O SISTEMA PRISIONAL E O CORPO (DES)POTENCIALIZADO.

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1 O SISTEMA PRISIONAL E O CORPO (DES)POTENCIALIZADO. Flávia Augusta Bueno da Silva*. Rafael Christofoletti**. Ricardo Sparapan Pena***. Associação de Proteção e Assistência Carcerária de Bragança Paulista/ Penitenciária III de Hortolândia e Centro de Progressão Penitenciária Profº Ataliba Nogueira. RESUMO:Este trabalho tem por finalidade apresentar e discorrer sobre um recorte da realidade prisional, procurando exemplificar como a equipe técnica, conhecida como equipe psicossocial, articula um movimento instituindo o diálogo entre os setores responsáveis pela atenção prestada aos reeducandos, buscando transformações nas linhas de cuidado, acolhendo e escutando a demanda institucional e também estreitando, na medida do possível, a relação entre esta realidade e a comunidade. Através da caracterização de um processo que vem transformando o papel das equipes técnicas e o entendimento do mesmo, procuramos abordar as maneiras como o trabalho agencia a relação entre os vários setores da instituição, objetivando a criação de redes de apoio e sustentação para a ressocialização. Para isso, se faz necessária uma breve descrição do percurso da política administrativa do sistema prisional, da inserção das equipes psicossociais neste campo, de seus antigos papéis e também do processo de transformação do trabalho, guiado pela perspectiva da ressocialização. Hoje temos cerca de 140.000 presos no Estado de São Paulo em 144 unidades prisionais e cadeias de distritos policiais. Dado visto, observamos que na atenção à população carcerária, as linhas de cuidado vêm se transformando através de uma relação entre corpos que extrapola a estrutura física das instituições prisionais. Em aproximadamente 20 anos de trabalho, as funções das equipes técnicas foram se transformando a partir dos efeitos engendrados pela articulação entre o cuidado e o destino do prisioneiro, sendo lenta e persistente a criação de modos de atuação do psicólogo e assistente social. As equipes técnicas estão a mercê de intensidades e demandas por todos os lados, por serem mais uma das forças que disputam um lugar na luta contra a reprodução do sistema prisional degradado. Sendo assim, a equipe psicossocial se torna uma agência dentro da instituição total e tenta articular encontros que problematizem a estratificação da mesma, criando discussões sobre projetos que envolvam várias áreas na construção de uma política de implicação de afetos que problematize a vida, e não apenas o crime.

2 O SISTEMA PRISIONAL E O CORPO (DES)POTENCIALIZADO. Flávia Augusta Bueno da Silva. Rafael Christofoletti. Ricardo Sparapan Pena. Associação de Proteção e Assistência Carcerária de Bragança Paulista/ Penitenciária III de Hortolândia e Centro de Progressão Penitenciária Profº Ataliba Nogueira. Este trabalho tem por finalidade apresentar e discorrer sobre um recorte da realidade prisional, procurando exemplificar como a equipe técnica, conhecida como equipe psicossocial (psicólogos e assistentes sociais), articula um movimento instituindo o diálogo entre os setores responsáveis pela atenção prestada aos reeducandos, buscando transformações nas linhas de cuidado. Foucault(1987) nos chama atenção ao fato de que a instituição prisional está, desde sua origem, ligada a um projeto de transformação de indivíduos. Não, como costumeiramente se pensa, uma forma de transformar criminosos em homens de bem, mas de fabricar delinqüentes, ou seja, ela seria uma forma de recrutamento de indivíduos para a delinqüência (a profissionalização da delinqüência). É em meio a um intenso processo de moralização do século XVIII, responsável por afirmar categoricamente a periculosidade do delinqüente e em função de sua utilidade político/econômica, que surgem as prisões. No Brasil, mais especificamente no Estado de São Paulo, a história do Sistema Prisional começa em 1872 com a criação da secretaria de justiça. Entendendo a punição como política social e argumentando oferecer melhores condições de retorno da pessoa presa à sociedade, o Governo do Estado organizou, em 1993, a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), específica para o Sistema Carcerário. Nesse sentido, a SAP é um órgão responsável pela aplicação da Lei de Execução Penal(LEP) de acordo com a

3 sentença judicial, visando a ressocialização dos sentenciados. (Secretaria de Administração Penitenciária) Tendo em vista o cumprimento do artigo 11 da LEP que trata da Assistência do Condenado e/ou Internado, A Secretaria da Administração Penitenciária detectou que qualquer tentativa de ressocialização da pessoa humana, sem o envolvimento da sociedade, tende a não ser eficaz. O próprio termo ressocialização deriva de sociedade, o retorno à sociedade (...) Detectou-se, ainda, à época da implantação, a possibilidade de melhoria na qualidade de atendimento do preso, com custos menores praticados pelo Estado. (Secretaria de Administração Penitenciária) Surge assim o programa cidadania no cárcere com o objetivo de administrar as unidades prisionais através de uma parceria entre o Estado e Organizações Não Governamentais (ONGs). Atualmente participam do projeto 20 centros de ressocialização e duas penitenciárias (Projeto Brasil). Hoje são cerca de 140.000 presos no Estado de São Paulo em 144 unidades prisionais e cadeias de distritos policiais (Revista Caros Amigos, Maio/2006). As unidades podem ser classificadas como Centros de Detenção Provisória, Penitenciárias, Unidades de Segurança Máxima, Centros de Ressocialização, Centros de Progressão Continuada, Institutos Penais Agrícolas e Hospitais Penitenciários. Pensando sobre a atenção à população carcerária, as linhas de cuidado vêm se transformando através de uma relação entre corpos que extrapola a estrutura física das instituições prisionais. Através de movimentos populares e novas organizações da sociedade civil, os modos de gestão do coletivo se transformam, trazendo em si suas contradições. A inserção das equipes técnicas psicossociais (psicologia e serviço social) se dá gradualmente numa atmosfera de redemocratização, com a instituição da LEP Lei de Execução Penal em 1984.(Cf. Muylaert, 2002:9)

