IV-029 QUALIDADE BACTERIOLÓGICA DAS ÁGUAS DE POÇOS ARTESIANOS DO CARIRI PARAIBANO Wanda Izabel Monteiro de Lima Marsiglia (1) Engenheira química pela UFPB (1980). Mestre em Engenharia civil- pela UFPB (1998). Professora da UEPB. Helvia Walewska Casullo de Araújo Engenheira química(1995)ufpb, Mestre em Desenvolvimento e meio Ambiente, sub-área Saneamento Ambiental(1998) UFPB-UEPB. Professora visitante do Centro de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)-Departamento de Química. Tatiana Almeida de Oliveira Aluna do Curso de Química Industrial da UEPB/CCT/DQ Nélia da Silva Lima Aluna do Curso de Química Industrial da UEPB/CCT/DQ Waldelúcia Feliciano de Carvalho Aluna do curso de Ciências Biológicas da UEPB/CCBS/DB. FOTO NÃO DISPONÍVEL Endereço (1) : Rua Severino Galileu, 10, Jardim Paulistano, Campina Grande-PB- CEP: 58106-096-Brasil- Tel: (0xx83)3417089-e-mail: wanda.lima@uol.com.br RESUMO Esta pesquisa teve como objetivo, pesquisar a qualidade bacteriológica das águas de poços artesianos da zona urbana do município de Cabaceiras, localizado no estado da Paraíba, Nordeste brasileiro. Dista 197 km da capital, João Pessoa e encontra-se a 420m acima do nível do mar. Este município está situado no Cariri paraibano, região de menor índice pluviométrico do país. Com esta peculiaridade, a água subterrânea tornou-se alternativa de sobrevivência da população local. Os poços estão distribuídos na zona rural e urbana, porém, este trabalho investigou apenas os poços urbanos, com a finalidade de encontrar indicadores locais de poluição orgânica. A contaminação de lençóis freáticos se dá a partir de infiltração de fossas sépticas, disposição final de resíduos sólidos como aterros sanitários, vazamentos em tanques de armazenamento de produtos tóxicos como derivados de petróleo e outros. As coletas foram feitas no período de Agosto a Novembro de 2000, com freqüência quinzenal. As análises, foram realizadas, no laboratório de microbiologia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), seguindo a recomendações do APHA, 1995. Foram escolhidos quatro poços, com profundidade entre 50-75 metros, e com vazão média de 1300L/h. Os parâmetros estudados foram: temperatura, potencial hidrogeniônico, coliformes totais e coliformes fecais. Os valores de temperatura e ph, mostram padrão homogêneo em todos os poços e ao longo do período de investigação. Os parâmetros coliformes totais variaram entre 8,4NPM/100ml e 51,0NMP/100ml, para o P1 e P3 respectivamente. No entanto, ambos se encontram fora dos padrões de potabilidade exigidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Os parâmetros coliformes fecais oscilaram entre 4,8 NMP/100ml para o poço P1 e 19,0 NMP/100ml para o poço P3, este resultado pode ser atribuído a fontes poluidoras oriunda de fossas sépticas domiciliares. Os poços P4 e P6 também apresentaram valores elevados de coliformes totais e coliformes fecais. Este resultado indica que provavelmente o lençol freático que abastece o município de Cabaceiras está sendo contaminado por fontes poluidoras de atividades antrópicas como: fossas sépticas, despejo inadequado de resíduos sólidos ou infiltração de adubos orgânicos. utilizados na agricultura. Mediante ao exposto, foi possível concluir que o poço P1 apresentou os menores valores de coliformes totais e coliformes fecais, por outro lado, o poço P3 mostrou valores elevados de coliformes totais e fecais classificando-o como de maior contaminação. A constatação da presença de coliformes totais e coliformes fecais, acima dos padrões de potabilidade em todos poços estudados, está ocorrendo devido os mesmos não se encontram adequadamente protegidos, ou ainda, o lençol freático está contaminado. PALAVRAS-CHAVE: Água potável; contaminação; Poços subterrâneos,coliformes totais ;coliformes fecais ABES Trabalhos Técnicos 1
