POSSE DE ANIMAIS SILVESTRES POSSE DE ANIMAIS SILVESTRES
POSSE DE ANIMAL SILVESTRE e MODO DE REGULARIZAÇÃO Segundo a legislação ambiental, os animais d e quaisquer espécies, em qualquer fase do seu desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do cativeiro são caracterizados como fauna silvestre. É proibida a sua utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha, assim como o comércio, exceto dos animais legalizados provenientes da atuação de pessoas físicas ou jurídicas registradas. Posse por pessoas físicas A posse de animais silvestres por pessoa física é uma exceção. Isso é regulamentado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente, que dispõe sobre o depósito e a guarda provisórios de animais silvestres apreendidos ou resgatados pelos órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente, como também dos oriundos de entrega espontânea, quando houver justificada impossibilidade de serem os animais libertados em seu habitat ou entregues a jardins zoológicos, fundações ou entidades assemelhadas (Lei nº 9.605/98, art. 25, 1º). Animal oriundo de entrega espontânea é aquele animal silvestre que estava sob guarda ou posse de pessoa que, antes da abordagem policial ou fiscalizatória, acionou o poder público, visando à entrega do espécime. Regularização da posse irregular Na impossibilidade de serem os animais libertados em seu habitat ou entregues a jardins zoológicos, fundações ou entidades assemelhadas, os órgãos ambientais formalizarão, preferencialmente, o TERMO DE GUARDA DE ANIMAL SILVESTRE (TGAS). O TGAS é um termo de caráter provisório pelo qual o interessado, devidamente cadastrado no órgão ambiental competente, que não detinha o espécime, assume voluntariamente o
dever de guarda do animal resgatado, entregue espontaneamente ou apreendido, enquanto não houver destinação nos termos da lei. O TERMO DE DEPÓSITO DE ANIMAL SILVESTRE (TDAS) é firmado quando o próprio infrator passa a ter a posse regular do animal. O TDAS é o termo de caráter provisório pelo qual o infrator assume voluntariamente o dever de prestar a devida manutenção e manejo do animal apreendido, objeto da infração, enquanto não houver a destinação nos termos da lei. Não serão objetos de TDAS os animais silvestres vítimas de maus tratos comprovados por laudo técnico. O TDAS é pessoal e intransferível e não poderá ser concedido, no mesmo endereço, para mais de um CPF/CNPJ. Os Termos referidos só poderão ser formalizados em caso de animais do grupo de répteis, aves e mamíferos da fauna brasileira, e para a manutenção em cativeiro domiciliar no território nacional. Não podem ser objeto de concessão do TDAS e TGAS os espécimes de espécies (i) com potencial de invasão de ecossistemas, conforme listas oficiais publicadas pelos órgãos competentes, (ii) que constem das listas oficiais da fauna brasileira ameaçada de extinção, nacional, estadual, ou no Anexo I da Convenção Internacional para o Comércio de Espécies da Fauna e Flora Ameaçadas de Extinção - CITES, salvo na hipótese de assentimento prévio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA ou do órgão ambiental estadual competente, (iii) cujo tamanho, comportamento, exigências específicas de manutenção e manejo sejam incompatíveis com o espaço e recursos financeiros disponibilizados pelo interessado, (iv) não integrantes da lista das espécies silvestres autorizadas para criação e comercialização como animal de estimação em conformidade com a Resolução Conama nº 394, de 6 de novembro de 2007 (chamada de lista pet, ainda não publicada) e (v) da Classe Reptilia e Aves da Ordem Passeriformes com distribuição geográfica coincidente com o local da apreensão. A discussão judicial em situações solidificadas pelo tempo, sendo o animal mantido em condições adequadas, sem indícios de maus tratos, pode resultar positivamente,
devendo ser dado destaque à importância da prova das questões de fato, como demonstra a decisão abaixo do STJ. O particular que, por mais de vinte anos, manteve adequadamente, sem indício de maus-tratos, duas aves silvestres em ambiente doméstico pode permanecer na posse dos animais. Nesse caso específico, aplicar o art. 1º da Lei 5.197/1967 ( Os animais de quaisquer espécies, em qualquer fase do seu desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do cativeiro, constituindo a fauna silvestre, bem como seus ninhos, abrigos e criadouros naturais são propriedades do Estado, sendo proibida a sua utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha ) e o art. 25 da Lei 9.605/1998 ( Verificada a infração, serão apreendidos seus produtos e instrumentos, lavrando-se os respectivos autos ) equivaleria à negação da sua finalidade, que não é decorrência do princípio da legalidade, mas uma inerência dele. A legislação deve buscar a efetiva proteção dos animais. Assim, seria desarrazoado determinar a apreensão dos animais para duvidosa reintegração ao seu habitat e seria difícil identificar qualquer vantagem em transferir a posse para um órgão da Administração Pública. Ademais, no âmbito criminal, o art. 29, 2º, da Lei 9.605/1998 expressamente prevê que no caso de guarda doméstica de espécie silvestre não considerada ameaçada de extinção, pode o juiz, considerando as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Precedente citado: REsp 1.084.347-RS, Segunda Turma, DJe 30/9/2010. REsp 1.425.943-RN, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 2/9/2014. Nossa experiência na matéria aponta que situações que não se mostrem equânimes podem justificar exceções às regras da legislação, por meio de processos judiciais. A expectativa de êxito deve ser atribuída à luz do caso concreto por advogado especialista.
