Linguística. Cleide Emília Faye Pedrosa

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Apresentação da disciplina

Transcrição:

Linguística Cleide Emília Faye Pedrosa São Cristóvão/SE 2010

Linguística Elaboração de Conteúdo Cleide Emília Faye Pedrosa Projeto Gráfico e Capa Hermeson Alves de Menezes Diagramação Neverton Correia da Silva Ilustração Cleide Emília Faye Pedrosa Copyright 2009, Universidade Federal de Sergipe / CESAD. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização por escrito da UFS. FICHA CATALOGRÁFICA PRODUZIDA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE P372i Pedrosa, Cleide Emília Faye Linguística / Cleide Emília Faye Pedrosa -- São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, CESAD, 2009. 1. Lingüística. I. Título. CDU 81 1

Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky Reitor Josué Modesto dos Passos Subrinho Chefe de Gabinete Ednalva Freire Caetano Coordenador Geral da UAB/UFS Diretor do CESAD Antônio Ponciano Bezerra Vice-coordenador da UAB/UFS Vice-diretor do CESAD Fábio Alves dos Santos Vice-Reitor Angelo Roberto Antoniolli Diretoria Pedagógica Clotildes Farias de Sousa (Diretora) Diretoria Administrativa e Financeira Edélzio Alves Costa Júnior (Diretor) Sylvia Helena de Almeida Soares Valter Siqueira Alves Coordenação de Cursos Djalma Andrade (Coordenadora) Núcleo de Formação Continuada Rosemeire Marcedo Costa (Coordenadora) Núcleo de Serviços Gráficos e Audiovisuais Giselda Barros Núcleo de Tecnologia da Informação João Eduardo Batista de Deus Anselmo Marcel da Conceição Souza Raimundo Araujo de Almeida Júnior Assessoria de Comunicação Edvar Freire Caetano Guilherme Borba Gouy Núcleo de Avaliação Hérica dos Santos Matos (Coordenadora) Carlos Alberto Vasconcelos Coordenadores de Curso Denis Menezes (Letras Português) Eduardo Farias (Administração) Haroldo Dorea (Química) Hassan Sherafat (Matemática) Hélio Mario Araújo (Geografi a) Lourival Santana (História) Marcelo Macedo (Física) Silmara Pantaleão (Ciências Biológicas) Coordenadores de Tutoria Edvan dos Santos Sousa (Física) Geraldo Ferreira Souza Júnior (Matemática) Ayslan Jorge Santos de Araujo (Administração) Priscila Viana Cardozo (História) Rafael de Jesus Santana (Química) Gleise Campos Pinto Santana (Geografi a) Trícia C. P. de Sant ana (Ciências Biológicas) Vanessa Santos Góes (Letras Português) Lívia Carvalho Santos (Presencial) NÚCLEO DE MATERIAL DIDÁTICO Hermeson Menezes (Coordenador) Arthur Pinto R. S. Almeida Marcio Roberto de Oliveira Mendoça Neverton Correia da Silva Nycolas Menezes Melo UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE Cidade Universitária Prof. José Aloísio de Campos Av. Marechal Rondon, s/n - Jardim Rosa Elze CEP 49100-000 - São Cristóvão - SE Fone(79) 2105-6600 - Fax(79) 2105-6474

Sumário AULA 1 Linguística como ciência...07 AULA 2 Linguística: divisão e interdisciplinaridade...17 AULA 3 A Linguística no contexto nacional: que é Lingüística? A Linguística é uma ciência?...29 AULA 4 Conceitos linguísticos fundamentais...41 AULA 5 O Curso de Linguística Geral: as dicotomias saussureanas I...55 AULA 6 O Curso de Linguística Geral: as dicotomias saussureanas II...71 AULA 7 Estruturalismo...85 AULA 8 Contribuição de outras correntes linguísticas...99 AULA 9 A Linguística no contexto nacional: que é língua? Qual a relação entre língua, linguagem e sociedade?...113 AULA 10 Saussure e Bahktin: os (des) caminhos da Linguística...121 AULA 11 Teoria da comunicação e Linguística...131 AULA 12 História da ciência linguística: Grécia...149 AULA 13 História da ciência linguística: Roma...163 AULA 14 História da ciência linguística: Idade média e Renascimento...177

