Estudo das vogais médias pretônicas nos nomes no dialeto de. da Otimalidade. Marlúcia Maria Alves Universidade Federal de Uberlândia maio/2009

Documentos relacionados
O comportamento fonológico das vogais médias em posição pretônica no dialeto de Belo Horizonte

HARMONIA VOCÁLICA NO DIALETO DE BELO HORIZONTE

a) houve uma mudança na direção de cliticização do PB (NUNES, 1996); b) os pronomes retos estão sendo aceitos em função acusativa;

Caracterização fonológica dos segmentos vocálicos em Prata - MG

RESENHA DE EXERCÍCIOS DE FONÉTICA E FONOLOGIA, DE THAÏS CRISTÓFARO-SILVA

A harmonização vocálica nas vogais médias pretônicas dos verbos na

RESENHA DE TEORIA DA OTIMIDADE: FONOLOGIA

PROGRAMA DA DISCIPLINA DE FONOLOGIA

Universidade Federal do Rio de Janeiro Faculdade de Letras Comissão de Pós-Graduação e Pesquisa DO TRATAMENTO FORMAL DA FALA CONECTADA EM FRANCÊS

Aquisição do sistema vocálico: caminhos da L1 e da L2

XVIII CONGRESSO NACIONAL DE LINGUÍSTICA E FILOLOGIA

Fonologia Aula # 08 Outros Modelos Fonológicos

Fonêmica. CRISTÓFARO SILVA, Thaïs. Fonética e fonologia do português: roteiro de estudos e guia de exercícios. 9. ed. São Paulo: Contexto, 2009.

Aquisição da Fonologia e Teoria da Otimidade

Variação linguística e o ensino de Língua Portuguesa Prof.ª Dr.ª Marlúcia Maria Alves 1 (UFU)

VARIAÇÃO LINGÜÍSCA E REPRESENTAÇÃO SUBJACENTE * KEYWORD: OT; Language Variation; Underlying Representation.

SINTAXE E PROSÓDIA NA ORGANIZAÇÃO DA ESTRUTURA FRASAL DO PORTUGUÊS: UM ESTUDO DA DISTRIBUIÇÃO SINTÁTICA ENTRE ADVÉRBIOS E COMPLEMENTOS 1

O ESTATUTO DA PALAVRA PROSÓDICA NO PORTUGUÊS BRASILEIRO 63 Sofia Martins Moreira Lopes (UFMG)

A fricativa coronal /z/ em final de morfemas no PB Uma análise pela Teoria da Otimidade

TAÍSE SIMIONI A ALTERNÂNCIA ENTRE DITONGO CRESCENTE E HIATO EM PORTUGUÊS: UMA ANÁLISE OTIMALISTA

Assimetrias nos encontros de sibilante + C e obstruinte + C em início de palavra em português e em catalão

Aula 6 Desenvolvimento da linguagem: percepção categorial

Observações Morfofonológicas na Análise dos Acrônimos de Duas Letras: uma Visão Otimalista

AS VOGAIS PRETÔNICAS [-BX] NO DIALETO CARIOCA: UMA ANÁLISE ACÚSTICA

FONOLOGIAS DE LÍNGUAS MACRO-JÊ: UMA ANÁLISE COMPARATIVA VIA TEORIA DA OTIMALIDADE

O PAPEL DA SONORIDADE NA REALIZAÇÃO DOS ENCONTROS CONSONANTAIS EM PORTUGUÊS: UMA ANÁLISE BASEADA EM RESTRIÇÕES

Bruno Cavalcanti Lima 1.

Juliana Ludwig-Gayer 1

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PELOTAS ESCOLA DE EDUCAÇÃO CURSO DE MESTRADO EM LETRAS A FONOLOGIA NA AQUISIÇÃO PRECOCE DE UMA LE.