INTRODUÇÃO Toda forma de vida vegetal ou animal tem a mesma origem, a água. Para nós seres humanos a qualidade e disponibilidade da água é questão de vital importância, contrariamente ao que pensamos a água é um recurso natural não completamente renovável e suas reservas mundiais são limitadas. A Organização Mundial de Saúde prevê que nos próximos 50 anos os níveis atuais de uso de água potável não poderão ser mantidos. Cerca de 1 bilhão de pessoas têm abastecimento precário ou não dispõe de água potável (ONU, 1993). Esta situação tem se agravado devido a mão nociva do homem, que com seu desenvolvimento desordenado, contribui para contaminar as fontes e os mananciais. A poluição resultante de dejetos humanos é causa freqüente de prejuízos à saúde humana pelas doenças de veiculação hídricas. Dados revelam que 4 milhões de crianças morrem vitimadas por doenças relacionadas à falta de água potável e de saneamento básico (ONU,1993). A água no nordeste brasileiro já é considerado um fator limitante de crescimento humano (GUERRA, 1981). O Cariri paraibano tem o menor índice pluviométrico do país (ATECEL, 1999), está situado no chamado Polígono das Secas, região com chuvas escassas e irregulares. Esta característica requer medidas planejadas que venham suprir esta deficiência. Desta forma, a água subterrânea passa ser praticamente a única alternativa para a população do semi-árido nordestino. Apesar da maioria das águas dos poços artesianos do estado da Paraíba, apresentarem altas concentrações de sais, estes são largamente utilizados nesta região e atendem as necessidades de sobrevivência de homens e animais, como também, em higiene pessoal, lavagem de roupa e irrigação de pequenas propriedades. Segundo DACACH (1990), o abastecimento de água na zona rural deve antes de tudo, fornecer água naturalmente potável e que, portanto, dispensa tratamento. Uma vez que, grande parte dos brasileiros consomem água fora dos padrões de potabilidade. Dentro deste contexto, este trabalho tem como objetivo avaliar a qualidade bacteriológica das águas dos poços artesianos do município de Cabaceiras com profundidade variando de 50-74m. Este município, vive uma situação diferente e privilegiada no Cariri paraibano. Ao contrário da maioria dos municípios do Nordeste, o município de Cabaceiras tem muita água no seu subsolo. Com vários poços perfurados na zona rural e urbana, os quais têm suprido esta população mesmo nos períodos de prolongada estiagem. Esta peculiaridade, requer uma investigação da qualidade microbiológica das águas consumidas por esta população para obtenção do padrão bacteriológico em termos de coliformes totais e fecais (NMP/100mL) METODOLOGIA Esta pesquisa foi desenvolvida no município de Cabaceiras Estado da Paraíba, no Nordeste brasileiro, que fica 197 km da capital, João Pessoa e está a 420m acima do nível do mar. O município de Cabeceiras possui uma área de 1.127 km 2 e pertence ao Carri paraibano (GOVERNO DO ESTADO PARAÍBA, 1985). Apresenta um clima tropical, semi-árido com temperaturas variando de máximas 28 o C e mínimas de 22 o C com um índice pluviométrico anual de aproximadamente 280mm/ano (GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA, 1999). Esta pesquisa foi realizada abrangendo o período de 01/08 a 22/11 de 2000, com coletas de freqüência quinzenal. Foram estudados quatro poços, todos localizados na zona urbana, com profundidades que variam entre 50 74 m e vazão média de 1300 L/h. Esta área foi escolhida em função do uso da água e também devido maior fluxo por parte da população. As características dos poços estudados se encontram na Tabela 1 : 2 ABES Trabalhos Técnicos
Tabela 1: Características dos poços estudados Poços Estudados POÇO 1 (dessalinizador) Profundidade (m) 74 POÇO 3 POÇO 4 POÇO 6 50 53 64 Vazão (L/h) 1300 1250 1200 1100 Usos Beber e Cozinhar Lavanderia Comunitária Maternidade Municipal e Mercado Público Lavanderia Comunitária e Chuveiros Públicos A tabela abaixo mostra os valores médios encontrados dos parâmetros físico-químicos e microbiológicos no período de agosto a novembro de 2000. Tabela n o 2: parâmetros físico-químcos e microbilógicos: Poços T ( o C) PH P A R Â M E T R O S C.T. (NPM/100ml) C.F. (NPM/100ml) P1 28,0 6,2 8,4 4,8 P3 28,4 7,0 51,0 19,0 P4 26,5 7,3 26,4 14,4 P6 26,4 7,2 18,0 9,0 Foram determinados os parâmetros coliformes totais e fecais (NMP/100mL) através da técnica de tubos múltiplos (TMT), os procedimentos de coleta seguiram as recomendações do APHA et al (1992). A temperatura foi medida em o C, com um termômetro de mercúrio graduado, que era mergulhado na amostra de água. O ph foi determinado com um potenciômetro de bancada marca ORION RESERCH, modelo AS 210, calibrado com soluções padrões de ph 4 e 7. A freqüência de amostragem era quinzenal, sempre entre 08:00 e 10:00h da manhã. As coletas eram feitas diretamente nas torneiras existentes nos poços, em frascos de vidro de cor âmbar, previamente esterilizados. As amostras eram acondicionadas em caixa de isopor com gelo que mantinha a temperatura em torno de 10 o C e em seguida, as amostras eram conduzidas para o laboratório de microbiologia da UEPB/CCT/DQ. RESULTADOS E DISCURSSÕES A Figura N o 1, mostra os valores médios da média geométrica de coliformes totais e fecais encontrados nos poços estudados no período de agosto a novembro de 2000 no município de Cabaceiras. ABES Trabalhos Técnicos 3
