EDUCAÇÃO CIENTÍFICA E METODOLOGIA DE ENSINO DE BIOLOGIA: UMA EXPERIÊNCIA EM CONFECÇÃO E UTILIZAÇÃO DE VÍDEOS NA SALA DE AULA



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Transcrição:

EDUCAÇÃO CIENTÍFICA E METODOLOGIA DE ENSINO DE BIOLOGIA: UMA EXPERIÊNCIA EM CONFECÇÃO E UTILIZAÇÃO DE VÍDEOS NA SALA DE AULA Alice Melo Ribeiro (Docente da Universidade de Brasília) Rejane Caixeta (Professora da Secretaria de Estado de Educação do DF e Mestra do Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências da Universidade de Brasília) Marina Lima (Aluna licencianda em Ciências Biológicas da Universidade de Brasília) Neste relato de experiência, alunos do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade de Brasília foram convidados, durante a disciplina Metodologia do Ensino de Biologia, a investigar o uso, confeccionar e utilizar vídeos científicos durante aulas de Biologia para o Ensino Médio. No início do semestre, foi realizada uma reflexão sobre o ensino de Biologia e as expectativas em relação à disciplina. Ao final, a proposta transformou-se em uma grande oficina de criação e reflexão, em busca de inovações para o ensino de Biologia. Os licenciandos alcançaram parcialmente ou totalmente seus objetivos iniciais e a docente responsável pôde avaliar novas possibilidades em sua disciplina. Palavras-chave: Ensino de Biologia, Formação de Professores, Metodologia de Ensino. 246

Introdução Nas duas últimas décadas do século XX, ocorreu uma grande inclusão de novos recursos tecnológicos na sociedade. No âmbito educacional, a utilização desses novos recursos é um importante aliado no processo de ensino e aprendizagem de conceitos devido à dinamização da prática pedagógica. (VASCONCELOS; LEÃO, 2009). O vídeo é um dos recursos pedagógicos em que os alunos entram em contato com o conteúdo na forma de imagens e som despertando outros sentidos e possibilitando ao professor explorar tanto a contextualização da matéria quanto propor um planejamento interdisciplinar. Este recurso em sala de aula serve tanto como introdutor de um conteúdo específico, como complementar a outros conteúdos já trabalhados, além de funcionar como finalizador de um tema. Também pode ser visto quando o conteúdo é muito abstrato ou demanda muitas imagens para ser trabalhado. Vídeos prontos abordando assuntos ligados à Ciências e à Biologia têm sido disponibilizados em muitos sítios, mas neste trabalho o desafio foi não apenas a demonstração de um vídeo e suas possibilidades, mas também a construção e elaboração desse recurso, pois elaborar um vídeo proporciona ao professor atuar como protagonista de seu tempo e de trabalhar somente com o que ele realmente pretende compartilhar com seus alunos. Ao realizar essa atividade o professor compreende que pode elaborar seu material de trabalho, adequado a seus objetivos e motivar seus alunos, pois certamente o recurso elaborado por ele estará mais próximo da realidade desse aluno e interligado aos pré-requisitos que ele deve ter alcançado. Assim, ao construir esse recurso o professor aumenta sua autoestima, sua autonomia e desenvolve várias habilidades ao elaborar um roteiro, desenvolver a leitura e a escrita, delimitando os objetivos da aula, exercita sua fala e tem contato com as tecnologias da comunicação e informação (TIC). Trabalhando desta forma, os licenciandos poderiam sentir-se mais seguros e com autoestima mais elevada, sentindo-se preparados para assumirem uma sala de aula. Neste trabalho acompanhamos alunos licenciandos em Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (UnB) na disciplina Metodologia do Ensino de Biologia, no segundo semestre de 2013. O objetivo do trabalho foi investigar e analisar, juntamente com os alunos de graduação, a confecção e utilização de vídeos científicos com ênfase no currículo do Ensino Médio, componente curricular Biologia. 247

