Referencial para o Ensino de História e Cultura Indígena da Rede Municipal de Ensino de Cabo Frio



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Transcrição:

Referencial para o Ensino de História e Cultura Indígena da Rede Municipal de Ensino de Cabo Frio 2011

PREFEITURA MUNICIPAL DE CABO FRIO Região dos Lagos Estado do Rio de Janeiro Secretaria Municipal de Educação Departamento Técnico Pedagógico Divisão de Supervisão Escolar Serviço de Programas Especiais Referencial para o Ensino de História e Cultura Indígena O Brasil abriga em seu território, além de uma expressiva biodiversidade, composta por diferentes ecossistemas, como a Amazônia e o Pantanal, uma rica sociodiversidade nativa. Esta é representada pela existência de 215 povos indígenas espalhados em muitas aldeias por todo o país. Tais povos falam cerca de 180 línguas e dialetos nativos conhecidos e vivem diferentes situações de contato com segmentos da sociedade brasileira. Os povos indígenas no Brasil totalizam hoje uma população em torno de 500 mil indivíduos. Eles já foram muito mais no passado: em 1500, quando ocorreram os primeiros contatos entre índios e europeus, os estudiosos estimam que a população indígena tenha chegado a 6 milhões de indivíduos, falando mais de 1300 línguas. Mas já foram muito menos também; na primeira metade do século XX, teriam chegado a 200 mil indivíduos. Numa perspectiva de valorização e resgate da história e da memória das populações nativas do nosso país, o poder público federal, sanciona a Lei 11.645/08. A inclusão de História e Cultura Indígena nos currículos de Educação Básica vai de encontro ao que preconiza a Lei Nº 11.645/08. Trata-se de decisão política com repercussões pedagógicas. Com tal medida, reconhece-se a necessidade de valorizar e resgatar a história e a cultura dos povos indígenas, buscando reparar danos, preencher lacunas e desconstruir conceitos equivocados. A importância do estudo de temas relacionados à história e à cultura indígena não se restringe a estes povos, ao contrário, dizem respeito aos brasileiros, uma vez que precisam educar-se enquanto cidadãos atuantes numa sociedade multicultural e pluriétnica, capazes de construir uma nação democrática. O objetivo é ampliar o foco dos currículos escolares para a diversidade cultural, racial e socioeconômica brasileira. Caberá às escolas incluir aos estudos e atividades curriculares, as contribuições histórico-culturais dos povos indígenas. É preciso perceber que a Lei Nº 11.645/08 deve provocar, além da inclusão dos novos conteúdos, o repensar nas relações etnico-raciais, sociais, pedagógicas, procedimentos de ensino, condições oferecidas para a aprendizagem, objetivos subtendidos e explícitos da educação escolar. Cada U.E. terá autonomia para elaborar os projetos pedagógicos e demais atividades, mas poderão contar com a participação de representantes indígenas e/ou estudiosos da área. Caberá aos estabelecimentos de ensino acabar com o modo falso e reduzido de tratar a contribuição dos povos indígenas e de seus descendentes para a construção da nação brasileira. Não será possível assumir tais responsabilidades, sem considerar o entorno sociocultural da escola, da comunidade onde se encontra e a que serve. O Brasil é um país de muitas etnias e culturas, e cabe à escola garantir a todos o direito de aprender e de ampliar conhecimentos. O respeito às diferenças e a preservação da cultura dos povos devem existir. É importante enfocar a diversidade 2

presente no Brasil com nossos alunos. Esta atitude nos ajudará a construir uma sociedade mais equânime, com menos desigualdade, mas tolerante e respeitosa. Objetivos: Conhecer o processo de construção de uma nação é uma dimensão valiosa para a escola, no sentido de oferecer oportunidade ao aluno de olhar o passado, bem como o presente, em busca de conhecimento e discernimento sobre a história do país. Considera-se fundamental que o povo brasileiro tenha conhecimento acerca do sofrimento ao qual as sociedades africanas e indígenas foram expostas, favorecendo uma melhor compreensão das atitudes tomadas pelos índios no decorrer da história do Brasil, conhecimento que deve ser adquirido desde o início da fase escolar, especificamente para os alunos do Ensino Fundamental e Médio. No intuito de propiciar ao professor uma exploração abrangente em relação à história indígena nas escolas sugerem-se questões que irão somar na inclusão dessa abordagem inovadora que foi imposta por uma nova lei: Propiciar ao aluno o conhecimento dos aspectos positivos e afirmativos da população indígena em relação à cultura nacional, bem como os acontecimentos considerados negativos presentes na história brasileira; Fazer associações às tradições negras e indígenas usando como exemplos, a religião, a música, a culinária, as artes plásticas entre outros; Estabelecer as semelhanças e diferenças entre a escravidão indígena e a negra; Informar a existência de populações e grupos com domínio das técnicas agrícolas, cerâmica e artesanato, considerando que essas riquezas foram incorporadas à criatividade e inovação no âmbito da cultura brasileira; Identificar e conhecer os alimentos oriundos da cultura indígena; Conscientizar os alunos a respeito da distribuição dos povos indígenas pelo mundo; Informar que os povos indígenas são descendentes dos habitantes originários das terras ocupadas e colonizadas. Ex: as etnias nativas dos Estados Unidos, os aborígenes australianos, os Incas, Maias e Astecas, dentre outros; Reconhecer que os primeiros donos das terras brasileiras são os indígenas; Contribuir para a preservação e permanência dos diversos grupos étnicos nas suas reservas; Desconstruir conceitos equivocados acerca da história e da cultura indígena, percebendo o índio como figura forte, guerreira e resistente; Reconhecer e destacar a contribuição dos povos indígenas na construção da cultura nacional. 3

Vale ressaltar que a cultura indígena possui um imenso universo de informações a serem estudadas e que compete ao professor inseri-las em outras matérias. Os novos conteúdos nunca deverão ser trabalhados como uma disciplina isolada, nem tão pouco dissociados dos demais. Associar a cultura indígena ao conteúdo que está sendo vivenciado pelos alunos, resulta em um rico processo de aprendizagem para eles, proporcionando o contato com as tradições e, consequentemente, o conhecimento da história do seu país. 1. A Pré-História indígena 1.1. Indígenas na Pré-História brasileira 1.2. Indígenas na Pré-História cabo-friense (sambaquis) 1.3. Os ameríndios no período pré-colombiano A importância de reconhecer a Pré-História Indígena como período histórico e não como a-histórico é fator fundamental para começarmos a discutir e reconhecer a importância dos povos indígenas para a formação do povo brasileiro. Os sambaquis, presentes nas diversas regiões brasileiras, sobretudo a do litoral da Região dos Lagos, e em Cabo Frio, são registros importantes dos povos caçadores e coletores que viviam no Brasil entre 6000 e 2000 anos atrás. Os sítios cerâmicos também são nichos que comprovam a existência dos indígenas num outro período histórico. Chamamos de sambaqui ao tipo de sítio arqueológico cuja composição é predominantemente de carapaças de moluscos. Ele é testemunho de uma sociedade cuja economia era baseada, principalmente, na coleta desses animais. (FINAGEIV, 1994 p.82) A conquista da América, ocorrida no findar do século XV, testemunhou a existência dos povos pré-colombianos. Os ameríndios viviam de forma organizada social e politicamente, mas tiveram suas culturas extintas por força da ação colonizadora. 2. Quem e quantos são os índios no Brasil? 2.1. Por que indígenas? 2.2. Identidade indígena: o orgulho de ser índio. 2.3. Organização social indígena 2.4. Diversidade cultural indígena As populações indígenas são vistas pela sociedade brasileira ora de forma preconceituosa, ora de forma idealizada. Dominadas política, ideológica e economicamente por elites municipais com interesses nas terras dos índios e em seus recursos ambientais. Os povos indígenas brasileiros de hoje são sobreviventes e resistentes da história da colonização europeia. Estão em franca recuperação de orgulho e da autoestima identitária e, como desafio, buscam consolidar um espaço digno na 4

história e na vida multicultural do país. Portanto, para falar de índios no Brasil é preciso reconhecer a diversidade de povos e habitantes das terras brasileiras. Resgatar o papel do indígena no nosso município é, por assim dizer, uma tentativa de suscitar toda a história e a contribuição dos povos indígenas da região. É como se os povos indígenas só existissem como obstáculos às perspectivas de dominação europeia. Mesmo quando resistentes, são focados como elementos que reagem a uma ação branca, e não protagonistas do seu processo. (MOREIRA, 2010 p.25) 3. Os povos indígenas na Região dos Lagos 3.1. Os Tupinambá em Gecay (Cabo Frio) 3.2. A Aldeia de São Pedro de Cabo Frio 3.3. Resgate da história e da memória da região Na chamada Guerra do Cabo Frio em 1575, as tropas portuguesas destroem a Casa de Pedra francesa na barra da lagoa de Araruama e massacram ou escravizam mais de 20 mil tupinambás. Horrorizados com o extermínio, cerca de 50 mil sobreviventes abandonam o território de seus ancestrais e refugiam-se na Serra do Mar. (FINAGEIV, 1994 p.13) Os Tupinambá habitaram a nossa região por muito tempo. Sua presença é comprovada pelos estudos arqueológicos realizados em Cabo Frio. Antes da chegada dos europeus havia na região muitas aldeias Tupinambá, estimando-se uma população total entre 25.000 e 75.000 habitantes. Assim como em Cabo Frio, outros municípios da região do Grande Cabo Frio, como São Pedro d Aldeia e Araruama, por exemplo, registraram a presença de indígenas de várias etnias e federações. Goitacás, Tamoios, Guarani, dentre outros deixaram suas marcas culturais por aqui. 4. Escravidão, resistência e extermínio dos grupos indígenas brasileiros 4.1. O estranhamento entre indígenas e europeus no período do descobrimento 4.2. Escravidão e resistência indígena 4.3. Extermínio das populações indígenas 4.4. Preconceito e discriminação O sentimento que melhor traduz o que sentiram índios e portugueses por ocasião do descobrimento foi, sem dúvida, o de estranhamento. Indivíduos tão diferentes, estranharam, repeliram tamanha discrepância cultural entre um e outro. Hábitos, línguas, características físicas e valores muito particulares serviram para estabelecer uma supremacia na hierarquia social dos dominadores contra os dominados. O jogo de interesses foi intenso, fazendo com que portugueses se apropriassem não somente da terra brasilis, mas também do corpo e da alma dos índios que aqui viviam. 5

Contrariando teorias consagradas, que tratavam os gentios como preguiçosos ou rebeldes, impróprios para a escravidão, vários estudos mostraram que as populações nativas do Novo Mundo português foram, nos séculos iniciais de colonização, sistematicamente exploradas em fazendas destinadas à agricultura de exportação. Nas áreas economicamente periféricas, o escravismo com base na mãode-obra indígena estendeu raízes profundas, sobrevivendo até a segunda metade do século XVIII. No dia a dia das plantações, no cotidiano da vida familiar e até mesmo nos momentos de revolta, os cativos ameríndios compartilhavam seus anseios e expectativas tecendo laços de solidariedade no universo das senzalas. Neste caso, o aprofundamento no estudo da escravidão indígena torna-se necessário para que percebamos o quanto estes grupos populacionais foram explorados e, por conseguinte, dizimados do território nacional. 5. Lutas e movimentos indígenas no processo histórico brasileiro 5.1. Movimentos indigenistas (processo histórico e construção dos movimentos; Movimento Indígena Contemporâneo) 5.2. Lideranças indígenas tradicionais e políticas 5.3. Organização ou associação indígena 5.4. Os principais desafios enfrentados pelos povos indígenas Os povos indígenas sempre resistiram a todo o processo de dominação, massacre e colonização europeia por meio de diferentes estratégias, desde a criação de federações e confederações de diversos povos para combaterem os invasores, até suicídios coletivos. Um dos fatores que contribuíram para o processo de dominação e de extermínio dos povos indígenas do Brasil foi a habilidade com que os colonizadores portugueses usaram a seu favor os desentendimentos internos entre os diferentes grupos étnicos, fosse provocando brigas entre eles ou usando-os para comporem seus exércitos para atacarem grupos rivais. Atualmente, a estratégia mais importante está centrada no fortalecimento e na consolidação do movimento indígena organizado. Para isso, é importante conhecer um pouco o processo histórico vivido pelos povos indígenas nos últimos anos e as diferentes estratégias de resistência e luta, adotadas por todo esse tempo para se chegar ao atual cenário. Também é importante desmistificarmos a visão equivocada que muitos têm em relação ao índio. Diferentes de serem indolentes, preguiçosos ou selvagens, nos dão demonstrações de resistência e luta pela manutenção da sua cultura, de suas terras, e do seu povo. 6. Cidadania e terra 6.1. Terra e território 6.2. Situação política das terras indígenas no Brasil: de Rondon à FUNAI 6.3. Meio ambiente indígena: respeito e sustentabilidade O artigo 1º da Constituição Federal, em seu inciso II, destaca como um de seus fundamentos o direito à cidadania, mas, ainda não podemos dizer que os povos indígenas brasileiros tenham seus direitos de cidadãos assegurados. Um longo 6

caminho vem sendo percorrido na tentativa de oferecer aos nativos desta terra melhores condições de saúde, educação, direito à terra, etc. O trabalho desenvolvido por Rondon e Darcy Ribeiro contribuiu para que estes povos fossem vistos como cidadãos brasileiros, com seus direitos e deveres. A Fundação Nacional do Índio FUNAI, criada pela Lei 5.731, de 05 de janeiro de 1967, vinculada ao Ministério da Justiça, é o órgão federal responsável pelo estabelecimento e execução da política indigenista brasileira em cumprimento ao que determina a Constituição Federal Brasileira de 1988. Nos últimos vinte anos, os povos indígenas do Brasil, por conta de muita luta, mobilização e pressão política, foram conquistando gradativamente o status político de cidadania brasileira, o que significa, na prática, a possibilidade de usufruírem dos direitos garantidos aos cidadãos brasileiros enquanto continuam adotando os seus modos próprios de viver, de pensar, de ser e de fazer. O alcance da cidadania significa para os índios uma faculdade ainda remota de dupla cidadania: indígena e brasileira ou planetária. Isto porque os povos indígenas conquistaram a possibilidade de ter acesso às coisas, aos conhecimentos e aos valores do mundo global, ao mesmo tempo em que lhes é garantido o direito de continuarem vivendo segundo tradições, culturas, valores e conhecimentos que lhes são próprios. No entanto, esses direitos estão longe de serem respeitados e garantidos. Na verdade, essa cidadania diferenciada ainda está sendo construída com muitas dificuldades e resistências. 7. Cultura e diversidade 7.1. Vida, hábitos e costumes dos diferentes grupos étnicos brasileiros 7.2. A riqueza das línguas indígenas 7.3. Deuses, espíritos e religiosidade indígena no Brasil 7.4. A catequização jesuítica 7.5. A arte indígena 7.6. Músicas de encantamento 7.7. Festas das aldeias: datas e momentos para comemorar 7.8. A culinária dos povos indígenas 7.9. Educação indígena Qualquer grupo social humano elabora e constitui um universo completo de conhecimentos integrados, com fortes ligações com o meio em que vive e se desenvolve. Entendendo cultura como o conjunto de respostas que uma determinada sociedade humana dá às experiências por ela vividas e aos desafios que encontra ao longo do tempo, percebe-se o quanto as diferentes culturas são dinâmicas e estão em contínuo processo de transformação. O Brasil possui uma imensa diversidade étnica e linguística, estando entre as maiores do mundo. São 215 sociedades indígenas, mais cerca de 55 grupos de índios isolados, sobre os quais ainda não há informações objetivas. 180 línguas, aproximadamente, são faladas pelos membros destas sociedades, as quais pertencem a mais de 30 famílias linguísticas diferentes. A diversidade cultural pode ser enfocada tanto sob o ponto de vista das diferenças existentes entre as sociedades indígenas e as não-indígenas, quanto sob o ponto de vista das diferenças entre as muitas sociedades indígenas que vivem no Brasil. Mas está sempre relacionada ao contato entre realidades socioculturais diferentes e à necessidade de convívio entre elas, especialmente num país pluriétnico, como é o caso do Brasil. 7

8. Economia Indígena 8.1. Algumas características das economias indígenas 8.2. Economias indígenas e os projetos de etnodesenvolvimento 8.3. A hegemonia da agricultura indígena Economia indígena refere-se às questões que envolvem a subsistência e o desenvolvimento socioeconômico sustentável dos povos indígenas na perspectiva da autonomia econômica e significa promover iniciativas produtivas ou exploratórias dos recursos naturais de forma econômica, social, cultural e politicamente sustentável. Os povos indígenas do Brasil, ao longo de milhares de anos, foram capazes de desenvolver formas sustentáveis de vida, mesmo em territórios com recursos escassos, como algumas regiões da Amazônia. (LUCIANO,2006 p.129) Os povos indígenas convivem secularmente com a floresta, por isso são exímios conhecedores de seu meio. Isto lhes capacitou a dominar o meio ambiente e desenvolver tecnologias eficientes e apropriadas na extração, utilização e manutenção dos recursos naturais e fontes disponíveis como: florestas, rios, lagos, igarapés, etc. Assim eles desenvolvem uma economia sustentável produtiva e diversificada, gerando alimentos, medicamentos, utensílios e ferramentas. Os indígenas observam as regiões e o clima para executar agricultura, caça, pesca e coleta de frutos. Produzem todos os alimentos necessários a uma dieta alimentar rica e balanceada. A atividade comercial decorre de como os grupos julgam necessário. Arte e cultura também integram sua economia. Essa estrutura é alterada a partir de pressões externas. As economias indígenas sempre mostraram alto grau de sustentabilidade, em grande parte pela capacidade que têm de estabelecer relação integrada de vida, em que formas específicas da organização social, das relações de parentesco, dos rituais sociais e religiosos apresentam funções indispensáveis ao estabelecimento do equilíbrio. Este se dá não através do domínio da natureza, mas por meio da compreensão em relação a ela e o respeito, o que implica decifrar sua linguagem, seu funcionamento, suas forças e seus mistérios, pois a sobrevivência humana depende da sua capacidade de cooperar, respeitar e integrar-se a esta natureza. 9. O indígena e as políticas de saúde pública 9.1. Saúde e medicina tradicional 9.2. Breve histórico da política de saúde indígena no Brasil 9.3. A experiência dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas: avanços e desafios 9.4. O SUS e a assistência ao indígena A política indigenista organizada inicia-se no Brasil em 1910, com a criação do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), com o objetivo de minimizar os conflitos gerados pela ocupação de seus territórios por diversos agentes econômicos em expansão, tais como fazendeiros, mineradoras, madeireiras e outras empresas. Por política indigenista, entende-se aqui a intervenção que o Estado republicano efetua desde o início do século XX junto aos povos indígenas que habitam o território brasileiro. 8

Em 1967, o SPI foi substituído pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Aos povos indígenas foi reconhecido o protagonismo político na garantia e na efetivação dos seus direitos e a participação no desenvolvimento de políticas públicas de seu interesse. Entre as políticas setoriais, destaca-se a de atenção à saúde dos índios, organizada anteriormente pela FUNAI, caracterizada pela ação vertical das chamadas Equipes Volantes de Saúde (EVS) que, sediadas em espaços urbanos, realizavam deslocamentos periódicos às aldeias, onde atendiam às demandas espontâneas dos índios doentes. Assim permaneceu até 1991, quando ocorreu a transferência da gestão da saúde indígena da FUNAI para o Ministério da Saúde. Cabe ao Ministério da Saúde, a organização da atenção integral à saúde dos povos indígenas, no âmbito nacional, conjuntamente com Estados e Municípios, respeitando as especificidades étnicas e culturais garantindo o acesso dos índios e das comunidades indígenas ao Sistema Único de Saúde (SUS) compreendendo a atenção primária, secundária e terciária à saúde, por meio dos mecanismos já existentes de financiamento e da reestruturação da política de incentivos. Paralelamente, os índios brasileiros fazem uso da medicina tradicional de suas aldeias. O Pajé tem a função de administrar e manter um mínimo de equilíbrio no caos natural, capaz de garantir as condições básicas de convivência entre os seres. Por esta razão, o pajé tem o poder de curar doenças ou de restabelecer o equilíbrio das coisas, podendo provocar doenças ou morte, com a mesma finalidade de estabelecer o equilíbrio natural. O que se pode concluir das experiências indígenas no campo da saúde e da doença é que os povos indígenas brasileiros sempre possuíram suas concepções e formas próprias de tratamento e cura. 10. O índio no Brasil de hoje 10.1. As novas tecnologias e a influência no cotidiano indígena: do telégrafo ao celular 10.2. O índio e sua inserção no cinema: atuando e dirigindo 10.3. Índio não quer mais apito, índio quer faculdade! 10.4. Cacique Juruna grava tudo! : o índio e a política. Arco e flecha não são mais os únicos instrumentos presentes nas aldeias indígenas; as tribos agora têm computador, telefone celular e acesso à internet. A tecnologia já chegou às aldeias indígenas brasileiras. O telefone celular, o computador, o acesso à internet e as novas mídias estão inseridas no cotidiano das comunidades indígenas graças ao avanço da tecnologia. Os índios estão aprendendo novas ferramentas para difundir e preservar sua cultura, além de aprender novos métodos para interagir com o meio. O que diria Rondon, precursor do telégrafo e indigenista brasileiro, se assistisse à evolução tecnológica? Antenas parabólicas, celulares, pistas para pousos de aviões, ipods, as aldeias estão na era da cibernética, modernidade espalhada por todos os lados. Não podemos dizer que todas as etnias, povos, aldeias e tribos vivam na modernidade, mas é inegável que a cultura indígena mudou. Para alguns, tais transformações são indícios de perda da identidade, da sua cultura genuína, mas, para outros, as mudanças vieram a enriquecer culturalmente os indígenas brasileiros, aproximando-os ainda mais da cultura nacional. Desde o começo deste século, filmes de temática indígena eram produzidos no Brasil e também no exterior. Constituiu-se uma expressiva filmografia, que cobre um 9

espaço de tempo relativamente amplo (da década de dez até a atualidade) focalizando o índio brasileiro de formas variadas e expressando um imaginário social. No Brasil, temos a presença da imagem do índio no cinema desde o seu início, como por exemplo, toda a produção fotográfica e cinematográfica da Comissão Rondon, durante as primeiras expedições da "Comissão de Linhas Telegráficas e Estratégicas de Mato Grosso e Amazonas". O índio não está somente à frente das câmeras, ele também produz, dirige e atua no cinema nacional. São documentários sobre o cotidiano das aldeias, memórias das comunidades, eventos importantes das tribos. Movimento que, no Brasil, data do fim dos anos 1990 e teve como berço o projeto Vídeo nas aldeias. Mas, no mundo, surgiu a partir do fim dos anos 1970, com trabalhos na Nova Zelândia, Austrália, Canadá, Alasca, México, Bolívia, realizados basicamente pela primeira geração de índios que frequentou a escola, a cidade e a universidade. A educação é um bem assegurado a todos os brasileiros, inclusive aos índios. Por isso, com o objetivo de contribuir para a formação superior de povos indígenas, a Funai (Fundação Nacional do Índio) criou em 2004 seu primeiro convênio com uma universidade, na ocasião a UnB (Universidade de Brasília). Pelo acordo, a Funai repassa ao aluno um valor de apoio financeiro para que ele possa se manter na universidade. Evoluir e progredir para levar as culturas indígenas às novas tecnologias, à política, ao cinema, a televisão, ao cenário nacional. 11. Contribuições dos povos indígenas ao Brasil e ao mundo A primeira contribuição dos povos indígenas teve início logo após a chegada dos portugueses às terras brasileiras. Os índios pacificados e dominados ensinaram a eles as técnicas de sobrevivência na selva e como lidar com várias situações perigosas nas florestas ou como se orientar nas expedições realizadas. Ao longo de toda a história de colonização brasileira, os povos indígenas estiveram presentes, ora como aliados na expulsão de outros invasores estrangeiros, ora como mão-de-obra nas frentes de expansão agrícola ou extrativista. Outro aspecto extremamente relevante são os conhecimentos culinários dos povos indígenas que estão presentes na vida dos brasileiros, em que talvez a mais forte expressão esteja na presença de inúmeros produtos da mandioca, desde a tradicional tapioquinha ao exótico tucupi e à indispensável farinha. Além de tudo isso, há ainda outro legado bem mais atual dos povos indígenas ao Brasil e ao mundo, que são os seus milenares conhecimentos de medicinas tradicionais. E assim poderíamos continuar enumerando várias contribuições importantes dos povos indígenas ao Brasil e ao mundo. Ao olharmos para a realidade presente, percebemos que essas contribuições aumentaram de importância, mesmo sem ou com pouco reconhecimento por parte da sociedade global e nacional. Por fim, os povos indígenas brasileiros constituem ainda uma riqueza cultural invejável para muitos países e continentes do mundo. São poucos os países que possuem tamanha diversidade sociocultural e étnica. Por tudo isso, o Brasil e o mundo precisam olhar com mais carinho para os povos indígenas e vê-los não como vítimas ou coitadinhos pedindo socorro, mas como povos que, além de herdeiros de histórias e de civilizações milenares, ajudaram a escrever e a construir a história do Brasil e do planeta com seus modos de pensar, falar e viver. 10

