fls. 205 SENTENÇA Processo n.: 1000475-37.2016.8.26.0564 Requerente (s): Requerido (s): Ivani Cristina Pivetta BIG TOP 2 - INCORPORADORA LTDA. MAGISTRADO: SERGIO HIDEO OKABAYASHI Vistos. IVANI CRISTINA PIVETTA ajuizou ação de rescisão contratual contra BIG TOP 2 INCORPORADORA LTDA. Relata que celebrou com a requerida Instrumento Particular de Promessa de Venda e Compra de Imóvel, tendo como objeto a unidade residencial nº 168 Condomínio Marco Zero Prime; que foram pagos R$ 112.362,10; que por problemas financeiros solicitou um distrato amigável sem sucesso. Objetiva a restituição de 90% dos valores adimplidos (fls. 01/25). Na emenda a inicial houve desistência dos pedidos referentes a taxa Sati e comissão de corretagem (fls. 109, R$ 10.944,00). Na contestação, a empresa ré argui ilegitimidade passiva; no mérito defende a legalidade dos termos ajustados; entende, ainda, que "na hipótese de desistência/rescisão do contrato em razão do inadimplemento por parte do promitente comprador, DEVE-SE APLICAR MULTA DE 10% DO VALOR DO IMÓVEL, independentemente do valor pago pelo promitente comprador (sendo a retenção limita a 90% do que pagou o promitente comprador), e não em percentual sobre o valor pago pelo promitente comprador" (fls. 117/129). Houve réplica (fls. 170/192). É o relatório. Reconsiderando a decisão de fls. 195/199, tem-se que a matéria de direito e de fato está madura. Assim, conhece-se, diretamente, do pedido e profere-se sentença no estado em que se
fls. 206 encontra o processo art. 355, I, do NCPC. A petição inicial não é inepta. Ao tempo do ajuizamento estava suficientemente instruída (art. 320, do NCPC) e, ademais, apresenta causa de pedir clara (art. 319, do NCPC), da qual decorrem pedidos certos, determinados, passíveis de cumulação e não vedados pelo ordenamento jurídico (art. 324, caput e art. 327, ambos, do NCPC). A parte autora observou o binômio necessidade/adequação ao apresentar e formular sua pretensão (art. 17, do NCPC), bem assentada no Direito Constitucional de Ação (art. 5º, inc. XXXV, da CR/88), daí porque certo o interesse de agir. A legitimidade processual é inequívoca, porquanto mantida pertinência subjetiva das partes com o direito material debatido, podendo, ainda, o resultado da demanda repercutir sobre os respectivos patrimônios jurídico e econômico (art. 17, do NCPC). Ademais, "Não há falar-se em ilegitimidade da construtora, já que a hipótese dos autos comporta aplicação da regra de solidariedade enunciada no artigo 7º, parágrafo único, e no artigo 25, 1º, ambos do Código de Defesa do Consumidor, pela qual é solidária a responsabilidade dos fornecedores integrantes da cadeia de consumo" (TJ/SP, Ap. n. 1081081-57.2014.8.26.0100, rel. Des. Moreira Viegas). Rejeita-se a matéria preliminar e examina-se o mérito. Diante do manifesto desinteresse da requerente na
fls. 207 continuidade do ajuste, a pleiteada rescisão é medida que se impõe, nos termos definidos pelo enunciado da Súmula 02, do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo: o compromissário comprador de imóvel, mesmo inadimplente, pode pedir a rescisão do contrato e reaver as quantias pagas, admitida a compensação com gastos próprios de administração e propaganda feitos pelo compromissário vendedor, assim como com o valor que se arbitrar pelo tempo de ocupação do bem. Na hipótese, a ausência do uso do bem e a não comprovação de maiores prejuízos à ré, autoriza a retenção de 10% das quantias pagas a título de aquisição do imóvel (R$ 91.276,29, item c fls. 24), mormente, a fim de garantir o equilíbrio contratual e evitar enriquecimento sem causa de ambas as partes. Nesse sentido, guardadas as devidas diferenças, destacamse: Ação Declaratória de Resolução Contratual c.c. Restituição de Valores Pagos c.c Pedido de Indenização por Danos Morais Alegação de que celebrado com a ré contrato de compra e venda de imóvel, esta teria descumprido o quanto acordado, uma vez que enviou os boletos para pagamento de forma atrasada, cobrando, assim, valores maiores do que o pactuado e, ainda, não tendo sido aprovado o financiamento, utilizou-se do saldo do FGTS do autor Contestação da ré apresentada intempestivamente Revelia decretada - Sentença de procedência Inconformismo da ré Ausência de provas do inadimplemento por parte da ré Recurso parcialmente provido para, mantida a rescisão do contrato, condenar a ré a devolver ao autor o valor das parcelas pagas, referente apenas à compra e venda do imóvel, com o direito de retenção de 10% do referido valor e do valor pago a título de comissão de corretagem, afastada a condenação no pagamento por danos morais (TJ/SP Ap. 1004675-63.2013.8.26.0606 Rel Des. JOSÉ APARÍCIO COELHO PRADO NETO j
fls. 208 20/10/2015. Ação de rescisão contratual Cooperativa Aplicação do Código de Defesa do Consumidor que afasta a necessidadee serem observadas as regras estatutárias para restituição dos valores pagos, que deve ocorrer de forma imediata, com a retenção apenas do percentual de 10%, conforme fixado na sentença Recurso improvido. (TJ/SP Ap 0011644-75.2010.8.26.0070 Rel. Des Eduardo Sá Pinto Sandeville, j. 23/10/2014) AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL E RESTITUIÇÃO DE PARCELAS PAGAS Procedência do pedido para determinar a devolução, em única parcela, de 70% (setenta por cento) dos valores pagos Inconformismo Contrato de compra e venda de bem imóvel (termo de adesão) Cooperativa Relação de Consumo Inadimplência da compradora não impede a restituição das parcelas quitadas Aplicação da Súmula 01 do TJSP Devolução de 90% (noventa por cento) das mensalidades cumpridas e retenção de 10% (dez por cento) a título de indenização Legitimidade Consonância à proteção consumerista A retenção de 25% (vinte e cinco por cento) prevista no estatuto denota abusividade e a multa rescisória de 5% (cinco por cento) é indevida Decisão reformada, em parte Parcelamento da restituição Impossibilidade Observância da Súmula 02 do TJSP Recurso da ré desprovido e provido, em parte o da autora. (TJ/SP Ap. 9001186-27.2009.8.26.0506 Rel. Des. Marcia Tessitore j. 07/10/2014). A incorporadora ré pagará os honorários do advogado da autora, esses fixados em 10% sobre o valor da condenação com base no que foi produzido nos autos e nos parâmetros definidos perlo art. 85, caput e 2º, do NCPC. Admoesto, por fim, que todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão alinhavada, foram enfrentados pelo Juízo. Pelo exposto, com exame de mérito, acolho o pedido formulado na ação (art. 487, I, do NCPC) para rescindir o contrato de fls. 27/60 e condenar a requerida à restituição de 90% dos
fls. 209 valores despendidos pela autora em face do ajuste ((R$ 91.276,29, item c fls. 24) atualizados pelos índices do TJ/SP, desde cada desembolso, e acrescidos de juros de mora contados da citação, no percentual de 1% ao mês. Vencida, arcará a parte ré com o pagamento das custas, despesas processuais e verba honorária fixada em 10% sobre o valor da condenação. P.R.I. São Bernardo do Campo,19 de maio de 2016. DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI N. 11.419/2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA.