Avaliação do efeito fungicida e larvicida do óleo essencial do capim citronela Kamilla Pires da Silva 1 ; Henrique Guilhon de Castro 2 ; Dione Pereira Cardoso 3 1 Aluno do Curso de agronomia PIBIC/CNPq; Campus de Gurupi; e-mail: kamilla_pires1@hotmail.com; 2 Orientador(a) do Curso de agronomia; Campus de Gurupi; e-mail: hguilhon@uft.edu.br; 3 Co-orientador(a) do Curso de pós-graduação em produção vegetal; Campus de Gurupi; e-mail: cardoso.dione@gmail.com RESUMO Este trabalho teve por objetivos avaliar o efeito do óleo essencial do capim citronela na inibição do crescimento micelial in vitro do fungo Didymella bryoniae da cultura do pepino, assim como avaliar o efeito larvicida do óleo essencial no controle de larvas de Aedes aegypti. Em ambos os experimentos o óleo essencial foi obtido por hidrodestilação em equipamento de Clevenger. No experimento do efeito fungicida do óleo essencial foram utilizados isolados de Didymella bryoniae da cultura do pepino. Utilizou-se cinco alíquotas do óleo essencial do capim citronela (3, 6, 9, 12 e 15 µl). O óleo essencial do capim citronela foi distribuído uniformemente sobre o meio de cultura BDA em placas de Petri e, em seguida, no centro de cada placa foi depositado um disco de 0,6 cm de diâmetro de meio BDA contendo micélio do fungo. A partir da incubação, foi mensurado o diâmetro médio das colônias a cada 2 dias até 10 dias após a repicagem. No experimento do efeito larvicida do óleo essencial foram utilizadas larvas de Aedes aegypti do quarto instar. Utilizou-se quatro alíquotas de óleo essencial do capim citronela (1,5, 3,0, 4,5 e 6,0 µl) e as avaliações foram realizadas em cinco épocas em intervalos regulares de três horas para contagem do número de larvas vivas. Os resultados obtidos demonstraram que o óleo essencial do capim citronela teve ação fungitóxica e larvicida significativa. Isto indica, portanto, boas perspectivas para uso experimental desses óleos no controle de fitopatógenos e de insetos na fase larval. Palavras-chave: efeito fungicida; efeito larvicida; óleo essencial; Cymbopogon nardus. INTRODUÇÃO Trabalhos desenvolvidos com extrato bruto ou óleo essencial, obtido a partir de plantas medicinais, tem indicado o potencial das mesmas no controle de fitopatógenos, tanto por sua ação fungitóxica direta, inibindo o crescimento micelial e a germinação de esporos, quanto pela indução de fitoalexinas, indicando a presença de composto com característica de elicitor. A determinação da atividade biológica dessas moléculas, com respeito a atividade elicitora ou antimicrobiana, poderá contribuir para a aquisição de maiores conhecimentos que reforcem sua
possível utilização como um método alternativo de controle de doenças de plantas (Bonaldo et al., 2004; Lima, 2007). O capim citronela (Cymbopogon nardus), planta originada do Ceilão e da Índia, possui uso medicinal como calmante e digestivo. O gênero Cymbopogon pertence à família Poaceae, subfamília Panicoideae. Este gênero é constituído de oitenta e cinco espécies. O óleo essencial de C. nardus tem sido tradicionalmente usado como repelente de insetos e possui alto teor de geraniol e citronelal (Billerbeck et al., 2001; Castro et al., 2007). O geraniol possui atividade anti-séptica, inibindo o crescimento de fungos e bactérias. O citronelal é utilizado como material básico para a síntese de importantes compostos químicos denominados iononas e para a síntese de vitamina A. O óleo essencial é também utilizado na fabricação de perfumes e cosméticos (Trongtokit et al., 2005; Castro et al., 2007). Este trabalho teve por objetivos avaliar o efeito do óleo essencial do capim citronela na inibição do crescimento micelial in vitro do fungo Didymella bryoniae da cultura do pepino, assim como avaliar o efeito larvicida do óleo essencial no controle