BIBLIOGRAFIA BARRETO, Laura Porto Guimarães (Org.). Cabo Frio 500 anos de História (apostila). Cabo Frio, 2003. BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Ensino Fundamental Coordenação- Geral de Apoio às Escolas Indígenas. O Governo Brasileiro e a Educação Escolar Indígena 1995-2002. Brasília: MEC-SEF, 2002. CUNHA, Márcio Werneck da. América de Américo : o desencontro de dois mundos em Cabo Frio (1503 c.1512), incluindo o naufrágio da Capitania de Gonçalo Coelho em Fernando de Noronha. Armação dos Búzios: Ágama, 2004. FINAGEIV, Belmira (Org.). Carta à cidade de Cabo Frio. Rio de Janeiro: IBPC, 1994. LUCIANO, Gersem dos Santos. O Índio Brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade; LACED/Museu Nacional, 2006. MOREIRA, Luiz Guilherme Scaldaferri & CARNEIRO, Janderson Bax. Os índios na História da Aldeia de São Pedro de Cabo Frio Séculos XVII-XIX. Rio de Janeiro: GRALLINE, 2010. Sites: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s141377042007000200002&l ng=pt&nrm=iso&tlng=pt http://www.funai.gov.br/ http://www.funasa.gov.br/internet/arquivos/biblioteca/sauind_reginc.pdf http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=13529:cole cao-educacao-para-todos&catid=194:secad-educacao-continuada http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaoindigena.pdf http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/datas/indio/numeros.html http://www.museudoindio.org.br/ http://www.laced.mn.ufrj.br/textos_online.htm 11

SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS LIMA, Antonio Carlos de Souza. Um olhar sobre a presença das populações nativas na invenção do Brasil. Rio de Janeiro: Departamento de Antropologia Museu Nacional/UFRJ. In http://www.laced.mn.ufrj.br/pdfs/acslmari.pdf Tirapeli, Percival. Arte Indígena do Pré - Colonial À Contemporaneidade - Col. Arte Brasileira. Ed. IBEP Silva, Waldemar de Andrade e. Lendas e Mitos dos Índios Brasileiros - Col. Indígenas Ed. FTD Lima, Antonio Carlos de Souza; Henyo Trindade Barretto Filho. Antropologia e Identificação: Os Antropólogos e a Definição de Terras Indígenas no Brasil... CONTRACAPA EDITORA Chiaradia, Clovis. Dicionário de Palavras Brasileiras de Origem Indígena.Ed. LIMIAR Boulos Jr, Alfredo. Os Indígenas Antes e Depois de Cabral - Col. O Sabor da História. Ed. FTD Grupioni, Luis Donisete Benzi; Silva, Aracy Lopes da. A Temática Indígena na Escola Ed. GLOBAL Prezia, Benedito Brasil Indígena : 500 Anos de Resistência Ed. FTD Santos, Ricardo Ventura; Escobar, Ana Lúcia; Coimbra Jr., Carlos E. A. Epidemiologia e Saúde dos Povos Indígenas no Brasil. Ed.FIOCRUZ Lima, Mauricio; Barreto, Antonio O Jogo da Onça e Outras Brincadeiras Indígenas - PANDA BOOKS Byington, Carlos Amadeu B. O Simbolismo nas Culturas Indígenas Brasileiras - Col. Moitará - Vol. I Ed. PAULUS Sampaio, Mario Arnaud. Palavras Indígenas no Linguajar Brasileiro. Ed. SAGRA- DC LUZZATTO Lima, Antonio Carlos de Souza; Cássio N. Inglez de Sousa; Fábio Vaz Ribeiro de Almeida; Sondra Wentzel Povos Indígenas: Projetos e Desenvolvimento - CONTRACAPA EDITORA 12

ANEXOS 13

Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos LEI Nº 11.645, DE 10 MARÇO DE 2008. Altera a Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei n o 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro- Brasileira e Indígena. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1 o redação: O art. 26-A da Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. 1 o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. 2 o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras. (NR) Art. 2 o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 10 de março de 2008; 187 o da Independência e 120 o da República. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Fernando Haddad Este texto não substitui o publicado no DOU de 11.3.2008. 14

Presidência da República Subchefia para Assuntos Jurídicos LEI Nº 6.001 - DE 19 DE DEZEMBRO DE 1973 Dispõe sobre o Estatuto do Índio. TÍTULO I Dos Princípios e Definições Art.1º Esta Lei regula a situação jurídica dos índios ou silvícolas e das comunidades indígenas, com o propósito de preservar a sua cultura e integrá-los, progressiva e harmonicamente, à comunhão nacional. Parágrafo único. Aos índios e às comunidades indígenas se estende a proteção das leis do País, nos mesmo termos em que se aplicam os demais brasileiros, resguardados os usos, costumes e tradições indígenas, bem como as condições peculiares reconhecidas nesta Lei. Art.2º cumpre à União, aos Estados e aos Municípios, bem como aos órgãos das respectivas administrações indiretas, nos limites de sua comparência, para a proteção das comunidades indígenas e a preservação dos seus direitos; I - estender aos índios os benefícios da legislação comum, sempre que possível a sua aplicação; II - prestar assistência aos índios e às comunidades indígenas ainda não integradas à comunhão nacional; III - respeitar, ao proporcionar aos índios meio para seu desenvolvimento, as peculiaridades inerentes à sua condição; IV - assegurar aos índios a possibilidade de livre escolha dos seus meios de vida e subsistência; V - garantir aos índios a permanência voluntária no seu habitat, proporcionando-lhes ali recursos para seu desenvolvimento e progresso; VI - respeitar, no processo de integração de índio à comunhão nacional, a coesão das comunidades indígenas, os seus valores culturais, tradições, usos e costumes; VII - executar sempre que possível mediante a colaboração dos índios, os programas e projetos tendentes a beneficiar as comunidades indígenas; VIII - utilizar a cooperação de iniciativa e as qualidades pessoais do índio, tendo em vista a melhoria de suas condições de vida e a sua integração no processo de desenvolvimento; IX - garantir aos índios e comunidades indígenas, nos termos de Constituição, a posse permanente das terras que habitam, reconhecendo-lhes o direito ao usufruto exclusivo das riquezas naturais e de todas as utilidades naquelas terras existentes; X - garantir aos índios o pleno exercício dos direitos civis e políticos que em fase da legislação lhes couberem. 15