Metodologia No primeiro encontro da disciplina Metodologia do Ensino de Biologia, antes mesmo da ementa ser entregue, ou seja, sem saber as atividades previstas do curso, os alunos foram convidados a realizarem uma reflexão sobre o ensino de Biologia: a adequação dos temas, atividades práticas em sala de aula e novas metodologias de ensino, além de serem questionados sobre suas expectativas em relação à disciplina, respondendo à pergunta: Afinal, o que eu gostaria de aprender em Metodologia do Ensino de Biologia?. Após esta reflexão, observou-se que a busca por novos recursos e materiais didáticos é de extrema importância e urgência para o ensino médio, visto que os alunos são jovens, adolescentes, e que muitas das vezes as aulas de Biologia são teóricas em excesso. Sabendo que uma das propostas da disciplina era realizar um projeto que pudesse ser inserido durante uma aula de 50 minutos, após breve discussão surgiu o tema vídeo, recurso didático escolhido para ser trabalhado, objetivando tornar as aulas mais atrativas e dinâmicas e, mais que isso, a proposta de confecção de um vídeo pelos próprios alunos e, apesar de ninguém possuir o conhecimento técnico necessário para tal atividade, pelo menos um componente dos grupos formados sabia ou conhecia alguém que soubesse manipular algum editor de vídeo gratuito e de interface simples. Ao longo do semestre, os grupos encontraram-se em horários comuns no Laboratório de Ensino de Biologia do Núcleo de Educação Científica para o Ensino de Biologia (NECBio/IB/UnB) para o planejamento e discussão sobre a confecção dos vídeos. Cada grupo era livre para escolher o tema, desde que constante do currículo do Ensino Médio, a técnica, o local para filmagens, as personagens e tudo o que fosse relacionado à sua criação. O resultado foram vídeos variados, curtos, com aproximadamente cinco a dez minutos, criativos e inéditos, dentre eles sobre tipagem sanguínea, no qual o grupo filmou seus próprios componentes realizando a antiga prática de furar o dedo com uma lanceta e fazer as gotas de sangue reagirem com os soros anti-a, anti-b e anti-d, fazendo as posteriores edições necessárias, incluindo explicações escritas de acordo com o resultado obtido. Outro exemplo é de um vídeo sobre mitose e meiose, que por ser uma matéria que possui muitas figuras e muitas fases a serem explicadas, a técnica utilizada pelo grupo foi a chamada "time lapse", onde desenhou-se no quadro branco as figuras das fases mitóticas e meióticas, que foram posteriormente fotografadas e inseridas no vídeo como uma animação. Assim, a turma vivenciou a prática didática, utilizando os recursos geralmente usados no ensino médio: livro didático, quadro branco ou negro e também o vídeo produzido. 248

Os demais vídeos não serão detalhados por não ser este o objetivo do presente relato de experiência, que visa demonstrar, principalmente, que a utilização dos mesmos deu um maior dinamismo às aulas de ciências, além de ter se mostrado um importante motivador para os futuros professores.. Resultados e Discussão No início do período letivo, os alunos presentes na sala de aula, cerca de 20 alunos, relataram, em uma folha de papel, suas expectativas em relação à disciplina. Dentre os relatos, alguns foram desprezados por não se conseguir extrair nenhuma informação relevante ao nosso objetivo e apenas quatorze (de um total de 20) deles foram aproveitados para extração dos dados que seguem. Como as expectativas em relação à disciplina foram muito diversas, pudemos separar em categorias. É importante salientar que um mesmo aluno pode ter citado apenas uma ou mais de uma expectativa. Foi possível constatar que exatamente metade da turma citou mais de uma. Algumas delas foram muito mencionadas (ver figura 1), como aprender técnicas e metodologias que facilitassem e/ou diferenciassem a prática pedagógica, citada por aproximadamente 64% da turma. Neste grupo estão incluídos os alunos que esperavam uma preparação, ou seja, técnicas de forma clara e objetiva que fossem capazes de torná-los bons professores. Parte dos alunos, cerca de 21%, disseram que gostariam de aprender como se comportar, englobando aspectos de linguagem corporal e verbal que fossem mais adequados à faixa etária do Ensino Médio regular. Esta mesma porcentagem da turma esperava que a disciplina pudesse ser capaz de despertar o interesse na prática docente, porém haviam se matriculado por ser uma disciplina obrigatória no currículo. Expectativas que também estavam presentes, porém em apenas 14% da turma, eram aprender como ministrar determinado conteúdo considerado complexo ou polêmico. O mesmo número de alunos possuía boas expectativas por considerarem a disciplina importante na formação acadêmica, tanto para a Licenciatura como para o Bacharelado. E, 7% deles, esperavam aprimorar a formação pedagógica de uma maneira mais prática e contemporânea. 249

