RELATÓRIO FINAL DE PROJETO INICIAÇÃO CIENTÍFICA USCS - Agosto/2011



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Transcrição:

RELATÓRIO FINAL DE PROJETO INICIAÇÃO CIENTÍFICA USCS - Agosto/2011 1. Identificação 1.1. Mês/Ano de início do projeto: Agosto/2010 Mês/Ano de finalização do projeto: Julho/2011 1.2 Nome do Pesquisador Raquel Rivera Soldera 1.3. Nome do Orientador Prof. Dr. José Ribeiro de Campos 2. Dados do projeto 2.1 Título original do Projeto A Dignidade da Pessoa Humana como Fundamento do Direito do Trabalho 2.2. Resumo do projeto inicial de iniciação científica Objetivos O presente projeto tem como objeto aprofundar o estudo dos direitos fundamentais dos trabalhadores, tendo como fundamento o princípio da dignidade da pessoa humana. Procedimentos metodológicos (coleta e análise de dados) A metodologia utilizada para a investigação das questões propostas são a análise do princípio da dignidade da pessoa humana, dos direitos fundamentais e do Direito do Trabalho, tendo como base a pesquisa bibliográfica e jurisprudencial. Cronograma de atividades (previsto X realizado) Primeira etapa: agosto a dezembro/2010. Realizamos o levantamento bibliográfico, através da análise da doutrina sobre a dignidade da pessoa humana e o Direito do Trabalho. Segunda etapa: janeiro a julho/2011. Análise da jurisprudência sobre o tema, demonstrando o comportamento dos juízes do trabalho no julgamento das ações trabalhistas, diante da aplicação do princípio da dignidade da pessoa humana. 2.3. Se ocorreram alterações em relação original, identifique-as e justifique: Não houve alterações em relação ao original. 2.4. Resultados obtidos. Apresente em anexo texto de seu projeto, que reflete o atual final do projeto, com as seguintes seções (máximo 20 páginas, espaço simples, times new Roman 12): 1. Introdução contendo Contextualização, Problematização, Objetivos e Justificativa. 2. Referencial teórico 3. Procedimentos metodológicos 4. Análise dos resultados obtidos 5. Referências bibliográficas

3. Dificuldades surgidas durante esse período na execução do projeto de Iniciação Científica/ Críticas/Sugestões Sugestão: que o treinamento sobre normas ABNT ocorra com maior antecedência da entrega do relatório parcial, para os próximos alunos de iniciação científica. 4. Participação ocorridas e/ou pretendidas em divulgações científicas (congresso, seminários, encontros etc) e publicações em periódicos, nesse período (anexar cópia dos comprovantes). Declaramos para os devidos fins que, as informações contidas nesse documento são verdadeiras e autênticas. Data 15/08/2011. Assinatura do Aluno Assinatura do orientador Ciente: Coordenador de Curso Diretor de Área Parecer do Coordenador de Iniciação Científica

UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL RAQUEL RIVERA SOLDERA A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO FUNDAMENTO DO DIREITO DO TRABALHO SÃO CAETANO DO SUL 2011

1 INTRODUÇÃO O estudo do direito dos trabalhadores demonstra que a história e a evolução do Direito do Trabalho estão profundamente ligadas ao princípio da dignidade da pessoa humana. Estudar os direitos fundamentais e a sua vinculação com o Direito do Trabalho, como a liberdade de trabalho, a não-discriminação, o salário mínimo, o trabalho do menor, a saúde do trabalhador, é necessidade que se impõe para fazer valer o princípio basilar na qual está fundada a Constituição brasileira: a dignidade da pessoa humana. 1.1 Contextualização Os direitos fundamentais trabalhistas estão inseridos na Constituição Federal, portanto, a análise do tema deve ser estudada à luz do Direito do Trabalho e dos princípios que orientam o Direito Constitucional. A Constituição de 1988 representa para a ordem jurídica brasileira um marco de ruptura e superação dos padrões até então vigentes no que se refere à defesa e, principalmente, à promoção da dignidade da pessoa humana, transformando-a em valor supremo do Estado brasileiro e, em especial, do sistema jurídico-constitucional. A Constituição Federal trata, desde o seu preâmbulo da instituição de um Estado democrático que tem como objetivo assegurar os direitos sociais. O título I elenca os princípios fundamentais e o título II dos direitos e garantias fundamentais. Portanto, no corpo da Constituição encontramos os direitos trabalhistas inseridos no capítulo II direitos sociais do título II dos direitos e garantias fundamentais. No art. 7º e seus incisos estão elencados os direitos trabalhistas constitucionais. O art. 8º e incisos trata dos direitos coletivos, o art. 9º do direito de greve e o 10º e 11º da inserção dos trabalhadores na empresa. Tais direitos do trabalhador estão elencados na Constituição Federal visando a garantia da proteção da dignidade da pessoa huamana. 1.2 Problematização Atualmente, é necessário aprofundar os estudos dos direitos fundamentais dos trabalhadores tutelados na Constituição Federal, visto que os direitos relacionados diretamente com a dignidade da pessoa humana, como o dano moral, a vida privada, a imagem, a honra, têm sido reclamados e aplicados pela Justiça do Trabalho. O constituinte de 1988, ao incluir os direitos fundamentais dos trabalhadores na categoria de direitos fundamentais, influenciou o modo de estudar, interpretar, decidir e regulamentar o Direito do Trabalho. Nesta trilha, destacamos a importância de enfrentar o problema da efetividade dos direitos sociais, notadamente das normas trabalhistas, bem como a necessidade de protegê-los para que tenham eficácia plena na garantia da dignidade da pessoa humana. 1.3 Justificativa É vital para o sistema jurídico brasileiro o amparo aos direitos fundamentais do trabalhador, elencados nos arts. 7 a 11 da Constituição Federal, que reforçam o Estado Democrático de Direito e promovem a justiça social através da valorização do trabalho, em reconhecimento ao direito assegurado a cada indivíduo de ter acesso aos instrumentos que lhe