Parágrafo único. Vetado. Art.3º Para os efeitos de lei ficam estabelecidas as definições a seguir discriminadas: I - Índio ou Silvícola - É todo indivíduo de origem e ascendência pré-colombiana que se identifica e é intensificado como pertencente a um grupo étnico cujas características culturais o distinguem da sociedade nacional; II - Comunidade Indígena ou Grupo Tribal - É um conjunto de famílias ou comunidades índias, quer vivendo em estado de completo isolamento em relação aos outros setores da comunhão nacional, quer em contatos intermitentes ou permanentes, sem contudo estarem neles integrados. Art.4º Os índios são considerados: I - Isolados- Quando vivem em grupos desconhecidos ou de que se possuem poucos e vagos informes através de contatos eventuais com elementos da comunhão nacional; II - Em vias de integração - Quando, em contato intermitente ou permanente com grupos estranhos, conservem menor ou maior parte das condições de sua vida nativa, mas aceitam algumas práticas e modos de existência comuns aos demais setores da comunhão nacional, da qual vão vez mais para o próprio sustento; III - Integrados- Quando incorporados à comunhão nacional e reconhecidos no pleno exercício dos direitos civis, ainda que conservem usos, costumes e tradições característicos da sua cultura. TÍTULO I I Dos Direitos Civis e Políticos CAPÍTULO I Dos Princípios Art.5º Aplicam-se aos índios ou silvícolas as normas dos artigos 145 e 146, da Constituição Federal, relativas à nacionalidade e à cidadania. Parágrafo único. O exercício dos direitos civis e políticos pelo índio depende da verificação das condições especiais estabelecidas nesta Lei e na legislação pertinente. Art.6º Serão respeitados os usos, tradições costumes das comunidades indígenas e seus efeitos, nas relações de família, na ordem de sucessão, no regime de propriedade nos atos ou negócios realizados entre índios, salvo se optarem pela aplicação do direito comum. Parágrafo único. Aplicam-se as normas de direito comum às relações entre índios não integrados e pessoas estranhas à comunidade indígena, executados os que forem menos favoráveis a eles e ressalvado o disposto nesta Lei. CAPÍTULO I I Da Assistência ou Tutela Art.7º Os índios e as comunidades indígenas ainda não integrados à comunhão nacional ficam sujeitos ao regime tutelar estabelecido nesta Lei. 16

1º Ao regime tutelar estabelecido nesta Lei aplicam-se no que couber, os princípios e as normas da tutela do direito comum, independendo, todavia, o exercício da tutela da especialização de bens imóveis em hipoteca legal, bem como da prestação de caução real ou fidejussória. 2º Incumbe a tutela à União, que a exercerá através do competente órgão federal de assistência aos silvícolas. 8º São nulos os atos praticados entre índios não integrados e qualquer pessoa estranha à comunidade indígena quando não tenha havido assistência do órgão tutelar competente. Parágrafo único. Não se aplica a regra deste artigo no caso em que o índio revele consciência e conhecimento do ato praticado, desde que não lhe seja prejudicial, e da extensão dos seus efetivos. Art.9º Qualquer índio poderá requerer ao Juízo competente a sua liberação do regime tutelar previsto nesta Lei, investindo-se na plenitude da capacidade civil, desde que preencha os requisitos seguintes: I - idade mínima de 21 anos; II - conhecimento da língua portuguesa; III - habilitação para o exercício de atividade útil, na comunhão nacional; IV - razoável compreensão dos usos e costumes da comunhão nacional. Parágrafo único. O juiz decidirá após instrução sumária, ouvidos o órgão de assistência ao índio e o Ministério Público, transcrita a sentença concessiva no registro civil. Art.10º Satisfeitos os requisitos do artigo anterior, e a pedido escrito do interessado, o órgão de assistência poderá reconhecer ao índio, mediante declaração formal, a condição de integrado, cessando toda restrição á capacidade, desde que, homologado juridicamente o ato, seja inscrito no registro civil. Art.11º Mediante decreto do Presidente da República, poderá ser declarada a emancipação da comunidade indígena e de seus membros, quando ao regime tutelar estabelecido em lei; desde que requerida pela maioria dos membros do grupo e comprovada, em inquérito realizado pelo órgão federal competente, a sua plena integração na comunhão nacional. Parágrafo único. Para os efeitos do disposto neste artigo, exigir-se-à o preenchimento, pelos requerentes, dos requisitos estabelecidos no artigo 9º. CAPÍTULO I I I Do Registro Civil Art.12º Os nascimentos e óbitos, e os casamentos civis dos índios não integrados, serão registrados de acordo com a legislação comum, atendidas as peculiaridades de sua condição quanto à qualificação do nome, prenome e filiação. Parágrafo único. O registro civil será feito a pedido do interessado ou da autoridade administrativa competente. Art.13º Haverá livros próprios, no órgão competente de assistência, para o registro administrativo de nascimentos e óbitos dos índios, da cessação de sua incapacidade e dos casamentos contraídos segundo os costumes tribais. 17