70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% A B C D E F G A - Aprender técnicas e metodologias B - Como comportar-se C - Despertar o interesse na docência D - Disciplina obrigatória E - Importante na formação acadêmica F - Ministrar determinado conteúdo G - Formação prática e contemporânea Figura 1 Porcentagem dos alunos em relação às categorias citadas. Durante as apresentações dos vídeos, inseridos em uma aula com duração de 50 minutos, os alunos avaliaram os trabalhos desenvolvidos pelos colegas. Esta avaliação foi feita da mesma forma que as expectativas, de uma forma livre e escrita em uma folha de papel. Não havia um questionário a ser respondido, tampouco itens a serem avaliados. Cada aluno escreveu o que mais o marcou durante as apresentações. Apenas onze avaliações foram utilizadas para a coleta dos dados a seguir. Mais da metade dos participantes, cerca de 54%, acreditaram que os exemplos utilizados nos vídeos relacionados com o cotidiano, aproximaram o conteúdo da realidade e isto facilitou o entendimento da matéria abordada na aula. Alguns alunos, aproximadamente 36%, verificaram a importância do vídeo durante as aulas na ajuda da compreensão do tema, vários chegaram a utilizar a palavra essencial para constatar essa importância. E, esta mesma porcentagem de alunos, concluíram que o dinamismo do vídeo é capaz de despertar e prender a atenção e o interesse da plateia, principalmente os da faixa etária do público alvo. Além disso, 9% consideraram que a aula tornou-se mais interativa com o uso deste recurso. Apesar do receio inicial da turma em elaborar vídeos sem o conhecimento técnico necessário, 18% deles consideraram os vídeos bem editados e esta mesma quantidade de alunos os classificaram como ótimos materiais para estudo. Apenas 9% julgaram a utilização do vídeo pouco útil, por possuir somente alguns momentos interessantes e afirmaram que o uso de slides provocaria o mesmo efeito. A maioria da turma, cerca de 72%, mencionaram mais de um item dos supracitados. 250

60% 50% 40% 30% A - Aproximação do conteúdo com a realidade B - Essencial durante a aula C - Desperta a atenção D - Dinâmico 20% 10% 0% A B C D E F G E - Bem editado F - Material para estudo G - Pouco útil Figura 2 Avaliação dos vídeos e porcentagem dos alunos. Após a apresentação desses vídeos os alunos socializavam suas experiências, dificuldades de realização, como se deu a escolha do tema, se o vídeo caberia em qualquer momento da aula, e principalmente, as possibilidades de aplicação em sala de aula também eram avaliados pelos colegas, sempre lembrando de fazer críticas construtivas ao grupo que estava apresentando seu vídeo. Os resultados da pesquisa mostram que a maioria dos alunos achou que os vídeos cumpriram a tarefa de aproximar o conteúdo e apresentá-lo de forma mais contextualizada favoreceu o processo de ensino-aprendizagem. Tornar a aula mais dinâmica e participativa também foi um ponto positivo que os licenciandos encontraram na produção e edição desses vídeos. E, apesar do trabalho ter sido considerado árduo pela falta de competência técnica de grande parte dos alunos, os vídeos foram editados de forma adequada aos objetivos do trabalho. Diferentemente das formas anteriores de obtenção dos dados, ou seja, totalmente livre, a atividade que concluiu a disciplina foi um questionário, no qual a professora levava os alunos a uma reflexão de todo o trabalho realizado durante o semestre. Primeiramente, os alunos receberam as expectativas iniciais que foram escritas no início da disciplina e, em seguida foi solicitado que lessem e analisassem se suas concepções haviam mudado nesse período. O questionário contendo quatro perguntas foi entregue para que eles respondessem. 251