permitam uma vida digna, combatendo o desemprego e as condições subumanas de trabalho, como o trabalho escravo e o trabalho infantil. Há vários exemplos demonstrativos da aplicação do princípio da dignidade da pessoa humana no Tribunal Superior do Trabalho e, inclusive, no Supremo Tribunal Federal, sendo justificativa suficiente às decisões judiciais, o que demonstra a importância que este princípio tem adquirido. A valorização do trabalho é um dos princípios destacados na ordem constitucional, que se afirma no reconhecimento do constituinte de que o trabalho é um dos instrumentos mais relevantes para a afirmação e realização da pessoa humana. Assim, o valor social do trabalho revela-se como princípio, fundamento e um direito social, refletindo a importância do princípio da dignidade da pessoa humana na interpretação das normas trabalhistas pela Justiça do Trabalho. 1.4 Objetivos O presente projeto tem como objeto aprofundar o estudo dos direitos fundamentais dos trabalhadores, tendo como base o princípio da dignidade da pessoa humana. O direito ao trabalho é um direito social fundamental, porque compreende o direito à existência. Tem o objetivo de proporcionar a sobrevivência, zelando pela dignidade da pessoa humana. Proporciona utilidade à pessoa, fazendo com que mantenha a mente ocupada, valorizada perante a sociedade, e permitindo que tenha acesso a bens de consumo. Por esse motivo, a valorização do trabalho abrange a valorização do emprego e dos direitos trabalhistas, promovendo a justiça social e a dignidade da pessoa humana através do amparo aos direitos fundamentais do trabalhador. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Dignidade da pessoa humana A República Federativa do Brasil tem a dignidade da pessoa humana como um dos seus fundamentos e mecanismos de efetivação dos ideais do Estado Democrático de Direito. 1 A dignidade é assim definida por Antonio Silveira Ribeiro Santos: um atributo humano sentido e criado pelo homem e por ele desenvolvido e estudado, existindo desde os primórdios da humanidade, mas só nos últimos dois séculos percebidos plenamente, apesar de que, quando o ser humano começou a viver em sociedades rudimentarmente organizadas, a honra, honradez e nobreza já eram respeitadas pelos membros do grupo, o que não era percebido e entendido concretamente, mas geravam destaque a alguns membros. 2 Para Flávia Piovesan, o valor da dignidade humana é um valor intrínseco à condição humana e não um valor extrínseco, a depender da condição social, econômica, religiosa, nacional ou qualquer outro critério 3. 1 PEDUZZI, Maria Cristina Irigoyen. O princípio da dignidade da pessoa humana e sua eficácia concreta. Revista do Tribunal Superior do Trabalho. Brasília, v. 75, n. 1, jan./mar. 2009. p. 36. 2 SANTOS, Antonio Silveira Ribeiro. Dignidade humana e reorganização social. Disponível em: <http://www.aultimaarcadenoe.com/artigo3.htm>. Acesso em 28 dez. 2009. s.p. 3 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos: desafios e perspectivas contemporâneas. Revista do Tribunal Superior do Trabalho. Brasília, v. 75, n. 1, jan./mar. 2009. p. 108.

Vander Ferreira de Andrade entende que a dignidade humana não se define pelo que é, mas sim pelo que não é. Desta forma, afirma que não existe dignidade humana em uma vida desprovida de alimentação mínima, de saúde básica ou de educação fundamental. 4 Para Dinaura Godinho Pimentel Gomes, o princípio da dignidade da pessoa humana se constitui em valor unificador de todos os direitos fundamentais 5. Nesse sentido, Ingo Wolfgang Sarlet afirma que os direitos à vida, à liberdade e à igualdade são as exigências mais elementares da dignidade da pessoa humana 6. Por esse motivo, são irrenunciáveis e inalienáveis, na medida em que qualificam o ser humano, não podendo dele ser destacados. 7 A primeira referência constitucional à dignidade da pessoa humana é encontrada na Constituição mexicana de 1917, que dizia que a dignidade da pessoa humana deveria ser um valor para a orientação do sistema educacional do país. 8 No entanto, de acordo com José Afonso da Silva, foi a Constituição alemã de 1949 a primeira a acolher verdadeiramente a dignidade da pessoa humana, ao estabelecer expressamente que a dignidade humana é inviolável. Respeitá-la e protegê-la é obrigação de todos os Poderes estatais 9. Importante destacar que o reconhecimento expresso da dignidade da pessoa humana na Constituição alemã decorre, principalmente, de uma reação aos horrores provocados pelo Estado nazista. 10 A partir do reconhecimento expresso da dignidade da pessoa humana, este princípio passou a ser acolhido por diversas Constituições do mundo 11, e, de modo especial, após sua consagração pela Declaração Universal da ONU, em 1948. 12 No Brasil, o princípio da dignidade da pessoa humana somente foi inserido expressamente na Constituição de 1988, no art. 1º, inciso III, embora as Constituições de 1934, 1946 e 1967 já tenham feito referências à dignidade da pessoa humana, contudo em outro contexto. 13 A Constituição de 1934 trata, no art. 115, da necessidade de que a ordem econômica fosse organizada de modo a possibilitar a todos uma "existência digna". 14 A Constituição de 1937 não faz qualquer referência à dignidade da pessoa humana 15, mas a ideia de garantir a todos uma existência digna através da organização da ordem 4 ANDRADE, Vander Ferreira de. A dignidade da pessoa humana: valor-fonte da ordem jurídica. São Paulo: Cautela, 2007. p. 69. 5 GOMES, Dinaura Godinho Pimentel. Direito do trabalho e dignidade da pessoa humana, no contexto da globalização econômica: problemas e perspectivas. São Paulo: LTr, 2005. p. 32. 6 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1998. p. 97. 7 Ibid., 104. 8 ALVES, Cleber Francisco. O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana: o enfoque da doutrina social da igreja. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p. 129. 9 SILVA, José Afonso da. A dignidade da pessoa humana como valor supremo da democracia. Revista de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Renovar, nº 212: 89-94, abr./jul. 1998. p.89. 10 MARTINS, Flademir Jerônimo Belinati. Dignidade da pessoa humana: princípio constitucional fundamental. 1. ed, 4. reimp. Curitiba: Juruá, 2009. p. 36. 11 Ibid., p. 34 12 SARLET, Ingo Wolfgang, op. cit., p. 99. 13 MARTINS, Flademir Jerônimo Belinati, op. cit., p. 15. 14 Art. 115. A ordem econômica deve ser organizada conforme os princípios da justiça e as necessidades da vida nacional, de modo que possibilite a todos existência digna. Dentro desses limites, é garantida a liberdade econômica. Parágrafo único. Os poderes públicos verificarão, periodicamente, o padrão de vida nas várias regiões do país. 15 MARTINS, Flademir Jerônimo Belinati, op. cit., p. 48.