Parágrafo único. O registro administrativo constituirá, quanto couber, documento hábil para proceder ao registro civil do alto correspondente, admitido, na falta deste, como meio subsidiário de prova. CAPÍTULO I V Das condições de trabalho Art.14º Não haverá discriminação entre trabalhadores indígenas e os demais trabalhadores, aplicandose-lhes todos os direitos e garantias das leis trabalhistas e de previdência social. Parágrafo único. É permitida a adaptação de condições de trabalho aos usos e costumes da comunidade a que pertencer o índio. Art.15º Será nulo o contrato de trabalho ou de locação de serviços realizados com os índios de que trata o art.4º, I. Art.16º Os contratados de trabalho ou de locação de serviços realizados com indígenas em processo de integração ou habitantes de parques ou colônias agrícolas dependerão de prévia aprovação do órgão de proteção ao índio, obedecendo, quando necessário, a normas próprias. 1º será estimulada a realização de contratos por equipe, ou a domicilio, sob a orientação do órgão competente, de modo a favorecer a continuidade da vida comunitária. 2º Em qualquer caso de prestação de serviços por indígenas não integrados, o órgão de proteção ao índio exercerá permanentes fiscalização das condições de trabalho, denunciados os abusos e providenciando as providencias a aplicação das sanções cabíveis. 3º O órgão de assistência ao indígena propiciará o acesso, aos seus quadros, de índios integrados, estimulando a sua especificação indigenista. TÍTULO I I I Das Terras dos Índios CAPÍTULO I Das Disposições Gerais Art.17 Reputam-se terras indígenas: I - as terras ocupadas ou habitadas pelos silvícolas, a que se referem os artigos 4º, IV, e 198, da Constituição; II - as áreas reservadas de que trata o Capítulo III deste Título; III - as terras de domínio das comunidades indígenas ou de silvícolas. Art.18 As terras indígenas não poderão ser objeto de arrendamento ou de qualquer ato ou negócio jurídico que restrinja o pleno exercício da posse direta pela comunidade indígena ou pelos silvícolas. 1º Nessas áreas, é vedada a qualquer pessoa estranha aos grupos tribais ou comunidades indígenas a prática da caça, pesca ou coleta de frutos, assim como de atividade agropecuárias ou extrativa. 2º vetado. 18

Art.19º As terras indígenas, por iniciativa e sob orientação do órgão federal de assistência ao índio, serão administrativamente demarcadas, de acordo com o processo estabelecido em decreto do Poder Executivo. 1º A demarcação promovida nos termos deste artigo, homologada pelo Presidente da República, será registrada em livro próprio do Serviço do Patrimônio da União (S.P.U) e do registro imobiliário da comarca da situação das terras. 2º Contra a demarcação processada nos termos deste artigo não caberá a concessão do interdito possessório, facultado aos interessados contra ela recorrer à ação petitória ou à demarcatória. Art.20 Em caráter experimental e por qualquer dos motivos adiante enumerados, poderá a União intervir, se não houver solução alternativa, em áreas indígenas, determinada a providência por decreto do Presidente da República. 1º A intervenção poderá ser decretada: a) para por termo à luta entre grupos tribais; b) para combater graves surtos epidêmicos, que possam acarretar o extermino da comunidade indígena, ou qualquer mal que ponha em risco a integridade do silvícola ou do grupo tribal; c) por imposição da segurança nacional; d) para a realização de obras públicas que interessem ao desenvolvimento nacional; e) para reprimir a turbação ou esbulho em larga escala; f) para exploração de riquezas do subsolo de relevante interesse para a segurança e o desenvolvimento nacional; 2º A intervenção executar-se-à nas condições estipuladas no decreto e sempre pór meios suasórios, dela podendo resultar, segundo a gravidade do fato, uma ou algumas das medidas seguintes: a) contenção de hostilidades, evitando-se o emprego de força contra os índios; b) deslocamento de grupos tribais de uma para outra área; c) remoção de grupos tribais de uma outra área; 3º Somente caberá a remoção de grupo tribal quando de todo impossível ou desaconselhável a sua permanência na área sob intervenção, destinando-se à comunidade indígena removida área equivalente à anterior, inclusive quanto às condições ecológicas. 4º A comunidade indígena removida será integralmente ressarcida dos prejuízos decorrentes da remoção. 5º O ato de intervenção terá a assistência direta do órgão federal que exercita tutela do índio. Art.21 As terras espontânea e definitivamente abandonadas por comunidade indígena ou grupo tribal reverterão, por proposta do órgão federal de assistência ao índio e mediante ato declamatório do Poder Executivo, à posse e ao domínio pleno da União. CAPÍTULO I I Das terras Ocupadas 19

Art.22 cabe aos índios ou silvícolas a posse permanente das terras que habitam e o direito ao usufruto exclusivo das riquezas naturais e de todas as utilidades naquelas terras existentes. Parágrafo único. As terras ocupadas pelos índios, nos termos deste artigo, são bens inalienáveis da União (artigos 4º, IV, e 198 da Constituição Federal) Art.23 Considera-se pose do índio ou silvícola a ocupação efetiva de terra, que, de acordo com os usos, costumes e tradições tribais, detém e onde habita ou exerce atividade indispensável à sua subsistência ou economicamente útil. Art.24 O usufruto assegurado aos índios ou silvícolas compreende o direito à posse, uso e percepção das riquezas naturais e de todas as utilidades existentes nas terras ocupadas, bem assim ao produto da exploração econômica de tais riquezas naturais e utilidades. 1º Incluem-se, no usufruto, que se estende aos acessórios e seus acrescidos, o uso dos mananciais e das águas dos trechos das vias fluviais compreendidos nas terras ocupadas. 2º É garantido ao índio o exclusivo exercício da caça e pesca nas áreas por ele ocupadas, devendo ser executadas por forma suasória as medidas de polícia que em relação a ele eventualmente tiverem que ser aplicadas. Art.25 O reconhecimento do direito dos índios e grupos tribais à posse permanente das terras por eles habitadas, nos termos do artigo 198, da Constituição Federal, independerá de sua demarcação, e será assegurado pelo órgão federal de assistência aos silvícolas, atendendo à situação atual e ao consenso histórico sobre a antigüidade da ocupação, sem prejuízo das medidas cabíveis que, na omissão ou erro do referido órgão, tomar qualquer dos Poderes da República. CAPÍTULO I I I Das Áreas Reservadas Art.26 A União poderá estabelecer, em qualquer parte do território nacional, áreas distintas à posse e ocupação pelos índios, onde possam viver e obter meios de subsistência, com direito ao usufruto e utilização das riquezas naturais indígenas, podendo organizar-se sob uma das seguintes modalidades: a) reserva indígena; b) parque indígena; c) colônia agrícola indígena; d) território federal indígena; Art.27 Reserva Indígena é uma área destinada a servir de habitat a grupos indígenas, com os meios suficientes à sua subsistência. Art.28 Parque Indígena é a área contida em terra para posse dos índios, cujo grau de integração permita assistência econômica, educacional e sanitária dos órgãos da União, em que se preservem as reservas de flora e fauna e as belezas naturais da região. 1º Na administração dos parques serão respeitadas a liberdade, usos, costumes e tradições dos índios. 2º As medidas de polícia, necessárias à ordem interna e à preservação das riquezas existentes na área do parque, deverão ser tomadas por meios suasórios e de acordo com interesse dos índios que nela habitam. 3º O loteamento das terras do parque indígena obedecerá ao regime de propriedade, usos e costumes tribais, bem como as normas administrativas nacionais, que deverão ajustar-se aos interesses das comunidades indígenas. 20