Cadastro informatizado O IBAMA deve manter cadastro informatizado, de caráter nacional, com o objetivo de reunir informações, possibilitar o gerenciamento e integrar as concessões do TDAS e TGAS. Os órgãos ambientais, ao conceder TDAS e TGAS, consultarão o referido cadastro, nele inserindo os respectivos dados do termo. Os interessados em firmar TDAS ou TGAS deverão estar inscritos no cadastro. Todos os documentos relacionados ao TDAS e TGAS constarão do cadastro. O cadastro é sistematizado de forma a permitir a expedição de autorizações de transporte de animal silvestre devidamente registrado. O TDAS e o TGAS poderão ser cancelados em caso de flagrante de posse ilegal de outro animal silvestre, sem prejuízo das demais sanções legais. Para a inscrição no cadastro informatizado serão fornecidos pelo interessado, para o TDAS, (i) dados pessoais, (ii) dados referentes ao local do alojamento do animal, com respectivo endereço, coordenadas geográficas, características, dimensões e fotografias dos recintos existentes, (iii) fotografia do animal em, no mínimo, dois ângulos que permitam a identificação individual do espécime, (iv) informações do animal apreendido, (v) declaração de capacidade de manutenção do animal exclusivamente às expensas do interessado, (vi) laudo de identificação da espécie do animal, emitido por técnico habilitado e registrado no Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras ou utilizadoras de recursos ambientais CTF, (vii) atestado de saúde dos animais e (viii) cópia da Anotação de Responsabilidade Técnica - ART do responsável técnico. O órgão ambiental definirá, a partir da lavratura do auto de infração e respectivo termo de deposito preliminar, prazo para o autuado requerer a inscrição no cadastro de TDAS e TGAS. Não realizada a inscrição, o órgão ambiental terá o prazo de 60 dias para proceder à retirada do animal. Realizada a inscrição, o órgão ambiental terá o prazo de 60
dias para se manifestar sobre a concessão do TDAS. Não concedido o depósito, o órgão ambiental terá o prazo de 30 dias para proceder à retirada do animal. O TDAS será concedido nos autos do processo administrativo em substituição ao termo de depósito preliminar lavrado no momento da autuação, observando-se os requisitos e limites da legislação ambiental. A concessão do TDAS será fundada em decisão que ateste a impossibilidade de serem os animais libertados em seu habitat ou entregues a jardins zoológicos, fundações ou entidades assemelhadas (Lei nº 9.605/98, art. 25, 1º). Interrupção da guarda Em caso de morte, extinção ou impedimento do depositário, o órgão ambiental deverá ser comunicado no prazo de 30 dias. Constará no TDAS a qualificação e assinatura da pessoa voluntária que substituirá eventualmente o depositário, em determinados casos. Havendo desistência, a manutenção do animal deverá ser garantida, às expensas do detentor do TDAS, até nova realocação pelo órgão ambiental. O órgão ambiental competente, em regra, terá o prazo de 120 dias para proceder a realocação. Superado o prazo, o detentor do animal fará sua entrega ao órgão ambiental. Transporte O transporte do espécime em depósito ou em guarda dependerá de emissão de autorização de transporte, sem prejuízo das demais documentações exigidas pelos órgãos competentes.