econômica e social é retomada na Constituição de 1946, ao mencionar a garantia do trabalho como meio de possibilitar essa existência digna no art. 145. 16 Apesar de a Constituição de 1967 estabelecer que a ordem econômica tem por fim a realização da justiça social, baseada em alguns princípios, como o da valorização do trabalho como condição da dignidade humana 17, conforme disposto no art. 157 18, ainda não se tratava do princípio da dignidade da pessoa humana tal como atualmente é estabelecido na Constituição vigente. 19 Para a ordem jurídica brasileira, a Constituição de 1988 representa um marco de ruptura e superação dos padrões até então vigentes no que se refere à defesa e - principalmente - promoção da dignidade da pessoa humana 20, nas palavras de Flademir Jerônimo Belinati Martins. Cabe ressaltar que a Carta se preocupou não apenas com a promoção da dignidade da pessoa humana, mas também com a efetivação desses direitos. 21 A partir do momento em que houve o reconhecimento expresso da dignidade da pessoa humana em nossa Constituição Federal, reconheceu-se, também, que é o Estado que existe em função da pessoa humana, e não o contrário, já que o homem constitui a finalidade precípua, e não meio da atividade estatal 22, conforme entendimento de Ingo Wolfgang Sarlet. 2.1.1 Direitos fundamentais A palavra fundamental nos remete ao sentido de básico, essencial, necessário, indispensável. 23 Por esse motivo vemos que, em geral, os direitos fundamentais são imprescritíveis. 24 Para Maurício Godinho Delgado, direitos fundamentais são prerrogativas ou vantagens jurídicas estruturantes da existência, afirmação e projeção da pessoa humana e da sua vida em sociedade 25. Os direitos fundamentais são também direitos humanos, na medida em que o titular de tais direitos sempre será o ser humano, mesmo que esteja representado pela coletividade grupos, povos, nações, Estado. 26 Para Alexandre de Moraes, os direitos fundamentais podem ser definidos da seguinte forma: o conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano que tem por finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do poder estatal, e o estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana. 27 Neste sentido, podemos afirmar que os direitos fundamentais são aqueles direitos do ser humano reconhecidos e positivados na esfera do direito constitucional positivo de 16 Art. 145. A ordem econômica deve ser organizada conforme os princípios da justiça social, conciliando a liberdade de iniciativa com a valorização do trabalho humano. Parágrafo único. A todos é assegurado trabalho que possibilite existência digna. O trabalho é obrigação social. 17 MARTINS, Flademir Jerônimo Belinati, op. cit., p. 48. 18 Art. 157. A ordem econômica tem por fim realizar a justiça social, com base nos seguintes princípios: II - valorização do trabalho como condição da dignidade humana. 19 MARTINS, Flademir Jerônimo Belinati, op. cit., p. 48. 20 Ibid., p. 16. 21 Ibid., p. 52. 22 SARLET, Ingo Wolfgang, op. cit., p. 100-101. 23 MARTINS, Sergio Pinto. Direitos fundamentais trabalhistas. São Paulo: Atlas, 2008. p. 40. 24 MARTINS, Sergio Pinto, op. cit., p. 61. 25 DELGADO, Mauricio Godinho. Direitos fundamentais na relação de trabalho. In: SILVA, Alessandro da (Org.) et al. Direitos humanos: essência do direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2007. p. 67. 26 SARLET, Ingo Wolfgang, op. cit., p. 31. 27 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria geral, comentários aos arts. 1º a 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. 8 ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 20.