AULA 15 História da ciência linguística: a descoberta do Sânscrito...195 AULA 16 Disciplina da linguística para o curso de Letras: Sociolingüística...211 AULA 17 Disciplina da linguística para o curso de Letras: gêneros textuais...225 AULA 18 Análise do discurso...245 AULA 19 A Linguística no contexto nacional 1. a linguística teria algum compromisso necessário com a educação? 2. quais os desafi os para a linguística no século xxi?...261 AULA 20 Revisão: percursos linguísticos...275

LINGUÍSTICA COMO CIÊNCIA Aula 1 META Apresentar a Linguística como ciência e sua importância para o curso de Letras. OBJETIVOS Ao final desta aula, o aluno deverá: identifi car o objeto da Linguística; apontar os objetivos gerais da Linguística estruturalista; e listar os objetivos da Linguística para o Curso de Letras.

Linguística Linguísta Cientista da linguagem, professor de Linguística ou pesquisador na área. Ele procura investigar como a linguagem funciona através do estudo de línguas específicas. Paradigma Significa modelo, padrão. INTRODUÇÃO Seja bem-vindo, futuro linguísta. Você vai entrar em contato com a Linguística, primeira disciplina de uma série de disciplinas estritamente relacionadas. A Lingüística, estudo científico da linguagem humana, assumiu, em pouco tempo, um lugar de destaque no conjunto das ciências que estudamos. Anteriormente ignorada, a Lingüística transformou-se, do final do séc. XIX ao início do séc. XX, em uma das mais requisitadas ciências humanas. Não há porta que ela não tenha parecido abrir miraculosamente. Forneceu seu vocabulário para a Sociologia, para a Psicanálise, para a História (BAYLON; FABRE, 1990, p. 11). Esse fato ocorreu graças ao grau de cientificidade alcançado, quando ela se transformou em paradigma de várias áreas do saber sistematizado. Isso, é claro, foi também em conseqüência do trabalho de linguístas altamente criativos, cujos nomes (de alguns) e cujas contribuições teremos o prazer de conhecer em nossas aulas. Bem-vindos!!! Leonard Bloomfield Linguísta norteamericano (1877 1949). Sua obra principal, Language (1933), é tida como a bíblia da Lingüística americana. Preocupou-se em tornar a Linguística autônoma e científica. (Fonte: http://www.amparo.sp.gov.br). 8

Linguística como Ciência A ORIGEM Aula 1 Atualmente a Linguística é reconhecida como ciência. Mas eu lhe digo que nem sempre esta disciplina apresentou esse perfil, pois, na verdade, o estudo da linguagem humana passou de uma disciplina literária, de função auxiliar, para uma ciência, na acepção plena do termo. Antes da contribuição de Saussure, o objeto da Linguística não havia sido determinado ainda. Para que tal fato acontecesse, seria necessário que a ciência que se ocupa dos fatos da língua passasse por três fases: 1 a - Gramática. Estudo baseado principalmente no grego e no latim. Há predominância da língua escrita sobre a falada. É uma disciplina normativa que se preocupa com as regras do bem falar/escrever. Exemplo: Uso da crase não ocorre crase diante de palavras masculinas, mas, se houver nome feminino elíptico, a crase será obrigatória 2 a - Filologia. As questões lingüísticas são abordadas apenas para comparar textos de diferentes épocas, determinar a língua particular de cada autor, decifrar e explicar inscrições numa língua obscura ou arcaica. Como se fazem estudos filológicos? Veja a citação abaixo: Foi na biblioteca de Alexandria que os textos de Homero passaram pela primeira tentativa de edição crítica. Zenódoto de Éfeso, primeiro diretor da biblioteca, comparou diversos manuscritos da Ilíada e da Odisséia, em 274 a.c., tentando restaurar o texto original (GOMES, www.filologia.org.br). 3 a - Gramática Comparada. Com a descoberta do sânscrito, língua sagrada dos hindus, no século XIX, por Sir William Jones, juiz inglês em Calcutá, os linguístas levantaram a hipótese da língua mãe através de estudos comparados das línguas. Surge o método comparativo, estabelecendo o estudo do parentesco de várias línguas. Exemplo: a palavra pai. Ferdinand Saussure Linguísta suíço (1857 1913). É considerado o pai da Linguística moderna porque sistematizou o estudo da linguagem e estabeleceu princípios científicos para o estudo da língua, objeto da Linguística. Língua-mãe Aqui, tem o sentido da primeira língua falada pelos seres humanos. sânscrito grego latim espanhol português francês inglês alemão pitar patér pater padre pai pére father vater Só após essas três fases é que a Linguística recebe o status de Ciência. É Saussure quem aponta e define, pela primeira vez, no final do século XIX, o objeto dessa ciência a língua. 9