Art.29 Colônia agrícola é a área destinada à exploração agropecuária, administrada pelo órgão de assistência ao índio, onde convivam tribos acumuladas e membros da comunidade nacional. Art.30 Território federal indígena é a unidade administrativa subordinada à União, instituída em região na qual pelo menos um terço da população seja formado por índios. Art.31 As disposições deste Capítulo serão aplicadas, no que couber, às áreas em que a posse decorra da aplicação do artigo 198, da Constituição Federal. CAPÍTULO I V Das Terras de Domínio Indígena Art.32 São de propriedade plena do índio ou da comunidade indígena, conforme o caso, as terras havidas por qualquer das formas de aquisição do domínio, nos termos da legislação civil. Art.33 O índio integrado ou não, que ocupe como próprio, por dez anos consecutivos, trechos de terras inferior a cinqüenta hectares, adquirir-lhe-á propriedade plena. Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às terras do domínio da União, ocupadas por grupos tribais, às áreas reservadas de que trata esta Lei, nem às terras de propriedade coletiva de grupo tribal. CAPÍTULO V Da Defesa das Terras Indígenas Art.34 O órgão federal de assistência ao índio poderá solicitar a colaboração das Forças Armadas e Auxiliares da Polícia Federal, para assegurar a proteção das terras ocupadas pelos índios e pelas comunidades indígenas. Art.35 Cabe ao órgão federal de assistência ao índio a defesa jurídica ou extrajudicial dos direitos dos silvícolas e das comunidades indígenas. Art.36 Sem prejuízos do disposto no artigo anterior compete à União adotar as medidas administrativas ou propor, por intermédio do Ministério Público Federal, as medidas judiciais adequadas à proteção da posse dos silvícolas sobre as terras que habitam. Parágrafo único. Quando as medidas judiciais previstas neste artigo, forem propostas pelo órgão federal de assistência, ou contra ele, a União será litisconsorte ativa ou passiva. Art.37 Os grupos tribais ou comunidades indígenas são partes legítimas para a defesa dos seus direitos em juízo, cabendo-lhes, no caso, a assistência do Ministério Público Federal ou do órgão de proteção ao índio. Art.38 As terras indígenas são inusucapíveis e sobre elas não poderá recair desapropriação, salvo o previsto no artigo 20. TÍTULO I V 21

Dos Bens e Renda do Patrimônio Indígena Art.39 Constituem bens do Patrimônio Indígena: I - as terras pertencentes ao domínio dos grupos tribais ou comunidades indígenas; II - O usufruto exclusivo das riquezas naturais e de todas as utilidades existentes nas terras ocupadas por grupos tribais ou comunidades indígenas e nas áreas a eles reservadas. III - os bens móveis ou imóveis, adquiridos a qualquer titulo. Art.40 São titulares do patrimônio indígena: I - população indígena do País, no tocante a bens ou rendas pertencentes ou destinadas aos silvícolas, sem discriminação de pessoas ou grupos tribais; II - o grupo tribal ou comunidades indígenas determinada, quanto à posse e usufruto das terras por ele exclusivamente ocupadas, ou eles destinadas; III - as comunidades indígenas ou grupos tribais nomeados no título aquisitivo da propriedade, em relação aos respectivos imóveis. Art.41 Não integram o Patrimônio Indígena: I - as terras de exclusiva posse ou domínio do índio ou silvícola, individualmente considerados, e o usufruto das respectivas riquezas naturais e utilidades; II - a habitação, os móveis e utensílios domestico, os objetos de uso pessoal, os instrumentos de trabalho e os produtos da lavoura, caça, pesca e coleta ou do trabalho em geral dos silvícolas. Art.42 Cabe ao órgão de assistência a gestão do Patrimônio Indígena propiciando-se, porem a participação dos silvícolas e dos grupos tribais na administração dos próprios bens, sendo-lhes totalmente confiado o encargo, quando demonstrem capacidade efetiva para o seu exercício. Parágrafo único. O arrolamento dos bens do Patrimônio Indígena será permanentemente atualizado, procedendo-se à fiscalização rigorosa de gestão, mediante controle interno e externo a fim de tornar efetiva a responsabilidade dos seus administradores. Art.43 A renda indígena é a resultante da aplicação de bens e utilidades integrantes do patrimônio Indígena, sob a responsabilidade do órgão de assistência ao índio. 1º A renda indígena será preferencialmente reaplicada em atividades rentáveis ou utilizada em programas de assistência ao índio. 2º A reaplicação prevista no parágrafo anterior reverterá principalmente em beneficio da comunidade que produziu os primeiros resultados econômicos. Art.44 As riquezas do solo, nas áreas indígenas, somente pelos silvícolas podem ser exploradas, cabendo-lhes com exclusividade o exercício da garimpagem, faiscação e cata das áreas referidas. Art.45 A exploração das riquezas do subsolo nas áreas pertencentes aos índios, ou domínio da União, mas na posse de comunidades indígenas, far-se-á nos termos da legislação vigente, observando o disposto nesta Lei. 1º O Ministério do interior, através do órgão competente de assistência aos índios, representará os interesses da União, como proprietário do solo, mas a participação no resultado da exploração, as 22