fls. 130 SENTENÇA Processo Digital nº: 1001924-15.2017.8.26.0299 Classe Assunto: Procedimento Comum - Rescisão do contrato e devolução do dinheiro Requerente: Rubens Minelly Vieira de Sousa e outro Requerido: Momentum Empreendimentos Imobiliários LTDA Juiz(a) de Direito: Dr(a). Juliana Nishina De Azevedo Vistos. RUBENS MINELLY VIEIRA DE SOUSA e ADRIANA GONÇALVES DE SOUSA ajuizaram a presente ação declaratória de rescisão contratual cumulada com restituição de quantias com pedido de tutela de urência em face de MOMENTUM EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA, aduzindo, em síntese, que firmaram com a ré compromisso de venda e compra de um terreno, nº 30, da quadra CL, do Condomínio "Ninho Verde II Eco Residence", pelo preço certo e ajustado de R$43.761,32. Esclareceram que devido a uma crise econômica, as parcelas não foram mais adimplidas e que por esta razão, em julho de 2016, foram notificados pela ré a quitar o débito, sob pena de resilição contratual. Narraram que a inadimplência persistiu e que não tiveram mais noticias acerca do distrato, tampouco do valor a ser restituído por direito. Por isto, requeriam a procedência da ação para: a) declarar a rescisão unilateral do Contrato de Compra e Venda; b) declarar nula a cláusula 11.1 por ser abusiva de pleno direito, contrariando o art. 51 do CDC; c) condenar a Ré a restituir em parcela única, o valor de R$ 9.763,92 correspondente a 90% (noventa por cento) dos valores pagos à ré tudo corrigido monetariamente a partir de cada desembolso, além da incidência de juros legais de 1% (um por cento) ao mês a partir da citação até a data do efetivo pagamento. Juntaram documentos. Deferiu-se tutela de urgência para que os nomes dos autores não fossem inscritos nos cadastros de maus pagadores (fls. 64). Em contestação, preliminarmente, arguiu exceção de incompetência em razão de lugar, vez que foi pactuado foro de eleição. No mérito, sustentou que em razão
fls. 131 da inadimplência dos autores, a rescisão do contrato operou-se, devendo ser aplicada a clausula 11.1, para as devolução dos valores. Sustentou acerca da legalidade da referida clausula contratual, bem como nas penalidades devidas e aplicáveis à hipótese dos autos. Por fim, insurgiu-se ao percentual requerido pelos autores em decorrência da rescisão contratual. Juntou documentos. Sobreveio réplica (fls. 118/129). É o relatório. FUNDAMENTO E DECIDO. O feito em questão comporta o julgamento antecipado, nos termos do artigo 355, inciso I do Código de Processo Civil, dado que a questão controvertida nos autos é de direito, sendo desnecessária a dilação probatória. A pretensão dos autores é PARCIALMENTE PROCEDENTE. Inicialmente, afasto a exceção de incompetência, vez que embora exista cláusula de eleição de foro (fls. 38), é certo as regras estabelecidas e pertinentes à competência visam a preservar os interesses das partes e, em especial, a facilidade da tramitação de processos. No presente caso, residindo a parte autora nessa Comarca não se justifica a determinação de julgamento em foro diverso, pois traria prejuízo à parte o que não se pode admitir. Passo à analise do mérito. Restou incontroverso que as partes celebraram compromisso de compra e venda de imóvel, bem como a inadimplência dos autores. Divergem as partes, portanto, tão-somente referente a legalidade da clausula 11.1 do referido contrato e do "quantum" a ser devolvido em razão de sua rescisão. Pois bem. Em relação à possibilidade de rescisão do compromisso de compra e venda, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo editou a Súmula nº 1 que dispõe:
fls. 132 O Compromissário comprador de imóvel, mesmo inadimplente, pode pedir a rescisão do contrato e reaver as quantias pagas, admitida a compensação com gastos próprios de administração e propagandas feitos pelo compromissário vendedor, assim como com o valor que se arbitrar pelo tempo de ocupação do bem. (DJe 12.07.2010). In causu a culpa pela extinção da avença é dos autores, que alegaram incapacidade financeira para tanto. Assim, deverão sujeitar-se à cláusula penal prevista em contrato. Da atenta análise da referida clausula contratual (fl.38), ao contrário do alegado pelos autores, não se percebe abusividade. Se a intenção da retenção é apenas remunerar os custos administrativos advindo do empreendimento, esta deve ser fixada em percentual razoável e proporcional a tais despesas, sob pena de enriquecimento ilícito. Neste diapasão, levando-se em consideração o princípio da razoabilidade e, considerando ainda, as peculiaridades do caso concreto, entendo justa a retenção no patamar de 20% do valor pago