SOBRE A INTERAÇÃO ENTRE PALAVRA FONOLÓGICA E PALAVRA MORFOLÓGICA NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

Minas Gerais pertence à área de falar baiano, à área de falar sulista, à área de falar fluminense e à área de falar mineiro, conforme Nascentes (1953)

DESCRIÇÃO E ANÁLISE DO SISTEMA VOCÁLICO PRETÔNICO DAS CIDADES DE PATROCÍNIO E PERDIZES

GERADOS. Juliene Lopes R. Pedrosa 1 Dermeval da Hora 2.

VARIAÇÃO INTER- E INTRA-DIALETAL NO PORTUGUÊS BRASILEIRO: UM PROBLEMA PARA A TEORIA FONOLÓGICA

FORMALIZAÇÃO DA VARIAÇÃO FONOLÓGICA NA AQUISIÇÃO

Hiato: estratégias de evitação.

ATAQUE COMPLEXO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

Fonêmica do português

SÍNCOPE VOCÁLICA NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

Prefácio índice geral Lista das abreviaturas 14 Lista dos símbolos 16 Introdução geral 17

HARMONIA VOCÁLICA NO DIALETO RECIFENSE VOWEL HARMONY IN RECIFE DIALECT

Módulo 01: As distintas abordagens sobre a linguagem: Estruturalismo, Gerativismo, Funcionalismo, Cognitivismo

Apresentação 11 Lista de abreviações 13. Parte I: NATUREZA, ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA LINGUAGEM

Ainterpretação da elevação da vogal média como neutralização deve-se

Aquisição dos ditongos orais decrescentes: contribuições da teoria da otimidade conexionista

A NASALIDADE FONOLÓGICA NO PORTUGUÊS E SUAS RESTRIÇÕES. Leda Bisol 1

A atribuição do acento dos vocoides altos em Português Brasileiro

A ELISÃO DA VOGAL /o/ EM FLORIANÓPOLIS-SC RESULTADOS PRELIMINARES

AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM

ABORDAGEM OTIMALISTA DA AUSÊNCIA DE ASSIMILAÇÃO REGRESSIVA DE VOZEAMENTO DIANTE DE VOGAL NO PORTUGUÊS COMO L2 POR APRENDIZES ANGLÓFONOS

O ALÇAMENTO DAS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS /E/ E /O/ SEM MOTIVAÇÃO APARENTE: UM ESTUDO EM TEMPO REAL

AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE TONICIDADE E DISTINÇÃO DE OCLUSIVAS SURDAS E SONORAS NO PB

Márcia Cristina do Carmo. As vogais médias pretônicas na variedade do interior paulista

Em busca da melodia nordestina: as vogais médias pretônicas de um dialeto baiano

CADA PAÍS TEM UMA LÍNGUA DE SINAIS PRÓPRIA E A LIBRAS É A LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

O PROCESSO VARIÁVEL DO ALÇAMENTO DAS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS NO MUNICÍPIO DE ARAGUARI-MG

O papel do léxico na aquisição das fricativas interdentais do inglês: uma abordagem via Teoria da Otimidade Conexionista

FALA: DAS MARGENS DA LINGUÍSTICA AO LÓCUS DA AQUISIÇÃO FONOLÓGICA *

HARMONIA VOCÁLICA DE ALTURA NO PORTUGUÊS BRASILEIRO EM FORMAS NOMINAIS NÃO DERIVADAS: ANÁLISE DE UM PROCESSO VARIÁVEL PELA TEORIA DA OTIMIDADE

Simetrias e assimetrias no mapeamento de sequências consonantais iniciais em português e em catalão

O SISTEMA VOCÁLICO PRETÔNICO DO TRIÂNGULO MINEIRO ENFOQUE SOBRE AS CIDADES DE COROMANDEL E MONTE CARMELO

A PRODUÇÃO DE / / EM CONTEXTO BILÍNGÜE (PORTUGUÊS/ ALEMÃO): UM ESTUDO DE CASO

Abertura das vogais médias pretônicas na cidade de Piranga/MG

Disparidades entre Input e Output em Sequências Vocálicas: Equilibrando Contraste e Marcação nas Gramáticas das Línguas Naturais