A primeira pergunta confrontava as ideias que eles tinham no início da disciplina com as que eles passaram a ter no final. Questionava se as expectativas com relação à disciplina foram atingidas completamente, parcialmente, estavam erradas ou não foram aplicadas. As expectativas de 67% dos alunos foram atingidas parcialmente e 33% foram atingidas completamente. A maioria comentou a possibilidade de colocar em prática a teoria. Desta forma os vídeos puderam contribuir para que eles se fortalecessem e percebessem que são capazes de produzir seu material pedagógico e que é possível compartilhar um conteúdo de outra forma, que não apenas teórico. Outros perceberam que pode haver diversas situações e que para cada uma delas é preciso adaptar-se, sempre flexibilizando o planejamento. Também observaram que outras habilidades puderam ser desenvolvidas na elaboração e construção dos vídeos, que podem ser usadas para preparação de outros recursos para suas aulas, como a criação de uma paródia utilizada por um dos grupos. A terceira pergunta queria saber qual a postura do licenciando nesta disciplina e sua autoavaliação. 67% dos alunos se disseram participativos e ativos durante a realização das atividades da disciplina, afirmando que gostaram de ter contato com outras formas de dar aula e perceberam as diversas possibilidades de abordagem dos conteúdos. 33% consideraram-se passivos. Esta passividade foi atribuída à alguns problemas de grupo e admitiram que não houve muito empenho. Ainda assim, na autoavaliação, as notas SS (41%) e MS (33%) foram maioria dos alunos. Apenas 8% disseram merecer MM e 16% não deram suas menções. A quarta questão foi aparentemente a mais reveladora, pois perguntava se eles gostariam de serem professores de Biologia do Ensino Médio e 67% responderam que sim e 33% disseram que não. Esta experiência com confecção de vídeos didáticos mostrou aos alunos que não existe nenhuma técnica que facilite a prática pedagógica, como era esperado por aproximadamente 64% da turma num primeiro momento, mas sim a possibilidade de inclusão em suas aulas de novas metodologias, e isto os tornou mais seguros para enfrentar as dificuldades que a profissão apresenta, trazendo um sentimento de capacidade de que eles podem ser protagonistas de seu trabalho, motivando-os a cada vez mais buscar nas tecnologias novas formas de construção, com seus futuros alunos, de um aprendizado mais eficiente e prazeroso. 252

Referências: ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini de; MORAN, José Manuel. Integração das tecnologias na educação salto para o futuro. Secretaria de Educação a Distância. Brasília: Ministério da Educação, 2005. LOPES, Eloisa Assunção de Melo. Vídeo como ferramenta no processo formativo de licenciandos em educação do campo. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências). Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências, Universidade de Brasília, Brasília, 2014. POMBO, Lúcia; MARTINHO, Tânia. Potencialidades das TIC s no ensino das ciências naturais um estudo de caso. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias, Vol.8, Nº2, 2009. ROSA, Paulo Ricardo da Silva. O uso dos recursos audiovisuais e o ensino de ciências. Departamento de Física, UFMS, Campo Grande, MS, 2000. VASCONCELOS, Flávia Cristina Gomes Catunda; LEÃO, Marcelo Brito Carneiro. O vídeo como recurso didático para ensino de ciências: uma categorização inicial. In: IX Jornada de Ensino, Pesquisa e Extensão - IX JEPEX, 2009, Recife - PE. Disponível em: http://www.eventosufrpe.com.br/jepex2009/cd/resumos/r0315-1.pdf. Acesso em: 05/04/2014 253