Figura 1: Valores médios geométricos de coliformes totais e fecais (NMP/100mL) e Temperatura( o C) e ph das águas dos poços do município de Cabaceiras-PB CT/CF (NMP/100ml) 60 50 40 30 20 10 30 25 20 15 10 5 ph/t(oc) 0 P1 P2 P3 P4 Poços estudados 0 CT CF T oc ph Foi possível observar que a temperatura e o ph das águas dos poços estudados apresentaram valores médios relativamente homogêneos, oscilando entre 26,5 28,4 o C e 6,0 e 7,0 respectivamente. Este resultado é atribuído a peculiaridade desta região, que não registra grandes variações de temperatura, ao longo do ano (GOVERNO DO ESTADO PARAÍBA, 1985). As estações são marcadas apenas por chuva e seca. De acordo com a Figura 1, o poço P1 apresentou os menores valores médios geométricos de coliformes totais e fecais, oscilando entre 8,0 NMP/100mL e 4,0 NMP/100mL respectivamente. Segundo a Resolução CONAMA N o 20 de 1986, a água destinada ao consumo humano sem prévia desinfeção, os coliformes totais deverão estar ausente em qualquer amostra. De acordo com esta resolução esta água pertence a classe 5 e se destina apenas a recreação de contato primário e piscicultura de espécies destinadas ao consumo humano. Por outro lado, a Organização Mundial de Saúde admite até 1000 coliformes fecais/100ml, para irrigação de culturas agrícolas que são ingeridos crus. (WHO, 1989) O poço P3 apresentou maior contaminação de origem fecal, seus valores médios foram superiores a 50 NMP/100mL de coliformes totais. A contaminação de lençóis freáticos é causada por fossas sépticas, disposição final de resíduos sólidos e aterros sanitários (BRANCO, 1991). Provavelmente estes valores de coliformes totais e fecais, são provenientes de fossas sépticas situadas próximos ao poço P3, que se encontra a cerca de 50 metros das fossas sépticas domiciliares. Segundo CONAMA (1986), esta água esta imprópria para consumo humano. Sendo portanto, destinada apenas para lavagem de roupas. Os poços 4 e 6 também se encontram fora dos padrões de potabilidade, os mesmos apresentaram valores de coliformes totais de (26,4 NPM\100ml e 18 NMP\100ml) e coliformes fecais de (14,4 NMP\100ml e 9NMP/100ml) respectivamente. Este resultado deve-se provavelmente a contaminação, oriunda das fossas sépticas domiciliares, uma vez que, não foi observado aterro sanitário próximo aos poços avaliados. CONCLUSÃO - Foi verificado o menor valor de coliformes totais e coliformes fecais no poço P1 - O poço P3 mostrou valores elevados de coliformes totais e fecais classificando-o como de maior - contaminação - A constatação da presença de coliformes totais e coliformes fecais, acima dos padrões de potabilidade nos poços estudados, pode estar ocorrendo devido os mesmos não se encontrarem adequadamente protegidos, ou ainda, o lençol freático estar contaminado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. APHA,AWWA & WEF(1992).Standard Methods for of the Examination of Water and Wasterwater. 18th edition Public Health Associacion Inc., New York 4 ABES Trabalhos Técnicos
2. BRANCO, S. M; Porto, R. L. Hidrobiologia Ambiental Ed. USP. Associação Brasileira de Recursos Hídricos. ABRH. 1991. 3. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução no 20-18 de Junho de 1986. Ministério da Habitação, Urbanismo e Meio Ambiente Conselho Nacional do Meio Ambiente. 2 a ed., SEMA, Brasília DF. 98., 1986. 4. DACACH, N. G. Sistemas Urbanos de esgotos. Editora Guanabara Dois S. A. Rio de Janeiro RJ - 257p. 1984. 5. GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA. Atlas geográfico do estado da Paraíba. João Pessoa, Paraíba, secretaria do Estado da Paraíba/UFPB, 1985. 100p 6. GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA Laboratório de Meterologi, Recursos Hídricos e Sensoriamento Remoto da Paraíba. Clima, MCT/CNPQ/UFPB FAPESQ.1999 7. GUERRA, P. B. A Civilizacão Da Seca. Ministério Do Interior, Dnocs, Fortaleza, Ce. 1981. 324p. 8. ONU Semana Interamericana de Água. Água para Todos. ABES. Caribe 1993 ABES Trabalhos Técnicos 5