Linguística Sincrônico Diz respeito a um estudo estático da língua. Diacrônico Faz referência ao estudo histórico ou evolutivo dos fatos da língua. (Veremos exemplos destes estudos na 2ª aula). Objeto da Linguística O objeto da Linguística é a língua, contudo a abordagem mudou em seu percurso histórico. Desse modo, podemos falar de uma linguística da fala, do texto, do discurso... Línguas naturais Entram aqui em oposição às línguas artificiais, criadas em contexto artificial, por exemplo, o esperanto. A partir da indicação de seu objeto, há necessidade de se identificarem os princípios metodológicos que dariam conta dessa nova ciência: a) são estudados todos os fatos da língua; b) o objeto privilegiado da pesquisa lingüística é a língua escrita; c) o aspecto sincrônico no estudo da língua predomina sobre o diacrônico. Após essas primeiras considerações, acompanhe algumas afirmações que podemos emitir acerca da Lingüística. A LINGUÍSTICA É UMA CIÊNCIA É uma ciência, pois ela trata de um corpo específico de material, a língua escrita ou falada, ou seja, tem um objeto de investigação. E, veja, esse material de investigação é analisado por métodos próprios. Como toda ciência, a Lingüística também é guiada por três princípios: a) exaustividade: todo material deve ser tratado adequadamente; b) consistência: uma afirmação completa não pode apresentar contradição entre as suas partes; c) economia: quando certas descobertas são semelhantes, uma afirmação ou análise menor é preferível a uma mais longa ou mais complexa. A LINGUÍSTICA É UMA CIÊNCIA EMPÍRICA Podemos dizer que a Linguística é uma ciência empírica, visto que sua matéria de estudo, tanto falada quanto escrita, é observável pelos sentidos. Você pode tanto ler os signos (língua escrita) quanto ouvi-los (língua falada). A LINGÜÍSTICA É UMA CIÊNCIA SOCIAL Podemos entender a Lingüística como uma ciência social porque os fenômenos que formam seu campo de estudo são parte do comportamento dos seres humanos, e o ser humano é um ser social, que precisa da sociedade, de um dos outros para sobreviver. Abaixo, você encontra duas definições de Linguística: A ciência que se constitui em torno dos fatos da língua (SAUSSURE, 2000, p. 07); No sentido amplo, poderíamos dizer que a Linguística congrega as diferentes atividades de estudo sistemático da linguagem verbal e das línguas naturais que são desenvolvidas nos departamentos de Linguística e nos programas de pós-graduação em Linguística, seja no Brasil, seja no mundo. Linguística seria, então, o conjunto de atividades científicas que os que se designam linguistas desenvolvem no contexto universitário (FARACO, 2003, p. 66). 10