Excepcionalmente será permitido o transporte sem autorização para atendimento médico veterinário, em caso de urgência. Não será concedida autorização de transporte para o exterior. Compromisso do interessado na posse do animal silvestre irregular Quando da realização do TERMO DE DEPÓSITO DE ANIMAL SILVESTRE (TDAS), o infrator assume voluntariamente o dever de prestar a devida manutenção e manejo do animal apreendido, objeto da infração, enquanto não houver a destinação, nos termos da lei. Dentre as suas obrigações, constam: a) guardar e dispensar os cuidados necessários ao bem-estar do espécime, de acordo com as características da espécie e conforme suas condições individuais; b) não transportar ou dar outra destinação ao espécime, inclusive em relação ao endereço de seu depósito, salvo portando autorização expressa do órgão ambiental competente, ou em cumprimento de ordem judicial, excluídas as hipóteses de caso fortuito e de força maior, devidamente comprovadas, que deverão ser comunicadas no prazo de 05 (cinco) dias úteis ao órgão ambiental competente, a contar do dia da ocorrência do fato; c) não transitar com espécime; d) comunicar ao respectivo órgão ambiental competente, no prazo de 05 (cinco) dias úteis, em caso de fuga do espécime sob depósito; e) garantir a segurança e o sossego alheios, responsabilizando-se por quaisquer danos causados pelo animal; f) arcar com todas as despesas feitas com o espécime, inclusive com prejuízos que porventura resultem do depósito, sem direito à indenização pelo órgão ambiental competente; g) facultar livre acesso às instituições integrantes do Sisnama ao local onde o animal é mantido, mesmo que em sua residência, ressalvados os horários previstos em Lei, bem como prestar informações relativas ao espécime sempre que requisitado; h) registrar ocorrência junto ao órgão de segurança pública correspondente e encaminhar cópia ao órgão ambiental competente, no prazo de 05 (cinco) dias úteis, em caso de crime envolvendo o espécime sob depósito; i) encaminhar ao órgão ambiental competente laudo de necropsia do espécime, emitido por médico veterinário, no prazo de até 30 (trinta) dias úteis após a morte do animal, em conjunto com o seu marcador individual; j) não utilizar o espécime em exposição pública; k) encaminhar anualmente ao órgão ambiental competente atestado de saúde veterinária; l) possibilitar que os animais mortos sejam encaminhados a universidades ou outros centros de pesquisas; m) não violar, adulterar, substituir ou retirar a marcação individual do animal; n) não rasurar ou adulterar o presente Termo; o) manter o presente Termo acessível e em boas condições juntamente com a cópia da ART do responsável técnico;
p) entregar o exemplar da fauna silvestre mantido sob seu depósito, quando requisitado pelo órgão ambiental competente, sem direito a indenização; q) não permitir sob qualquer hipótese a reprodução dos animais depositados. Exemplo prático - Arara Canindé (Ara ararauna) Para elucidar como é possível a realização da regularização de um animal silvestre, tememos como exemplo o caso da Arara Canindé (Ara ararauna) Como visto, não podem ser objeto de concessão do TDAS e TGAS os espécimes de espécies (i) com potencial de invasão de ecossistemas, conforme listas oficiais publicadas pelos órgãos competentes (não é o caso da Ara rarauna), (ii) que constem das listas oficiais da fauna brasileira ameaçada de extinção, nacional, estadual, ou no Anexo I da Convenção Internacional para o Comércio de Espécies da Fauna e Flora Ameaçadas de Extinção CITES (não é o caso da Ara ararauna), salvo na hipótese de assentimento prévio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA ou do órgão ambiental estadual competente, (iii) cujo tamanho, comportamento, exigências específicas de manutenção e manejo sejam incompatíveis com o espaço e recursos financeiros disponibilizados pelo interessado, (iv) não integrantes da lista das espécies silvestres autorizadas para criação e comercialização como animal de estimação em conformidade com a Resolução Conama nº 394, de 6 de novembro de 2007 (não aplicável por não estar publicada), (v) da Classe Reptilia e Aves da Ordem Passeriformes com distribuição geográfica coincidente com o local da apreensão (não é o caso da Ara ararauna). Segundo o LIVRO VERMELHO DAS ESPÉCIES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO do Instituto Chico Mendes, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, existem 627 espécies ameaçadas de extinção no Brasil, sendo quatro destas espécies caraterizadas como Araras (Anodorhynchus glaucus, Anodorhynchus hyacinthinus, Anodorhynchus leari, Guaruba guarouba). A Arara Canindé, portanto, não figura na lista federal.
