fls. 228 SENTENÇA Processo Digital nº: 1105412-35.2016.8.26.0100 Classe - Assunto Procedimento Comum - Rescisão do contrato e devolução do dinheiro Requerente: Victor Yukio Nakandakari Requerido: Queiroz Galvão Mirante do Japi Desenvolvimento Imobiliário Ltda. Juiz de Direito: Dr. Fernando José Cúnico Vistos. VICTOR YUKIO NAKANDAKARI ajuizou AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL em face de QUEIROZ GALVÃO MIRANTE DO JAPI DESENVOLVIMENTO IMOBILIÁRIO LTDA. Alegando, em síntese, que adquiriu uma unidade autônoma de um empreendimento comercializado pela ré por meio de um "Instrumento Particular de Promessa de Compra e Venda de imóvel" em 01 de setembro de 2014. Aduz que em 2016 em razão de dificuldades financeiras para honrar a obrigação contraída, manifestou seu interesse em não dar continuidade ao contrato à demandada, todavia fora informado de que apenas uma pequena parcela lhe seria restituída. Sendo assim, aduz que notificou extrajudicialmente a ré, porém esta se quedou silente. Afirma que realizou o pagamento da importância de R$ 94.419,52, e que faz jus a restituição de 90% deste valor, qual seja de R$ 84.977,57. Discorre sobre a proibição do parcelamento na devolução dessa quantia. Por fim, postula pela declaração de rescisão do contrato avençado entre as partes, assim como pela condenação da ré à restituição do valor supracitado. Juntou documentos (fls. 18/69). Devidamente citada (fls. 80), a requerida ofertou contestação (fls. 81/97), sustentando, no mérito, que ao assinar o contrato o autor estava ciente do caráter irretratável e irrevogável do mesmo, logo, deve ser observado o principio da boa-fé que norteia as 1105412-35.2016.8.26.0100 - lauda 1
fls. 229 relações contratuais, portanto, não há que se falar em restituição já que o autor pretende inadimplir com sua obrigação perante a ré. Aduz que os critérios para devolução estão contidos no instrumento e devem ser respeitados. Explica que o percentual a ser fixado para devolução não deve ser inferior a 30%, tendo em vista a dupla natureza jurídica da resilição, como a reposição de custos fundados em despesas de administração e indenização por prejuízos sofridos pela vendedora em razão da extinção do contrato. Alega que também deve a parte autora arcar com as despesas de instalação do condomínio, sendo certo que apenas não recebeu as chaves do imóvel por culpa dela própria, postulando, ainda, a imediata liberação da unidade, para comercialização. Pugna pela improcedência dos pedidos ou que em resultado diverso, a retenção não seja inferior a 30%. Juntou documentos (fls. 120/205). Réplica (fls. 206/225). Indicação de provas pelo autor, ocasião em que requereu o julgamento antecipado da lide (fls. 226/227). É a síntese do necessário. Fundamento e Decido. O feito comporta julgamento antecipado nos termos do artigo 355, inciso I do Código de Processo Civil porquanto a matéria em comento é de direito, sendo que os fatos relevantes já se encontram comprovados documentalmente. Não há preliminares a serem analisadas, portanto, passo a análise do mérito. No mérito a pretensão inicial é PROCEDENTE. Trata-se de ação que visa a declaração de rescisão contratual com consequente condenação da ré para devolução dos valores pagos. A pretensão do requerente ao desfazimento do contrato celebrado com a ré para aquisição de imóvel descrito, bem como a restituição de 90% dos valores que pagou, merece acolhimento. Por primeiro, é incontroversa a incidência do Código de Defesa do Consumidor ao caso em análise, tendo em vista o disposto no art. 2º, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor. Pois bem. Não se discute que o autor firmou com a requerida "Instrumento Particular de Promessa de Compra e Venda de Imóvel", através do qual pretendia 1105412-35.2016.8.26.0100 - lauda 2
fls. 230 adquirir a unidade nele descrita. De outro lado, as regras estabelecidas para o negócio estão devidamente discriminadas no instrumento juntado ás fls. 18/44, e, aliás, a relação jurídica jamais fora impugnada pela requerida. Portanto, a existência de contrato, regras estabelecidas, prazo de entrega, bem como atraso para tanto, além de não impugnadas, estão comprovadas documentalmente. Porém, a parte autora, não desejando mais a continuidade na compra, deseja a rescisão do contrato, fato igualmente incontroverso. Todavia, a lide se volta em relação dos valores pagos pelo autor, na medida em que a requerida alega previsão contratual para devolução de apenas 70% do valor pago. Embora devidamente assinado o contrato, é certo que desconto de 70% em virtude da desistência do negócio ou inexistência de possibilidade de rescisão pelo comprador, são cláusulas abusivas, devendo ser observado, por tratar-se de contrato de adesão. Assim, assiste razão o autor, no que atine ao pedido de devolução, de uma só vez, e devidamente corrigido, na importância correspondente a 90% dos valores pagos, qual seja, R$ 84.977,57. A jurisprudência recente do STJ indica como parâmetro de retenção os percentuais entre 10% a 25%, a depender do caso concreto: "AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. RESOLUÇÃO. RETENÇÃO. PERCENTUAL DE 10%. RAZOABILIDADE. ACÓRDÃO RECORRIDO DE ACORDO COM A JURISPRUDÊNCIA DESTE TRIBUNAL SUPERIOR. SÚMULA 83 DO STJ. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. A jurisprudência desta Corte de Justiça, nas hipóteses de rescisão de contrato de promessa de compra e venda de imóvel por inadimplemento do comprador, tem admitido a flutuação do percentual de retenção pelo vendedor entre 10% e 25% do total da quantia paga. 2. Em se tratando de resolução pelo 1105412-35.2016.8.26.0100 - lauda 3
fls. 231 comprador de promessa de compra e venda de imóvel em construção, ainda não entregue no momento da formalização do distrato, bem como em se tratando de comprador adimplente ao longo de toda a vigência do contrato, entende-se razoável o percentual de 10% a título de retenção pela construtora dos valores pagos, não se distanciando do admitido por esta Corte Superior. 3. É abusiva a disposição contratual que estabelece, em caso de resolução do contrato de compromisso de compra e venda de imóvel pelo comprador, a restituição dos valores pagos de forma parcelada. 4. Agravo interno não provido" (AgRg no AREsp 807880 / DF Rel. Min. Raul Araújo). No caso sub examine, tendo em vista que não houve sequer posse do autor sobre o imóvel, a requerida poderá alienar a unidade a terceiros sem qualquer prejuízo, entendo que o percentual de 10% de retenção mostra-se razoável, sendo devida a restituição. Diga-se, por fim, que não há que se falar na imposição, ao requerente, de responsabilidade sobre taxas e encargos de qualquer natureza incidente sobre o imóvel, pois ele apenas poderia ser compelido a tanto, a partir do recebimento das chaves do imóvel, o que jamais ocorreu. Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE a pretensão inicial, com fundamento no art. 487, I, do Código de Processo Civil, para: 1) DECLARAR a rescisão do contrato de promessa de compra e venda entre as partes; 2) CONDENAR a ré a restituir ao autor, de uma só vez, 90% dos valores pagos por ele para aquisição do imóvel, sendo a quantia de R$ 84.977,57(oitenta e quatro mil, novecentos e setenta e sete reais e cinquenta e sete centavos) que será devidamente corrigida pela Tabela Prática de Atualização de Débitos Judiciais do Tribunal de Justiça de São Paulo, a partir do desembolso, e acrescido de juros legais de 1% ao mês desde a data da citação. Em vista da sucumbência, CONDENO a ré ao pagamento de custas judiciais, além do pagamento de honorários advocatícios do autor, que fixo, por equidade, em R$ 5.000,00 (cinco mil reais). P.R.I. São Paulo, 30 de janeiro de 2017. 1105412-35.2016.8.26.0100 - lauda 4
fls. 232 DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA 1105412-35.2016.8.26.0100 - lauda 5