A. Métodos de diagnóstico foliar utilizados nas plantações do grupo booken na Guiana Inglesa: amostragem e técnicas de análise. Fertilité, n.21, p.3-11, 1964. MEHLENBACKER, V.C. The analysis of fats and oils. Champaign:.Garrard, 1960. SOUSA, C.V. de. Acidez do óleo da semente de algodão de Moçambique. Agronomia Moçambicana, Lourenço Marques, v.2, n.2, p.113-125, 1968. UNGARO, M.R.G.; de TOLEDO, N.M.P.; TEIXEIRA, J.P.F.; SUASSUNA FILHO, J. Determinação do teor de óleo em sementes de girassol pelos métodos de ressonância magnética nuclear e Soxhlet. Bragantia, Campinas, v.51,n.1, p.1-5, 1992.