pelos autores. A devolução cingir-se-á ao valor da entrada e das prestações quitadas. Numerários relacionados à própria manutenção do imóvel adquirido, como taxa de conservação, melhoramentos, eventuais débitos de IPTU, não são passíveis de cômputo para fins de ressarcimento, porque vincularam-se exclusivamente à condição de adquirentes e eram de sua obrigação contratualmente assumida durante o período em que figuraram como compromissários compradores. Também é lícita a dedução de 1% ao mês do valor de preço do lote, a título de fruição do imóvel. A questão referente à possibilidade de cobrança da comissão de corretagem já se encontra decidida. Em 06 de setembro de 2016 o Colendo Superior Tribunal de Justiça apreciou Recurso Especial submetido ao regime do artigo 1.040 do Código de Processo Civil e reconheceu a legalidade da cláusula contratual que transfere ao promitente
fls. 133 comprador o ônus da comissão de corretagem. Neste sentido, o entendimento do C. STJ, in verbis: RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA. VENDA DE UNIDADES AUTÔNOMAS EM ESTANDE DE VENDAS.CORRETAGEM. CLÁUSULA DE TRANSFERÊNCIA DA OBRIGAÇÃO AO CONSUMIDOR. VALIDADE. PREÇO TOTAL.DEVER DE INFORMAÇÃO. SERVIÇO DE ASSESSORIA TÉCNICO- IMOBILIÁRIA(SATI). ABUSIVIDADE DA COBRANÇA. I TESE PARA OS FINS DO ART. 1.040 DO CPC/2015: 1.1. Validade da cláusula contratual que transfere ao promitente-comprador a obrigação de pagar a comissão de corretagem nos contratos de promessa de compra e venda de unidade autônoma em regime de incorporação imobiliária, desde que previamente informado o preço total da aquisição da unidade autônoma, com o destaque do valor da comissão de corretagem. 1.2. Abusividade da cobrança pelo promitente-vendedor do serviço de assessoria técnico-imobiliária (SATI), ou atividade congênere,vinculado à celebração de promessa de compra e venda de imóvel. II - CASO CONCRETO: 2.1. Improcedência do pedido de restituição da comissão de corretagem, tendo em vista a validade da cláusulaprevista no contrato acerca da transferência desse encargo ao consumidor. Aplicação da tese 1.1. 2.2. Abusividade da cobrança porserviço de assessoria imobiliária, mantendo-se a procedência do pedido de restituição. Aplicação da tese 1.2. III - RECURSOESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO. (REsp 1599511/SP, Rel.Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDASEÇÃO, julgado em 24/08/2016, DJe 06/09/2016). Esta decisão deve ser observada pelas instâncias inferiores no que tange à cobrança de comissão de corretagem. Nela, decidiu-se ser possível a transferência ao consumidor, desde que previamente informado, com destaque do valor da comissão de corretagem. No caso dos autos, é evidente que houve tal informação, conforme se vê à fl.36. Assim, não é devida qualquer devolução em relação à comissão de corretagem. Com relação à contribuição associativa ao clube SLIM (fl. 103), considerando que houve a adesão voluntária dos autores e que estes poderiam ter usufruído de seus serviços durante o período entre a compra do imóvel e a rescisão do contrato, também não há que se falar em restituição dos valores pagos. A restituição dos valores pagos refere-se unicamente ao preço do imóvel e deverá ocorrer de forma simples, uma vez que não foi demonstrada má-fé do
fls. 134 compromissário vendedor. Nesse sentido é a Súmula n. 02 da Sessão de Direito Privado I do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo: "A devolução das quantias pagas em contrato de compromisso de compra e venda de imóvel deve ser feita de uma só vez, não se sujeitando à forma de parcelamento prevista para a aquisição". Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE a pretensão dos autores para declarar a rescisão do contrato firmado entre as partes, condenando a ré à devolução de 80% de todos os valores pagos referentes ao preço do imóvel, a devolução que deverá ser imediata, atualizada monetariamente, desde o ajuizamento da ação, nos termos da Tabela Prática do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e acrescidos de juros de mora na ordem de 1% ao mês, desde a citação até o efetivo pagamento, confirmando a tutela concedida, e assim o faço com resolução do mérito, nos termos do artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil. Diante da sucumbência mínima da parte autora, condeno a ré ao pagamento de custas, despesas processuais e honorários advocatícios, em 10% do valor atualizado da condenação. Oportunamente, arquivem-se os autos, observadas as formalidades legais. P. R. I. C. Jandira, 06 de outubro de 2017. DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA