16 3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO De acordo com a o Anuário Estatístico do Município de Belém (2006), o município de Belém, no Estado do Pará, limita-se ao norte com a Baía do Marajó, a sul com o município de Acará, a leste com a com o município de Santa Bárbara do Pará e oeste com o arquipélago do Marajó. Perfazendo um total de 505.8231 km², dos quais 173,7864 km² correspondem a porção continental e 332,0367 km² a porção insular com 43 ilhas. A porção continental corresponde a 34,26% do território, enquanto a porção insular representa 65,74% de todo o território do município. Dentro desse universo insular que é o município de Belém, podemos destacar a Ilha de Cotijuba, com seus 15,9529 km², distante 22 km do centro da Cidade de Belém. A Ilha de Cotijuba é considerada como uma das mais importantes do conjunto de ilhas que formam o município de Belém. Sua localização geográfica estratégica e a proximidade da área central do município a colocam num nível de destaque em relação às demais ilhas do município. Situada à margem direita do estuário do Rio Pará, em meio as Baías do Marajó e do Guajará, a Ilha de Cotijuba, correspondente à Folha SA.22-XD Belém. Tem sua posição geográfica no Farol da Ilha (1 15 30 S e 48 33 30 WGr), situado na ponta sudoeste (Ponta de Cima), no fuso 22, possui 15,94Km2 de extensão. Apresenta forma alongada que segue a direção NE-SW. Ao longo do seu litoral estende-se 20km de praias e enseadas alternadas por formações rochosas (provenientes de solos argilosos), vegetação, falésias (algumas com ondulações por depressões naturais nos terrenos) e mangues (El Robrini, 1993.apud da SILVA e FURTADO, 2003) A Ilha de Cotijuba também apresenta uma condição climática que não é muito diferente das demais regiões equatoriais. O clima quente e úmido com alto índice pluviométrico registrado. Localiza-se na parte noroeste do município de Belém, tem como limites ao norte e oeste a Baía de Marajó, a nordeste a Ilha de Tatuoca e a leste e sudeste as Ilhas de Coroinha, Jutuba e Paquetá-Açu, no Furo do Mamão. Tem uma Temperatura de média de 26 centígrados (máxima de 38 c e mínima de 20 c). Sua umidade relativa do ar é de 89% e o índice pluviométrico médio é de 308,59mm/mês. (SOUZA de SOUZA,1997. p.57)
17 Podemos observar que a partir dessas características, a Ilha de Cotijuba se enquadra dentro das características climáticas da Região Norte. Períodos de chuvas intensas nos meses de Dezembro a Março e de estiagem acentuada nos meses de setembro a novembro. MAPA 01 Região Metropolitana de Belém Fonte: ITERPA/ 2008. 3.1. O Canivete Como foi visto inicialmente na introdução, a Ilha de Cotijuba tem uma grande vocação para a agricultura familiar a partir do cultivo de hortaliças, o canivete é uma área tradicional dentro da história agrícola da Ilha de Cotijuba. Os relatos de moradores antigos na Ilha, fazem alusão ao local chamado de Canivete como área de cultivo a partir do período de instalação da CRC Colônia Reformatório de Cotijuba, hoje conhecida como antigo presídio. Esse marco histórico é importante, pois é a partir dele que a Ilha de Cotijuba, vai passar pelo processo de ocupação e desbravamento interno, com a construção das primeiras estradas ou picos1 em direção ao norte da Ilha. Segundo esses relatos dos moradores mais antigos, os próprios internos do CRC eram usados como mão-de-obra barata na roça, na obtenção de lenha e na fabricação de carvão vegetal. Segundo os mesmos relatos, também havia exploração de madeira, cultivo de mandioca e pimenta-do-reino no local. 1 Segundo relatos dos moradores antigos, os picos eram caminhos estreitos, abertos a facão, foice e machado. Serviram de base para os alargamentos dos mesmos e a conseqüente construção de estradas sem pavimentação que serviriam de base para as penetração no interior da Ilha e ao acesso aos locais mais distantes.
18 Toda essa área da porção norte da Ilha de Cotijuba desde essa época, serviu como uma grande área de cultivo diverso que atendeu a uma elite que controlava a CRC e obtinha lucros com a comercialização desses produtos nas feiras de Belém. Os registros dessa ocupação para o cultivo no norte da Ilha e na área próxima conhecida como Canivete, podem ser interpretados a partir de imagens aéreas obtidas por sensores aerotransportados como por sensores orbitais. A Prefeitura de Belém, através de seu setor competente desenvolveu um produto de chamado de evolução urbana, no qual podemos observar a evolução do uso do solo no município através de análise temporal dos mosaicos de fotografias aéreas de 1972, 1977 e 1998, da Companhia de Desenvolvimento e Administração da área Metropolitana de Belém. Neste sentido os trabalhos aerofotogramétricos realizados pela prefeitura de Belém, são importantes para entendermos um pouco o processo de evolução da agricultura nessa porção da Ilha de Cotijuba, como essa paisagem e espaço geográficos foram apropriados e seus reflexos atuais no dia a dia local. Começaremos pelas análises individuais de cada recorte do mosaico nos anos de registro, para depois analisarmos em seus comparativos temporais, que ajudam a verificar os processos de evolução de forma mais prática e didática. Na Figura abaixo, temos um recorte do mosaico de 1972, no qual destacamos a área do Canivete. A textura mais rugosa e escura em tons de cinza indicam presença de vestígios de vegetação densa ou de mata primária no local. A textura em cinza claro com rugosidade mais atenuada indica a presença de vegetação secundária, tipo capoeira baixa. Em cinza claro, com forma semelhante a de um peixe, na parte superior da imagem, vê-se um lago e abaixo com a mesma textura e tonalidade de cinza as áreas de cultivo do Canivete, com a clara identificação dos lotes com suaves contornos retangulares e quadrados. Essa área central da imagem mostra que houve extração de madeira nesse local e que a área foi posteriormente utilizada para a agricultura, no seu lado esquerdo, podemos observar a estrada que vai para a praia do Vai-Quem-Quer, bastante encoberta pela vegetação. Essa imagem é de 1972.