O Segmento Lateral /l/ em Rima Interna. Sonoridade e Nuclearização em Português Europeu. *

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos

As vogais médias pretônicas no noroeste paulista: comparação com outras variedades do Português Brasileiro

Estudo comparativo do alçamento das vogais pretônicas em Ouro Branco e Piranga/MG

A FORMALIZAÇÃO DA ASSIMETRIA DA LATERAL EM ONSET E EM CODA DE SÍLABA NO PORTUGUÊS DOS CAMPOS NEUTRAIS PELA OT ESTOCÁSTICA

Guião 1 Anexo (v1.0) 2. Do léxico à frase 2.1. Classes de palavras e critérios para a sua identificação

A interação entre acento e processos de (re)estruturação silábica: um desafio para

O PORTUGUÊS BRASILEIRO CANTADO

A INFLUÊNCIA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO NA FALA DE PORTUGUESES: O CASO DA HARMONIA VOCÁLICA

6LEM064 GRAMÁTICA DA LÍNGUA ESPANHOLA I Estudo de aspectos fonético-fonológicos e ortográficos e das estruturas morfossintáticas da língua espanhola.

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE LETRAS

Fonologia - Aula # 06 26/05/09

Fonologia. Sistemas e padrões sonoros na linguagem. Sónia Frota Universidade de Lisboa (FLUL)

APAGAMENTO DA VOGAL ÁTONA FINAL EM ITAÚNA/MG E ATUAÇÃO LEXICAL

APAGAMENTO DA VOGAL ÁTONA FINAL EM ITAÚNA/MG E ATUAÇÃO LEXICAL. Redução/apagamento. Vogal. Dialeto mineiro. Léxico. Variação fonético-fonológica.

O ALÇAMENTO DAS VOGAIS MÉDIAS ALTAS PRETÔNICAS NA FALA DOS HABITANTES DE COROMANDEL-MG E MONTE CARMELO-MG 1

As vogais médias pretônicas dos verbos no dialeto do noroeste paulista: análise sob a perspectiva da Teoria Autossegmental

PLANO DE ENSINO DADOS DO COMPONENTE CURRICULAR

Universidade Federal do Rio de Janeiro

A SÍLABA E A EMERGÊNCIA DE CONSOANTES NA AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM

ITINERÁRIO BIBLIOGRÁFICO PARA O ESTUDO EM FONOLOGIA

Giovana Ferreira-Gonçalves 1 Gabriel de Ávila Othero 2

A interação entre acento e sílaba na aquisição da linguagem: um exemplo de marcação posicional

Interpretar discursos orais com diferentes graus de formalidade e complexidade. Registar,

Athany Gutierres * PALAVRAS-CHAVE: Aquisição. Variação. TO Estocástica. GLA. Nasal velar.

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA CÂMPUS DE ARARAQUARA FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS

QUE ESTRATÉGIAS UTILIZAM CRIANÇAS DAS SÉRIES INICIAIS PARA A EVITAÇÃO DO HIATO? GRASSI, Luísa Hernandes¹; MIRANDA, Ana Ruth Moresco 2. 1.

