RELAÇÕES ENTRE ESTRESSE EM CUIDADORES DE PESSOAS COM DOENÇA DE ALZHEIMER E DISTÚRBIOS COMPORTAMENTAIS DOS PACIENTES RELATIONSHIP BETWEEN STRESS ON CAREGIVERS OF PEOPLE WITH ALZHEIMER'S DISEASE AND BEHAVIORAL DISORDERS OF PATIENTS Ana Virgínia de Castilho Santos Curiacos - avcastilhosc@gmail.com Graduanda em Psicologia Unisalesiano Lins Prof. Dr. Luiz Carlos de Oliveira Unisalesiano Lins - lcolivei.blv@terra.com.br RESUMO O cuidador da pessoa com Doença de Alzheimer (DA), quer seja um parente ou profissional contratado, pode sofrer sobrecarga em diversas dimensões da vida como física e emocional. Esta sobrecarga pode ser refletida nos níveis de estresse nestes indivíduos. Algumas fases da doença podem promover que algumas pessoas com a DA tenham distúrbios comportamentais. O presente estudo tem por objetivo investigar as relações entre distúrbios comportamentais de pessoas com DA e o estresse no cuidador. Para isso, foi realizado um estudo transversal com a aplicação do inventaria neuropsiquiátrico e estresse do cuidador estruturados e direcionado ao cuidador principal. Como resultados foram obtidos que os distúrbios mais encontrados foram apatia, ansiedade, desinibição, irritabilidade, depressão, delírio e alucinações, tendo maior intensidade a apatia, desinibição, irritabilidade, depressão, delírio, ansiedade e comportamentos noturnos. Ao cuidador, os distúrbios que mais são geradores de estresse foram a apatia, depressão, ansiedade e irritabilidade. Desta forma, pode ser concluído que a presença de distúrbios neuropsiquiátricos podem causar sobrecarga no cuidador. Palavras-chave: Doença de Alzheimer. Cuidadores. Qualidade de vida. INTRODUÇÃO A expectativa de vida para o ser humano teve um grande aumento no século passado a partir da descoberta da penicilina, continuando no século presente nos diversos países, inclusive no Brasil, estando atualmente em torno de 74,9 anos, apresentando aumento de 12,4 anos nos últimos 33 anos, ou seja, entre 1980 e 2013 (IBGE, 2013). Em conjunto, a prevalência de doenças crônico-degenerativas também aumentou, dentre elas as demências como a Doença de Alzheimer (APRAHAMIAN et al., 2009). Os cuidadores das pessoas com DA podem ter uma carga de estresse e tensão que conduzem a alterações físicas e psicológicas que prejudicam sua qualidade de vida e a dedicação ao doente, necessitando de atenção e cuidados psicológicos e físicos (LUZARDO & WALDMAN, 2004; LEMOS et al., 2006; PINTO Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano Lins SP, ano 7, n.14, jan-jun de 2016 Edição Especial 1257
et al., 2009). Após revisão da literatura, Falcão e Bucher-Maluschke (2002) concluem que a DA configura-se como um problema que pode alcançar a vida pessoal e familiar dos cuidadores em diversas dimensões como física, emocional e financeira. O estresse aumentado, bem como ansiedade, depressão e medo fazem com que o cuidador necessite de uma intervenção que o ajude a lidar com a situação na qual está mergulhado, gerando um suporte e amparo para que possam estar mais aptos a lidar e adaptar-se frente à condição de cuidador (IAVARONE et al., 2014). Existem alterações neuropsiquiátricas que podem afetar as pessoas com DA, como alterações do humor e do sono, psicose, agitação psicomotora e agressividade e essas alterações podem afetar os cuidadores(cummings, 2004). OBJETIVOS O objetivo deste estudo foi investigar as relações entre distúrbios comportamentais em pessoas com DA e níveis de estresse em seus cuidadores. METODOLOGIA O projeto de extensão Mente Ativa atende atualmente 5 pacientes e seus cuidadores. Os cuidadores recebem apoio psicológico. Imediatamente após a inscrição no projeto, os cuidadores foram convidados a responder aos questionários abaixo descritos. Sujeitos da pesquisa Os sujeitos da pesquisa são cuidadores de pessoas com DA dos gêneros masculino e feminino, na faixa etária entre 50-70 anos. Aspectos éticos O projeto foi submetido para apreciação junto ao comitê de ética do Unisalesiano (Araçatuba) e recebeu sua aprovação. Os cuidadores assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano Lins SP, ano 7, n.14, jan-jun de 2016 Edição Especial 1258