Linguística como Ciência OBJETIVOS GERAIS Aula 1 Os objetivos da Linguística foram traçados pelo próprio Saussure: - Fazer a descrição e história de todas as línguas (...) fazer a história das famílias das línguas e reconstituir, na medida do possível, as línguas-mães de cada família; - Procurar as forças que estão em jogo, de modo permanente e universal, em todas as línguas e deduzir as leis gerais as quais possam referir todos os fenômenos peculiares da história; - Delimitar-se a si mesma (SAUSSURE, 2000, p.13). Chamamos sua atenção para o fato de que os objetivos acima descritos estão relacionados à primeira fase dessa disciplina, quando ela foi fundada por Saussure, pois na atualidade você vai poder comprovar em outras aulas que as propostas da Linguística evoluíram bastante e apresentam outros objetivos de acordo com as subáreas. Reforçando alguns aspectos, temos: A Linguística, com o objetivo de descrever a língua, desenvolveu, segundo Peter (2004, p. 21): uma metodologia que visa analisar as frases efetivamente realizadas reunidas num corpus representativo (conjunto de dados organizados com uma finalidade de investigação). O corpus não é constituído apenas pelas frases corretas (como a gramática normativa), também inclui as expressões erradas, desde que apareçam na fala dos locutores nativos da língua sob análise. A descrição dos fatos assim organizados não tem nenhuma intenção normativa ou histórica, pretende-se tão-somente depreender a estrutura das frases, dos morfemas, dos fonemas e as regras que permitem a combinação destes (PETER, 2004, p. 21). É a partir dessa postura teórico-metodológica diante da língua que procede o caráter científico da Linguística, e fundamentando-se em dois princípios: o empirismo e a objetividade. A Lingüística é empírica porque trabalha com dados verificáveis por meio de observação; é objetiva porque examina a língua de forma independente, livre de preconceitos sociais ou culturais associados a uma visão leiga da linguagem (PETER, 2004, p. 21). De um modo geral, até os anos 1950, as análises lingüísticas realizadas pelos seguidores de Saussure, na Europa, e dos norte-americanos Bloomfield e Harris trabalhavam com a teoria descritivista. Foi Chomsky, a partir do final dos anos 1950, que sugeriu uma nova proposta para a análise lingüística, uma análise que se desprende dos dados e preocupa-se mais com a teoria. 11

Linguística Objetivos viáveis Objetivos que possam ser alcançados. OBJETIVOS DA LINGÜÍSTICA PARA O CURSO DE LETRAS Psicologia da Linguagem Se o estudo tiver como foco a Psicologia; Psicolinguística Se o foco for a Lingüística. Transfrástico Encadeamentos que passam de uma frase para outra. Segundo o professor Ilari (1992, p. 10), é correto esperar que o curso de Letras prepare seus alunos, como futuro professores, para: a) avaliar as potencialidades e limitações que caracterizam a expressão e a comunicação de seus alunos; b) fixar para eles, em relação à expressão e comunicação, objetivos viáveis; c) examinar criticamente os recursos didáticos que a indústria editorial proporciona. A fim de atender ao ensino de línguas, segundo esse enfoque, é necessário buscarem os subsídios de várias disciplinas lingüísticas: Fonética e Fonologia estudam os processos de emissão dos sons da fala e sua divisão em unidades mínimas distintivas (fonemas), bem presentes no processo de alfabetização; Psicolingüística contribui para explicar o processo de aquisição da linguagem, bem como ajuda na leitura e compreensão de textos orais e escritos; Sociolingüística estuda a variação regional e social da fala; Análise do Discurso - Opera com o texto e nele busca uma lógica de encadeamento transfrástico (BRANDÃO, [199-], p.15). Essas disciplinas apresentam uma forte ligação com outras mais técnicas: Sintaxe e Semântica. Aos objetivos anteriormente expostos, podemos acrescentar as listas (adaptadas) apresentadas por Castim (1994, p.12) e Heckler e Back (1988, p.17-18). Para eles, o professor, linguisticamente preparado, poderá melhor: a) compreender o funcionamento da língua materna nos níveis da fonologia, morfologia, sintaxe e semântica; b) ter um entendimento científico da história e da evolução da língua que falamos; c) orientar a preparação de materiais de alfabetização; d) aperfeiçoar os métodos de aquisição de uma segunda língua; e) desenvolver novas técnicas para o ensino de redação, gramática e literatura; f) conhecer o valor das variações dialetais, opinando sobre qual atitude tomar diante do problema dos alunos; g) assumir uma postura adequada perante o certo e o errado da gramática tradicional; h) saber que as línguas mudam. São dinâmicas, adaptáveis e variáveis e não estáticas. Dessa forma, deve basear seu ensino nessa realidade; É claro que ensinar Linguística nos cursos de Letras não é passar receitas prontas para os problemas de análise sintática, nem expor magistralmente teorias e modelos prestigiosos junto à própria comunidade dos lingüistas; menos apropriada ainda seria a discussão programática dos objetivos da Linguística, da subdivisão de suas disciplinas ou o confronto das escolas (ILARI, 1992, p.15). Sintaxe Parte do estudo da língua que trabalha com a relação entre palavras, frases, etc. Semântica Estudo do significado. Fonologia Estudos dos sons (fonemas) de uma língua. Morfologia Estudo das unidades significativas da língua, os morfemas (exemplo, a palavra felizmente, apresenta dois morfemas: feliz e mente ). 12