determinado Estado 28, especificados e elencados de forma clara na Constituição. No entanto, existem direitos fundamentais que decorrem do regime e dos princípios adotados pela Constituição, ficando subentendidos. 29 Segundo Nestor Sampaio Penteado Filho, a constitucionalização dos direitos humanos fundamentais consagrou o Estado de Direito e a declaração de princípios de tutela do homem e de sua dignidade 30. No entanto, importante destacar que a noção de direitos fundamentais é muito mais antiga que o surgimento do Direito Constitucional, conforme Alexandre de Moraes: a vigência dos direitos humanos independe de sua declaração em constituições, leis e tratados internacionais, exatamente porque se está diante de exigências de respeito à dignidade humana, exercidas contra todos os poderes estabelecidos, oficiais ou não. 31 Nesta linha, José Afonso da Silva enfatiza que o reconhecimento dos direitos fundamentais do homem e a sua positivação nas declarações de direito é recente, e está longe de se esgotarem suas possibilidades, já que cada passo na evolução da humanidade importa na conquista de novos direitos 32. Ainda que o constitucionalismo tenha tão somente consagrado a necessidade de se estabelecer um rol mínimo de direitos humanos em um documento escrito, proveniente da soberana vontade popular 33, Alexandre de Moraes ressalta a importância do reconhecimento de tais direitos na Constituição: a constitucionalização dos direitos humanos fundamentais não significou mera enunciação formal de princípios, mas a plena positivação de direitos, a partir dos quais qualquer indivíduo poderá exigir sua tutela perante o Poder Judiciário para a concretização da democracia. Ressalte-se que a proteção judicial é absolutamente indispensável para tornar efetiva a aplicabilidade e o respeito aos direitos humanos fundamentais previstos na Constituição Federal e no ordenamento jurídico em geral. 34 Em contrapartida, André de Carvalho Ramos destaca que a positivação dos direitos fundamentais nas Constituições de cada país levou a uma consequente restrição dos mesmos direitos inerentes a todo ser humano, já que cada país poderia, a seu talante, conceder ou retirar direitos dos indivíduos em seu território 35. Nesta linha, Boris Mirkine-Guétzévitch afirma que as novas tendências do Direito Constitucional caminham no sentido de não somente reconhecer, mas, principalmente, criar condições jurídicas que assegurem a independência social do indivíduo. 36 Tal afirmação coaduna com o entendimento de Norberto Bobbio, para quem hoje o maior problema dos direitos fundamentais não é o de justificá-los ou de fundamentá-los, mas de protegê-los 37, para que não sejam violados. Dessa forma, além da proteção dos direitos fundamentais, é preciso também garantir a sua eficácia, e que sejam verdadeiramente garantidos 38. 28 SARLET, Ingo Wolfgang, op. cit., p. 31. 29 MARTINS, Sergio Pinto, op. cit., p. 59. 30 PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Direitos humanos. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 17. 31 COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 6 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 227. 32 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 22 ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2003. p. 149. 33 MORAES, Alexandre de, op. cit., p. 1. 34 Ibid., p. 3. 35 RAMOS, André de Carvalho. Avanços e recuos: a universalidade dos direitos humanos no século XXI. In: COSTA, Paulo Sérgio Weyl A. (coord.). Direitos humanos em concreto. Curitiba: Juriá, 2009. p. 72. 36 MARTINS, Sergio Pinto, op. cit., p. 17. 37 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Nova ed. 8. reimp. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. p. 23. 38 MARTINS, Sergio Pinto, op. cit., p. 17.

Ives Gandra Martins Filho alerta para o fato de que somente há o respeito espontâneo naquilo em que temos confiança e credibilidade. Assim, os direitos fundamentais somente serão plenamente garantidos e vivenciados se apresentarem fundamentos sólidos para sua justificação. 39 2.2 Dignidade da pessoa humana como fundamento do Direito do Trabalho 2.2.1 Direito do Trabalho: breve histórico Os direitos dos trabalhadores surgiram de modo gradativo, se estendendo por mais de um século, até o seu reconhecimento como importante área do direito social. 40 Com o desenvolvimento do sistema capitalista de produção, as pessoas passaram a ser consideradas mero insumo no processo de produção 41, nas palavras de Fábio Konder Comparato. O patrão detinha claramente a liberdade de explorar o trabalhador sem quaisquer limites, e o empregado era explorado sem nenhuma defesa. É neste cenário que nasce o Direito do Trabalho. 42 Os trabalhadores ficavam entregues à própria sorte, sujeitos a jornadas diárias estafantes em troca de ínfimos salários, além da exploração do trabalho de mulheres e menores, igualmente sem qualquer limite 43, conforme relata Octávio Bueno Magano. A falta de uma legislação que regulamentasse a jornada de trabalho permitiu que crianças de 8, 7 e até 6 anos de idade trabalhassem nas fábricas, além de submeter as mulheres a jornadas de trabalho excessivas. 44 Assim, de acordo com Amauri Mascaro Nascimento, as primeiras leis trabalhistas tinham o objetivo de proibir o trabalho em determinadas condições, como o dos menores até certa idade, e o das mulheres em ambientes ou sob condições incompatíveis 45. A efetiva intervenção estatal nas relações entre empregados e empregadores só ocorreu no final da Primeira Guerra Mundial 46, quando surge o chamado constitucionalismo social, definido por Sérgio Pinto Martins como: a inclusão nas constituições de preceitos relativos à defesa social da pessoa, de normas de interesse social e de garantia de certos direitos fundamentais, incluindo o Direito do Trabalho. 47 A Constituição mexicana de 1917 foi a primeira Constituição do mundo a tratar sobre direito do trabalho 48, regulando a limitação da jornada de trabalho, a proteção da maternidade, a idade mínima de admissão de empregados nas fábricas, o trabalho dos 39 MARTINS FILHO, Ives Gandra. Os fundamentos filosóficos da Declaração Universal dos Direitos Humanos: fundamentar como condição para garantir. Revista do Tribunal Superior do Trabalho. Brasília, v. 75, n. 1, jan./mar. 2009. p. 26. 40 DEL OMO, Florisbal de Souza. Os direitos humanos: breves reflexões. In: FERREIRA JÚNIOR, Lier Pires; MACEDO, Paulo Emílio Vauthier Borges de Macedo (coords.). Direitos humanos e direito internacional. 1ª ed. 2ª reimpr. Curitiba: Juruá, 2009. p. 13. 41 COMPARATO, Fábio Konder, op. cit., p. 24. 42 MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Direito do trabalho. 11 ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 26 43 MAGANO, Octávio Bueno. Manual de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1980. p. 17 apud MANUS, Pedro Paulo Teixeira, op. cit., p. 27 44 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 34 ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 45. 45 Ibid., p. 45. 46 MANUS, Pedro Paulo Teixeira, op. cit., p. 28. 47 MARTINS, Sergio Pinto, op. cit., p. 12. 48 NASCIMENTO, Amauri Mascaro, op. cit., p. 45.