FUSÃO E ESPALHAMENTO NAS LÍNGUAS MATIS E MARUBO (PANO) (FUSION AND DISPERSION ON MATIS AND MARUBO (PANO) LANGUAGES)

A EPÊNTESE VOCÁLICA NA AQUISIÇÃO DAS PLOSIVAS FINAIS DO INGLÊS (L2): GRAMÁTICA HARMÔNICA

VARIAÇÃO DITONGO/HIATO

Capítulo1. Capítulo2. Índice A LÍNGUA E A LINGUAGEM O PORTUGUÊS: uma língua, muitas variedades... 15

CURSO ANO LETIVO PERIODO/ANO Departamento de Letras º CÓDIGO DISCIPLINA CARGA HORÁRIA Introdução aos estudos de língua materna

MARCAÇÃO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO A NÍVEL DA FONOLOGIA

HAPLOLOGIA SINTÁTICA E EFEITOS DE ECONOMIA - Elisa Battisti -

Formação de Palavras Compostas em Português Brasileiro: uma Análise de Interfaces

Transcrição:

Estudo das vogais médias pretônicas nos nomes no dialeto de Belo Horizonte conforme a Teoria da Otimalidade Marlúcia Maria Alves Universidade Federal de Uberlândia maio/2009

Objetivo Geral O objetivo desta pesquisa foi analisar as vogais médias em posição pretônica nos nomes no dialeto de Belo Horizonte considerando os fatores linguísticos e os processos fonológicos, como harmonia vocálica e redução vocálica, que interferem nesta produção.

Hipóteses Ocorre variação das vogais médias em posição pretônica em um número considerável de casos, motivada pelos fatores linguísticos favorecedores da realização da vogal média aberta e da vogal alta; A variação pode ser analisada levando-se em consideração processos fonológicos como harmonia vocálica e redução vocálica; A variação linguística pode ser explicada segundo a OT, principalmente pelo ranqueamento parcial de restrições.

Teoria da Otimalidade Modelo de análise gramatical; Estabelece as propriedades universais da linguagem; Caracteriza os limites possíveis de variação entre as línguas naturais; Analisa as formas de superfície; Permite a presença de restrições que podem ser violadas.

Teoria da Otimalidade Os primeiros estudos datam de 1993, com os trabalhos publicados por Prince e Smolensky e por McCarthy e Prince. Apresenta uma proposta formal alternativa de análise da gramática e da interação entre seus diversos componentes. (CRISTÓFARO SILVA, 1999)

Componentes da gramática OT Input forma subjacente GEN gerador Candidatos EVAL avaliador CON grupo universal de restrições Output forma de superfície

Esquema da Teoria da Otimalidade Entrada (input) / tipo/ GEN Candidatos:[ ti.po] [ tsi.po] [ tsi.pu] [ tsi.pu] [ ti.pu] EVAL (restrições) Saída (output ótimo) [ tsi.pu] (Belo Horizonte)

GEN - Gerador Tem a função de relacionar o input a um grupo de representações do candidato, sendo que qualquer um dos candidatos pode ser selecionado como output ótimo para um input específico. GEN é restrito, pois somente gera objetos linguísticos, compostos do léxico universal. É bastante criativo, sendo capaz de adicionar, apagar e reorganizar os segmentos sem restrição. Assim, o grupo de candidatos criado pelo GEN para qualquer determinado input é infinito. (ARCHANGELI, 1997). GEN também tem o trabalho de indicar as correspondências entre as representações de input e output. Estas correspondências são importantes na avaliação das restrições de fidelidade.

EVAL - Avaliador Seleciona o candidato ótimo do grupo de candidatos criados por GEN. Este mecanismo faz uso de um ranqueamento das restrições violáveis. O output ótimo, aquele selecionado por EVAL, é o que melhor satisfaz estas restrições. Em EVAL, as restrições em CON, que é o conjunto universal de restrições, podem ser violadas e são ordenadas. EVAL encontra o candidato que melhor satisfaz o ranqueamento de restrições. A violação de uma restrição ranqueada mais baixo pode ser tolerada para satisfazer uma restrição ranqueada mais alto. Os empates, pela violação ou pela satisfação, de uma restrição ranqueada mais alto são resolvidos por uma restrição ranqueada mais baixo na hierarquia de restrições. Associada ao mecanismo EVAL está a noção da dominância estrita, que se constitui como a principal propriedade do processo de avaliação das restrições.