Avaliações Para avaliação das alterações comportamentais e estresse no cuidador foi utilizado o inventário neuropsiquiátrico (CUMMINGSet al., 2004). Análise Para a análise dos resultados, foram realizadas as somas dos sintomas apresentados no último mês (0 ou 1), do nível de severidade destes sintomas (1-3) e da sobrecarga para o cuidador (0-4). RESULTADOS PRELIMINARES Tabela 1 Sintomas Sintoma Prevalência Intensidade Estresse Total % Soma média Soma média Delírio 2 40 5 2,5 2 1 Alucinações 2 40 4 2 1 1 Agressividade 1 20 2 2 1 1 Depressão 3 60 6 2 6 3 Ansiedade 4 80 5 1,25 6 1,5 Euforia 0 0 Apatia 5 100 9 1,8 9 2,25 Desinibição 4 80 8 2 4 1,3 Irritabilidade 3 60 6 2 4 1,3 Distúrbio motor 0 0 Comportamentos noturnos 2 40 5 2,5 2 1 Apetite 1 20 2 2 SOMA ou MÉDIA S=27 M=45 S=52 M=2 S=35 M=1,5 Fonte: Elaborada pela autora. Dentre os resultados encontrados, pode ser destacado que a apatia foi um sintoma encontrado em todos os casos e a ansiedade e desinibição em 80% dos casos estudados. Depressão e irritabilidade foram apontadas por 60% dos participantes, delírio, alucinações e comportamentos noturnos por 40%, enquanto Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano Lins SP, ano 7, n.14, jan-jun de 2016 Edição Especial 1259
agressividade e apetite por 20%. Todavia, euforia e distúrbio motor não foram apontados como sintomas comportamentais dos pacientes cujos cuidadores participaram deste estudo. Os dados supracitados apresentam os sintomas de maior prevalência, porém uma informação complementar é a intensidade destes sintomas. Para isso, é interessante observar a média da intensidade destes sintomas. O delírio e comportamentos noturnos foram os sintomas com maior intensidade (2,5). Os sintomas alucinações, agressividade, depressão, desinibição, irritabilidade e apetite foram apresentados com intensidade 2, seguidos por apatia (1,8) e ansiedade (1,25) que formam os sintomas de menor intensidade. Outro conjunto de resultados encontrados no presente estudo refere-se ao estresse relatado pelo cuidador frente aos sintomas do paciente. Desta forma, foram encontrados a depressão e a apatia como os fatores que mais causam estresse no cuidador, seguidos por ansiedade (1,5) desinibição e irritabilidade (1,3). Delírio, alucinações, agressividade e comportamentos noturnos foram relatados como fatores menores de estresse enquanto alterações no apetite não foi considerado gerador de estresse por nenhum dos participantes. Como conclusão, o presente estudo aponta para prevalência média de 45% dos 12 distúrbios comportamentais apresentados no inventário neuropsiquiátrico em pessoas com DA, sendo apatia, ansiedade e desinibição, os distúrbios mais prevalentes.a intensidade (1-3) teve média 2 sendo o delírio e comportamentos noturnos os mais intensos. Todavia, a sobrecarga experimentada pelo cuidador (0-4) foi apresentada como 1,5, sendo a depressão e a apatia os fatores mais estressantes. REFERÊNCIAS APRAHAMIAN, Ivan; MARTINELLI, José Eduardo; YASSUDA, MônicaSanches. Doença de Alzheimer: revisão da epidemiologia e diagnóstico. Rev Bras Clin Med, v. 7, n. 5, p. 27-35, 2009. CUMMINGS, J.L. Reduction of behavioral disturbances amdcaregives distress by galantamine in patients with Alzheimer Disease. Am J. Psychiatry, 161, p. 532-538, 2004. Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano Lins SP, ano 7, n.14, jan-jun de 2016 Edição Especial 1260
DA SILVA FALCÃO, Deusivania Vieira; BUCHER-MALUSCHKE, Júlia Sursis Nobre Ferro. Cuidar de familiares idosos com a doença de alzheimer: uma reflexão sobre aspectos psicossociais. Psicologia em Estudo, v. 14, n. 4, p. 777-786, 2009. IAVARONE, Alessandro et al. Caregiver burden and coping strategies in caregivers of patients with alzheimer s disease. Neuropsychiatricdiseaseandtreatment, v. 10, p. 1407, 2014. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Tábuas Completas de Mortalidade 2013. LEMOS, Naira Dutra; GAZZOLA, Juliana Maria; RAMOS, Luiz Roberto. Cuidando do paciente com Alzheimer: o impacto da doença no cuidador., v. 15, n. 3, p. 170-9, 2006. LUZARDO, Adriana; WALDMAN, Beatriz Ferreira. Atenção ao familiar cuidador do idoso com doença de Alzheimer. Acta sci., Health sci, v. 26, n. 1, p. 135-145, 2004. PINTO, Meiry Fernanda et al. Qualidade de vida de cuidadores de idosos com doença de Alzheimer. Acta Paul Enferm, v. 22, n. 5, p. 652-7, 2009. Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano Lins SP, ano 7, n.14, jan-jun de 2016 Edição Especial 1261