Linguística como Ciência i) saber que a língua falada com seus fonemas de altura, acentuação, tom e juntura é mais rica que a escrita e, portanto, tem precedência sobre ela e que ambas são importantes no programa de formação dos alunos. Entre as competências do professor de Letras está a competência lingüístico-comunicativa, que Aula 1 se refere aos conhecimentos, capacidade comunicativa, e habilidades específicas na e sobre a língua meta que o aluno de graduação necessita desenvolver. Essa competência está baseada no conhecimento e atuação profissional e social para/nos processos relevantes da linguagem na docência (ALMEIDA FILHO, 2000, p. 41). ATIVIDADES Para responder às atividades propostas e enriquecer sua bagagem cultural, seria bom você também fazer uso de outros livros de Lingüística. 1 - Exponha as três fases por que passou o estudo da linguagem humana: - Gramática - Filologia - Gramática Comparada 2 - Explique por que: a Linguística é uma ciência; a Linguística é uma ciência empírica; a Linguística é uma ciência social. 3 - Comente os objetivos da Lingüística para o curso de Letras que estão relacionados a seguir: - Examinar criticamente os recursos didáticos que a indústria editorial proporciona. - Conhecer o valor das variações dialetais, opinando sobre qual atitude tomar diante do problema do aluno. - Assumir uma postura correta perante o certo e o errado da gramática tradicional. 13

Linguística COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES Para responder à maioria das questões acima, basta você consultar a aula exposta. Aconselhamos que utilize o conteúdo, mas a expressão deve ser sua, isto é, responda utilizando suas palavras e não repetindo literalmente o que está escrito no texto. Na terceira questão, sua resposta deve apontar a tarefa consciente de um professor que não adotará o livro simplesmente por causa de propaganda ou facilidades não pedagógicas; no segundo objetivo, destaque que nossa língua é falada com variações dialetais relacionadas ao grau de escolaridade dos falantes, bem como ao sexo, aos fatores geográficos etc; no terceiro objetivo, diferencie a postura do lingüista e do gramático em relação à fala e à escrita. CONCLUSÃO Você teve seu primeiro contato com a disciplina chamada Linguística. Mais do que uma disciplina, você pôde comprovar que ela é uma ciência. Esta ciência é muito importante para seu curso de Letras, pois vai lhe ajudar a ser um professor mais capaz ao tratar dos fatos da língua com seus alunos. Embora essa primeira disciplina da área dos estudos lingüísticos tenha um caráter mais teórico, no decorrer do curso, com certeza, você vai entrar em contato com aspectos mais práticos desses estudos. Seria interessante procurar ler alguns livros de Linguística e visitar alguns sites de universidades. 14