Contudo, segundo o LIVRO VERMELHO DAS ESPÉCIES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO do ESTADO DO RJ, a Arara Canindé é listada como espécie ameaçada de extinção na lista estadual do RJ. Conclusão do exemplo A partir da análise da legislação ambiental é possível afirmar que é válida a manutenção da posse de animais silvestres de origem ilícita, de forma que o próprio infrator passe a ter a posse regular do animal. Nesse caso é firmado o TERMO DE DEPÓSITO DE ANIMAL SILVESTRE (TDAS), de caráter provisório, pelo qual o regular depositário (antes infrator) assume voluntariamente o dever de prestar a devida manutenção e manejo do animal, objeto da infração, enquanto não houver a destinação nos termos da lei. Ou seja, enquanto houver impossibilidade justificada de os animais serem libertados em seu habitat ou entregues a jardins zoológicos, fundações ou entidades assemelhadas (Lei nº 9.605/98, art. 25, 1º). Tal procedimento pode ser adotado no caso de entrega espontânea, quando o animal silvestre que estava sob guarda ou posse de pessoa que, antes de abordagem policial ou fiscalizatória, acionou o poder público visando a entregar o animal. Contudo, caso existam jardins zoológicos, fundações ou entidades assemelhadas (Lei nº 9.605/98, art. 25, 1º) com capacidade para o recebimento do animal silvestre, não será possível a manutenção da guarda por meio de TDAS. Nesse caso, necessariamente, se for do conhecimento das autoridades ambientais, será perdida a guarda do animal. No caso, o animal silvestre Arara Canindé (Ara ararauna) é listado pela legislação ambiental do RJ como ameaçado de extinção o que condiciona a realização do TERMO DE DEPÓSITO DE ANIMAL SILVESTRE (TDAS) a um juízo de conveniência e oportunidade da administração ambiental.
Alternativas para a manutenção da posse de animal silvestre A GARRASTAZU ADVOGADOS atua na viabilização da manutenção regular da posse de animais silvestres, existindo uma série de alternativas para tanto. Se não há (i) potencial de invasão de ecossistemas, conforme listas oficiais publicadas pelos órgãos competentes, (ii) se não constar o animal nas listas oficiais da fauna brasileira ameaçada de extinção, nacional, estadual, ou no Anexo I da Convenção Internacional para o Comércio de Espécies da Fauna e Flora Ameaçadas de Extinção CITES, (iii) se o tamanho, comportamento, exigências específicas de manutenção e manejo do animal sejam compatíveis com o espaço e recursos financeiros disponibilizados pelo interessado, (iv) se o animal não é integrante da lista das espécies silvestres autorizadas para criação e comercialização como animal de estimação em conformidade com a Resolução Conama nº 394, de 6 de novembro de 2007 (exigência ainda não aplicável por não publicada), (v) se o animal não for da Classe Reptilia e Aves da Ordem Passeriformes com distribuição geográfica coincidente com o local da apreensão; é viável a manutenção da posse do animal cumprindo-se outros requisitos menores. Se não cumpridos esses requisitos principais, a viabilização do TERMO DE DEPÓSITO DE ANIMAL SILVESTRE (TDAS) pode ocorrer à luz dos argumentos materiais levantados em favor da manutenção da posse do animal com o infrator, em função das condições de guardar e dispensar os cuidados necessários ao bem-estar do animal, garantindo a segurança e o sossego alheios, responsabilizando-se por quaisquer danos causados pelo animal, e arcar com todas as despesas do espécime, inclusive com prejuízos que porventura resultem do depósito, dentre outras ações. Igualmente, nestes casos, a classificação correta do espécime é crucial, de forma que por vezes é possível garantir a guarda por meio de estudos técnicos.