CON - Conjunto Universal de Restrições Engloba as restrições a serem utilizadas na hierarquia de uma determinada língua específica. Conforme Archangeli (1997), CON, como um conjunto universal de restrições, está posicionado para ser parte do nosso conhecimento inato da língua. Isto significa que toda língua faz uso do mesmo grupo de restrições. Este fato leva à caracterização dos aspectos universais da linguagem humana, ou seja, todas as línguas têm acesso a exatamente o mesmo grupo de restrições. Este é o significado formal pelo qual os universais são codificados.

Restrições As restrições incluem duas grandes famílias: as restrições de marcação e as restrições de fidelidade. A família de restrições de marcação é importante para estabelecer em uma dada hierarquia de uma língua específica as diferenças na forma de output com relação à forma do input. Já a família de restrições de fidelidade aponta a semelhança entre o input e o output. As violações de fidelidade levam a diferenças entre estas formas. Especificamente sobre a violação de restrições, permitida no modelo teórico OT, observa-se que esta violação é tolerada em um contexto muito limitado. Uma restrição pode ser violada com sucesso somente para satisfazer uma restrição ranqueada mais alto na hierarquia.

Princípios básicos da OT Segundo McCarthy e Prince (1993, p. 1-2), os princípios básicos da OT são: Violabilidade: as restrições são violáveis, mas a violação é mínima; Ranqueamento: as restrições de CON são ranqueadas com base na língua específica e a noção da violação mínima é definida em termos do ranqueamento; Inclusão: a hierarquia de restrições avalia um grupo de candidatos que são admitidos pelas considerações gerais da boa-formação estrutural. Não há regras específicas ou estratégias de reparo. Paralelismo: a satisfação ótima da hierarquia de restrições é computada sobre a hierarquia e o grupo total de candidatos e não há derivação serial.

Input Riqueza de base, que não permite restrições no input. Presença de restrições no input. Segundo Causley (1999), a noção do inventário de língua específica deve existir no input.

Dominação estrita Segundo Kager (1999), a noção de dominação estrita ( strict domination ) pode ser definida como a violação das restrições ranqueadas em um ponto superior na hierarquia que não pode ser compensada pela satisfação das restrições ranqueadas em um ponto inferior na hierarquia.

Traço [aberto] Graus de abertura do português brasileiro (WETZELS: 1992, p. 22) Abertura i/u e/o E/ç a Aberto1 - - - + Aberto2 - + + + Aberto3 - - + +

Traço [aberto] Graus de abertura e especificação por redundância de traços (ALVES: 2008, p. 219) Combinação de abertura Por redundância /i, u/ [-aberto1, -aberto2] [-aberto2] /e, o/ [-aberto1, +aberto2] [+aberto2] /E, ç/ [-aberto1, +aberto3] [+aberto3] /a/ [+aberto1] [+aberto1]

Ordenamento parcial de restrições: pontos positivos Permite derivar as tipologias de dialetos com variação (ANTTILA e CHO, 1998); A língua pode apresentar co-fonologias, indicando, para cada candidato selecionado como ótimo, uma hierarquia de restrições (ANTTILA e CHO, 1998); Uma única gramática pode apresentar diversos ordenamentos parciais, selecionados para atender à boa formação de cada candidato ótimo em termos de variação (ANTTILA, 1995); Este modelo implica que um simples indivíduo comande um grupo de ranqueamentos totais que apresentam restrições de maneira diferenciada. Assim, qualquer grupo de restrições ou tableaux corresponde a uma gramática possível.

Ordenamento parcial de restrições: pontos negativos Há duas objeções ao modelo de ordenamentos parciais (ANTTILA, 2002): a) O número de gramáticas por indivíduo torna-se bastante amplo e algumas vezes mostra gramáticas improváveis; b) O modelo parece irrestrito, ou seja, se toda combinação de tableaux é uma gramática possível poderá haver o risco de qualquer tipo de variação ser modelada.