Linguística como Ciência RESUMO Aula 1 Esta aula abordou o surgimento da Linguística como ciência; como você pôde comprovar, a Linguística é considerada tanto uma ciência empírica (baseada na experiência, na observação pelos sentidos), quanto social (seu campo de estudo é parte do comportamento humano em sociedade). Nela apresentamos, em relação a essa ciência, seu objeto a língua em sua modalidade escrita - sua metodologia, bem como seus objetivos, principalmente para seu primeiro momento. Como você pôde perceber, a sistematização dos estudos da linguagem efetuada por Saussure foi determinante ao surgimento dessa disciplina que você começou a estudar. Contudo, afirmamos-lhe ainda que para poder chegar ao atual estágio de desenvolvimento, a Linguística passou por três fases: Gramática, Filologia e Gramática Comparada. Essa aula listou também alguns objetivos dessa disciplina para o curso que você está fazendo - Letras; entre os objetivos estudados, destacamos três: compreender o funcionamento da língua materna em todos os níveis; desenvolver novas técnicas para o ensino de Redação, Gramática e Literatura; basear o ensino das línguas tendo em vista seu caráter dinâmico e variável. NOTA EXPLICATIVA Contraponto. Os conhecimentos e posicionamentos em ciências não são pacíficos; a argumentação e contra-argumentação são uma constante; isso é importante para o próprio desenvolvimento da Ciência. Assim, compare a citação a seguir com a que está na introdução: Estamos vivendo no Brasil a reprise de um fenômeno que esteve em evidência nos países da Europa e nos Estados Unidos há algumas décadas: a explosão da disciplina chamada Linguística ; o que se verifica no Brasil hoje já não é mais algo que possa ser observado em muitos países (RAJAGOPALAN, 2003, p. 37). Na verdade, o que se verifica em alguns países é uma diminuição da demanda pela Linguística (RAJAGOPALAN, 2003, p. 37). AUTO-AVALIAÇÃO Que tal o primeiro contato com a disciplina? Os exercícios foram difíceis? Qual foi seu grau de dificuldade? Você conseguiu responder sozinho? 15

Linguística REFERÊNCIAS ALMEIDA, Filho. Crise, transição e mudança no currículo de formação de professores de línguas. IN: FORTKAMP, Mailce Borges Mota; TOMITCH, Lêda Maria Braga. Aspectos da Linguística Aplicada. Florianópolis: insular, 2000, p. 33-48 BAYLON, Christian; FABRE, Paul. Iniciação à linguística. Coimbra: Livraria Almeida, 1990. BRANDÃO, Helena H. Nagamine. Introdução à análise do discurso. 7 ed. Campinas: Editora da UNICAMP. CASTIM, Fernando. Teoria da linguagem: tópicos. Recife: FASA, 1994. FARACO, Carlos Alberto. Entrevista com Carlos Alberto Faraco. IN: XAVIER, Antonio Carolo; Cortez, Suzana (orgs). Conversas com linguistas: virtudes e controversas da lingüística. São Paulo: Parábola, 2003. GOMES, Natanael dos Santos. A história manuscrita do Novo Testamento. Disponível em <http://www.filologia.org.br/vcnlf/anais%20v/civ3_05. htm>. HECKLER, Evaldo, BACK, Sebald. Curso de linguística. v. I. São Leopoldo: UNISINOS, 1988. ILARI, Rodolfo. A lingüística e o ensino de língua portuguesa. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992. PETER, Margarida. Linguagem, língua e lingüística. In: FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à Linguística I Objetos teóricos. 3 ed. São Paulo: Contexto, 2004. p. 13-23. TERRA, Ernani. Linguagem, língua e fala. São Paulo: Scipione, 1997. RAJAGOPALAN, Kanavill. Por uma linguística crítica: linguagem, identidade e a questão ética. São Paulo: Parábola, 2003. RIBEIRO, Manoel. Nova Gramática da Língua Portuguesa. 11 ed. Rio de Janeiro: Metáfora Ed., 2000, p. 268). SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 2000. 16