menores na indústria, e o desemprego. 49 Com isso, foi a primeira Constituição que estabeleceu a desmercantilização do trabalho, proibindo que fosse equiparado a uma mercadoria qualquer, ficando sujeito à lei da oferta e da procura no mercado. 50 Para Jorge Luiz Souto Maior, o Direito do Trabalho vai além de uma simples conquista dos trabalhadores perante os patrões: o Direito do Trabalho, de uma vez só, valoriza o trabalho, preserva o ser humano, busca proteger outros valores humanos fora do trabalho e regula o modelo de produção, na perspectiva da construção da justiça social dentro do regime capitalista. 51 O direito ao trabalho é um direito social fundamental porque compreende o direito à existência. Tem o objetivo de proporcionar a sobrevivência, zelando pela dignidade da pessoa humana. Proporciona utilidade à pessoa, fazendo com que mantenha a mente ocupada, valorizada perante a sociedade, e permitindo que tenha acesso a bens de consumo. 52 Assim, podemos dizer que a natureza do Direito do Trabalho é determinada pela luta pela dignidade da pessoa humana 53, pois, conforme entendimento de Lelio Bentes Corrêa, visa o reconhecimento do direito assegurado a cada indivíduo, cada cidadão, de ter acesso aos instrumentos que lhe permitam a busca da felicidade 54, posto que sem o trabalho, não há honra, e sem a honra, não dá pra ser feliz. 55 2.2.2 Direitos fundamentais trabalhistas No Brasil, prevaleceu até 1930 o não-intervencionismo do Estado nas relações entre empregado e empregador. 56 A Revolução de 1930 leva ao poder Getúlio Vargas, e a partir daí inúmeras leis são editadas, referentes a questões trabalhistas, tanto sobre o direito individual quanto sobre o direito coletivo do trabalho. 57 Desde a Carta Magna de 1934, todas as Constituições brasileiras apresentaram normas de direito do trabalho: a de 1937, de 1946, de 1967, a Emenda Constitucional de 1969 e a Constituição Federal de 1988. 58 Nos dias de hoje, ainda prevalece no Brasil o rígido intervencionismo estatal nas relações do trabalho, que pode ser constatado pela análise da legislação trabalhista vigente. A Constituição Federal de 1988 deu tão grande importância ao trabalho como valor social, que está elencado como fundamento do Estado Democrático de Direito (art. 1, IV), como direito social (art. 6 ), como fundamento da Ordem Econômica (art. 170) e como base da Ordem Social (art. 193). 59 Visando a proteção ao trabalho, os artigos 7º a 11 da Constituição instituem os direitos básicos dos trabalhadores e de suas entidades representativas, estabelecendo regras básicas que devem ser observadas pelas fontes hierarquicamente inferiores 60. A disposição de 49 COMPARATO, Fábio Konder, op. cit., p. 178. 50 Ibid., p.181. 51 MAIOR, Jorge Luiz Souto. Direito social, direito do trabalho e direitos humanos. In: SILVA, Alessandro da (Org.) et al. Direitos humanos: essência do direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2007. p. 26. 52 MARTINS, Sergio Pinto, op. cit., p. 65. 53 CAPLAN, Luciana. O direito do trabalho e a teoria crítica dos direitos humanos. In: SILVA, Alessandro da (Org.) et al. Direitos humanos: essência do direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2007. p. 260. 54 CORRÊA, Lelio Bentes. Normas internacionais do trabalho e direitos fundamentais do ser humano. Revista do Tribunal Superior do Trabalho. Brasília, v. 75, n. 1, jan/mar 2009, p. 56. 55 Ibid., p. 56. 56 MANUS, Pedro Paulo Teixeira, op. cit., p. 29. 57 Ibid., p. 30. 58 NASCIMENTO, Amauri Mascaro, op. cit., p. 50. 59 CHIMENTI, Ricardo Cunha (et al.). Curso de direito constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 537. 60 MANUS, Pedro Paulo Teixeira, op. cit., p. 34.

tais direitos na Constituição Federal protege também outras garantias que possam melhorar as condições de vida e trabalho. 61 O artigo 7º da Constituição Federal brasileira versa sobre direitos individuais e tutelares do trabalho. O artigo 8º trata do sindicato e suas relações. O artigo 9º especifica regras sobre greve. O artigo 10 dispõe sobre a participação dos trabalhadores em colegiados. E o artigo 11 menciona que nas empresas com mais de duzentos trabalhadores, é assegurada a eleição de um representante dos trabalhadores para entendimentos com o empregador. 62 A Constituição Federal brasileira também prevê hipóteses de proteção dos trabalhadores, como o salário mínimo, a segurança do trabalho, a garantia de isonomia e não discriminação, a garantia de equilíbrio entre trabalho e descanso, além de destinar direitos aos dependentes dos trabalhadores, como o salário-família. 63 Para José Afonso da Silva, o principal objetivo dos direitos dos trabalhadores é o alcance das condições dignas de trabalho para, consequentemente, a conquista da melhoria de sua condição social, de acordo com o disposto no caput do art. 7 da Constituição Federal brasileira. 64 Neste sentido, no entendimento de Alexandre de Moraes, é através do trabalho que o homem garante a sua subsistência e o crescimento do país, prevendo a Constituição, em diversas passagens, 65 a liberdade, o respeito e a dignidade do trabalhador 66. Importante destacar que, no momento em que a Constituição Federal de 1988 agrupou os direitos trabalhistas aos direitos fundamentais, tais direitos também incorporaram, de maneira expressa, a cláusula de não-retrocesso, posto que o inciso I, do artigo 7, dispõe que os direitos ali elencados não eliminam outros que visem à melhoria da condição social e econômica dos trabalhadores 67. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) representa um marco em nosso ordenamento jurídico, sistematizando as leis trabalhistas em 1943. No entanto, diversas leis posteriores foram promulgadas, atendendo a uma necessidade de modernização das leis trabalhistas, especialmente para a promoção de normas de direito coletivo. 68 O movimento sindical, originado no país com os movimentos operários de trabalhadores imigrantes de origem européia, 69 tem assumido nos últimos anos um papel importante na solução dos conflitos do trabalho, ainda que estejam atrelados ao Estado, no aspecto legal, devido à legislação trabalhista que ainda vigora no país. 70 A Declaração da Conferência Internacional de Filadélfia, de 1944, afirmou que a liberdade sindical, enquanto dimensão da liberdade de expressão, é fundamental ao processo de desenvolvimento econômico de qualquer país. 71 Pedro Paulo Teixeira Manus ressalta a importância das negociações coletivas, que buscarão outras vantagens além daquelas constitucionais e derivadas da lei complementar ou ordinária, assim como a adequação de direitos genericamente assegurados à realidade a que se destinam. 72 O trabalho é, sem dúvida, peça fundamental na proteção à dignidade da pessoa humana, visto que, conforme entendimento de Ricardo Chimenti, a falta de trabalho tira a 61 Ibid., p. 275. 62 MARTINS, Sergio Pinto, op. cit., p.37. 63 SILVA, José Afonso da, op. cit., 2003, p. 292 a 296. 64 Ibid., p. 291-292. 65 Por exemplo: CF, arts. 5º, XIII; 6º; 7º; 8º; 194-204. 66 MORAES, Alexandre de, op. cit., p. 47. 67 MAIOR, Jorge Luiz Souto, op. cit., p. 34. 68 NASCIMENTO, Amauri Mascaro, op. cit., p. 52. 69 MANUS, Pedro Paulo Teixeira, op. cit., p. 29. 70 Ibid., p. 31. 71 CORRÊA, Lelio Bentes, op. cit., p. 57. 72 MANUS, Pedro Paulo Teixeira, op. cit., p. 276.