Corpora utilizados Corpus POBH Projeto Português de Belo Horizonte/norma culta (Magalhães: 2000) Entrevista 4.951 ocorrências Corpus extraído de Alves (1999) Leitura de frases 1.407 ocorrências Corpus extraído da observação de fala espontânea Diálogo 514 ocorrências

Resultados Três formas fonéticas diferentes da vogal média em posição pretônica: [e] / [o]: dif[e]rença, m[o]delo, c[o]brança [E] / [ç]: [E]xc[E]sso, pr[ç]j[e]to, v[e]rd[a]de [i] / [u]: m[i]n[i]no, [i]scola, m[u]tivo, g[u]verno

Resultados Dois processos fonológicos observados: a) Harmonia vocálica: pr[ç]j[e]to, m[u]t[i]vo b) Redução vocálica: g[u]verno

Resultados Variação sob dois formatos: Vogal média fechada e vogal média aberta: c[o]légio ~ c[ç]légio Vogal média fechada e vogal alta: p[e]squisa ~ p[i]squisa

Resultados Fatores favorecedores da elevação da vogal média anterior em posição pretônica: a) Presença de vogal alta em posição tônica ou na sílaba imediatamente seguinte m[i]nino, s[i]gurança; b) Presença de consoante nasal labial precedente m[i]dida; c) Posição inicial de palavra associada ao travamento silábico por /S/ - [i]scola; d) Posição inicial de palavra associada à nasalidade [i]nsino.

Resultados Fatores favorecedores da elevação da vogal média posterior em posição pretônica: a) Vogal alta em posição tônica ou na sílaba imediatamente seguinte m[u]tivo, p[u]licial; b) Consoante labial precedente m[u]starda; c) Consoante velar precedente g[u]verno.

Resultados Fatores favorecedores do abaixamento da vogal média anterior em posição pretônica: a) Vogal média aberta em posição tônica ou na sílaba imediatamente seguinte [E]xc[E]sso; b) Vogal baixa em posição tônica ou na sílaba imediatamente seguinte lit[e]ratura; c) Travamento silábico por /R/ - m[e]rcado.

Resultados Fatores favorecedores do abaixamento da vogal média posterior em posição pretônica: a) Vogal média aberta em posição tônica c[ç]l[e]gas; b) Vogal baixa em posição tônica ou na sílaba imediatamente seguinte [ç]rário.

Ranqueamento parcial de restrições: Traço [aberto] Tableau 1: Mapeamento fiel vogal média fechada pr/o/cesso IDENT AGREE *MID [+aberto2] [aberto] a.pr[o]cesso * * b.pr[ç]cesso *! * c. pr[u]cesso *! *

Ranqueamento parcial de restrições: Traço [aberto] Tableau 2: Mapeamento infiel vogal média aberta pr/o/cesso AGREE IDENT *MID [aberto] [+aberto2] a.pr[o]cesso *! * b.pr[ç]cesso * * c. pr[u]cesso *! *

Ranqueamento parcial de restrições: Traço [aberto] Tableau 3: Mapeamento infiel vogal média aberta /o/rário *[-aberto3] IDENT [+aberto2] AGREE [aberto] *MID a. [o]rário *! * * b.[ç]rário * * * c. [u]rário *! * *

Ranqueamento parcial de restrições: Traço [aberto] Tableau 4: Mapeamento fiel vogal média fechada m/o/tivo IDENT AGREE *MID [+aberto2] [aberto] a.m[o]tivo * * b.m[ç]tivo *! * * c. m[u]tivo *!

Ranqueamento parcial de restrições: Traço [aberto] Tableau 5: Mapeamento infiel vogal alta m/o/tivo AGREE IDENT *MID [aberto] [+aberto2] a.m[o]tivo *! * b.m[ç]tivo *! * * c. m[u]tivo *

Ranqueamento parcial de restrições: Traço [aberto] Tableau 6: Mapeamento fiel vogal média fechada c/o/meço IDENT AGREE *MID [+aberto2] [aberto] a.c[o]meço * * b.c[ç]meço *! * * c. c[u]meço *!

Ranqueamento parcial de restrições: Traço [aberto] Tableau 7: Mapeamento infiel vogal alta c/o/meço *MID IDENT [+aberto2] AGREE [aberto] a.c[o]meço *! b.c[ç]meço *! * * c. c[u]meço * *

Considerações finais O ordenamento parcial de restrições associado ao traço [aberto] parece ser a alternativa de análise que melhor explica a variação das vogais médias pretônicas no dialeto de Belo Horizonte, levando-se em conta os processos fonológicos e os contextos favorecedores à elevação e ao abaixamento da vogal média; Entretanto, seleciona alguns ranqueamentos parciais conforme cada caso de variação. Alguns ranqueamentos não foram plenamente atestados e a inclusão de restrições foi a alternativa encontrada;

Considerações finais A variação está mais diretamente relacionada aos casos de harmonia vocálica do que aos casos de redução vocálica; O traço [aberto] contribui para a simplicidade de informações e a economia de restrições; Considerar o inventário fonêmico no input permite uma melhor identificação dos traços fonológicos para cada segmento envolvido na variação.

Referências bibliográficas ALVES, Marlúcia Maria. As vogais médias em posição tônica nos nomes do português brasileiro. 1999. 136 f. Dissertação (Mestrado em Lingüística. Área de concentração: Fonologia) Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1999. ALVES, Marlúcia Maria. As vogais médias em posição pretônica nos nomes no dialeto de belo horizonte: estudo da variação à luz da teoria da otimalidade. 2008. 341 f. Tese (Doutorado em Lingüística. Área de concentração: Fonologia) Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008. ANTTILA, Arto. Deriving variation from grammar: a study of Finnish genitives. [S.l.]: Stanford University, 1995. ANTTILA, Arto. Variation and phonological theory. In: CHAMBERS, J. K; TRUDGILL, Peter; SCHILLING-ESTES, Natalie. The handbook of language variation and change. Oxford: Blackwell Publishers, 2002. cap. 8, p. 206-243. ANTILLA, Arto; CHO, Young-mee Yu. Variation and change in Optimality Theory. Lingua, n. 104, p. 31-56, 1998. ARCHANGELLI, Diana. Optimality Theory: an introductory to linguistics in the 1990s. In: ARCHANGELLI, D.; LANGENDOEN, D. T. Optimality Theory: an overview. Oxford: Blackwell Publishers, 1997. cap. 1, p. 1-32.

Referências bibliográficas CAUSLEY, Trisha. Complexity and Markedness in Optimality Theory. 1999. 223 f. Tese (Doutorado em Philosophy). Universidade de Toronto, 1999. CRISTÓFARO SILVA, Thaïs. Fonética e fonologia do português (roteiro de estudos e guia de exercícios). São Paulo: Contexto, 1999. KAGER, René. Optimality Theory. Cambridge: Cambridge University Press, 1999. MAGALHÃES, José Olímpio de. Corpus do POBH (Projeto Português de Belo Horizonte / norma culta). Belo Horizonte: LABFON/FALE/UFMG, 2000. McCARTHY, John; PRINCE, Alan. Generalized alignment. In: BOOIJ, G. E.; MARLE, J. van. (Ed.). Yearbook of morphology. Dordrecth: Kluwer, 1993. p. 79-153. PRINCE, Alan; SMOLENSKY, Paul. Optimality Theory: constraint interaction in generative grammar. Boulder: Ms., Rutgers University, New Brunswick and University of Colorado, 1993. WETZELS, W. Leo. Mid vowel neutralization in brazilian portuguese. Cadernos de Estudos Lingüísticos, Campinas, v. 23, p. 19-55, 1992.