RESPOSTAS FRENTE ÀAIDS NO BRASIL: APRIMORANDO O DEBATE II "No peito e na raça": a construção da vulnerabilidade de caminhoneiros. Um estudo antropológico de políticas públicas para HIV/AIDS no Sul do Brasil. Andréa Fachel Leal, Ana Maria Ferreira Borges Teixeira, Daniela Knauth, Fernando Seffner
29 de junho de 2009 A mídia brasileira anuncia: confirma-se o primeiro caso de morte pelo vírus da gripe H1N1
Primeira vítima fatal de H1N1 no Brasil
O que esses casos têm em comum?
Luiz Augusto F. Schneider Secretário Municipal de Saúde e Meio Ambiente de Uruguaiana Agência Estado, 16/07/2009 Os caminhoneiros têm o compromisso com a entrega da carga e continuam trabalhando, mesmo com os sintomas da doença, o que agrava o caso.
Contexto: vulnerabilidade de um grupo populacional e modelo de parceria Devido o caráter itinerante e constituir grupo eminentemente masculino, os caminhoneiros apresentam características próprias relacionadas à profissão, que influenciam no acesso aos serviços de saúde; características relacionadas aos espaços por onde transitam e às redes sociais de que fazem parte;
Metodologia Pesquisa em locais de concentração de motoristas, onde as ONG atuaram Etapa qualitativa Observação participante e entrevistas caminhoneiros, profissionais do sexo, funcionários de postos de combustível, funcionários da aduana e equipes das ONG/aids Etapa quantitativa Estudo piloto e survey com caminhoneiros
Amostra - etapa quantitativa Cálculo do tamanho da amostra Supondo uma amostra gerada por amostragem aleatória simples para Rio Grande e para as demais cidades. Erro amostral de 5%. Intervalo de confiança de 95% Total de 854 motoristas de caminhão 429 em Rio Grande, 86 em Porto Alegre, 105 em Canoas, 107 em Gravataí, 127 no Chuí Seleção da amostra Não probabilística por cotas de local de circulação e faixa horária das entrevistas
Materiais e métodos
A casa de lata Sou casado com Teresa, mas moro com a Mercedes [Benz] Os motoristas ficam muito tempo na estrada, nos caminhões. Quando param nos postos de combustível ou na aduana, os caminhoneiros devem aguardar o carregamento e descarregamento, o que pode levar diversos dias.
Resultados: trabalham sozinhos e ficam parados em postos de combustível
Resultados: 50.8% consultou um médico nos últimos 6 meses
Resultados: 25,2% já adoeceu durante viagem de trabalho
Resultados: os serviços particulares e de emergência são os mais buscados durante viagens
Resultados: a maioria (63%) já viu caminhoneiros sendo abordados nas estradas por campanhas de HIV/AIDS e já foi pessoalmente abordado (54%)
Daqueles que já foram abordados (458), a maioria foi contatado em outro lugar que não o local da pesquisa
De 2004 até agora, alguém veio conversar sobre AIDS ou DST no posto onde está sendo entrevistado (n=854)? Lembra o nome do grupo, instituição ou projeto que conversou sobre AIDS ou DST, no posto onde está sendo entrevistado (n=89)?
O que foi feito durante as abordagens? (Resposta de múltipla escolha) Que diferença a abordagem fez no dia-adia do caminhoneiro? (Resposta de múltipla escolha)
Discussão O caráter itinerante e o pouco tempo disponível, pelas condições de trabalho, dificultam o acesso dos caminhoneiros aos serviços de saúde
Discussão A adscrição territorial do SUS dificulta o acesso de populações com grande mobilidade.
Discussão Os caminhoneiros desenvolveram certa autonomia nos cuidados com a saúde, acessando os serviços em emergências ou clínicas privadas (possível pela renda acima da média nacional) ou ainda através da auto-medicação.
Discussão É necessário pensar políticas de acesso à saúde para populações itinerantes e/ou com grande mobilidade: Trabalhadores do setor de transportes (terrestre, marítmo e aéreo) Trabalhadores sazonais (zona rural e de garimpo) Profissionais do sexo Grupos nômades (ciganos, indígenas) Estabelecer diretrizes específicas que contemplem financiamentos direcionados para caminhoneiros
Discussão: fatores de vulnerabilidade Mobilidade e dicotomia casa/rua Baixa escolaridade, profissão herdada e com ganhos altos Falta de vínculos com serviços de saúde Oferta e uso de serviços de profissionais do sexo Prevenção x Contracepção Ausência de informações ou campanhas Alto uso de substâncias lícitas e ilícitas Percepção de risco Construção e valorização da masculinidade
Sugestões para aprimoramento de ações voltadas para caminhoneiros Redimensionar a cobertura populacional estimada dos projetos Levar em conta o conjunto das relações sociais do caminhoneiro Buscar maior conhecimento sobre a população alvo através de parcerias institucionais Realizar ações em parceria com entidades representativas de caminhoneiros Enfatizar estratégias mais amplas de educação em saúde Privilegiar locais de concentração de caminhoneiros como postos de gasolina