de larvas de Aedes aegypti. MATERIAL E MÉTODOS O óleo essencial foi obtido por hidrodestilação a partir de amostras da parte aérea da planta desidratada (0,10 Kg). As amostras foram colocadas em balão de fundo redondo contendo 1 litro de água destilada, que foi acoplado ao aparelho tipo Clevenger e este, a um condensador. No estudo do efeito fungicida do óleo essencial foram utilizados isolados de Didymella bryoniae (cultura do pepino), obtidos de plantas exibindo sintomas típicos da doença. Para o isolamento do patógeno, foi empregado o meio batata-dextrose-agar (BDA) em placas de Petri, transferindo para as mesmas, fragmentos da haste do caule com sintomas e previamente desinfetadas em hipoclorito de sódio 1,5%. As placas foram incubadas a 25ºC por sete dias. Para avaliar a inibição do crescimento micelial, o experimento foi instalado no delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial, com quatro repetições. Os tratamentos foram compostos por cinco dosagens do óleo essencial do capim citronela (3, 6, 9, 12 e 15 µl) e a testemunha contendo apenas o meio de cultura BDA. O óleo essencial do capim citronela foi distribuído uniformemente sobre o meio de cultura BDA em placas de Petri (90 mm), com auxílio de uma alça de Drigalski. Em seguida, no centro de cada placa foi depositado um disco de diâmetro 0,6 cm de meio BDA contendo
micélio do fungo com sete dias. As placas foram vedadas com fita PVC, identificadas e incubadas à temperatura de 25 ºC. A partir da incubação, foi mensurado o diâmetro médio das colônias a cada 2 dias, por meio da medição em dois sentidos diametralmente opostos, até 10 dias após a repicagem. No estudo do efeito larvicida do óleo essencial foram utilizadas larvas de Aedes aegypti do quarto instar para condução do experimento. Foram diluídos cinco alíquotas de óleo essencial de citronela em 500 µl de dimetilsulfóxido (DMSO) e em seguida completou-se o volume com 30 ml de água destilada. Foram realizadas cinco épocas de avaliação em intervalos regulares de três horas para contagem do número de larvas vivas de Aedes aegypti, com quatro repetições. Cada repetição consistiu de um recipiente plástico descartável com capacidade de 250 ml contendo 30 ml de solução (água destilada + 500µL de DMSO + respectiva alíquota do óleo essencial). Em cada recipiente foram depositadas 20 larvas do mosquito Aedes aegypti. Os tratamentos utilizados foram: 1- água destilada (Testemunha); 2- água destilada + DMSO (Testemunha 2); 3-0,006 g de larvicida Abate; 4-1,5µL do óleo essencial de citronela; 5-3,0µL do óleo essencial de citronela; 6-4,5µL do óleo essencial de citronela; e 7-6,0µL do óleo essencial de citronela. Em ambos os experimentos realizados os dados foram interpretados por meio de análises de variância e de regressão. As médias foram comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. As equações de regressão foram ajustadas com base no teste t dos coeficientes, a 5 ou 1% de probabilidade e no coeficiente de determinação. As análises estatísticas foram feitas no programa SAEG (Sistema para Análises Estatísticas e Genéticas) (Ribeiro Júnior e Melo, 2009). RESULTADOS E DISCUSSÃO No estudo do efeito fungicida do óleo essencial verificou-se que as alíquotas de 9 a 15 µl propiciaram inibição de 100 % do crescimento micelial do fungo Didymella bryoniae em todas as épocas de avaliação. Na alíquota de 3 µl ocorreu inibição total do fungo Didymella bryoniae somente na primeira época de avaliação e na alíquota de 6 µl ocorreu inibição total do fungo Didymella bryoniae na primeira, segunda e terceira épocas de avaliação. De acordo com as equações de regressão ajustadas, foi observado na alíquota de 6 µl uma taxa de crescimento micelial de 4,033 mm dia -1, atingindo na última época de avaliação 25,65 mm (Tabela 1).
No estudo do efeito fungicida do óleo essencial verificou-se que nas testemunhas (água destilada e água destilada + DMSO) não foi observado redução do número de larvas vivas no período de condução do experimento e na alíquota de 6 µl foi observado na primeira época de avaliação, às 3 horas após inicio do experimento, 100 % de larvas mortas. Na alíquota de 1,5 µl verificou-se em todas as épocas de avaliação maior número de larvas vivas. Na primeira época de avaliação a alíquotas de 3 µl apresentou número de larvas vivas de Aedes aegypti significativamente maior que a alíquota de 4,5 µl. Na última época de amostragem as alíquotas de 3 e 4,5 µl não apresentaram diferença significativa em relação ao número de larvas vivas de Aedes aegypti (Tabela 2). Os resultados obtidos demonstraram que o óleo essencial do capim citronela teve ação fungitóxica e larvicida significativa. Isto indica, portanto, boas perspectivas para uso experimental desses óleos no controle de fitopatógenos e de insetos na fase larval. A possibilidade de uso de produtos de origem natural, que apresentam baixa toxicidade, se traduz em vantagem por ser um insumo menos agressivo ao meio ambiente. O controle fitossanitário a partir dos óleos essenciais pode ser um método eficaz e de baixo impacto ambiental, no combate a organismos patogênico causadores de doenças em diferentes espécies vegetais. Tabela 1-. Valores médios, equações de regressão e coeficiente de determinação de três alíquotas do óleo essencial do capim citronela (ALI) na variável crescimento micelial do fungo Didymella bryoniae, em cinco épocas de amostragem. Gurupi-TO, 2012. Épocas de amostragem ALI 2 4 6 8 10 Equações de regressão r 2 0 28,21 a 52,18 a 79,63 a 90 a 90 a y = 19,58 + 8,07 **EP 0,8732 3 0 b 14,62 b 34,32 b 63,11 b 73,55 b y= -22,36+ 9,979**EP 0,9709 6 0 b 0 c 0 c 14,51 c 33,08 c y= -14,68 + 4,03 **EP 0,7171 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey (P > 0,05); ** = significativo a 1% de probabilidade pelo teste t. Tabela 2- Valores médios, equações de regressão e coeficiente de determinação de três alíquotas do óleo essencial do capim citronela (1,5; 3,0 e 4,5 µl) na variável número de larvas vivas de Aedes aegypti, em cinco épocas de amostragem. Gurupi-TO, 2012.
Épocas de amostragem (horas após inicio do experimento) ALI 3 6 9 12 15 Equações de regressão r 2 1,5 20 a 18,75 a 16 a 15,5 a 15,25 a Y = 17,1 3,0 12,5 b 6,25 b 3,5 b 2,0 b 1,5 b y= 13,025-0,875 **EP 0,6314 4,5 6,75 c 0,75 c 0,5 b 0,25 b 0,0 b y= 5,85 0,467 **EP 0,5073 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey (P > 0,05); ** = significativo a 1% de probabilidade pelo teste t. LITERATURA CITADA BILLERBECK, V.G. et al. Effects of Cymbopogon nardus (L.) W. Watson essential oil on the growth and morphogenesis of Aspergillus niger. Canadian Journal of Microbiology, v.47, n.1, p.9-17, 2001. BONALDO, S.M. et al. Fungitoxicidade, atividade elicitora de fitoalexinas e proteção de pepino contra Colletotrichum lagenarium, pelo extrato aquoso de Eucaliptus citriodora. Fitopatologia Brasileira, v.29, n.2, p.128-34, 2004. CASTRO, H.G. et al. Crescimento, teor e composição do óleo essencial de Cymbopogon nardus (L.). Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v.9, n.4, p. 55-61, 2007. LIMA, W.G. Controle alternativo da ramulose do algodoeiro via utilização de óleos essenciais. Universidade Federal de Pernambuco, Dissertação de Mestrado em Fitopatologia, 88 p. 2007. RIBEIRO JÚNIOR, J.I.; MELO, A.L.P. Guia prático para utilização do SAEG. Viçosa: Editora UFV, 2009. 287p. TRONGTOKIT, Y. et al. Comparative repellency of 38 essential oils against mosquito bites. Phytotherapy Research, v.19, n.4, p.303-9, 2005. AGRADECIMENTOS "O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq Brasil e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- CAPES".