Introdução à Fluorescência. 1ª aula

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Transcrição:

Introdução à Fluorescência 1ª aula 1

Técnicas espectroscópicas Interação da radiação eletromagnética com a matéria Absorção Absorção/Emissão Em biomoléculas: estrutura e dinâmica função

Luminescência Emissão de fótons de estados eletrônicos excitados UV e visível fluorescência singleto singleto 10-8 s fosforescência tripleto singleto 10-3 - 10 0 s Cromóforos - moléculas que absorvem luz Fluoróforos - moléculas que fluorescem Geralmente possuem elétrons delocalizados/duplas ligações/anéis

Estado Singleto: S = 0 Estado Tripleto: S = 1 Diagrama de Jablonski S 2 conversão interna (~10-12 s) S 1 ( fluor ~ 10-9 s) cruzamento inter-sistema bsorção (10-15 s) fluorescência k NR T 0 ( fosf ~ 10-3 s) fosforescência S 0

Fluorescência sulfato de quinina, fluoresceína, rodamina, brometo de etídio luz branca luz UV espectros de emissão

Fluorescência: primeiras observações 1565 infusão da madeira Lignum Nephriticum (N. Monardes) Herschel 1845 observação de fluorescência em uma solução de quinino água tônica (Wikipedia)

Fluorescência: primeira observação rigorosa Stokes (1852) Quinino Absorve luz no ultra-violeta: abs = 350 nm Emite no visível: em = 450 nm

Fluorescência Deslocamento espectral Anisotropia de fluorescência Intensidade de fluorescência Tempos de vida de fluorescência Tempos de correlação rotacional Efeitos de solventes Supressão de fluorescência Transferência de energia Excitação multi-fótons Microscopia de fluorescência Correlação de fluorescência Detecção de Molécula Única...

Energia Excitado Princípio de Franck-Condon abs em Fundamental Todas as transições eletrônicas ocorrem sem que as posições dos núcleos se alterem: transições verticais absorção emissão absorção emissão Coordenada 9

Fluoróforos naturais (Lakowicz, 1999)

Fluoróforos naturais em Proteínas Green Fluorescent Protein (GFP) Água-viva bioluminescente Aequorea victoria. Cromóforo formado espontaneamente por enovelamento da cadeia polipeptídica, e ciclização (Ser-65, Tyr-66, Gly-67) Inserção do gen para GFP em células e uso da proteína como sonda. 11

Interação da radiação eletromagnética com a matéria modelo semi-clássico radiação: onda EM matéria: estados quantizados de energia 12

Fluorímetro de estado estacionário amostra lâmpada monocromador de excitação monocromador de emissão 26.7 25.0 23.5 22.2 cm -1 ) 21.0 20.0 19.1 18.2 17.4 16.7 16.0 15.4 fotomultiplicadora Intensidade Normalizada 1.0 0.8 0.6 0.4 0.2 água DLPC 20 o C Água DLPC 20 o C H 3 C H 3 C Prodan N 0.0 375 400 425 450 475 500 525 550 575 600 625 650 nm) C O 13

Grande sensibilidade da fluorescência ao meio onde encontra-se o fluoróforo absorção Prodan emissão Absorbância Normalizada 1.0 Água Metanol Acetonitrila 0.8 Diclorometano Clorofórmio 0.6 Ciclohexano 0.4 0.2 Intensidade Normalizada 1.0 0.8 0.6 0.4 0.2 26.7 25.0 23.5 22.2 cm -1 ) 21.0 20.0 19.1 18.2 17.4 16.7 16.0 15.4 Água Metanol Acetonitrila Diclorometano Clorofórmio Ciclohexano 0.0 300 310 320 330 340 350 360 370 380 390 400 410 420 430 440 450 nm) 0.0 375 400 425 450 475 500 525 550 575 600 625 650 nm) Nome Fórmula e m (D) n r (g/cm 3 ) Df * Ciclohexano C 6 H 12 2.0 ~0 1.43 0.779 0.00 Clorofórmimo CHCl 3 4.8 1.0 1.45 1.210 0.15 Diclorometano CH 2 Cl 2 8.9 1.6 1.42 1.330 0.22 Acenonitrila C 2 H 3 N 36.6 3.9 1.34 0.786 0.30 Df e 1 2e 1 2 n 2n 2 1 1 Metanol CH 3 OH 33.0 1.7 1.33 0.790 0.31 Água H 2 O 78.9 2.7 1.00 1.000 0.32

Grande sensibilidade da fluorescência ao meio onde encontra-se o fluoróforo Longo tempo de vida do estado excitado ( ~ 10-9 s) o espectro de fluorescência é muito mais sensível ao meio do que o espectro de absorção (Lakowicz, 1999)

Por que estudar o efeito do solvente? Auxiliar o estudo da estrutura do fluoróforo no estado fundamental e excitado Conhecer o microambiente onde se encontra o fluoróforo - Trp em uma proteína: exposto ao meio aquoso ou no seu interior? - penetração de moléculas na membrana lipídica Modelo de Lippert - fluoróforo esférico - solvente meio contínuo - não são consideradas interações moleculares específicas 2 e 1 n 1 ( m ha 2e 1 2n 1 2 2 abs em ) ( m ) 3 2 Usa o modelo de Clausius- Mosotti para molécula esférica (r = a), polar, em dielétrico: e = polarizabilidade eletrônica e molecular n = polarizabilidade eletrônica

Explicação no quadro: modelo de Lippert 17

Bibliografia Physics of Atoms and Molecules B.H. Bransden, C.J. Joachain Principles of Fluorescence Spectroscopy J.R. Lakowicz Molecular Fluorescence: Principles and Applications B. Valeur -. Série dos livros de Topics in Fluorescence Spectroscopy Ed. J.R. Lakowicz 18