igualdade entre os homens, porque sem trabalho comprometem-se os demais direitos sociais: alimentação, moradia, educação, cultura, valores que só o trabalho pode oferecer. 73 2.2.3 Decisões jurisprudenciais A dignidade da pessoa humana, além de apresentar-se como princípio constitucional e fundamento da República 74, seu reconhecimento é uma forma de efetivação do Direito e um limite mínimo ao legislador. Utilizado com os mais diferentes propósitos nos Tribunais, o princípio da dignidade da pessoa humana é elemento de referência para a interpretação e aplicação das normas jurídicas, 75 e servindo como justificativa suficiente às decisões, o que demonstra a importância que este princípio tem adquirido. 76 Há vários exemplos demonstrativos da aplicação do princípio da dignidade da pessoa humana no Tribunal Superior do Trabalho e, inclusive, no Supremo Tribunal Federal. 77 Segundo Nestor Sampaio Penteado Filho, é vital para o sistema jurídico brasileiro a ideia de dignidade humana, pois o constituinte a inscreveu como fundamento republicano 78, conforme disposto no artigo 1, inciso III, da Constituição Federal brasileira. 79 Nesse sentido, decidiu o Supremo Tribunal Federal: A dignidade da pessoa humana é princípio central do sistema jurídico, sendo significativo vetor interpretativo, verdadeiro valor-fonte que conforma e inspira todo o ordenamento constitucional vigente em nosso País e que traduz, de modo expressivo, um dos fundamentos em que se assenta, entre nós, a ordem republicana e democrática consagrada pelo sistema de direito constitucional positivo. 80 Maria Cristina Irigoyen Peduzzi ressalta que, ao se tratar de direitos e liberdades fundamentais, é importante utilizar o direito como integridade, considerando a visão hermenêutica do direito, que deve se apoiar em fundamentos sustentados em princípios publicamente justificados, e não em valores individuais, aceitos sem a necessária abertura para o outro. 81 Ressalta Mauricio Godinho Delgado que a ideia de dignidade não se reduz, hoje, a uma questão estritamente particular, visto que o que se concebe inerente à dignidade da pessoa humana é também [...] a afirmação social do ser humano, onde desponta o trabalho. 82 Nesse sentido, Ricardo Cunha Chimenti chama a atenção para o fato de que o trabalho é direito social, e não direito individual, diferença que acarreta conseqüências jurídicas relevantes, isto porque os direitos sociais atribuem ao indivíduo direitos subjetivos em face do Estado. 83 Através da proteção do trabalhador no caso de desemprego involuntário, disposto na Constituição Federal em seu art. 7, inciso II, que se efetiva por meio do seguro- 73 CHIMENTI, Ricardo Cunha (et al.), op. cit., p. 537. 74 PEDUZZI, Maria Cristina Irigoyen, op. cit., p. 42. 75 GOMES, Dinaura Godinho Pimentel, op. cit., p. 28. 76 PEDUZZI, Maria Cristina Irigoyen, op. cit., p. 40. 77 PEDUZZI, Maria Cristina Irigoyen, op. cit., p. 38-39. 78 PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio, op. cit., p. 18. 79 Art. 1. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III a dignidade da pessoa humana. 80 HC 85.998 / PA (MC), rel. Min. Celso de Mello, decisão monocrática, j. 7-6-2005. DJU, 10-6-2005. 81 PEDUZZI, Maria Cristina Irigoyen, op. cit., p. 49. 82 DELGADO, Mauricio Godinho, op. cit., p. 78. 83 CHIMENTI, Ricardo Cunha (et al.), op. cit., p. 537.

