C a m i n h o Pé ante pé Depois dos olhos. O l h o E não passo. O caminho É a v i d a E m e d á A s c o.
C o m e n d o Quis roer a unha Mas cortei tão curta Q u e t i v e Q u e r o e r O d e d o. Mas era tão pequeno Que roí o braço Engoli o braço E e s t o u De barriga vazia.
I d e n t i d a d e C a b e r Dentro de algum lugar. Um espaço, U m c a s c o, U m a t r i b o. S a b e r s e r De algum lugar. L a r. U m p o n t o. O o l h a r.
F a v o r Come a minha alma P e l o s p é s. Começa pelos pés A m i n h a a l m a. Começa pelos pés, P e r t o d a t e r r a. Come a minha alma P e l o s p é s. Come e eu me liberto. Come e eu não preciso mais andar.
H u m a n o Mergulhar N o s a l De olho aberto. B a t o A palma Na ponta Da faca E n ã o S a n g r a.
P a r a d o S o m S o m a d o No ouvido F e c h a d o. C o s t u r e i Os braços; D e i t e i No meio da rua.
V a m o s Não há estrada. O n a d a Leva a lugar nenhum. O c h ã o d e t e r r a, A máscara de asfalto Sobre as velhas pedras. Passo correndo E não sei pra onde vou; Passo correndo E não sei pra onde vou; Passo correndo E só consigo olhar pra trás. Não há estrada. À minha frente, o nada Leva a lugar nenhum.
S o p r o O r e s p i r a r Lento e sutil D o s f a t o s. Abro os livros E só encontro restos. Sons pulverizados; Bocas fechadas; Olhos cerrados; E c o s.
B u r a c o C a r t a s, Sobre a mesa. Sobre as idéias, C a r a s. O u t r o s, Dentro dos copos. Mesa sobre o chão. O silêncio Sobre as palavras.
HD S i g o, s o m b r a v a z i a Cheia de acontecimentos I n c ó g n i t o s, Certezas que eu não cogito Lugar e pessoas I n s ó l i t a s. Respirar; processar; Mas o passo trava. S i g o, M e m ó r i a a r f a d a, Precisando de outro giga.
C r i s p s Q u e b r o Meus curtos Cabelos crespos; F i n o s F i o s M o r t o s ; R i d í c u l o s, I n c ô m o d o s, A t í p i c o s ; P a r c o s, Embaraçados, T o r t o s.
P l e u n a s m o O pensamento lento, Os olhos quase fechados. S u c i n t a m e n t e A porta se fecha. Escolhi o caminho errado. Errado, errado... P l e u n á s t i c o. O dia asfixiado Numa sacola de plástico. Solto, no ar parado, Um corpo sem suporte E x p l o d e, E x t á t i c o.
S e r e n a t a C â n t i c o C a n t a d o P o r b o c a s De bêbados; C r i a n ç a s N i n a d a s E m c a i x a s De fósforos; V i o l õ e s Sem cordas E d e d o s Q u e b r a d o s P a l a v r a s C a l a d a s Por tropéis De sórdidos.
15 O e s p a ç o Onde eu me transformo. Dispenso as flores. E o reflexo, São as paredes branco- Gelo nuas, profundas. Fundo pro abismo Onde eu perco O t e m p o, O n d e e u M e p e r c o, M e p e r c e b o E a f u n d o ; Mundo imundo, Esse soluço mudo, A luz azul no fim; Buraco na parede, e s t a m p a ; Espelho do camarim.
S a í d a T r o p e ç o Por rua escura Que é torta; E n t r o No boteco imundo E peço uma porta. É t a r d e. Mas não sei ler as h o r a s. É q u a s e Hora de ter que ir e m b o r a.
T r a v e s s e i r o Deita a cabeça Sobre a minha língua E conta as estrelas Do céu da minha boca.
M o d e r n i d a d e Cospe no prato que comeu, Fica à vontade! Não tem mais comida, Não tem mais vontade, Não tem mais verdade. Cospe, e limpa a boca no braço. Não tem mais porquê, M e u f i l h o, Fica à vontade!
M e t a m o r f o s e A noite acaba E, e n t ã o, Se levanta da cama, Um monstro de duas patas. O rosto eu não conheço. Não tenho espelho em casa.
S a b o r e s Á c i d a ; A r e a l i d a d e E m q u e Eu não acredito. P á g i n a s Q u e i m a d a s S e g u n d o A s e g u n d o. O que é que resta Dessa minha vida? Em coma quimérico, Indispensável,insolúvel, Tento vencer o inevitável Invisível infalível.
V i r t u s Ú l t i m o S u s p i r o H o m é r i c o, Meu sorriso Se dissolve Com o lugar. E o tempo passa; E u p a s s o. Sem caminhar.
M a l d a d e M a r m i t a E m a r m o t a M e r e c e m M o r r e r. M e r g u l h a m M e c â n i c a s M o v e n d o M o i n h o s Q u e c o r t a m O s s o n h o s, Q u e c o r t a m C a m i n h o s, M i j a n d o Nas plantas, M o e n d o D o c i n h o s, M e l a n d o M o m e n t o s, M e n t i n d o, M e d i n d o. M a r m i t a E m a r m o t a M a r v a d a s, Morféticas, M e r e c e m M o r r e r, M e r e t r i z e s M a l é f i c a s.
A d e u s Vou me despedir do seu olhar E ficar olhando de olhos fechados. Olhando os seus olhos De dentro dos seus olhos; De dentro dos meus olhos. De dentro do tempo. Um tempo sem espaço; Ou um espaço sem tempo. Vou me despedir do seu olhar. Vou me despedir do tempo e do espaço E ficar olhando de olhos fechados.
Eternidade R e s t a r ã o D e n t e s U n h a s C a b e l o s E o s s o s. clarissa ribeiro 2003 2005