19 FIGURA 04 Área do Canivete- Ilha de Cotijuba. Belém-PA. 1972 Nessa outra figura, observamos a mesma área num intervalo de tempo de 05 anos, onde podemos observar algumas diferenças de textura e tons de cinza em relação à imagem de 1972. Na parte central onde se concentram as áreas de cultivo, podemos observar uma textura mais rugosa, o que indica uma regeneração da vegetação interna o que podemos classificar como capoeira baixa, restando poucas áreas de cultivo bem definidas. Entretanto, no canto inferior esquerdo da imagem é visível o crescimento das áreas de cultivo em relação a 1972. A diminuição da rugosidade da textura cinza escura, indica uma diminuição de mata densa ou primária. O contorno dos lagos estão mais claros, inclusive notando-se a presença de vegetação aquática.
20 FIGURA 5 Área do Canivete- Ilha de Cotijuba. Belém-PA. 1977 Na imagem de 1998, podemos observar uma imagem colorida da mesma área, onde os contrastes na vegetação ficam mais realçados. Comparando com as imagens de 1972 e 1977 a vegetação densa ou primária teve uma redução considerável. As áreas de cultivo na área central mostram-se bem definidas estendendo-se até próximo amargem do lago. A estrada que segue paralela ao Canivete, em direção a praia do Vai-Quem-Quer, mostra-se bem consolidada e com grande área devastada nas duas margens. A diminuição da vegetão primária fica mais visível nesse tipo de imagem, o que não é tão perceptível nas imagens preto e branco, onde a percepção da textura e dos tons de cinza é que permitem nossas análises mais específicas.
21 FIGURA 6 Área do Canivete- Ilha de Cotijuba. Belém-PA. 1998 Na imagem a seguir, os comparativos temporais lado a lado permitem a perceção mais visível das evoluções do uso do solo no Canivete. Diferenças de textura e tonalidades de cinza indicam diminuição das áreas de mata densa e regeneração de da vegetação dentro da área central onde se localizam as áreas de cultivo. Isso pode indicar uma retração nos cultivos nesse local. Um elemento importante na observação dessas imagens dos anos 70 é a evidência clara do uso do solo para a gricultura, o que confirma os relatos dos moradores antigos quanto ao uso do área para tal atividade.
22 FIGURA 7 Área do Canivete- Ilha de Cotijuba. Belém-PA. Comparativo (E)1977 / (D)1972 Nesse outro comparativo a seguir, desta vez com um intervalo de 16 anos, mostram que mesmo com todas as mudanças, as variações no tamanho da área central, no geral, não apresentam grandes mudanças em seu aspecto. A parte mais central preserva-se enquanto ao seu uso para a agricultura, não observando na imagem de 1998 qualquer indício de alteração ou mudança de padrão de atividade produtiva, por exemplo não há como afirmar que nessa imagem de 1998, o Canivete caracteriza-se como uma área de pecuário. É neste sentido, do Canivete ser uma área com características destinadas para a agricultura, que podemos afirmar que a agricultura mostra-se consolidada nessa área.
23 FIGURA 8 Área do Canivete- Ilha de Cotijuba. Belém-PA. Comparativo (E)1998 / (D)1972 No último comparativo do Canivete, apenas se ratifica o que já havíamos analisado em relação à agricultura como uma atividade consolidada nesta área da Ilha de Cotijuba. Podemos afirmar que essa constatação é visível em todos os comparativos apresentados aqui. Com isso, o Canivete é uma área de agricultura consolidada, agricultura essa praticada em pequenas áreas por agricultores familiares, com variações no tamanho das áreas cultivadas em períodos diferentes, mas que são novamente utilizadas posteriormente para a agricultura.
24 FIGURA 9 Área do Canivete- Ilha de Cotijuba. Belém-PA. Comparativo (E)1998 / (D)1977. Na imagem mais atual do Canivete, provavelmente de 2005, confirma de forma definitiva o uso do solo para a agricultura familiar nessa porção da Ilha, entretanto o processo de degradação das matas do entorno da área central de cultivo são reflexos das pressões externas que a área sofre, com extrações clandestinas de madeira, pequenas queimadas e desmatamentos e consolidação da via de acesso pro Vai-Quem-Quer.
25 FIGURA 10 Área do Canivete- Ilha de Cotijuba. Belém-PA. 2005 Fonte: Google Earth, 2008