desemprego 84, evidencia-se a interligação entre os conceitos de trabalho e dignidade da pessoa humana, 85 concluindo que não é possível a existência de bem-estar e justiça sem o trabalho. 86 No âmbito do Direito do Trabalho, ao mesmo tempo em que se defende a flexibilização, a redução, e até mesmo a desregulamentação de leis trabalhistas brasileiras, justificando-se serem excessivas e ultrapassadas, constata-se, pelo número de ações trabalhistas, o total desrespeito às legislações ordinárias e aos princípios fundamentais de proteção à dignidade da pessoa humana dispostos na Constituição Federal. Diariamente, constata-se nas audiências da Justiça do Trabalho que médias e grandes empresas não concedem o registro em Carteira de Trabalho de seus empregados, não respeitam o limite legal da jornada de trabalho, não remuneram as horas extraordinárias, e tampouco observam as condições de saúde e higiene no trabalho. 87 O Ministério Público do Trabalho tem conseguido excelentes resultados nas ações civis públicas ajuizadas contra empresas que se utilizam do trabalho análogo à condição de escravo, 88 importando, inclusive, na indenização por dano à coletividade o empregador que submete trabalhadores à condição degradante de escravo. 89 Entretanto, atualmente torna-se cada vez mais visível que, ao mesmo tempo que existe uma preocupação, inclusive de âmbito internacional, na proteção da dignidade da pessoa humana, é evidente a existência de lesões de toda ordem, que a violam. 90 Assim, os direitos humanos, de maneira geral, vivem uma situação contraditória, pois adquiriram força discursiva, mas não ameaçados de todos os lados, enquanto afirmaram-se como baliza da legitimidade institucional, mas sofrem rudes golpes de globalização econômica. 91 2.2.4 Desafios e perspectivas Fábio Konder Comparato alerta para o risco que os direitos trabalhistas vêm enfrentando nas últimas décadas, devido à predominância da economia no mundo, colocando o lucro acima de tudo, em um cenário onde o capitalismo financeiro tem levado alguns países a reduzir ou suprimir direitos trabalhistas fundamentais, universalmente reconhecidos, sob pretexto de uma mal denominada flexibilização das condições de trabalho em função da concorrência internacional. 92 Para José Damião de Lima Trindade, desde a década de 1980 o Direito do Trabalho vem encarando uma verdadeira crise, de maneira progressiva, percebida pelos frequentes ataques à legislação protecionista trabalhista em praticamente todos os países 93. 84 Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário. 85 CHIMENTI, Ricardo Cunha (et al.), op. cit., p. 538. 86 Ibid., p. 538. 87 GOMES, Dinaura Godinho Pimentel, op. cit., p. 93. 88 MARTINS, Sergio Pinto, op. cit., p. 87. 89 TRT 8ª R., 1ª T., RO 861/2003, j. 1.4.03, Rel. Juíza Maria Valquiria Norat Coelho, in Revista do Direito do Trabalho. São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 29, n 112, p. 334. 90 GUERRA, Sidney. Dignidade da pessoa humana: uma discussão à luz do direito constitucional e do direito internacional dos direitos humanos. In: FERREIRA JÚNIOR, Lier Pires; MACEDO, Paulo Emílio Vauthier Borges de Macedo (coords.). Direitos humanos e direito internacional. 1ª ed. 2ª reimpr. Curitiba: Juruá, 2009. p. 83. 91 ALVES, José Augusto Lindgren. Os direitos humanos na pós-modernidade. São Paulo: Perspectiva, 2005. p. 9. 92 COMPARATO, Fábio Konder, op. cit., p. 351. 93 TRINDADE, José Damião de Lima. Terá o direito do trabalho chegado a seu esgotamento histórico? In: SILVA, Alessandro da (Org.) et al. Direitos humanos: essência do direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2007. p. 49.

Os princípios adotados pelos economistas levam o governo a atuar em favor de um capitalismo de resultados, colocando a economia acima do que deveria ser o seu objetivo principal: a valorização do homem como integrante de uma sociedade mais justa. 94 Nosso país tem o dever constitucional de garantir a dignidade de seus trabalhadores. 95 No entanto, ao mesmo tempo em que a globalização apresenta vantagens, com a atração de investimentos externos e a criação de empregos onde a remuneração pelo trabalho é barata, vemos como resultado o enfraquecimento do Estado. 96 José Augusto Lindgren Alves sintetiza a realidade sobre a globalização no âmbito do trabalho: pode vir a ser até boa no futuro, como o tem sido no presente para determinados setores de muitas sociedades. Dificilmente o estará sendo para os que têm perdido empregos e a esperança de empregos. Dificilmente o será para aqueles que, a fim de manter o trabalho remunerado que os sustenta, aceitam forçadamente reduções salariais. Provavelmente nunca o será para a massa de excluídos do mercado, em todos os países atuais. 97 Para Amauri Mascaro Nascimento, a economia de mercado e a intensificação da competição entre as empresas levam-nas a reduzir custos, o que exerce forte influência no direito do trabalho, com propostas de flexibilização que refletem diretamente na sua função de proteção ao trabalhador. 98 Com isso, corre-se o risco de os direitos dos trabalhadores deixarem de ser considerados fundamentais, e voltarem a ser somente direitos civis e políticos. 99 Assim, diante da globalização econômica, objetiva-se a criação de uma nova ordem jurídica, onde as empresas possam ser fortalecidas enquanto as intervenções do Estado são reduzidas, restringindo direitos que assegurem proteção social ao trabalhador e defendendo a flexibilização, e até mesmo a desregulamentação, das legislações trabalhistas. 100 Ou seja, o poderio econômico impõe ao mundo inteiro um verdadeiro retrocesso, na medida em que busca consolidar a precarização das relações de trabalho e a consequente exploração sem limites dos trabalhadores. 101 A flexibilização dos direitos trabalhistas não é a solução para o atendimento das imposições da globalização econômica, uma vez que o verdadeiro problema está justamente no modelo econômico atual. Para Oscar Ermida Uniarte: o verdadeiro problema é um sistema econômico que destrói mais do que gera postos de trabalho. A substituição da mão-de-obra por tecnologia, a possibilidade técnica de produzir, com menos mão-de-obra, mais a conveniência economicista de manter um desemprego funcional são os reais problemas. 102 Segundo estimativas apresentadas pela Organização Internacional do Trabalho, em 1997, mais de 900 milhões de pessoas no mundo ficaram desempregadas ou subempregadas diante de diversas causas, como o avanço da tecnologia e a globalização da economia. Enquanto o avanço da tecnologia permitiu às empresas uma maior produtividade com um número menor de trabalhadores, a globalização da economia aumentou a competitividade do processo de produção em escala internacional. 103 94 MACIEL, José Alberto Couto. Desempregado ou supérfluo?: globalização. São Paulo: LTr, 1998. p.11 95 Ibid., p.16 96 ALVES, José Augusto Lindgren, op. cit., p. 211. 97 Ibid., p. 11. 98 NASCIMENTO, Amauri Mascaro, op. cit., p. 71. 99 ALVES, José Augusto Lindgren, op. cit., p. 212. 100 GOMES, Dinaura Godinho Pimentel, op. cit., p. 90-91. 101 MELO, Luís Antônio Camargo de. Trabalho escravo contemporâneo. Revista do Tribunal Superior do Trabalho. Brasília, v. 75, n. 1, jan/mar 2009. p. 94. 102 UNIARTE, Oscar Ermida. A flexibilidade. São Paulo: LTR, 2002. p. 59 apud GOMES, Dinaura Godinho Pimentel, op. cit., p. 229. 103 NASCIMENTO, Amauri Mascaro, op. cit., p. 55.