4 Nesse contexto, o início dos trabalhos das equipes tem objetivo de estruturar formas de avaliação classificando os sentenciados segundo seus antecedentes e personalidades, para orientar a individualização da execução penal. (Muylaert,2002:9) Em sua origem, esse dispositivo de avaliação entra como complemento do Exame Criminológico (que verifica bom comportamento e nível de readequação social, dando embasamento teórico-técnico para as decisões judiciais) e determinando o modo como se dará à execução penal, reforçando assim as estruturas de poder disciplinadoras dos corpos sob o olhar da moral. Contraditoriamente, num clima democratizador que poderia dar fim ao regime de ditadura dos corpos, temos a utilização dos saberes em favor do controle e da afirmação de uma delinqüência maniqueísta. É plausível acentuar neste ponto que a Comissão Técnica de Classificação CTC que, (...) existente em cada estabelecimento, será presidida pelo Diretor e composta, no mínimo, por dois chefes de serviço, um psiquiatra, um psicólogo e um assistente social (...) (Execução Penal) tem como objeto das avaliações o matriculado, o delinqüente, o infrator ou até mesmo o inocente, sendo difícil colocar em análise outras instituições que atravessam a relação das equipes técnicas com os presos, focando menos a linha de cuidado e mais o trabalho normatizador. Podemos observar que, em aproximadamente 20 anos de trabalho, as funções das equipes técnicas foram se transformando a partir dos efeitos engendrados pela articulação entre o cuidado e o destino do prisioneiro. Como acontecimento expressivo dentro de um processo, em 2003, temos uma mudança significativa no modo de atuação das equipes psicossociais, com a instituição da resolução SAP 115, de 4-12-2003 (Diário Oficial do Estado), que extingue a responsabilidade de elaboração de laudos psicológicos e sociais

5 para autoridades judiciais e, portanto permite um investimento intensivo no agenciamento dos projetos de ressocialização. Nessa transição, a criação de modos de atuação do psicólogo e assistente social é lenta e persistente. As equipes técnicas estão a mercê de intensidades e demandas por todos os lados, por serem mais uma das forças que disputam um lugar na luta contra a reprodução do sistema prisional degradado. Não há a pretensão de modificar vidas, muito menos de concordar com o crime ou com a delinqüência. Propõe-se através de atividades como atendimentos individuais, grupais, oficinas e outros dispositivos que propiciem a relação entre os vários setores como a saúde, a educação, o jurídico, o administrativo, a segurança e disciplina, entre outros, a criação de uma rede que busque a ressocialização através de outras composições das potências do corpo aprisionado, da subjetividade, e não apenas da lei que normatiza, podendo excluir a implicação que a vida tem com suas relações. A equipe psicossocial se torna uma agência dentro da instituição total e procura articular encontros que problematizem a estratificação da mesma, criando discussões sobre projetos que englobam várias áreas, envolvendo a comunidade e, principalmente, os familiares dos presos, podendo diminuir a distância entre instituição totalmente fechada e as maneiras de se comunicar com ela, estreitando, assim, o contato da comunidade com a realidade prisional. Sendo assim, o trabalho no sistema prisional requer a desconstrução das políticas de aprisionamento dos corpos em afetos que engendram a despotencialização da vida, buscando criar novos territórios dentro de muros que carregam universos não excluídos da sociedade.

6 Referências Bibliográficas BAREMBLITT, G. Compêndio de Análise Institucional e Outras Correntes: Teoria e Prática. Belo Horizonte: Instituto Felix Guattari, 5ª ed. 2002; FOUCAULT, M. Microfísica do Poder: organização e tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 5ª ed. 1985;. Vigiar e Punir: tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 1987; MUYLAERT, M.A. Clínica na Ordem da Reclusão. Projeto Inserção de Estágio Curricular em Psicologia Clínica na Instituição Penitenciária, Unesp, 2002. Outras fontes: Execução Penal Disponível em: http://www.execucaopenal.com.br.tf/ Acesso em 25?06/2006; Secretaria da Administração Penitenciária Disponível em: <http://www.admpenitenciaria.sp.gov.br/common/cidadania.html> Acesso em: 20/06/2006; Revista Caros Amigos, Maio/2006; Diário Oficial do Estado de São Paulo: Poder Executivo, Seção I, São Paulo, 113 (232), sexta-feira, 05 de Dezembro de 2003, pág. 07; Projeto Brasil Disponível em: <www.projetobr.com.br/content.aspx?id=591> Acesso em: 20/06/2006