Para Ricardo Cunha Chimenti, é papel fundamental do Estado Democrático de Direito prestigiar o trabalho, que propicia sejam alcançados os objetivos fundamentais da República, principalmente a erradicação da pobreza e da marginalização e a redução das desigualdades sociais e regionais 104. Amauri Mascaro Nascimento ressalta que não podemos esquecer a função principal do Direito do Trabalho, que é a proteção e a coordenação das relações de trabalho: O debate sobre as funções do direito do trabalho não pode perder de vista as suas origens, nitidamente tutelares dos assalariados, inerentes à sua própria natureza, presentes em nossos dias, ao lado de imperativos de ordem econômica que acentuam a sua finalidade coordenadora entre o capital e o trabalho. 105 Sobre o reconhecimento dos direitos sociais, José Joaquim Gomes Canotilho ainda ressalta o princípio da proibição de retrocesso social, onde o núcleo essencial dos direitos sociais já realizado e efetivado através de medidas legislativas [...] deve considerar-se constitucionalmente garantido, sendo inconstitucionais quaisquer medidas estaduais que, sem a criação de outros esquemas alternativos ou compensatórios, se traduzam, na prática, numa anulação, revogação ou aniquilação pura e simples desse núcleo essencial. 106 Para Jorge Luiz Souto Maior, na medida em que os direitos sociais são aniquilados, sendo a única garantia de um mínimo de dignidade e justiça em uma sociedade capitalista, torna-se urgente a discussão sobre o atual modelo em que vivemos: faz-se, portanto, urgente reconhecer que o ataque aos direitos sociais [em especial aos direitos trabalhistas], sem que se traga uma discussão séria e verdadeiramente democrática sobre a reconstrução do modelo de sociedade [atualmente capitalista], constitui um grande risco para a estabilidade social, para a saúde e a vida de milhões de pessoas, e em escala mais ampla, para a própria paz mundial. 107 Segundo entendimento de Dinaura Godinho Pimentel Gomes, vivemos em uma sociedade de trabalho 108, onde para se ter uma vida digna, a maioria das pessoas depende do próprio trabalho. Assim, o aumento considerável do número de pessoas que passam fome por falta de trabalho somente pode ser explicado pela falta de direitos. 109 Apesar de fundamento do Direito do Trabalho, é evidente que a dignidade da pessoa humana ainda enfrenta sérios desafios, onde a flexibilização dos direitos trabalhistas, conquistados através de lutas, coloca em risco a proteção e garantia da dignidade da pessoa humana. 3 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO A metodologia utilizada para a investigação das questões propostas é a análise da dignidade da pessoa humana, dos direitos fundamentais e do Direito do Trabalho, tendo como base a pesquisa bibliográfica e jurisprudencial. A pesquisa abrange os conceitos de dignidade da pessoa humana e o seu acolhimento pela Constituição Federal brasileira, através dos direitos fundamentais; também traça um breve histórico do Direito do Trabalho e dos direitos fundamentais trabalhistas, analisando ainda decisões jurisprudenciais sobre a dignidade da pessoa humana no âmbito do Direito do Trabalho, bem como seus desafios e perspectivas. 104 CHIMENTI, Ricardo Cunha (et al.), op. cit., p. 537. 105 NASCIMENTO, Amauri Mascaro, op. cit., p. 71. 106 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 5 ed. Coimbra: Almedina, 2002. p. 337-338. 107 MAIOR, Jorge Luiz Souto, op. cit., p. 35. 108 GOMES, Dinaura Godinho Pimentel, op. cit., p. 17. 109 Ibid., p. 17.

4 RESULTADOS OBTIDOS Valorizar o trabalho significa valorizar o emprego e os direitos trabalhistas, promovendo a justiça social e a dignidade da pessoa humana através do amparo aos direitos fundamentais do trabalhador. Estudar a dignidade da pessoa humana e a sua vinculação com o Direito do Trabalho é necessidade que se impõe para garantir os direitos trabalhistas conquistados ao longo do tempo, reconhecidos e nos artigos 7 a 11 da Constituição Federal na Constituição Federal brasileira. Assim, podemos afirmar que é vital para o sistema jurídico brasileiro o amparo aos direitos fundamentais do trabalhador, que reforçam o Estado Democrático de Direito e promovem a justiça social através da valorização do trabalho, em reconhecimento ao direito assegurado a cada indivíduo de ter acesso aos instrumentos que lhe permitam uma vida digna, combatendo o desemprego e as condições subumanas de trabalho, como o trabalho escravo. Não podemos olvidar que a flexibilização, a redução, ou até mesmo a anulação dos direitos trabalhistas em prol de uma demanda econômica mundial ameaça o fundamento do Direito do Trabalho e o princípio mais importante da nossa própria Constituição Federal: a dignidade da pessoa humana. 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Cleber Francisco. O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana: o enfoque da doutrina social da igreja. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. ALVES, José Augusto Lindgren. Os direitos humanos na pós-modernidade. São Paulo: Perspectiva, 2005. ANDRADE, Vander Ferreira de. A dignidade da pessoa humana: valor-fonte da ordem jurídica. São Paulo: Cautela, 2007. BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Nova ed. 8. reimp. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 5 ed. Coimbra: Almedina, 2002. CAPLAN, Luciana. O direito do trabalho e a teoria crítica dos direitos humanos. In: SILVA, Alessandro da (Org.) et al. Direitos humanos: essência do direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2007. p. 257-263. CHIMENTI, Ricardo Cunha (et al.). Curso de direito constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 6 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008.

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